sábado, 13 de fevereiro de 2021

 

FAZEI PENITÊNCIA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Neste primeiro domingo da quaresma contemplamos Jesus no deserto, onde passou quarenta dias, sendo aí tentado por satanás. Depois Jesus foi para a Galileia e advertiu: “Completou-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Fazei penitência e crede na Boa Nova” (Mc 1, 12-15). Admirável a concisão de São Marcos a qual não embaça a intensidade dos acontecimentos e de suas preciosas mensagens. Inicialmente, o mistério do deserto para onde o Espírito impeliu Jesus, lugar de um encontro privilegiado com a divindade como havia sido descrito no profeta Oséias. Lá Deus fala ao coração (Os 2,14). João Batista foi uma voz que clamou no deserto, concitando a uma digna preparação do caminho do Senhor. Jesus ficará no deserto 40 dias, ou seja o mesmo tempo que gastou o profeta Elias para chegar através do deserto até à montanha de Deus, o Horeb (1R 19,8) Eis porque. Conforme São Marcos   Jesus foi levado ao deserto pelo Espirito não somente para aí ser tentado pelo diabo, mas também para celebrar a aliança com o Pai e daí partir para cumprir sua missão. Segundo este evangelista Jesus estava com os animais selvagens. Note-se que esta expressão “estar com” em São Marcos tem especial importância. Mais tarde ele a empregará para falar da relação entre Jesus e seus discípulos.  Ele registrará no capítulo terceiro que Jesus instituiu os doze inicialmente para estar com Ele e, depois, para os enviar a pregar. “Estar com” em São Marcos significa uma proximidade, a partilha de uma íntima amizade. Se há esta insistência sobre a vizinhança entre Jesus e os animais selvagens, é para evocar a realização das promessas messiânicas do profeta Isaías. Estas promessas foram ouvidas na liturgia da noite de Natal: “Despontará um rebento do tronco de Jessé e um renovo brotará de sua raiz Sobre ele repousará o Espírito do Senhor [,,,] Habitarão juntos o lobo e  cordeiro [...] Não causarão mal algum  em todo meu santo monte . É que com o Messias se instaura uma nova harmonia entre o homem e a criação, encontra-se novamente a paz do paraíso perdido. E se dá a aliança prometida a Noé: “Eis que eu estabeleci minha aliança convosco, com vossos descendentes e com todos o os seres vivos que estão em vosso derredor”. Realizada a primeira aliança, o Messias pode então anunciar aos homens: “Completou-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Fazei penitência e crede na Boa Nova”. Deste modo, em poucas palavras tudo nos é comunicado sobre a vida e missão de Jesus que afronta vitoriosamente o mal e reconcilia a criação e anuncia a Boa Nova. São Pedro com razão salienta a presença do Espírito Santo no mistério da Páscoa de Jesus: “Cristo ele mesmo foi uma vez morte pelos pecados, justo pelos injustos, afim de nos levar até Deus. Entregue à morte segundo a carne, foi vivificado conforme o Espírito”. Durante toda sua vida é este Espírito que age em sua obra.  É tudo isto que nos está a lembrar este trecho do Evangelho de hoje.  Marcados pelo selo do Espírito Santo entramos no combate da fé, e pelo poder do Espírito Santo entramos na paz da nova criação, do Paraíso renovado.  Para isto a penitência preceituada por Jesus é indispensável, lembrados, contudo, que é Deus, nosso Pai que produz em nós o querer e o fazer, segundo seu desejo benfazejo como bem lembrou São Paulo aos filipenses (Fil 2,13).  Jesus quarenta dias no deserto fazia penitência e, assim partilhava a doce harmonia da criação reconciliada do reino de Deus que se aproximava da humanidade. A situação de Jesus era emblemática Jesus no deserto tentado por satanás, mas em harmonia com as criaturas e, após, num caminho pessoal de anunciar fielmente a Boa Nova.  Boa Nova   de Deus cujo segredo manifestará plenamente. Pôr isto Ele pôde se dirigir a nós e aos homens de todos os tempos mandando fazer sacrifício e a crer na Boa Nova, ou seja, anunciá-la por toda parte.  O seu discípulo deveria então estar em estado de conversa contínua demonstrando initerruptamente sua profunda fé no seu Evangelho. Isto na novidade de cada instante da vida de cada um, melhorando dia a dia nossa maneira de ser, dando valor a tudo que está em nosso derredor. Uma nova maneira de ser por que o reino de Deus está a nosso alcance. Daí a importância desta quaresma que se inicia, prestando atenção uns aos outros para estimular na caridade todas as boas obras. Quarema é tempo de tempo de penitência, da caridade, de abertura total à verdade de Jesus, o que significa, de fato, viver a Boa Nova. Portanto, realmente, poucas palavras no trecho de São Marcos, objeto de nossas reflexões, mas incitamento a muitas ações; pouco discurso, mas muita ação, levando a realizações concretas, imediatas.  Jesus no deserto se mostrou fiel ao Pai e na harmonia da criação o pensamento organizador de Deus rebrilhou fulgurantemente.  Sigamos seu conselho, façamos penitência e creiamos na Boa Nova. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.                                                                                                                      

 

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