sábado, 6 de fevereiro de 2021

 

A LEPRA CONTAGIOSA DO PECADO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

   Em busca da recuperação de sua saúde um leproso veio até Jesus e, de joelhos, clamava: “Se queres podes me curar” (Mc 1,40-45). Ele desejava recuperar inteiramente sua saúde, dando um sentido a sua existência, ocupando um lugar útil no meio em que vivia. Para os judeus a lepra era a mais impura das moléstias e o leproso um banido da sociedade. Tamanha, contudo era a fé daquele doente que, corajosamente, embora se reconhecendo um pecador, um impuro, foi pedir ao taumaturgo ali presente que o curasse.  Foi atendido e a exigência era que se apresentasse no templo aos sacerdotes para que tomassem conhecimento de sua cura. Em nossos dias, isto   vem lembrar uma lepra muito mais terrível que é o pecado no coração do ser humano, o qual Jesus no sacramento da confissão está sempre pronto a perdoar, purificando a quem tem fé e restabelecendo-o na plena  comunhão de sua Igreja; Diante da lepra do pecado para retornar até Jesus cumpre reconhecer o mal ali presente para que com a mesma confiança e humildade do leproso se depare a cura espiritual. Para o cristão é um dever espalhar não o contágio da lepra do pecado, mas sim o contágio da santidade pela qual se atrai a Jesus pecadores arrependidos, afastando-os das moléstias espirituais. Admiremos e imitemos sempre a confiança, a espontaneidade, a veemência do desejo do leproso que Jesus curou. Este quer sempre e a toda hora a saúde espiritual de seu seguidor e nunca ninguém deve se julgar incurável, pois isto significaria a perda total de toda a esperança. Em Jesus devemos contemplar a todo instante a misericórdia, o desejo de fazer seu discípulo viver a sua vida em função da força de seu imenso amor. Para muitos a própria imagem é que desola, mas Jesus quer que esta seja afastada para que se tenha diante de si somente a sua imagem consoladora de salvador, médico que cura todos os males. É preciso contudo ter continuamente o coração voltado para Deus. É necessário saber escutar este Deus para se contagiar pelo bem. Muitas vezes o fiel fala com seu Senhor com muitas palavras, mas não se preocupa em escutá-lo, desejando ouvir o que Ele tem a lhe transmitir. No combate à lepra do coração é de sumo valor o silêncio interior que leva a evitar as distrações que conduzem à desconcentração do divino interlocutor, impedindo um precioso espaço para acolher seu afeto, sua inspiração, seus oportunos recados. Todo cuidado é pouco para que o cristão não se torne uma pessoa   insensível, pessimista, desesperada, o que se torna caminho para a entrada da lepra espiritual, É necessário evitar todo o deterioramento interior. A prece é a ocasião propícia para se olhe serenamente a vida com todas as circunstâncias que a envolvem, não se deixando dominar pela lepra do espírito. Isto porque simplesmente reconhecer um mal dominante é insuficiente, pois é preciso aquela fé que levou o leproso a ir até Jesus e a Lhe declarar: ´Se queres, podes me curar”. Com efeito, ele reconheceu sua deplorável situação, mas também sua incapacidade pessoal de operar por si mesmo a cura desejada. Ele se dirigiu a alguém mais poderoso. A fé ocasionou aquela relação de confiança que permitiu a atuação de quem, de fato, podia purificá-lo. Quando Jesus diz ao leproso “Quero, sê limpo”, Ele estava afirmando: “Eu quero que sejas tudo o que eu posso fazer por ti”. Era, exatamente, o que pensava aquele suplicante que acreditava, de fato, no poder miraculoso daquele ao qual fizera súplica tão ardente. Um fato simples, mas ao mesmo tempo maravilhoso, foi    realizado por aquele que viera a esta terra para arrancar a história humana da lepra do pecado. Acontecimento no   início da manifestação de Jesus, quando as multidões O seguiam com um entusiasmo natural e com aquela excitação trepidante da qual se servem os mistificadores ou reformadores inescrupulosos. Sem dúvida o leproso focalizado por São Marcos, apesar da maneira sabia com que falou a Jesus, deve ter ficado antes ansioso, temeroso, mas perseverou no seu propósito. Ele queria também perceber a ternura humana do famoso Rabi. Tal situação continuaria através dos tempos, mas inúmeros seriam aqueles qque possuídos pela fé em Jesus dele se aproximariam e arrancariam prodígios de sua bondade e de seu poder. Um leproso com todos os terríveis sinais da malfadada doença se aproximou de   Jesus, o santo de Israel, no qual repousava o Espírito de santidade, Aquele que tinha o poder de curar os corpos e purificar as almas, Cordeiro sem mancha e só poderia mesmo resultar o grandioso milagre da cura imediata daquele pobre homem. Cena extraordinária, ou seja, o impuro em face do Santo, o miserável ante o poderoso Senhor. A lepra era o mal, mas em Jesus estava o remédio. Era o pecador ante o Salvador. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

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