terça-feira, 28 de setembro de 2021

 

 

QUEM QUISER SER O PRIMEIRO, SEJA SUBMISSO A TODOS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Indiscreto o pedido que os filhos de Zebedeu, Tiago e João, fizeram a Jesus, uma solicitação especial, em particular, reservada, pois os dois irmãos temiam expressá-la claramente (Mc 10,35-45). O Mestre, contudo, os obrigaria a falar detalhadamente. Eles queriam estar a sua direita e a sua esquerda na glória vindoura, no esplendor de seu Reino. Pedido surpreendente! Eram eles os que foram entre os primeiros chamados, mas não tinham ainda compreendido o projeto salvífico de Cristo.  Eles pensavam que Jesus ia organizar um governo terrestre e já tratavam de garantir os melhores lugares, postos honoríficos no novo reino. No entanto, Jesus pela terceira vez, enfaticamente, havia predito sua paixão e morte: “O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos homens que o hão de matar, mas três dias depois de morto ressuscitará” (Mc 9,31) Não obstante, seus discípulos discutiam uma questão de preeminência! Jesus, contudo, mais uma vez com toda paciência vai lhes explicar a realidade de sua missão neste mundo. Interroga-os se eles beberiam do seu cálice ou se receberiam o batismo com o qual Ele é batizado. O cálice para aqueles homens que liam os Profetas não era apenas o símbolo dos sofrimentos, cálice amargo, mas o cálice de vertigem merecido pelo povo pecador, este cálice seria o próprio Jesus quem o beberia. No entanto, Jesus deixa claro que os apóstolos participariam de sua paixão, de seus sofrimentos, mas o sentar-se à sua direita ou esquerda era para aqueles para os quais tais lugares foram preparados. Aqueles discípulos, porém, ante a morte violenta, injusta, revoltante do Mestre parece que deixavam de lado os padecimentos, porque o senso do poder, da glória   daquele que eles seguiam para eles era mais importante e que, no serviço de Jesus, há bons lugares para conquistar e poder, posses, como recompensa. Pedagogo admirável Jesus, contudo, se serve deste episódio para, como educador da fé, calmamente, lançar lição que abrange o futuro e depois o presente. Para o que virá, de fato, os dois irmãos o seguirão nas veredas das tribulações até a morte como todos os seus discípulos quando forem chamados para a outra vida. Todos devem um dia morrer, mas a diferença dos que creem é que eles vão até o fim seguindo o Ressuscitado. Quanto ao presente qualquer recompensa só Deus o sabe e Jesus lança uma sentença definitiva: “Quem quiser ser o primeiro seja submisso a todos”. Os verdadeiros primeiros lugares não são aqueles que humanamente se imagina, mas esses se encontram no serviço do próximo, no dia a dia de cada um. Desejar o que é o melhor para nós, nossos parentes e amigos não é um mal em si, mas cumpre fazer tudo que se puder no cumprimento de nossas obrigações e de uma ajuda contínua aos outros, nunca querendo ser superiores a quem quer que seja. Querer triunfar na vida não é um mal, o erro seria desejar sobrepujar os outros. Desejar ir para o céu é um salutar anelo, errado seria viver em função dos valores do mundo, criando a ilusão de ser autêntico cristão. Jesus deixou claro para os apóstolos que os carismas o Pai é quem os dá a quem Ele quiser, mas é preciso saber aceitar a cruz, ou seja, ir até o fim no serviço aos outros e no esquecimento de si mesmo. Não há fé sem provações, vida cristã interior sem o desapego dos próprios interesses, É preciso se lembrar sempre do que disse Jesus: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos “. A prática constante da prece, a frequência aos sacramentos, sobretudo da confissão e da Eucaristia, aumentam o amor a Deus e impedem querer ser superior aos outros. Jesus foi o servo do Pai e, como tal, Ele constantemente prestou atenção às necessidades de quantos o seguiam. Ele intentava inculcar a Tiago e João esta realidade de se preocupar antes de tudo com os sacrifícios que o trabalho apostólico exigiria, deixando o julgamento nas mãos do Pai. Seus autênticos discípulos deveriam ser capazes de estarem unidos à cruz de todos os dias por amor, com um sorriso nos lábios. Cruz que se manifesta nos hábitos de um quotidiano voltado para o bem do próximo, na fadiga dos trabalhos apostólicos, nas dificuldades que a implantação do reino de Deus exige. Estar submisso a tudo isto sem nada querer exigir de Deus. O esforço para tentar se identificar com Cristo exige muita abnegação. Eis porque São João Paulo II explicava que a submissão de Jesus atingiu o seu ápice na sua morte na cruz, ou seja, no dom total de si mesmo. No entanto, Tiago e João estavam mais preocupados em glórias advindas de seu ministério e não no significado profundo de um ardoroso apostolado. Restava-lhes ainda um longo caminho num serviço constante a todos sem distinções de ricos ou pobres, cultos ou ignorantes, jovens ou idosos para a implantação do reino de Deus. Jesus estaria ensinando a Tiago e João, aos demais apóstolos e a todos que quisessem ser seus autênticos pregadores do Evangelho um apego salutar à cruz de cada dia, deixando tudo nas mãos do Pai e não na dependência de uma gratificação pessoal. * Professor no Seminário de Mariana durnte 40 anos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

 

QUE SE DEVE FAZER PARA ENTRAR NA VIDA ETERNA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Entre aqueles que abordaram Jesus enquanto Ele ia pelo caminho, de repente, surge um homem que, de joelhos, se pôs diante dele.  Estava agitado   Certamente iria solicitar a cura de algum doente ou   outro favor estupendo como os muitos que Cristo já fizera. Nada disto!  Ao Mestre divino aquele homem apresentava, inesperadamente, uma questão, em si, de grande importância: “Que devo fazer para alcançar a vida eterna?” (Mc 10,17-30) De plano, poderíamos pensar que Ele estava psicologicamente abalado, pois quem se julga equilibrado emocionalmente não tem necessidade de pensar com agitação numa vida eterna. Ou quem sabe se tratasse de alguém que tendo tudo para viver podia se dar ao luxo de sonhar com uma outra vida além túmulo. Entretanto, na verdade, estas explicações não passariam de um esclarecimento forjado. É preciso entender a questão apresentada como partindo de alguém realista, ou seja, tratava-se de alguém que, desde agora, queria um caminho seguro para atravessar com total êxito a morte, alguém que desejava com as coisas que passam construir desde já algo definitivo. Se penetramos a fundo no problema suscitado, passamos a perceber que, de fato, temos precisão de refletir em salvaguardar com boas ações o que virá após a morte e que vai durar para sempre.  A maturidade espiritual deve ser uma preocupação constante de quem crê na vida eterna, pois não sabemos nem o dia nem a hora em que deixaremos este mundo. Neste caso a questão então apresentada merece toda atenção. Um balanço no nosso trabalho apostólico, no cumprimento dos deveres de cada hora, o bom aproveitamento do tempo de vida que Deus vai concedendo a cada um. Jesus deixou uma orientação preciosa: observar os mandamentos, fazendo sempre o que agrada a Deus, o que é bom e digno de quem recebeu o batismo e vive imerso nas graças divinas Aquele homem de joelhos diante de Jesus pôde afirmar que praticava o que era do agrado de Deus, o que era bom e perfeito e isto desde sua juventude. Programa que, aliás, qualquer batizado deve seguir em todos os instantes de sua vida. Àquele que assim já procedia Jesus propõe algo mais além de sua fidelidade, uma nova sabedoria cristã, indo além do afeto às coisas terrenas, indo além do poder e da vontade de possuir o que é deste mundo, ou seja, um total desapego de tudo o que é desta terra, um apego somente ao que é sobrenatural e isto por amor inabalável e exclusivo do Divino Mestre e dos bens celestiais. Quem bem examina sua vida certamente deparará algo que ainda não é inteiramente de Deus. Isto, porém, ocorreu na existência de tantos santos que souberam explorar com discernimento o desapego de que falou Jesus a seu interlocutor. Não é fácil atingir o cume da perfeição cristã num seguimento radical do sábio Mestre. A todos, porém, cumpre examinar sempre como se tem observado o decálogo, constante inteiramente em professar as inspirações do Espírito Santo, sabedor de que quem não é   fiel no pouco não o será também no que Deus pedir a mais na trajetória rumo à vida eterna. Lealdade completa às diretrizes da Igreja, aos ensinamentos do Papa, longe das enganosas evidências de tudo que é hostil aos desígnios de Deus. Cristo completou seu ensinamento perante os apóstolos dizendo que condenável é, contudo, o endeusamento das riquezas deste mundo. É preciso todo cuidado em viver as Bem-aventuranças com corações voltados para a eternidade.   É preciso não se deixar absorver por algo terreno que comprometa a entrada no reino celeste. Seja como for, o principal é estar desligado afetivamente dos bens materiais para poder dizer na verdade que se é seguidor de Jesus. Este espera uma total renúncia daquilo que é terreno, passageiro, ilusório. Saibamos sempre fazer ecoar no fundo de nosso coração os apelos de Cristo. O personagem do Evangelho de hoje foi embora triste, exatamente por causa de seu apego a sua riqueza. É preciso dar sempre o primeiro lugar a Jesus e estar disposto a lhe oferecer sinceramente tudo que Ele pedir, a entregar a Ele sem reserva o que somos ou possuímos. Ultrapassar sempre uma visão limitada da fé, pois esta supõe uma adesão do ser humano a Deus, indo além do conformismo que impera na mente de tantos cristãos incapazes de dar um passo a mais na caminhada para a vida eterna, crescendo sempre na dileção a Deus. Deus quer não apenas um espírito sincero, mas também uma alma generosa aberta à grande afeição de seu Coração e a suas exigências profundas e radicais. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

 

A UNIDADE E A FIDELIDADE DOS CÔNJUGES CRISTÂOS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus deixou clara e categórica a exigência cristã da unidade e da fidelidade dos esposos cristãos (Mc 10,2-16)   Esta clareza e taxatividade devem tanto mais ser ressaltadas quando se considera o contexto atual. Com efeito, para muitos é chocante as palavras do Mestre divino: “Todo o que repudiar sua mulher e casa com outra comete adultério contra ela: e se uma mulher repudia o seu marido e casa com outra, comete adultério”, Ele aliás alertou: “não separe o homem o que Deus uniu”. Não obstante o grande número de casais que vivem santamente, o sacramento do matrimônio, é público e notório que há casais que se separaram, que se divorciara e inúmeras são as feridas nas consciências de muitos cristãos e como sofrem os filhos cujos pais romperam os laços matrimonias legítimo! É óbvio que estas pessoas devem ser ajudadas na medida do possível, mas sem deturpar o que Jesus abertamente ensinou. Um meio valiosíssimo para preservar a unidade e a fidelidade dos cônjuges cristãos é a preparação eficiente para recepção do sacramente do matrimônio. Aqueles que já convolaram núpcias, mas se encontram com problemas familiares devem procurar soluções justas para firmar e reafirmar sua relação conjugal, imitando aqueles que anos e anos veem mantendo a união prometida no dia do casamento. Para viver plenamente o que Jesus ensinou sobre a unidade e fidelidade matrimonial é preciso força espiritual, preces ardentes dentro e fora do lar. Esta dimensão religiosa se baseia também no que Cristo asseverou dizendo que pelo matrimônio os batizados não são dois, mas uma só carne e sua ordem expressa foi esta: “Não separe, portanto, o homem do que Deus uniu” Isto mostra como o homem e a mulher, pelo casamento, deverão estar bem de acordo entre eles em tudo e sempre. Foi Deus que os uniu. É Deus que lhe dará luz e força para permanecerem unidos. Trata-se de um engajamento total neste tripé sagrado: unidade, fidelidade e fecundidade. Isto é possível quando há o esforço sincero de transformar o amor mútuo no amor mesmo de Deus. Este Deus que é amor é verdadeiramente único, fiel e fecundo. Deste modo maravilhosamente fica sublimado a dileção sincera o que os cônjuges manifestam um ao outro. Eis aí o que quer expressar o que Jesus disse ao falar em “o que Deus uniu”.   Refletir sobre isto é importante, porque o amor humano é limitado se ele é deixado a si mesmo sem esta força sobrenatural sem a presença do Deus Todo Poderoso. O homem e a mulher precisam muitas vezes se ultrapassar a si mesmos  e até mesmo em algumas circunstâncias serem heróis, mas com a graça divina é possível manter a unidade e fidelidade prometidas ao receber o santo sacramento do matrimônio. O Espírito Santo presente no coração dos cônjuges transforma o amor humano que é limitado no amor imenso do Ser Supremo. É este Espírito divino que dá a verdadeira dimensão do amor que deve reinar entre os batizados  unidos pelo sacramento do matrimônio e imersos nesse oceano infinito do amor divino. Há então a percepção da fortaleza interior ofertada pela graça divina que é mais potente do que as forças humanas. Torna-se assim possível praticar em plenitude o amor conjugal. Na escola de Jesus se aprende a dialogar, a perdoar sempre, a sacrificar um pelo outro a própria vida. Deste modo, as infidelidades devidas às fraquezas humana são superadas porque   sólido é o fundamento que uniu dois corações através do sacramento do matrimônio. O projeto de Deus há de sempre prevalecer não obstante as fraquezas humanas e, por vezes o endurecimento das mentes que se deixam dominar   pelos males que afligem os incautos.  O liame que deve unir os cônjuges é objeto de ataques de rara violêncis em nossos dias e se multiplicam em certos países os processos atinentes ao divórcio, afetando, portanto, o plano estabelecido pelo Criador. Deve-se sempre lembrar que
Deus não pode nem se enganar, nem enganar os homens e, assim sendo, a unidade e a fidelidade conjugais são imprescindíveis para a felicidade no lar. O que Deus estabeleceu deve ser aceito em sua globalidade e em todas as suas dimensões. Eis porque a presença do Ser Supremo é fundamental para a vivência cristã dos que contraíram o matrimônio.   Deus deve ser colocado no centro do amor conjugal. São três vontades que devem interagir:  a do homem, a da mulher e a de Deus. É esta presença do Todo Poderosa Senhor no seio da família que une duravelmente os corações.  Eis por que a oração é imprescindível para a durabilidade do amor conjugal e o que Deus uniu o homem não separará! *`Professor no Seminário de Mariana durante 40 aos.      

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

 

QUEM NÃO É CONTRANÓS ESTÁ A NOSSO FAVOR

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Uma lição de compreensão, bem longe de qualquer intransigência, deu Jesus a seus discípulos, quando   João, um dos doze, lhe disse: “Mestre, vimos um homem que em teu nome estava expulsando demônios e procuramos impedi-lo, pois afinal ele não era um dos nossos” (Mc 9, 28 e ss).  Quem assim falava era o discípulo que Jesus amava, um dos mais próximos do Mestre divino, que estava admirado pelo fato de que alguém, que não fazia parte dos Doze, pudesse fazer prodígios em nome de Cristo.   Isto manifestou que positivamente os apóstolos ainda se mostravam bem humanos, envoltos em ciúmes, mesquinharias. Jesus acabara de anunciar sua Paixão na qual Ele se faria o “último dos servidores”, desejando que seus seguidores estivessem sempre em estado de serviço e a não procurar os primeiros lugares. A reação de João, um dos melhores discípulos seus, refletia postura de dominação, vontade de poder, um anseio de ter um monopólio. Ele queria, com os outros Onze, ter apenas para eles o poder que o Mestre possuía. Era um claro sectarismo de grupo. Muitas vezes através dos tempos sob a aparência de defender o bem comum da comunidade a que se pertence, há, na verdade, no fundo, é a defesa dos próprios interesses.  Todo cuidado é pouco porque ao proteger vantagens adquiridas, muitos impedem a outros de agir fazendo o bem, quando na verdade o que se teme é que outros surjam como sombras no campo do apostolado. Não se pode impor um modo de servir Jesus, como sendo a única maneira de viver o Evangelho, desde que corretamente alguém esteja agindo de acordo com o que está na Bíblia e invoca corretamente o nome do Divino Redentor em nada violando a doutrina da Igreja. Isto pode ocorrer muitas vezes, por exemplo, com grupos bem intencionados de cristãos que se reúnem para rezar em nome do Senhor, para meditar a Palavra divina, para encontrar caminhos de uma melhor prática do Evangelho. Não se devem criar estruturas que impeçam se irradie a ação do Espírito Santo, mas cumpre incentivar o bem seja aonde for, quando nada de errado está sendo transmitido. Jesus mesmo deixou patente que ninguém que difunde a verdade, depois venha a contradizer esta verdade, falando mal dele (v, 39). É uma questão de bom senso, sob as luzes do Espírito Santo, saber bem avaliar o modo de agir dos outros que bem orientados podem chegar posteriormente a uma descoberta mais explícita de Cristo. Vale sempre o que Jesus afirmou: “Quem não é contra nós está a nosso favor”. Toda boa ação pode ser, de fato, o início que conduz à comprovação de uma entrega total a Deus. É certo que toda boa ação nunca fica sem recompensa. Muitos, às vezes, colocam inconscientemente uma barragem à ação de Deus. O principal é seguir a Jesus e não a uma determinada ideologia. A obra de Cristo se manifesta sempre, porém, por uma conversão de vida, levando a alma ao caminho da adesão àquilo que Jesus ensinou. A aceitação sincera do divino Redentor impede o mero endeusamento institucional. A mensagem evangélica vai além de meras expressões culturais por aprofundar a fé na Palavra que salva. Isto vem de uma penetração profunda na obra redentora do Filho de Deus patenteada vibrantemente no serviço ao próximo, pois Jesus foi claro ao dizer que Ele viera a este mundo para servir e não para ser servido. Quem o imita faz com que a mensagem evangélica, acima das expressões culturais, aprofunde fé na Palavra salvadora. Deste modo o anúncio do nome de Jesus é proclamado por alguém que exerce uma mediação humana, profética e carismática numa ação do Espírito Santo que leva sempre à unidade do amor. Ai se acha o cerne da mensagem evangélica que paira longe de critérios meramente intelectuais. O que se deve verificar é se algum falso profeta usa da palavra de Deus para atingir seus fins, para sua glória pessoal, pois estes não trabalham em nome de Jesus, mas para si mesmos e seus próprios nomes e negócios. Isto deve ser evitado.  Cumpre sempre, portanto, pedir a Deus discernimento. Jesus deixou, porém, claro o olhar que devemos ter para tratar tais pessoas. É preciso perspicácia para acolher ou recusar as mensagens difundidas através da mídia. Humildade para verificar se não há um liame comum, uma mesma fé, uma orientação que esteja inteiramente conforme a doutrina da Igreja, pois é necessário caminhar juntos para a perfeição do amor de Deus e do próximo. Jesus lançou um alerta para que se viva a vocação de Igreja, atinando com a essência das mensagens recebidas, pois, “quem não é contra nós está a nosso favor. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

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quinta-feira, 9 de setembro de 2021

 O MAIOR É O SERVIDOR DE TODOS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Entre as grandes lições que Jesus transmitiu a seus discípulos está aquela que Ele compendiou nesta sentença: “Se alguém quer ser o primeiro que ele seja o último de todos e o servidor de todos”, ou seja, o maior é aquele que está a serviço dos irmãos (Mc 9, 30-37), Na verdade, Ele quer que seu seguidor tenha  a candura, a naturalidade, a simplicidade  de uma criança O maior diante dele  não é aquele que tem mais poder ou saber, nem mesmo o que tem mais riqueza ou importância perante os homens. O maior é aquele que humildemente reconhece suas falhas humanas e que tudo aquilo que possui lhe vem gratuitamente de Deus e de cuja misericórdia ele tudo depende. Como então ensinou o Mestre divino, a verdadeira grandeza é não se julgar superior aos outros. Na família, na comunidade em que se vive a postura do verdadeiro cristão é de serviço, de devotamento à felicidade de todos, de gratuidade, não se julgando melhor que aqueles com os quais se convive. Trata-se do serviço humilde e da humildade ativa, que permite acolher seja quem for como um irmão ou irmã do divino Redentor. O gesto profético de Jesus tomando uma criança do meio de seus discípulos e a acolhendo em seus braços quis justamente sublinhar este liame entre a humildade e a capacidade do acolhimento. Acolher alguém em nome de Jesus é dar ao Filho de Deus um lugar na própria vida, na obra de cada instante, pois o que se faz ao próximo é a Ele que se faz.  No pensamento de Jesus a criança é uma parábola viva. É recebida sem se olhar se ela o merece, antes mesmo que ela pudesse merecer alguma atenção, simplesmente porque ela tem necessidade de ser protegida. Como registrou São Mateus foi taxativo o dito de Jesus: “O que fizerdes ao menor de vossos irmãos foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40), Uma mensagem bem forte para os discípulos que pensavam em grandeza, prestígio, potência e poder.Com efeito eles inquiriam entre si quem entre eles podia ocupar o primeiro lugar.  Cada um sonhava ser melhor que o outro. Antecipavam entre eles uma gloriosa promoção que aguardava o principal entre os escolhidos pelo Mestre divino. Por terem deixado tudo e O seguido.  Já se julgavam mais importantes que todas as outras pessoas e um deles deveria ser o preferido pelo Filho de Deus. Entretanto eles tinham o espírito e a ideia infeccionada bem longe do que na verdade Jesus pensava para Ele mesmo e para os doze. Tratava-se de uma circunstância chocante, porque Jesus acabava de lhes falar de sua Paixão e da grande perseguição que breve iria tombar sobre Ele. Seus discípulos, porém, agiram como se nada entendessem do discurso do Mestre. Era uma alocução difícil demais para eles. Jesus falava uma coisa e eles entendiam outra bem diferente. Uma falta de comunicação completa devido à carência de compreensão daqueles interlocutores de Cristo. O pensamento de grandeza e de prestígio dos apóstolos chocava com a realidade simples e modesta que os aguardava. Eis aí porque cabia a Jesus dissipar as ilusões daqueles seus seguidores. Cumpria trazê-los para uma justa perspectiva de um engajamento com Ele que era manso e humilde de coração. Competia então a Cristo fazer com que aqueles seus seguidores reformulassem seu ponto de vista para entrarem na rota para o Reino de Deus, reino de humildade e de serviço aos outros. Eis por que perante aqueles sonhadores de honras humanas Jesus tomou uma criança, testemunhando à mesma ternura, afeto, respeito, ostensivamente a abraçando com carinho, afeto e respeito. Olhando aquela criança, Jesus como que se via ele mesmo como num espelho. Fixemos ainda uma vez esta criança, pequenina, simples. Para muitos um ser sem importância, sem poder, sem qualquer magnificência humanamente atraente. O estado de alma de Cristo era, porém, bem outro, pois seu coração, seu ideal, sua perspectiva eram bem outra. O retrato falado de Jesus era alguém como aquela criança em sua inocência, fragilidade, pobreza, mas irradiando tantos valores admiráveis. Jesus quer que vejamos Deus na sua ternura, sua humildade, na sua discreta presença. Aquele menino patenteava o Bem amado do Pai. Assim, o Todo poderoso nos verá se possuirmos as virtudes daquele criança. Portanto, a figura daquela menino que Jesus acolhera perante seus altivos discípulos transmitia lições preciosíssimas Cumpre, portanto ser manso e humilde coração como Jesus e saber captar esta sua mensagem de que o maior é aquele oque ostenta as virtudes de uma criança, pois somente assim seremos capazes de poder de servi-lo na pessoa de nosso irmãos. É preciso reter o ensino que Jesus transmitiu aos apóstolos para ser um servidor através de todas as nossa ações, sem querer ser considerado o primeiro de todos. Felizes aqueles que inclusive podem se engajar no serviço da Igreja nas diversas oportunidades que o apostolado oferece e isto com muita humildade no serviço aos outros. É bom que se lembre que o importante é que o serviço não se mude em poder, buscando o reconhecimento dos outros, querendo admiração pelo que se faça a bem dos irmãos e irmãs, sem querer ser incensado pelo bem que se procurou fazer. Quem é verdadeiramente humilde na seara do Senhor faz o que deve fazer o melhor que se possa, deixando sempre a recompensa para Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

 

TOME A SUA CRUZ E SIGA-ME

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus perguntou a seus discípulos; “Quem dizem os homens que eu sou?” (Lc 9,24). Várias eram as opiniões, mas Ele desejava saber o que pensavam os apóstolos. Pedro então respondeu:” Tu és o Messias”, isto é, o Cristo. Eis aí o fundamento do poder de Deus sobre aquele que opera, em nome de Deus, uma mudança decisiva da história humana, aquele que vem reconciliar os homens com Deus, Pedro respondeu com precisão. Os judeus fervorosos colocavam no Messias a esperança de uma extraordinária renovação dos corações, mais até do que uma restauração nacional para Israel. Jesus desejava deixar clara qual era sua missão, sua maneira de ser, sua mensagem. Era por isto que Ele ensinava, doutrinando continuamente seus discípulos. Neste trecho do Evangelho se acha o primeiro anúncio de sua paixão. Entretanto, um Messias sofredor foi um escândalo para Pedro. Quantos seguidores de Cristo quereriam um Messias sem a Cruz, as Bem-aventuranças sem sofrimentos, a amizade de Jesus sem a conversão interior, uma história cristã sem a cruz. Pedro foi severamente repreendido pelo Mestre divino e este foi claro: “Quem quiser vir após mim renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Nesta sentença de Jesus, porém, está explícito que Deus não fica contente quando os homens sofrem, mas o que glorifica o Ser Supremo é o amor e não o sofrimento em si. Em Cristo o auge da amargura coincide misteriosamente com o cúmulo de seu imenso amor para com aqueles que Ele veio salvar pela cruz redentora. Como ressaltam muitos teólogos estamos diante de um grande mistério. Deus é Pai, mas permite os sofrimentos de seu Filho amado pelos quais promove a redenção dos homens. Tal foi o caminho da salvação traçado por Deus. Aí está a magna questão que Jesus apresenta a seus seguidores: ou segui-lo verdadeiramente em tudo e salvar-se ou envergonhar-se dele e de sua doutrina e perder-se por toda a eternidade. É necessário aderir a tudo que Ele ensinou e Ele foi claro: “Tome a sua cruz”. É preciso conformar-se inteiramente ao que Ele determinou e respeitar em tudo os desígnios divinos. O cristão vive os sofrimentos permitidos por Deus no horizonte de um profundo amor ao seu Senhor, Pai e Amigo. Cumpre se abandonar continuamente à sabedoria de Deus que sabe o que é melhor para cada um. O certo é, porém, que Deus dá sempre força e luz para levar com amor o sofrimento que se apresentar na vida de quem tem fé. Nada porém de antecipar ou imaginar qualquer amargura futura, mas, isto sim, quando ela vier acolhê-la amorosamente e com a graça divina transformar os espinhos da vida em pérolas para a eternidade. Além disto, é preciso compreender ao máximo todos os que passam longamente pelas provas enviadas pelo Ser Supremo, ajudando o próximo a levar sua cruz. Servindo a Igreja vista não como uma estrutura, mas servidora das almas que a compõem e então qualquer sofrimento ganha um sentido profundo. Trata-se de testemunhar em tudo Cristo que por todos sofreu, descobrindo nossa identidade de cristãos, demonstrando o fundamento de nossa fé. Isto deve levar então a transmitir a todos que se pode encontrar em Jesus  uma parrava de vida que oferece sentido a tudo que se pensa, se diz e se pratica. Infeliz é o cristão que na hora em que é provado pelo sofrimento se desespera ou se revolta. Na vida do  autêntico fiel refulge sempre o verdadeiro sentido de seu encontro pessoal com Cristo que levou sua cruz até o Calvário. O papa São João Paulo II na sua carta Apostólica na abertura do Novo Milênio escreveu:” Nosso testemunho seria bem frágil se não fossemos os primeiros a testemunhar a verdadeira visão de Jesus Cristo”. Este nos oferece um bom caminho para bem testemunharmos o divino Redentor, sua Verdade completa. Ele indaga a cada um: “Vos quem dizeis que eu sou”? É uma questão de fé, de implicação pessoal. A resposta não se encontra senão na experiência do silêncio e da oração, pois se trata de algo pessoal, caminho que souberam percorrer os santos e no qual sabem andar os verdadeiros seguidores de Cristo. Que nossa prece torne sempre palpável a presença libertadora do amor de Deus sobretudo nos momentos de provações. É assim que Deus continua a fazer aliança com cada um que lhe é fiel através de sinais claros de sua presença, É bom, porém, se lembrar continuamente que sofrer passa, o ter sofrido com Jesus permanece para sempre. Deste modo, como falou São Paulo aos romanos, o Deus da esperança oferece em plenitude na vida deste autêntico cristão a alegria e  a paz (Rm 15,13)  Este sapóstolo afirmou a Timóteo: “Se com Cristo sofremos,   com Ele também  reinaremos “(2 Tm 2,2)* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.