terça-feira, 13 de julho de 2021

 

                                                                                                                           A MULTIPLICAÇÃODOS PÃES

Con. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus tendo ido para o outro lado do mar da Galileia viu uma multidão que o seguia (Go 6,1-15), A partir de cinco pães e dois peixes, Ele “rendeu graças e os distribuiu” para quase cinco mil homens. Deus todo poderoso que era pôde fazer aquele prodígio e, quanto a nós, mais do que procurar simplesmente explicações de como isto foi feito, deve nos interessar a razão pela qual Ele realizou tão estupendo milagre É certo que seus milagres foram prova de seu poder divino, mas, além de nos levar até um Deus todo-poderoso, precisam aumentar uma total e absoluta confiança nele. Todo e qualquer milagre sobre ser um sinal destinado a atrair a atenção é algo que une uma realidade material a uma significação espiritual. Deus em seu ato criador, dispôs as leis naturais para organizar o cosmos, este mundo maravilhoso no qual vivemos e os milagres que derrogam estas leis, são sempre algo de excepcional. Nos milagres operados por Jesus, porém, além de admirarmos sua onipotência, cumpre captar a manifestação do interesse de Deus pelas suas criaturas. Ele não faz nada de absurdo e sempre tem em vista ajudar os homens, restaurando lhes a saúde, sua dignidade, sua vida. Os prodígios operados por Ele visaram testemunhar sua benevolência, seu amor para com os seres racionais. É isto precisamente que contemplamos na multiplicação dos pães. Mesmo na sua época, como acontece em nossos dias, milhares passando fome, mas vemos que Ele se condoeu de um grupo de cerca de cinco mil homens, Esta clemência ocorreu com os doentes, os coxos e aleijados, mas Ele curou apenas alguns deles. Epidemias, guerras se sucedem através dos tempos, mas a ação do divino Taumaturgo se limitou a alguns episódios durante sua passagem por este mundo. É que a intenção primordial de Cristo era mostrar que, vindo atender as esperanças de alguns, Ele firmou a expectativa de todos. Aliás, Ele mesmo afirmou: “Vinde a mim todos vós que estais atribulados e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Atendendo às súplicas de quem nele confia, vindo em auxílio dos atribulados, Ele deixa, contudo, palpitante o desejo da busca do bem absoluto que se possuirá apenas na outra vida. Aqueles para quem Ele multiplicou os pães voltariam a ter fome, mas eles se lembrariam de que havia alguém que com sumo poder os auxiliaria, se nele confiassem e procurassem em tudo os bens eternos. Daí então ser necessário ir sempre à fonte da verdadeira e   perene felicidade. Assim sendo, a multiplicação dos pães hoje recordada vem lembrar uma multiplicação muito mais maravilhosa que é a multiplicação do Pão eucarístico que vem alimentando espiritualmente milhares de fiéis através dos tempos e é, em si, o pão da vida eterna. Jesus mesmo asseverou: “Quem come deste pão viverá eternamente” (Jo 6, 51), quando obterá o bem absoluto sem limitações alguma. Jesus, quer, portanto, que desejemos o sumo Bem. O pão que Ele multiplicou para aqueles que O seguiam não impediria que eles voltassem a ter fome, mas era assim sinal do Pão da vida que era Ele mesmo, sabedoria de Deus. Além disto, Cristo deixou outro ensinamento mostrando que para Ele o seu alimento era fazer a vontade do Pai e que nossos desejos estejam orientado para fim tão nobre e necessário. Ensinou seus discípulos a pedirem sempre a Deus “seja feita a vossa vontade” (Mt 6,10). Deste modo nossas aspirações e bens materiais devem ser orientados sempre para sua verdadeira finalidade. Tudo deve convergir para nossa vocação espiritual, ou seja, tendo como referência a pátria verdadeira para a qual devem ser orientadas todas as nossas aspirações. Donde ser importante ter fome de Deus.  Nesta peregrinação terrestre não pode faltar o Pão eucarístico que leva à vida eterna. Este Pão celeste, contudo alimentará verdadeiramente, espiritualmente milagrosamente somente, quando o fiel se entregar inteiramente a Ele que fará maravilhas na vida de cada fiel. Uma relação de fé com Ele é imprescindível, pois se trata de passar do visível ao invisível. É preciso reconhecer nele a divindade que escapa a nossos olhos mortais, presença, porém bem real. Entretanto só a fé O pode acolher, reconhecer nele o “Verbo de Deus que se fez carne e habitou entre nós”. A Ele então presente em nosso coração e em nossa vida estamos sempre unidos. Trata-se do olhar interior. O olhar da fé é uma luz admirável que   permite então O acolher de todo o coração e, se este foi um objetivo de todos os milagres de Cristo, maior ainda ele o foi com a multiplicação do Pão eucarístico que é o grande alimento desta virtude pela qual se tem uma profunda Comunhão de vida com Ele. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

Nenhum comentário:

Postar um comentário