sábado, 27 de fevereiro de 2021

 

O TEMPLO DE DEUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Quando Jesus expulsou os vendilhões do Templo de Jerusalém, os discípulos se lembraram do que está escrito no Salmo 69: “Devora-me o zelo de tua casa” (Jo 2,13-25). Indagam os comentaristas: “Que vinha Cristo procurar no Templo ao aproximar-se a Páscoa? Que esperava o Filho do Pai encontrar naquele Santuário?” Segundo alguns intérpretes da Escritura Ele veio reencontrar entre os homens a presença viva especial de Deus no meio de seu povo. Ele procurava corações voltados para seu Senhor e rezar com eles. Naquele lugar sagrado Jesus, porém, depara o mercantilismo, a superficialidade e não a adoração cordial ao Ser Supremo. Instalados no Templo estavam mercadores de animais¸ trocadores de moeda. Jesus viera a uma casa de oração e descobre um bando de profanadores do lugar santo. Ao invés de hinos de louvar ao Pai, barulho ensurdecedor de animais e de vendedores que vociferavam. Tudo isto provocou a justa indignação do divino Redentor que não poderia aprovar o que impedia a manifestação de louvor dos verdadeiros adoradores do Pai.  Ali deveriam estar somente os que prestassem o autêntico culto religioso devido ao Criador. Jesus expulsa então todos os vendedores e demais profanadores da Casa do Pai celeste. Manda-os não para trevas exteriores, mas para fora do recinto bendito para que reconhecessem   seu gravíssimo erro e pudessem regressar depois como adoradores em espírito de verdade do Deus de Israel, sem serem escravos de um comércio indigno no lugar destinado ao louvor divino. Estava claro no livro do Êxodo: “Não terás outro Deus que não eu” (Ex 20,1). Apesar da justa e clara lição dada por Cristo aquele Templo de Deus não foi preservado, pois Israel e Roma precipitaram sua ruina.  Com efeito, o descaso de um lado e a violência de outro concorreram para esta ruína, não restando senão a esplanada. Não mais oferendas e sacrifícios ou um Sumo Sacerdote para pronunciar no Santo dos Santos o Nome inefável do Eterno Senhor. Entretanto, através do Sacrifício do Calvário, oferecido pelo Salvador, ficou evidente que o poder de Deus restaria mais forte que todas as idolatrias e que todos os insultos ao Deus verdadeiro. Jesus mesmo profetizou que os judeus poderiam destruir aquele Templo, mas, em três dias, Ele o reergueria (Jo 2,19). Esta predição atravessaria os séculos e deve ressoar fundo dentro do coração dos seus verdadeiros seguidores. Estes devem, portanto, refletir profundamente no que significa o Templo de Deus nesta terra, Trata-se, de fato, do lugar sagrado para se prestar de modo especial toda honra e glória ao Ser Supremo Por toda parte se ergueriam templos majestosos, ricos em ouro e prata, ornados pelos artistas mais renomados, edifícios nos quais brilhariam os esplendores das mais variadas artes, tudo isto para a glorificação de Deus, mas não seria este esplendor externo o essencial. De fato, a sincera consagração interior que o coração de milhares de fiéis ostentariam numa espiritualidade pura seria sempre o essencial. Eis aí o valor imenso do Templo no Novo Testamento, no qual se oferece a renovação incruenta do Sacrifício do Gólgota e do qual se pode verdadeiramente dizer que é oferecido na Casa Sagrada de Deus entre os homens, seja ela pequenina como as mais humildade Capelas ou os mais suntuosas Catedrais e Basílicas. Nelas se encontrariam sempre a salvação do corpo e da alma. É que a presença de Deus não está, de fato, encerrada entre quatro paredes, mas o Templo edificado com materiais terrenos passou verdadeiramente a abrigar corações nos quais este Deus habita, fiéis que se reúnem para comunitariamente louvá-lo ou individualmente, longe do bulício do mundo, para estar silenciosamente com Ele em fervorosas tertúlias, preces que vivificam o mundo. Além disto, cumpre sempre lembrar que Jesus que esteve neste mundo é o Emanuel, o Deus conosco, o novo Templo que surgiu nesta terra e em quem residiu a vida mesma de Deus.  Como mostrou São Paulo aos Colossenses, nele habitou com a humanidade a plenitude da divindade e nele temos plenamente o chefe de todo principado e de toda potestade (Col 2, 9).  São João proclamou solenemente “O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós e nós vimos sua gloria. Ora, de sua plenitude todos nós recebemos” (Jo 1, 14. 16). O Templo de Jerusalém, profanado pelos vendilhões, foi posteriormente destruído. Jesus, Templo vivo de Deus, foi morto e sepultado, mas as forças do mal não prevaleceram e não prevalecerão nunca. Cumpre, porém, a todos que creem e sabem valorizar a Casa de Deus   usufruir de todas as graças que ai se obtêm. Além de tudo isto, é imprescindível nunca se esquecer de que pelo batismo o cristão se torna também ele o templo vivo da Santíssima Trindade. Séria portanto a advertência de São Paulo: “Não sabeis que sois o templo de Deus e que Espírito de Deus habita em vós? Ora se alguém maltrata o templo de Deus, Deus também maltratá-lo-á Porque sagrado é o templo de Deus e   tal templo sois vós” (1 Cor 3,16). É preciso viver initerruptamente na presença deste Deus que mora na alma de quem está em estado de graça. Donde a advertência de São Pedro que se deponha toda malícia e todo engano, os fingimentos, as invejas e todas as maledicências, aproximando-nos de Jesus, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas eleita e estimada perante Deus (2 Pd 2,1-9). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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