DESENVOLVIMENTO
DO REINO DE DEUS
Con. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
No capítulo quarto de seu
Evangelho São Marcos oferece uma série de parábolas sobre o Reino de Deus. Esta
maneira de falar em parábolas era uma característica do ensinamento de Jesus às
multidões e aos discípulos. Desta maneira o Mestre divino levou a compreender o
mistério do Reino de Deus, oculto aos orgulhosos, mas que se revelava aos
pequeninos e humildes de coração. Nas duas parábolas do semeador e do grão de
mostarda há um duplo aspecto que merece especial atenção (Luc 4,26-34). Apelo a
fazer qualquer coisa, como o semeador a semear a tempo e a contra tempo, com
perseverança, a Boa Nova do Evangelho, mas também apelo a fazer isso sem
inquietude, sem se culpabilizar, porque como Jesus falou, ¨quer se dorme ou se
levanta, a semente germina, cresce, não se sabe como”. É preciso crer que o
Evangelho é a semente lançada pelo Filho de Deus nos corações e traz consigo
mesmo um princípio de desenvolvimento, uma força que a levará a seu completo
acabamento. A semente da Palavra de Deus está na Bíblia e vem a todos também
através dos comentários que sobre ela são feitos por escrito ou oralmente e
cada cristão então pode se tornar também um semeador cooperando com seu Senhor
do qual se torna servidor. Tudo isto com muita fé e esperança, amor e
perseverança dado que toda a energia vem do alto. Através dos tempos o mundo se
mostra refratário, resistente e até mesmo hostil ao anúncio do Evangelho, mas o
pequeno grão tem germinado não se sabe como e o minúsculo grão do Reino de Deus
pode até se tornar uma grande árvore. Formidável é o poder de Deus oculto num
germe da vida. Paciência, verdadeira energia do Espírito, trabalho invisível
até chegar os tempos das colheitas. Cumpre, entretanto, não se esquecer que é
próprio da fé crer e esperar. O semeador
crê na colheita que há de vir. Quando
se semeia não se sabe ainda como será a colheita final, mas se semeia porque se
crê na potência da Palavra de Deus. A semente vem do céu até o ser humano que
depois a espalha por palavras e exemplos. Com a graça de Deus a sua Palavra,
semente divina, mais hora menos hora, produzirá resultados maravilhosos. Apenas
Deus sabe a quantidade de frutos que virão. Quem ouve a Palavra de Deus ou
depois a semeia não deve querer resultados imediatos, pois poderá ficar
decepcionado. Os precipitados entram sempre no rol dos desiludidos. Quem recebe
a semente da Palavra divina e a semeia entrega o tempo a Deus sem se preocupar
com a quantidade da produção que ao Senhor pertence. Ele não impõe uma quota,
mas ordem “Semeai”! Acolher ao máximo a semente de Deus dentro de si mesmo e
semear tudo que possa, tanto quanto se pode, até mesmo o pouco que se tenha,
porque o mais pequenino grão pode se tornar uma planta frondosa. Recebida,
porém, a palavra de Deus e, em seguida, a semear, o importante não será possuir
muita sabedoria teológica, mas o principal, isto sim, é ter muito amor a Deus,
distribuindo os grãos recebidos do Senhor no campo, isto é, onde cada um vive e
trabalha. Nunca se deve esquecer que o Reino de Deus consiste na Santidade e na
Graça, na Verdade e na Vida, na Justiça, no Amor e na Paz, como proclamamos no
Prefácio da solenidade de Cristo Rei. Este reino se faz realidade, em primeiro
lugar, dentro de cada um, para em seguida ser espalhado mundo todo. Na alma de
cada cristão Deus pelo batismo semeia as sementes celestiais. Cabe ao batizado
possibilitar que estas sementes germinem, cresçam e, deste modo, elas se
multipliquem em boas obras de serviço e caridade, de amabilidade e de
generosidade, de sacrifício, dando frutos de felicidade para todos com quem os
discípulos de Cristo convivem. Deste modo, o Reino de Deus se estende dentro
das famílias, nas cidades, em toda a sociedade. Esta fica então iluminada pela
verdade e retificado se torna o caminho que leva ao céu, tudo penetrado pela
força da graça, iluminado pela luz da verdade. A semente começa pequenina como
um grão de mostarda quando é semeada na terra. Depois, porém de semeada cresce
e pode até ultrapassar todas as hortaliças. Como no tempo dos primeiros
cristãos, Jesus pede que hoje em dia espalhemos seu Reino nesse mundo. O Reino de Deus é poder, superabundância de
vida. A semente germina por si mesma, mas precisa cair em terra boa. O semeador
pode se distanciar, podem vir a noite e o dia, porém, como diz o salmo 125, o
Senhor é o protetor de quem nele confia. A imagem do desenvolvimento do Reino
de Deus reflete bem a grandeza em que vive o cristão, realidade que o
ultrapassa mas que deve ser usufruída em plenitude. Excede sempre o ser humano,
mesmo porque o Reino de Deus não fica confinado nesta terra, mas é algo a ser
gozado por toda a eternidade. Professor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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