A LEPRA CONTAGIOSA DO PECADO
Côn. José Geraldo
Vidigal de Carvalho*
Em busca da recuperação de sua
saúde um leproso veio até Jesus e, de joelhos, clamava: “Se queres podes me
curar” (Mc 1,40-45). Ele desejava recuperar inteiramente sua saúde, dando um
sentido a sua existência, ocupando um lugar útil no meio em que vivia. Para os
judeus a lepra era a mais impura das moléstias e o leproso um banido da
sociedade. Tamanha, contudo era a fé daquele doente que, corajosamente, embora
se reconhecendo um pecador, um impuro, foi pedir ao taumaturgo ali presente que
o curasse. Foi atendido e a exigência
era que se apresentasse no templo aos sacerdotes para que tomassem conhecimento
de sua cura. Em nossos dias, isto vem lembrar uma lepra muito mais terrível que
é o pecado no coração do ser humano, o qual Jesus no sacramento da confissão está
sempre pronto a perdoar, purificando a quem tem fé e restabelecendo-o na plena comunhão de sua Igreja; Diante da lepra do
pecado para retornar até Jesus cumpre reconhecer o mal ali presente para que
com a mesma confiança e humildade do leproso se depare a cura espiritual. Para
o cristão é um dever espalhar não o contágio da lepra do pecado, mas sim o contágio
da santidade pela qual se atrai a Jesus pecadores arrependidos, afastando-os
das moléstias espirituais. Admiremos e imitemos sempre a confiança, a
espontaneidade, a veemência do desejo do leproso que Jesus curou. Este quer
sempre e a toda hora a saúde espiritual de seu seguidor e nunca ninguém deve se
julgar incurável, pois isto significaria a perda total de toda a esperança. Em
Jesus devemos contemplar a todo instante a misericórdia, o desejo de fazer seu
discípulo viver a sua vida em função da força de seu imenso amor. Para muitos a
própria imagem é que desola, mas Jesus quer que esta seja afastada para que se
tenha diante de si somente a sua imagem consoladora de salvador, médico que
cura todos os males. É preciso contudo ter continuamente o coração voltado para
Deus. É necessário saber escutar este Deus para se contagiar pelo bem. Muitas
vezes o fiel fala com seu Senhor com muitas palavras, mas não se preocupa em
escutá-lo, desejando ouvir o que Ele tem a lhe transmitir. No combate à lepra
do coração é de sumo valor o silêncio interior que leva a evitar as distrações
que conduzem à desconcentração do divino interlocutor, impedindo um precioso
espaço para acolher seu afeto, sua inspiração, seus oportunos recados. Todo
cuidado é pouco para que o cristão não se torne uma pessoa insensível, pessimista, desesperada, o que se
torna caminho para a entrada da lepra espiritual, É necessário evitar todo o
deterioramento interior. A prece é a ocasião propícia para se olhe serenamente
a vida com todas as circunstâncias que a envolvem, não se deixando dominar pela
lepra do espírito. Isto porque simplesmente reconhecer um mal dominante é
insuficiente, pois é preciso aquela fé que levou o leproso a ir até Jesus e a
Lhe declarar: ´Se queres, podes me curar”. Com efeito, ele reconheceu sua
deplorável situação, mas também sua incapacidade pessoal de operar por si mesmo
a cura desejada. Ele se dirigiu a alguém mais poderoso. A fé ocasionou aquela
relação de confiança que permitiu a atuação de quem, de fato, podia purificá-lo.
Quando Jesus diz ao leproso “Quero, sê limpo”, Ele estava afirmando: “Eu quero que
sejas tudo o que eu posso fazer por ti”. Era, exatamente, o que pensava aquele suplicante
que acreditava, de fato, no poder miraculoso daquele ao qual fizera súplica tão
ardente. Um fato simples, mas ao mesmo tempo maravilhoso, foi realizado por aquele que viera a esta terra
para arrancar a história humana da lepra do pecado. Acontecimento no início da manifestação de Jesus, quando as
multidões O seguiam com um entusiasmo natural e com aquela excitação trepidante
da qual se servem os mistificadores ou reformadores inescrupulosos. Sem dúvida
o leproso focalizado por São Marcos, apesar da maneira sabia com que falou a
Jesus, deve ter ficado antes ansioso, temeroso, mas perseverou no seu propósito.
Ele queria também perceber a ternura humana do famoso Rabi. Tal situação
continuaria através dos tempos, mas inúmeros seriam aqueles qque possuídos pela
fé em Jesus dele se aproximariam e arrancariam prodígios de sua bondade e de
seu poder. Um leproso com todos os terríveis sinais da malfadada doença se
aproximou de Jesus, o santo de Israel,
no qual repousava o Espírito de santidade, Aquele que tinha o poder de curar os
corpos e purificar as almas, Cordeiro sem mancha e só poderia mesmo resultar o
grandioso milagre da cura imediata daquele pobre homem. Cena extraordinária, ou
seja, o impuro em face do Santo, o miserável ante o poderoso Senhor. A lepra
era o mal, mas em Jesus estava o remédio. Era o pecador ante o Salvador. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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