FAZEI
PENITÊNCIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Neste primeiro domingo
da quaresma contemplamos Jesus no deserto, onde passou quarenta dias, sendo aí
tentado por satanás. Depois Jesus foi para a Galileia e advertiu: “Completou-se
o tempo e está próximo o reino de Deus. Fazei penitência e crede na Boa Nova”
(Mc 1, 12-15). Admirável a concisão de São Marcos a qual não embaça a intensidade
dos acontecimentos e de suas preciosas mensagens. Inicialmente, o mistério do deserto
para onde o Espírito impeliu Jesus, lugar de um encontro privilegiado com a
divindade como havia sido descrito no profeta Oséias. Lá Deus fala ao coração
(Os 2,14). João Batista foi uma voz que clamou no deserto, concitando a uma
digna preparação do caminho do Senhor. Jesus ficará no deserto 40 dias, ou seja
o mesmo tempo que gastou o profeta Elias para chegar através do deserto até à
montanha de Deus, o Horeb (1R 19,8) Eis porque. Conforme São Marcos Jesus
foi levado ao deserto pelo Espirito não somente para aí ser tentado pelo diabo,
mas também para celebrar a aliança com o Pai e daí partir para cumprir sua
missão. Segundo este evangelista Jesus estava com os animais selvagens. Note-se
que esta expressão “estar com” em São Marcos tem especial importância. Mais
tarde ele a empregará para falar da relação entre Jesus e seus discípulos. Ele registrará no capítulo terceiro que Jesus
instituiu os doze inicialmente para estar com Ele e, depois, para os enviar a pregar.
“Estar com” em São Marcos significa uma proximidade, a partilha de uma íntima
amizade. Se há esta insistência sobre a vizinhança entre Jesus e os animais selvagens,
é para evocar a realização das promessas messiânicas do profeta Isaías. Estas promessas
foram ouvidas na liturgia da noite de Natal: “Despontará um rebento do tronco
de Jessé e um renovo brotará de sua raiz Sobre ele repousará o Espírito do Senhor
[,,,] Habitarão juntos o lobo e cordeiro
[...] Não causarão mal algum em todo meu
santo monte . É que com o Messias se instaura uma nova harmonia entre o homem e
a criação, encontra-se novamente a paz do paraíso perdido. E se dá a aliança
prometida a Noé: “Eis que eu estabeleci minha aliança convosco, com vossos
descendentes e com todos o os seres vivos que estão em vosso derredor”.
Realizada a primeira aliança, o Messias pode então anunciar aos homens: “Completou-se
o tempo e está próximo o reino de Deus. Fazei penitência e crede na Boa Nova”.
Deste modo, em poucas palavras tudo nos é comunicado sobre a vida e missão de Jesus
que afronta vitoriosamente o mal e reconcilia a criação e anuncia a Boa Nova.
São Pedro com razão salienta a presença do Espírito Santo no mistério da Páscoa
de Jesus: “Cristo ele mesmo foi uma vez morte pelos pecados, justo pelos
injustos, afim de nos levar até Deus. Entregue à morte segundo a carne, foi
vivificado conforme o Espírito”. Durante toda sua vida é este Espírito que age
em sua obra. É tudo isto que nos está a
lembrar este trecho do Evangelho de hoje.
Marcados pelo selo do Espírito Santo entramos no combate da fé, e pelo poder
do Espírito Santo entramos na paz da nova criação, do Paraíso renovado. Para isto a penitência preceituada por Jesus
é indispensável, lembrados, contudo, que é Deus, nosso Pai que produz em nós o
querer e o fazer, segundo seu desejo benfazejo como bem lembrou São Paulo aos
filipenses (Fil 2,13). Jesus quarenta
dias no deserto fazia penitência e, assim partilhava a doce harmonia da criação
reconciliada do reino de Deus que se aproximava da humanidade. A situação de
Jesus era emblemática Jesus no deserto tentado por satanás, mas em harmonia com
as criaturas e, após, num caminho pessoal de anunciar fielmente a Boa Nova. Boa Nova
de Deus cujo segredo manifestará plenamente. Pôr isto Ele pôde se
dirigir a nós e aos homens de todos os tempos mandando fazer sacrifício e a crer
na Boa Nova, ou seja, anunciá-la por toda parte. O seu discípulo deveria então estar em estado
de conversa contínua demonstrando initerruptamente sua profunda fé no seu Evangelho.
Isto na novidade de cada instante da vida de cada um, melhorando dia a dia
nossa maneira de ser, dando valor a tudo que está em nosso derredor. Uma nova
maneira de ser por que o reino de Deus está a nosso alcance. Daí a importância
desta quaresma que se inicia, prestando atenção uns aos outros para estimular
na caridade todas as boas obras. Quarema é tempo de tempo de penitência, da
caridade, de abertura total à verdade de Jesus, o que significa, de fato, viver
a Boa Nova. Portanto, realmente, poucas palavras no trecho de São Marcos,
objeto de nossas reflexões, mas incitamento a muitas ações; pouco discurso, mas
muita ação, levando a realizações concretas, imediatas. Jesus no deserto se mostrou fiel ao Pai e na
harmonia da criação o pensamento organizador de Deus rebrilhou fulgurantemente. Sigamos seu conselho, façamos penitência e
creiamos na Boa Nova. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
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