DAI-NOS SEMPRE
DESTE PÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Jesus
de uma maneira admirável mostrou que Ele é o Pão da Vida, o Pão que veio do
céu. O resultado desta verdade, exposta pelo próprio Cristo, foi a súplica
daqueles que a escutaram: “Dá-nos sempre desse pão (Jo 6,23-35). No Evangelho
de São João vemos, através de palavras simples, ensinamentos profundos sobre a
pessoa de Jesus e sua sublime obra redentora.
Para os outros evangelistas os milagres de Jesus foram sobretudo atos de
um poder maravilhoso que marcaram a irrupção do reino de Deus na história dos
homens. Segundo eles, por estes milagres o Filho de Deus inaugurou na terra a
realização definitiva da vontade divina, são vitórias sobre o falso príncipe
deste mundo, satanás. Para São João o objetivo dos milagres de Jesus foi
revelar que Ele era o Enviado de Deus, o Filho de Deus, transmitindo aos homens
as palavras do Senhor Onipotente, cumprindo assim sua obra nesta terra. Ele
deveria ser em tudo seguido. Deste modo, segundo este evangelista, os milagres
apontavam, sempre diretamente sobre a pessoa de Jesus em quem se deveria crer,
esperar, certo de que dele vinha a salvação. Foi o que ficou bem claro no
milagre da multiplicação dos pães. Aqueles que captavam o sentido profundo dos
sinais operados por Cristo e penetravam fundo em suas palavras maravilhosas nelas
imergiam como os que exclamaram: “Dá-nos sempre deste pão”. Eram aqueles que
percebiam uma relação única de Cristo com o Pai que o enviara, sabendo que Ele
e o Pai eram uma mesma pessoa e, por isto, ele tornava visível nesta terra a
santidade divina, seu poder e seu amor. Isto significava que se atinou com o
mistério da pessoa de Cristo, que passava a ser visto não apenas como um
esplêndido ideal do homem dado a seus irmãos, não somente o Galileu cujas
palavras comoviam os ouvintes, mas sobretudo Aquele que estava marcado com o
sinal do Pai e que podia dar o alimento que permanece para a vida eterna. Isto
porque Ele tinha o poder de vencer a morte, dado que era o Filho do Pai celeste,
Senhor da vida. Mais poderoso que Moisés que pela força de Deus dava o maná ao
povo no deserto, alimentando-o, Jesus, seria Ele mesmo o alimento dos que nele
cressem, Pão vivo descido do céu, realizando algo muitíssimo superior ao que
fizera Moisés. O Pão vivo descido do céu era Ele mesmo. O maná foi um alimento
perecível, mas o alimento da Nova Aliança era o próprio Senhor da vida que deixaria
para os que nele crescem algo mais prodigioso. O discurso sobre esse prodígio
foi tão convincente que logo suscitou o desejo dos ouvintes a receber tão
maravilhosa dádiva, que transmitia uma segurança inestimável, envolvendo quem o
recebesse com sua eficácia muito superior aos alimentos terrestres. A grandiosa
obra de Deus era que acreditassem nele e quem O recebesse teria como o penhor desta
fé uma eternidade feliz. Deste modo, a fé seria o fundamento da obra de Deus e
ao mesmo tempo a resposta do homem. Na época de Jesus a fé em Israel era antes
de tudo um fazer ou não fazer segundo os 613 mandamentos que estavam em vigor
ou seja 365 interdições e 248 exortações. Muitos dentre estas ordens não eram
senão preceitos humanos que foram ligando-se entre si, alguns até contrários à
vontade divina. Jesus foi claro ao afirmar que muitos o honravam com os lábios,
enquanto o seu coração estava bem longe dele: “Em vão, porém, me prestam culto,
ensinando doutrina que são preceitos humanos” (Mc 7, 1-13|). Deviam ser
observados sob pena de ser maldito (Gal 3,10). Linguagem, portanto, dos homens,
porque Deus não amaldiçoa jamais; Ele, quer sempre abençoa, além de serem estes
preceitos antigos um fardo desumano impossível de ser suportado (Mt 11,28-30).
Ao se declarar o Pão da Vida Jesus unificava tudo e ensinava que a obra de Deus era que se
acreditasse naquele que Ele enviou. Eis aí a grande mensagem da Nova Aliança.
Crer em Jesus e fazer o que Ele ensinou. Ele que veio ao mundo não para
condenar, mas para salvar. O Maná era o símbolo da
Lei, Palavra de Deus, mas como foi dito, muitas vezes deturpada. Jesus, porém,
era o Pão de Deus, penhor da vida eterna, descido do céu para dar vida ao
mundo. A Ele, portanto, se deveria aderir inteiramente numa comunhão estreita e
constante para receber com Ele a vida eterna. Donde a prece “Senhor, dá-nos
sempre deste pão”. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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