quinta-feira, 10 de junho de 2021

 

ATO DE FÉ ABSOLUTA EM JESUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Uma tempestade lançava ondas sobre o barco no qual estavam os discípulos e o Mestre divino que se achava descansando. Apavorados os apóstolos O despertaram e, Ele com seu poder, serenou a procela. Cristo, porém, chamou a atenção de seus epígonos que estavam dominados pelo temor: “Porque estais com tanto medo? Como ainda não tendes fé? (Mc 4,35-40) É que eles não haviam ainda abandonado a maneira humana de conhecer Jesus para poder depositar um ato de fé incondicional nele, o Salvador que ali estava. Cumpre um verdadeiro conhecimento de Jesus e de sua capacidade que salva pela força e pela glória que lhe pertencem. Ao acalmar o vendaval Ele demonstrou seu domínio sobre o vento e sobre o mar. Os discípulos sem a fé, que lhes seria mais tarde fruto da manhã de Páscoa, se apavoraram com a tempestade mesmo estando Jesus junto deles. Cristo diagnosticou a causa de seus temores e, entre elas, a falta de absoluta confiança nele. Viu neles pessoas de fé diminuta. É a fé profunda que possibilita compreender toda a grandeza de Jesus no qual se deve inteiramente confiar. Os apóstolos puderam ultrapassar de uma compreensão exterior dos atos de Cristo a uma compreensão interior de sua divindade. Passaram com o tempo dos gestos exteriores do Mestre, ao Jesus Redentor. Isto mostra que se limitar aos gestos exteriores do Filho de Deus, ao Jesus da história pode impedir que se chegue a um ato de fé verdadeiro. Eis uma das grandes lições a se tirar do maravilhoso episódio da tempestade acalmada. Ainda como Cardeal, Ratzinger, o Papa São João Paulo II, alertava sobre a tentação de se reduzir Jesus-Cristo, o filho de Deus, a um simples Jesus histórico, a um mero homem, embora se professando seu poderio extraordinário.  Ainda que não se negue abertamente a divindade de Jesus, cria-se um Jesus à medida terrena, “um Jesus possível e compreensível segundo os parâmetros da historiografia humana”. Advertia ainda o então Cardeal Ratzinger: “Este Jesus histórico é um artefato, imagem de seus autores e não a imagem do Deus vivo.   Não é, porém, o Cristo da fé que é um mito, mas o Jesus histórico que não passa de uma figura mitológica, auto inventada por falsos intérpretes. Entretanto o Jesus fraco, fatigado e dormindo e o Jesus forte que serena a tempestade são a mesma pessoa, o único Filho de Deus, Redentor onipotente. Cumpre se tenha uma fé firme no Verbo encarnado manifestada na observância integral de todos os seus ensinamentos e não apenas recorrer a Ele nos instantes cruciais como se Ele fosse apenas um super. Homem”. Pelo Evangelho de hoje Jesus quer nos falar desta fé verdadeira, integral que leva os cristãos a ver sempre nele o Deus e homem verdadeiro e não apenas o protetor nos momentos tempestuosos da vida. Jesus está então a interrogar: “Porque estais com medo?  Como ainda não tendes uma fé verdadeira que envolva toda a vida em cada instante?” Nada, portanto, de uma atitude eivada de ceticismo, de dúvida, de angústia, de medo, de falta de coragem. A fé em Jesus, Deus e homem verdadeiro, deve dar ânimo total e, por outro lado, está fé exige coragem para enfrentar os problemas da vida sem se entregar a mórbidas agonias. A fé em Jesus, enquanto é um ato de confiança e não de simples adesão intelectual, deve se refletir na conduta, no modo de ser do cristão que nunca se deixa dominar pela tristeza, pela depressão, pelo desânimo, pelo pavor. Quem tem fé verdadeira em Cristo sabe que não apenas Ele caminha a seu lado e pode agir nos momentos tempestuosos da existência, mas ainda que Ele deve ser a vida da vida de cada um, de seu seguidor que está sempre disposto a fazer em tudo a vontade do Mestre divino e, assim, jamais se deixa dominar pela angústia, pelo medo, pois repete sempre com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza”. (Fil 4,13) Então, sim o. discípulo de Cristo conhece o verdadeiro caminhar espiritual. Lá na barca Jesus viu o interior dos apóstolos apavorados, pessimistas, dado que tudo estava perdido para eles e, não obstante, ali estava quem era todo poderoso, não apenas para amainar a ventania, mas que devia dar segurança absoluta, afastado todo o doentio temor. Jesus não via então uma fé absoluta que impregnava inteiramente aqueles apóstolos apavorados. Como hoje em dia tantos entregues a suas inseguranças interiores, aos abatimentos, às amarguras por não depositar absoluta confiança em Jesus presente na sua Igreja, ao lado de seu verdadeiro discípulo que nele pode e deve inteiramente acreditar. Esta é a questão que Jesus oferece a seus seguidores no coração das tempestades de suas vidas:” Por que ter medo se Ele está junto deles”.  O questionamento de Jesus é importante porque a fé não consiste em dizer “eu creio” quando tudo vai vem, mas em dizer “eu creio e confio em Ti” quando surgem as tormentas.  A fé deve se apoiar em Cristo, impregnando inteiramente o ser de seu discípulo, que deve viver todos os acontecimentos com Ele e, portanto, sem vãos temores, pois Ele não abandona nunca quem deposita nele total confiança. Jesus coloca em paralelo fé e destemor, confiança e coragem. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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