segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

´PODER DE PERDOAR PECADOS

PODER DE PERDOAR PECADOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Todos os pormenores que envolveram a cura do paralítico (Mc 2,1-12) são profundamente significativos. Aquela doença era bem o símbolo da paralisia espiritual e Jesus com seu poder divino cura a moléstia do corpo e da alma. Com efeito, aquele homem saiu andando, carregando a cama em que o trouxeram até Jesus que realizou algo ainda mais admirável restituindo-lhe a saúde da alma: “Teus pecados estão perdoados”. Após sua ressurreição Cristo, que demonstrou peremptoriamente sua divindade, outorgaria esta faculdade aos apóstolos: “A quém perdoardes os pecados, estes lhes serão perdoados” (Jo 20,23). Era a instituição do Sacramento da Penitência, o Sacramento da libertação. Quando alguém diz que vai se confessar não se trata de um ato qualquer como ir ao dentista ou a qualquer consultório médico, o que já indica um mal corporal, mas atitude que se torna necessária para recuperar o bem estar físico. Entretanto o Sacramento da reconciliação opera uma cura muito mais premente, que não admite nenhuma dilação, pois se trata do reencontro pessoal com aquele que ama o que errou muito além de sua expectativa. Este sacramento oferece o perdão das faltas veniais ou graves, sendo remédio espiritual que fortalece o cristão para os embates contra as invectivas do maligno. Sana as falhas das eivas provenientes dos pecados capitais, sobretudo do defeito dominante. O sacerdote é apenas um instrumento do Redentor, pois pronuncia em seu nome a fórmula da absolvição. É Jesus quem cura a paralisia espiritual e ajuda para a caminhada rumo à Jerusalém celeste, impedindo a más decisões e as indecisões perante os ataques demoníacos. O arrependimento sincero é uma volta medicinal aos erros passados, mas, sobretudo, uma largada para frente, para vitórias fulgurantes, obstando o cristão a desistir na prática das virtudes, na fidelidade à observância dos mandamentos, no anelo ardente de estar com Deus por toda a eternidade. Tira-se um fardo pesado e se imerge no oceano do amor infinito do Ser Supremo. Percebe-se então que há uma diferença enorme entre o perdão dos homens e o do Criador, pois este é total. O Todo-Poderoso falou através do profeta Isaías: “Eu não me lembrarei mais dos teus pecados” (Is 43,25). Perdão completo que apaga as manchas devidas à fragilidade humana, benesse ofertada pelo grande amor do Senhor que é a bondade infinita. Cumpre lembrar que o ato dileção dos amigos do paralítico permitiu seu encontro com Jesus, encontro que resultou em conseqüências tão maravilhosas. Este é um apostolado muito abençoado por Jesus, levar os que estão nas trevas do erro para a luz da anistia divina. Aqueles que se comprimiam em redor do Redentor tinham uma confiança formidável nele. Cristo que lia os corações percebia fidúcia que neles reinava. Primeiro, foram perdoados os pecados daquele doente, depois se seguiu sua cura. Eis porque, sobretudo, por ocasião de alguma moléstia, é preciso, antes de tudo, colocar a consciência em paz, mesmo porque os medicamentos só produzirão seu efeito total quando a tranqüilidade, a imperturbabilidade imperam dentro do coração. Este não deve estar bloqueado, dado que é todo processo psicossomático que necessita ser restaurado. Os empecilhos que levam à paralisia espiritual podem vir de um passado infeliz e tudo que esteja lá no inconsciente precisa ser aflorado ou de um espírito rancoroso, revoltado, amargo que necessita de se envolver num perdão cordial ou ainda dos muitos cuidados, ambições terrenas, paixões desregradas, situações familiares, profissionais. Numerosas são as causas que podem impedir o encontro com Jesus. Um sincero exame de consciência é a melhor de todas as terapias. Com habilidade, diplomacia e muita caridade os bons cristãos podem, de fato, ajudar os amigos a encontrarem o Médico divino, apostolado admirável, meritório para o dia do juízo final. Adite-se ser de um valor imenso as preces pela conversão dos pecadores. Jesus deseja perdoar a todos, mas respeita a liberdade de se aproximar dele ou não, mas conta com o interesse dos verdadeiros cristãos que levem outros até Ele. Representante de Cristo, o padre no confessionário exerce um tríplice papel. Ele é Juiz e, na verdade quantos, às vezes, pensam estar numa triste situação espiritual e, no entanto, necessitam apenas de pequenos ajustamentos vivenciais. Médico ele cura enfermidades da alma. Nem sempre o mesmo remédio pode ser aplicado a idêntico tipo de doença, sendo morte para um o que é saúde para o outro. É o que se dá também na esfera espiritual o confessor, habilmente, diagnostica o que se passa com quem o procura em busca de paz interior, oferecendo o medicamento adequado. Mestre, ele guia e aponta as veredas salvíficas, tudo isto em nome de Jesus que tem poder de perdoar pecados. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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