A MULTIPLICAÇÃODOS PÃES
Con.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus tendo ido para o outro lado do mar da Galileia
viu uma multidão que o seguia (Go 6,1-15), A partir de cinco pães e dois peixes,
Ele “rendeu graças e os distribuiu” para quase cinco mil homens. Deus todo
poderoso que era pôde fazer aquele prodígio e, quanto a nós, mais do que
procurar simplesmente explicações de como isto foi feito, deve nos interessar a
razão pela qual Ele realizou tão estupendo milagre É certo que seus milagres
foram prova de seu poder divino, mas, além de nos levar até um Deus
todo-poderoso, precisam aumentar uma total e absoluta confiança nele. Todo e
qualquer milagre sobre ser um sinal destinado a atrair a atenção é algo que une
uma realidade material a uma significação espiritual. Deus em seu ato criador,
dispôs as leis naturais para organizar o cosmos, este mundo maravilhoso no qual
vivemos e os milagres que derrogam estas leis, são sempre algo de excepcional.
Nos milagres operados por Jesus, porém, além de admirarmos sua onipotência,
cumpre captar a manifestação do interesse de Deus pelas suas criaturas. Ele não
faz nada de absurdo e sempre tem em vista ajudar os homens, restaurando lhes a
saúde, sua dignidade, sua vida. Os prodígios operados por Ele visaram
testemunhar sua benevolência, seu amor para com os seres racionais. É isto
precisamente que contemplamos na multiplicação dos pães. Mesmo na sua época,
como acontece em nossos dias, milhares passando fome, mas vemos que Ele se
condoeu de um grupo de cerca de cinco mil homens, Esta clemência ocorreu com os
doentes, os coxos e aleijados, mas Ele curou apenas alguns deles. Epidemias,
guerras se sucedem através dos tempos, mas a ação do divino Taumaturgo se
limitou a alguns episódios durante sua passagem por este mundo. É que a
intenção primordial de Cristo era mostrar que, vindo atender as esperanças de
alguns, Ele firmou a expectativa de todos. Aliás, Ele mesmo afirmou: “Vinde a
mim todos vós que estais atribulados e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Atendendo às
súplicas de quem nele confia, vindo em auxílio dos atribulados, Ele deixa,
contudo, palpitante o desejo da busca do bem absoluto que se possuirá apenas na
outra vida. Aqueles para quem Ele multiplicou os pães voltariam a ter fome, mas
eles se lembrariam de que havia alguém que com sumo poder os auxiliaria, se
nele confiassem e procurassem em tudo os bens eternos. Daí então ser necessário
ir sempre à fonte da verdadeira e perene felicidade. Assim sendo, a multiplicação
dos pães hoje recordada vem lembrar uma multiplicação muito mais maravilhosa
que é a multiplicação do Pão eucarístico que vem alimentando espiritualmente milhares
de fiéis através dos tempos e é, em si, o pão da vida eterna. Jesus mesmo asseverou:
“Quem come deste pão viverá eternamente” (Jo 6, 51), quando obterá o bem
absoluto sem limitações alguma. Jesus, quer, portanto, que desejemos o sumo
Bem. O pão que Ele multiplicou para aqueles que O seguiam não impediria que
eles voltassem a ter fome, mas era assim sinal do Pão da vida que era Ele mesmo,
sabedoria de Deus. Além disto, Cristo deixou outro ensinamento mostrando que
para Ele o seu alimento era fazer a vontade do Pai e que nossos desejos estejam
orientado para fim tão nobre e necessário. Ensinou seus discípulos a pedirem
sempre a Deus “seja feita a vossa vontade” (Mt 6,10). Deste modo nossas
aspirações e bens materiais devem ser orientados sempre para sua verdadeira
finalidade. Tudo deve convergir para nossa vocação espiritual, ou seja, tendo
como referência a pátria verdadeira para a qual devem ser orientadas todas as
nossas aspirações. Donde ser importante ter fome de Deus. Nesta peregrinação terrestre não pode faltar
o Pão eucarístico que leva à vida eterna. Este Pão celeste, contudo alimentará
verdadeiramente, espiritualmente milagrosamente somente, quando o fiel se
entregar inteiramente a Ele que fará maravilhas na vida de cada fiel. Uma
relação de fé com Ele é imprescindível, pois se trata de passar do visível ao
invisível. É preciso reconhecer nele a divindade que escapa a nossos olhos mortais,
presença, porém bem real. Entretanto só a fé O pode acolher, reconhecer nele o “Verbo
de Deus que se fez carne e habitou entre nós”. A Ele então presente em nosso
coração e em nossa vida estamos sempre unidos. Trata-se do olhar interior. O
olhar da fé é uma luz admirável que permite
então O acolher de todo o coração e, se este foi um objetivo de todos os
milagres de Cristo, maior ainda ele o foi com a multiplicação do Pão
eucarístico que é o grande alimento desta virtude pela qual se tem uma profunda
Comunhão de vida com Ele. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos
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