segunda-feira, 19 de julho de 2021

 

DAI-NOS SEMPRE DESTE PÃO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus de uma maneira admirável mostrou que Ele é o Pão da Vida, o Pão que veio do céu. O resultado desta verdade, exposta pelo próprio Cristo, foi a súplica daqueles que a escutaram: “Dá-nos sempre desse pão (Jo 6,23-35). No Evangelho de São João vemos, através de palavras simples, ensinamentos profundos sobre a pessoa de Jesus e sua sublime obra redentora.  Para os outros evangelistas os milagres de Jesus foram sobretudo atos de um poder maravilhoso que marcaram a irrupção do reino de Deus na história dos homens. Segundo eles, por estes milagres o Filho de Deus inaugurou na terra a realização definitiva da vontade divina, são vitórias sobre o falso príncipe deste mundo, satanás. Para São João o objetivo dos milagres de Jesus foi revelar que Ele era o Enviado de Deus, o Filho de Deus, transmitindo aos homens as palavras do Senhor Onipotente, cumprindo assim sua obra nesta terra. Ele deveria ser em tudo seguido. Deste modo, segundo este evangelista, os milagres apontavam, sempre diretamente sobre a pessoa de Jesus em quem se deveria crer, esperar, certo de que dele vinha a salvação. Foi o que ficou bem claro no milagre da multiplicação dos pães. Aqueles que captavam o sentido profundo dos sinais operados por Cristo e penetravam fundo em suas palavras maravilhosas nelas imergiam como os que exclamaram: “Dá-nos sempre deste pão”. Eram aqueles que percebiam uma relação única de Cristo com o Pai que o enviara, sabendo que Ele e o Pai eram uma mesma pessoa e, por isto, ele tornava visível nesta terra a santidade divina, seu poder e seu amor. Isto significava que se atinou com o mistério da pessoa de Cristo, que passava a ser visto não apenas como um esplêndido ideal do homem dado a seus irmãos, não somente o Galileu cujas palavras comoviam os ouvintes, mas sobretudo Aquele que estava marcado com o sinal do Pai e que podia dar o alimento que permanece para a vida eterna. Isto porque Ele tinha o poder de vencer a morte, dado que era o Filho do Pai celeste, Senhor da vida. Mais poderoso que Moisés que pela força de Deus dava o maná ao povo no deserto, alimentando-o, Jesus, seria Ele mesmo o alimento dos que nele cressem, Pão vivo descido do céu, realizando algo muitíssimo superior ao que fizera Moisés. O Pão vivo descido do céu era Ele mesmo. O maná foi um alimento perecível, mas o alimento da Nova Aliança era o próprio Senhor da vida que deixaria para os que nele crescem algo mais prodigioso. O discurso sobre esse prodígio foi tão convincente que logo suscitou o desejo dos ouvintes a receber tão maravilhosa dádiva, que transmitia uma segurança inestimável, envolvendo quem o recebesse com sua eficácia muito superior aos alimentos terrestres. A grandiosa obra de Deus era que acreditassem nele e quem O recebesse teria como o penhor desta fé uma eternidade feliz. Deste modo, a fé seria o fundamento da obra de Deus e ao mesmo tempo a resposta do homem. Na época de Jesus a fé em Israel era antes de tudo um fazer ou não fazer segundo os 613 mandamentos que estavam em vigor ou seja 365 interdições e 248 exortações. Muitos dentre estas ordens não eram senão preceitos humanos que foram ligando-se entre si, alguns até contrários à vontade divina. Jesus foi claro ao afirmar que muitos o honravam com os lábios, enquanto o seu coração estava bem longe dele: “Em vão, porém, me prestam culto, ensinando doutrina que são preceitos humanos” (Mc 7, 1-13|). Deviam ser observados sob pena de ser maldito (Gal 3,10). Linguagem, portanto, dos homens, porque Deus não amaldiçoa jamais; Ele, quer sempre abençoa, além de serem estes preceitos antigos um fardo desumano impossível de ser suportado (Mt 11,28-30). Ao se declarar o Pão da Vida Jesus unificava tudo   e ensinava que a obra de Deus era que se acreditasse naquele que Ele enviou. Eis aí a grande mensagem da Nova Aliança. Crer em Jesus e fazer o que Ele ensinou. Ele que veio ao mundo não para condenar, mas para salvar. O Maná era o símbolo da Lei, Palavra de Deus, mas como foi dito, muitas vezes deturpada. Jesus, porém, era o Pão de Deus, penhor da vida eterna, descido do céu para dar vida ao mundo. A Ele, portanto, se deveria aderir inteiramente numa comunhão estreita e constante para receber com Ele a vida eterna. Donde a prece “Senhor, dá-nos sempre deste pão”.  Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário