quarta-feira, 30 de junho de 2021

 

O ENVIO MISSIONÁRIO DOS APÓSTOLOS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

São Marcos mostrou como Jesus ofereceu uma sublime missão aos doze Apóstolos (Mc  6, 7-13). Dois a dois pela primeira vez os envia como evangelizadores. É Cristo, o divino missionário que chama cada um dos cristãos e lhe confia um grande ministério. Isto fica também claro no evangelho de São João: onde lemos que Jesus dirá a seus discípulos: “Não fostes vós que escolhestes a mim, fui eu que vos escolhi a vós e vos constitui, para que vades e produzais fruto...” (Jo 15,16) Isto é maravilhoso, mas significa uma grande responsabilidade de se saber comissionado pelo Filho de Deus na difusão de seu reino nesta terra. Uma certeza, porém, tem o cristão, a saber, que ele não está sozinho, mas que Jesus está com ele e nele, É Ele que se está a anunciar e isto ocorre por meio da ação e das palavras de seus seguidores. Eis porque Ele prescreveu que não se levasse nada, a não um simples cajado, nem pão, nem alforje, nem dinheiro no cinto Esta pobreza do apóstolo não somente pobreza material, mostra bem que ele leva um tesouro em vasos frágeis. Isto significa que não se deve pretender tocar o coração das pessoa através de talentos pessoais, ou qualquer artifício literário, mas unicamente contando com a graça de Deus. Cumpre ser sempre um instrumento humilde nas mãos divinas e maravilhas de conversão se darão sempre no campo do apostolado. Quando alguém percebe que é fraco é que se torna forte e rico do poder divino. Foi com esta humildade que os apóstolos expulsavam muitos demônios e curavam com unções inúmeros doentes. Viam assim o fruto de sua missão bem executada. Por vezes Deus não torna visível o que Ele opera nos corações, mas o apóstolo não desanima, pois tem certeza de que no momento oportuno virão os frutos daquilo que se plantou. Nem sempre a palavra de Deus é acolhida, mas só o fato de se ter pregado em nome do Senhor é um testemunho que poderá um dia germinar. A verdade é que todos os atos corretos do cristão retêm uma mensagem de vida eterna. Cumpre ao batizado fazer um ato de total abandono aos desígnios divinos para que Deus possa tocar os corações através de um testemunho de vida verdadeiramente salutífero. Portanto, o itinerário do seguidor de Cristo se dá numa pedagogia celestial, esteja ou não consciente disso quem procura tudo realizar para glória de Deus e bem das almas. Por vezes a confrontação com as forças do mal pode se tornar uma luta terrível, mas a perseverança do cristão expulsa demônios que querem infestar a seara do Senhor. Adversidades surgem para serem vencidas, seja aonde for. Assim sendo, para proclamar as grandezas do reino de Jesus, antes de tudo e sobretudo, é preciso o desapego dos bens terrenos para incutir nos outros o amor às riquezas celestiais. Trata-se de um minimalismo que leva a simplificar a vida, eliminando os excessos e mantendo apenas o que é essencial. Um salutar desejo de saber viver com menos, numa liberação até do espaço físico. Quando Jesus instruiu os doze primeiros missionários recomendando-lhes a levar poucas coisas consigo Ele pregava o combate à cultura consumista tão acentuada em nossos dias, quando a mídia lança a ideia de que uma vida boa é uma vida cheia de coisas supérfluas. Quando o apóstolo tem menos coisas, segundo o Mestre divino, ele tem mais liberdade para pregar o evangelho. Com menos coisas acumuladas à sua volta o dia a dia do comunicador da Boa Nova pode estender sua comunicação por abrir assim espaços para as mensagens de Jesus. O desapego das coisas materiais mostra que para o evangelizador as pessoas são mais preciosas que as coisas e o essencial é viver em função das realidades perenes que levam a uma vida eterna feliz junto de Deus. Menos coisas e mais energia vital, eis o que é importante Jesus enviou os apóstolos dois a dois mostrando assim também que o apostolado deve ser feito comunitariamente numa alteridade salutar no anúncio da Boa Nova, tendo, como foi dito, fecundidade não no apoio meramente material, ou seja, nem pão, nem alforre, nem dinheiro, criando assim um espaço Àquele que tudo pode na medida da fé do pregador. É assim, sem dúvida, que se proclama que um Outro é que trabalha no apóstolo, nele e por ele. Este apóstolo abre então grandes espaços para Cristo, tomado como Mestre e Amigo. Este humilde servidor do Evangelho tem no reino de Deus o mais belo lugar, porque servir a Deus torna o homem livre como Ele. Lembremos- nos, finalmente, que Jesus enviou seus apóstolos em número de 12, número altamente simbólico que representa uma totalidade e uma universalidade. De fato os batizados são enviados de   Deus que deseja agir através deles e, por isto, Jesus acentuou a importância da simplicidade dos meios necessários à evangelização a ser vivida em comunidade com o objetivo de fazer crescer o Reino de Deus nesta terra. Se somos cristãos temos o mundo em nossas mãos * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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