A COMPAIXÃO
DE Jesus
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Segundo São Marcos os doze Apóstolos
voltaram radiosos de sua primeira missão (Mc
6, 33-34). Pregaram a conversão, expulsaram demônios e curaram doentes
em nome do Senhor Jesus. Estavam fatigados, mas uma multidão vinha para ver
Jesus e conversar com Ele. Cristo então levou seus discípulos para um lugar
deserto, tranquilo, longe do bulício reinante. Momentos felizes junto do Mestre
divino para uma prece fervorosa, hábito salutar que Ele desejava inculcar a
seus discípulos. E era a melhor maneira de fazer repousar seus missionários.
Não um repouso banal, uma mera parada para esquecer todos os cuidados e todo
cansaço. Aqueles discípulos estavam junto dele para O escutar e para tudo Lhe
confiar, usufruindo todo o descanso que Ele oferece a todo aquele que se volta
confiadamente para Ele. Ele prometeu: “Vinde a mim todos que penais sob o peso
do fardo e eu vos darei o repouso Tomai sobre vós meu jugo e aprendei de mim
que sou manso e humilde de coração e assim encontrareis conforto para vossas
almas, pois o meu jugo é suave e o meu peso é leve (Mt 11,28-30). Os doze
Apóstolos felizes na escola de Jesus, escutando suas novas diretrizes e Lhe
narrando tudo que haviam feito como Ele ordenara. Era isto que ocorria na barca
que os levava para a outra margem, visando prosseguir aqueles momentos de
salutar tertúlia do Mestre com seus missionários. Entretanto, muitos
pressentiram para onde Jesus se dirigia com seus apóstolos e quando eles
desembarcaram depararam uma multidão que já se encontrava no lugar onde deveria
reinar tranquilidade e um silêncio repousante. Ali estavam doentes, pobres
desejando cura e consolo e também muitos sequiosos de ouvir as palavras
maravilhosas de Cristo sobre o Reino dos céus. São Marcos registrou então a
reação de Jesus: que “viu aquela grande multidão e condoeu-se dela, porque eram
como ovelhas sem pastor”. Encheu-se de compaixão o coração amoroso de Jesus e
uma piedade imensa tomou conta deste coração diante do que então acontecia.
Eles não tinham minguem para os guiar, para lhes oferecer felicidade, para os
orientar, para lhes transmitir esperança, fazendo brilhar para eles raios de
expectativa de dias melhores. Jesus se lembrou
das palavras do profeta Jeremias quando Deus prometia a seu povo pastores
dignos deste nome: “Juntarei depois os restos de minhas ovelhas de todas as
regiões, para onde eu as tiver deixado lançar e as reconduzirei a apriscos,
onde, proliferando, crescerão. Estabelecerei sobre elas pastores que as
apascentarão, não terão mais temores, nem apreensões e não se perderá nenhuma,
diz o Senhor (Jer 23,3-4). Ali estava então Jesus, o Pastor por excelência a
lhes dar o essencial, ou seja sua palavra divina, a lhes transmitir as verdades
eternas. Ninguém falaria mais belamente do Pai e das realidades eternas. Ele
era o Bom pastor que daria sua vida pelas suas ovelhas. É preciso, portanto,
como Jesus, compadecer cada um daqueles que estão longe de Deus, como ovelha sem
um guia seguro. Isto através da palavra, do exemplo, das preces, de um
apostolado ardente, zelo pela salvação de todos, discernindo perante todos o
essencial do acessório. A começar pelo testemunho de vida lá onde Deus o
colocou e, na medida do possível, se engajando em algum movimento de apostolado,
ajudando na evangelização no meio em que vive. Através de todos aqueles que
procuram estar em união com Ele, Jesus continua a ter compaixão dos que estão
fora dos caminhos do bem e da virtude, em situações que precisam de amparo espiritual.
Estar sempre unido a Deus, para O levar aos que dele se apartaram. A vida do
cristão deve ser ritmada pelo desejo de espalhar a virtude por toda a parte num
interesse constante pelo bem espiritual próprio e dos outros, numa visão
iluminada pela fé na vida eterna. Jesus mandou os doze apóstolos a evangelizar,
mas depois os levou ao descanso da prece junto dele. Cada um deve estar atento,
pois a qualquer momento o Senhor o tira de suas tranquilidades para o bem do
próximo que deve ser envolvo na compaixão do Filho de Deus a chamar para os
caminhos da conversão própria e dos irmãos. Trata-se da abertura da vida divina
dentro de si e na existência daqueles com os quais se convive. Não se está
nunca sozinho neste mundo, mas temos que ter consciência de que participamos de
uma aventura coletiva. Somos responsáveis uns pelos outros. Deus não pode estar
em nós se Ele não se acha entre nós. Trata-se da solidariedade cristã que é o
fundamento de todo apostolado. Há sempre alguém que reclama atenção, uma
criança que chora, um trabalhador que clama por um salário melhor, um jovem que
está perdido em suas ilusões, enfim, pessoas nas mais variadas circunstâncias
que precisam de apoio, de uma palavra de conforto, de luzes para uma nova vida.
O campo do apostolado é imenso e a todos se deve levar a compaixão de Jesus.” Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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