segunda-feira, 5 de julho de 2021

 

A COMPAIXÃO DE Jesus

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Segundo São Marcos os doze Apóstolos voltaram radiosos de sua primeira missão (Mc  6, 33-34). Pregaram a conversão, expulsaram demônios e curaram doentes em nome do Senhor Jesus. Estavam fatigados, mas uma multidão vinha para ver Jesus e conversar com Ele. Cristo então levou seus discípulos para um lugar deserto, tranquilo, longe do bulício reinante. Momentos felizes junto do Mestre divino para uma prece fervorosa, hábito salutar que Ele desejava inculcar a seus discípulos. E era a melhor maneira de fazer repousar seus missionários. Não um repouso banal, uma mera parada para esquecer todos os cuidados e todo cansaço. Aqueles discípulos estavam junto dele para O escutar e para tudo Lhe confiar, usufruindo todo o descanso que Ele oferece a todo aquele que se volta confiadamente para Ele. Ele prometeu: “Vinde a mim todos que penais sob o peso do fardo e eu vos darei o repouso Tomai sobre vós meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e assim encontrareis conforto para vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu peso é leve (Mt 11,28-30). Os doze Apóstolos felizes na escola de Jesus, escutando suas novas diretrizes e Lhe narrando tudo que haviam feito como Ele ordenara. Era isto que ocorria na barca que os levava para a outra margem, visando prosseguir aqueles momentos de salutar tertúlia do Mestre com seus missionários. Entretanto, muitos pressentiram para onde Jesus se dirigia com seus apóstolos e quando eles desembarcaram depararam uma multidão que já se encontrava no lugar onde deveria reinar tranquilidade e um silêncio repousante. Ali estavam doentes, pobres desejando cura e consolo e também muitos sequiosos de ouvir as palavras maravilhosas de Cristo sobre o Reino dos céus. São Marcos registrou então a reação de Jesus: que “viu aquela grande multidão e condoeu-se dela, porque eram como ovelhas sem pastor”. Encheu-se de compaixão o coração amoroso de Jesus e uma piedade imensa tomou conta deste coração diante do que então acontecia. Eles não tinham minguem para os guiar, para lhes oferecer felicidade, para os orientar, para lhes transmitir esperança, fazendo brilhar para eles raios de expectativa de dias melhores.   Jesus se lembrou das palavras do profeta Jeremias quando Deus prometia a seu povo pastores dignos deste nome: “Juntarei depois os restos de minhas ovelhas de todas as regiões, para onde eu as tiver deixado lançar e as reconduzirei a apriscos, onde, proliferando, crescerão. Estabelecerei sobre elas pastores que as apascentarão, não terão mais temores, nem apreensões e não se perderá nenhuma, diz o Senhor (Jer 23,3-4). Ali estava então Jesus, o Pastor por excelência a lhes dar o essencial, ou seja sua palavra divina, a lhes transmitir as verdades eternas. Ninguém falaria mais belamente do Pai e das realidades eternas. Ele era o Bom pastor que daria sua vida pelas suas ovelhas. É preciso, portanto, como Jesus, compadecer cada um daqueles que estão longe de Deus, como ovelha sem um guia seguro. Isto através da palavra, do exemplo, das preces, de um apostolado ardente, zelo pela salvação de todos, discernindo perante todos o essencial do acessório. A começar pelo testemunho de vida lá onde Deus o colocou e, na medida do possível, se engajando em algum movimento de apostolado, ajudando na evangelização no meio em que vive. Através de todos aqueles que procuram estar em união com Ele, Jesus continua a ter compaixão dos que estão fora dos caminhos do bem e da virtude, em situações que precisam de amparo espiritual. Estar sempre unido a Deus, para O levar aos que dele se apartaram. A vida do cristão deve ser ritmada pelo desejo de espalhar a virtude por toda a parte num interesse constante pelo bem espiritual próprio e dos outros, numa visão iluminada pela fé na vida eterna. Jesus mandou os doze apóstolos a evangelizar, mas depois os levou ao descanso da prece junto dele. Cada um deve estar atento, pois a qualquer momento o Senhor o tira de suas tranquilidades para o bem do próximo que deve ser envolvo na compaixão do Filho de Deus a chamar para os caminhos da conversão própria e dos irmãos. Trata-se da abertura da vida divina dentro de si e na existência daqueles com os quais se convive. Não se está nunca sozinho neste mundo, mas temos que ter consciência de que participamos de uma aventura coletiva. Somos responsáveis uns pelos outros. Deus não pode estar em nós se Ele não se acha entre nós. Trata-se da solidariedade cristã que é o fundamento de todo apostolado. Há sempre alguém que reclama atenção, uma criança que chora, um trabalhador que clama por um salário melhor, um jovem que está perdido em suas ilusões, enfim, pessoas nas mais variadas circunstâncias que precisam de apoio, de uma palavra de conforto, de luzes para uma nova vida. O campo do apostolado é imenso e a todos se deve levar a compaixão de Jesus.” Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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