AQUEELE QUE CRÊ
POSSUI A VIDA ETERNA
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Peremptória a assertiva de Jesus: Aquele que crê possui
a vida eterna” (Jo 6, 41-51) A fé exige, porém da inteligência posturas
decisivas como, por exemplo, admitir a existência de Deus, que falou aos homens;
e que Jesus de Nazaré é o divino Redentor, que veio salvar a humanidade perdida
pelo pecado. Além disto, entre outras verdades quem crê deve proclamar que a
Palavra de Cristo permanece na sua Igreja, não obstante as misérias humanas,
anunciando através dos séculos a vitória do divino Crucificado. Entretanto para
alimentar e sustentar esta crença Jesus mostrou que Ele era o pão da vida, o
pão vivo descido céu e quem comesse deste pão viveria eternamente. Isto porque
não é fácil acreditar, depositando em Deus uma confiança total na vida e na
morte. Já o povo escolhido fizera a experiência por ocasião do Êxodo. Os filhos
de Israel tinham deixado o Egito na alegria da libertação dos dominadores, mas
como a caminhada no deserto não terminava logo, eles começaram a achar insípido
o maná de Deus e contra Ele passaram a murmurar. Elias no deserto, também ele,
cansado da peregrinação e da hostilidade que sua missão estabelecia, reclamou e
expressou seu sentimento de que Deus estava exigindo demais. Esta dificuldade
em crer os contemporâneos de Jesus a experimentavam, não obstante os milagres
que Ele fazia. Eles O conheciam muito ou, pelo menos, pensavam que O conheciam.
Em Nazaré sabiam quem era sua mãe, uma mulher simples, discreta, sempre alegre.
Cria-se que sabiam também quem era seu pai, porque todos tomavam Jesus como
filho do carpinteiro José. Como é então que alguém, tendo crescido numa família
da terra, podia pretender que descera do céu? Eis aí o primeiro murmúrio das
pessoas da Galileia. Um outro murmúrio foi registrado na parte propriamente
eucarística do discurso do Pão da Vida, quando esta expressão é aplicada à
carne de Jesus, oferecida pela vida do mundo. Indagariam escandalizados: “Como
pode este homem nos dar sua carne a comer”? No que diz respeito ao primeiro
murmúrio, que contestava sua origem divina, Jesus se contentou a clamar: “Cessai
de murmurar entre vós” É que as discussões meramente humanas jamais conduzem à plenitude
da fé e somente quem crê é que possui a vida eterna. Esta fé em Deus e em
Cristo não é o resultado de longas e intermináveis elucubrações intelectuais. Ela
é um dom divino e Jesus é “o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer desse pão
viverá eternamente e o pão que eu darei
é a minha carne pela vida do mundo” afirmou Jesus. É que esta fé precisa deste alimento celeste
para se robustecer e jamais se extinguir. Todos os alimentos terrestre não são
nada diante do alimento da fé, que sustenta na crença das coisas de Deus. É certo que temos que trabalhar para poder
comprar o alimento que nos sustenta a vida do corpo Trata-se de um alimento
necessário e urgente e, no entanto, Jesus chama a atenção de que se trata de um
alimento que perece. É preciso então desejar o pão da palavra divina, alimento
da fé que faz crescer em nós a vida da alma, alimento de uma crença firme e
inabalável. Jesus foi claro: “Na verdade vos digo que aquele que crê tem a vida
eterna”. Ele é o pão da vida, que desceu do céu e quem come deste pão não morrerá
jamais. A Eucaristia é, de fato, o pão que é a carne de Cristo para se poder conseguir
esta vida eterna. Nas Missas passamos da liturgia da palavra para a liturgia eucarística
e todos são convidados a comer o pão da vida eterna que é o corpo de Cristo.
Jesus veio de Deus e nos revelou o amor do Pai. Ele era o Messias que viera
para salvar a humanidade e que poderia dar o seu próprio corpo em alimento através
do pão eucarístico. Daí a importância de se firmar a origem divina de Cristo
como fez São João no prólogo de seu Evangelho: “No começo era o Verbo e o Verbo
estava junto de Deus e o Verbo era Deus”. A natureza, portanto, do Filho de
Deus, seu ser, era divino. O Verbo é o Filho
que recebeu a vida do Pai e o Pai é Pai porque ele dá a vida ao Filho. É esta
relação que dá identidade ao Filho e ao Pai e é esta mesma relação que lhe dá o
existir desde toda a eternidade. Pois, bem é esta extraordinária realidade que
é vivida por aquele que comunga recebendo então a plenitude da grandiosidade do
mistério trinitário e Jesus um dia disse a Filipe quem me vê, vê o Pai (Jo 14, 9-10). Aquele que se nutre do alimento eucarístico
une-se cada vez mais intimamente a Deus, recebendo, portanto, a vida eterna, sempre
mais abundante. Porque, assim como o Pai comunica a vida eterna ao Filho unigênito
divinizando-O, assim também o Filho comunica a vida da graça a quem come a sua
carne. Deste modo, pois a vinda no mundo do Filho deve ser reconhecida como o
dom do Pai, verdade que deve ser vivida intensamente em cada comunhão * Professor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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