terça-feira, 21 de junho de 2016

dia do papa

DIA DO PAPA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
 Com júbilo a cristandade celebra o Dia do Papa, o Soberano Pontífice, Vigário de Cristo, Chefe visível da Igreja Católica. Ele é o sucessor de São Pedro, uma vez que este Apóstolo foi Bispo de Roma, por um desígnio da Providência divina. Após sua morte todo aquele que foi eleito para esta sede episcopal se tornou herdeiro de toda sua autoridade. Cristo prometera o sumo pontificado a São Pedro ao lhe dizer: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus e tudo que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus (Mt 16,18-19). Após sua ressurreição,   conferiu a ele os primado ao lhe dar esta ordem: “Apascenta  os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas” (Jo 27, 15-18). Portanto, Pedro deveria governar a universalidade  do rebanho, sem nenhuma exceção e com poder supremo e imediato sobre todos os Pastores e Fiéis. Ele assumiu uma posição de autoridade única entre os apóstolos e seu nome é mencionado  na Bíblia mais de cem vezes, sendo que o Apóstolo São João, que é o segundo apóstolo mais citado, o é vinte e nove vezes. A CNBB mostrou como se deve então comemorar o Dia do Papa, ou seja, “com pregações e orações que traduzam amor, veneração, respeito e obediência ao Vigário de Cristo na terra”. De fato, o Papa é o Vigário de Cristo porque ele O representa neste mundo e ocupa o seu lugar na direção de toda a Igreja. É deste modo o Chefe visível da Igreja com a autoridade mesma de Cristo que é o Chefe invisível desta instituição por Ele fundada. Deste modo, o Papa é o Doutor universal, infalível nas definições que dizem respeito à fé e aos costumes, uma vez que tem a assistência contínua do Espírito Santo em virtude de sua suprema autoridade apostólica. Foi, portanto, inspirado Santo Ambrósio ao proclamar: “Lá onde está Pedro, se encontra a Igreja; e lá onde está a Igreja, está Cristo”.   Disto resulta a lealdade que todo católico  deve dedicar ao Papa, observando com fidelidade suas sábias orientações e diretrizes para toda a comunidade eclesial. Sua palavra deve ser acolhida com uma adesão religiosa, fazendo ecoar por toda parte pela vivência de suas diretrizes a voz que emana da cátedra petrina. Em nossos dias maravilhosa a polivalência com que o Papa Francisco tem abordado os problemas atuais. Comunicador admirável não hesita em escolher palavras e fórmulas num linguajar acessível que toca os corações. Por vezes suas expressões são acompanhadas de humor ou de metáforas descomplicadas que fazem a delícia da mídia e impressionam positivamente os fiéis. Quer nas Missa  ou nas audiências ou nos mais diversos encontros no Vaticano ou em suas apostólicas viagens pelo mundo, sua palavra clara, objetiva enleva  os ouvintes. Na primeira Missa que ele celebrou na Capela Sixtina afirmou: “Podemos edificar muitas coisas, mas se não confessamos Jesus Cristo isto nada vale. Tornamo-nos uma ONG humanitária, mas não a Igreja esposa do Senhor”. Na sua primeira alocução por ocasião do “Angelus” alertou: “Deus não se cansa de nos perdoar, se nós vamos a Ele com o coração contrito”.  Na Missa de inauguração de seu pontificado assim se expressou: “Não nos esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço e que o papa, ele também, por exercer o poder deve entrar sempre mais no serviço que tem sua culminância luminosa sobre a Cruz”. Numa de suas homilias na Casa Santa Marta declarou: “A Igreja não pode ser uma baby-sitter que toma conta de uma criança para que ela adormeça. Se assim fosse, seria uma Igreja entorpecida”. Em outra homilia exaltou o júbilo que deve ter todo cristão: “A alegria é um dom do Senhor. Não sejais como cristãos melancólicos que parecem pimenta com vinagre, mas sede pessoas que são alegres e que têm uma vida saudável”. Grande sua preocupação sobre a preservação do meio ambiente. Na primeira celebração deste ano pediu o fim da indiferença que obstaculiza a solidariedade e que a  humanidade  saia da falsa neutralidade que cria obstáculos que impedem a partilha.   Deus o ilumine sempre. lhe dê coragem para enfrentar com sabedora os problemas hodiernos e saibamos usufruir deste Ano da Misericórdia por ele promulgado.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


PA\ COMPLETA DE ESPÍRITO SÓ EM DEUS

PAZ COMPLETA DE ESPÍRITO SÓ EM DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A imperturbabilidade, a isenção de agitações, a serenidade diante dos naturais problemas de um exílio terreno apenas se encontram junto de Deus através de Jesus.  Foi Ele  quem afirmou: “Vinde a mim, vós todos que estais afadigados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.  Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e assim encontrareis repouso para as vossas almas!” (Mt 11,28-29). Nenhum outro personagem da história ousou fazer tal assertiva. Ele pôde assim se expressar porque era Deus e muito nos amou. Não colocou restrições a sua promessa, uma vez que nesta sua declaração estão incluídos os sofrimentos da alma, do coração e de todo o corpo, todas as amarguras psicossomáticas. Psicólogos, psiquiatras, outros notáveis especialistas oferecem processos científicos que visam serenar os que se acham atormentados, inseguros, prisioneiros da fobia, e de outros males. Por vezes, suas orientações e medicamentos não produzem efeito, porque muitos pacientes se esquecem de que a paz interior é condição para que as técnicas humanas possam atingir plenamente seu objetivo.  Esta paz necessária só se encontra junto do coração daquele que verdadeiramente tem poder absoluto de oferecer uma total estabilização interior aos que se acham atormentados. Aliás, não apenas para as doenças psíquicas, mas também para as enfermidades corporais esta paz ajuda para a recuperação da saúde e os remédios com mais rapidez fazem seus efeitos. Adite-se que  ocorre com muitos que se sentem infelizes  o fato deles buscarem a satisfação  de seus mais recrescentes anelos nos bens materiais, nos prazeres pecaminosos ou  nos louvores dos homens. No tumulto das paixões surgem as maiores decepções, dado que elas oferecem algo enganador.  Santo Agostinhos que arduamente procurou soluções para seus conflitos interiores não as deparou no mundo exterior, conforme ele mesmo afirmou no livro “Confissões”, uma de suas obras mais lidas através dos tempos, Suas inquietações foram dissipadas, quando ele se converteu e se tornou epígono de Jesus. No citado livro, que é considerado um clássico tanto da literatura mundial, quanto da teologia e da filosofia cristãs, assim se dirigiu ao Ser Supremo: “Vós nos haveis feito para vós, ó meu Deus, e nosso coração está sempre agitado, até que repouse em Vós” (Conf 1,1). É que o Criador é a fonte da quietude absoluta. Para que se atinja a paz integral é preciso, portanto, como fizeram tantos outros santos, a entrega total, irrestrita e confiante a Ele.  Isto de tal forma que nada mais possa abalar os alicerces do ânimo que então se torna impassível diante das tormentas que assaltam o ser humano tão vulnerável às mesmas. Nem todos os cristãos usufruem de uma quietação plena, constante que os torna inalteráveis, porque deixam eles de estar totalmente sintonizados com o Pai e o Espírito Santo através de Cristo, o verdadeiro médico que sana todas as mazelas. Aí está o motivo pelo qual os santos usufruíram admirável serenidade em todos os momentos e situações adversas, enfrentando as mais árduas tarefas e humilhações com uma quietude singular.  Repetiram sempre com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza”. (Fl 4,13), De fato, quem se apoia em Deus jamais sucumbirá por maiores que sejam as aflições. O cristão que possui a graça santificante e tem consciência de sua participação na vida divina  possui a força suficiente para repousar nas mãos do Todo-Poderoso Senhor. Sente-se imerso na luz celestial e não entrevê trevas, mas luminosidade em torno de si. Com santo temor de perder esta iluminação espiritual tudo faz para não desprezar a amizade de Deus com qualquer pecado grave. Encontra, deste modo, o mais perfeito equilíbrio emocional. Unido a Cristo, caminho para o Pai, recebe o influxo do Espírito Santo que o faz cultivar e colher os seus frutos, entre os quais a paz., a alegria a longanimidade (Gl 5,22-23). Deste modo o repouso em Deus nesta vida se torna o sinal seguro da felicidade eterna junto dele na Jerusalém celeste. Portanto, a paz, ausência de qualquer perturbação, plenitude da felicidade, íntima tranquilidade é consequência da comunhão com Deus no tempo e na eternidade.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 14 de junho de 2016

SIMBOLOS DOS EVANGELISTASS E OBJETIVO DE SEUS ESCRITOS

SIMBOLOS DOS EVANGELISTAS E OBJETIVO DE SEUS ESCRITOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A representação dos quatro evangelistas tem base na própria Bíblia.
              Há no Apocalipse alusão a quatro seres vivos que glorificavam a Deus. Diz São João na sua visão: “O primeiro  animal vivo assemelhava-se a um leão; o segundo a um touro; o terceiro tinha um rosto como de um homem, e o quarto parece-se  com uma águia a voar. [...]  Não descansam dia e noite dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Onipotente, aquele  o que era, é e há de vir” (Ap 4,7-8).
              É a o mesmo número e a mesma denominação dos “seres” que o Profeta Ezequiel viu sustentarem o trono de Deus. (Ez 1,5-10). Porque os quatro animais passaram foram adjudicados aos Evangelistas é clara a explicação de São Gregório Magno: “Que na verdade estes quatro animais alados simbolizam os quatro santos evangelistas, é o que demonstra o próprio início de cada um destes livros dos evangelhos. Mateus é corretamente simbolizado pelo homem porque ele inicia com a geração humana; Marcos é corretamente simbolizado pelo leão, porque inicia com o clamor no deserto; Lucas é bem simbolizado pelo bezerro, porque começa com o sacrifício; João é simbolizado adequadamente pela águia, porque começa com a divindade do Verbo, dizendo: 'No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus' (Jo 1, 1), e assim tem em vista a substância divina, fixando o olhar no sol à maneira de uma águia", Portanto a iconografia cristã se acha bem fundamentada. O principal, porém, é saber que “o Evangelho é a força de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Porque nele a justiça de Deus se revela da fé para a fé, conforme está escrito: O justo viverá da fé”, como explicou São Paulo (Rom16-17). Cada evangelista teve um escopo.
Mateus objetivava mostrar que Jesus é o Messias, o Filho de Davi, anunciado no Antigo Testamento e ansiosamente esperado, mas rejeitado pelos judeus.
Marcos intenta focalizar Cristo também como Messias, mas dá ênfase à sua filiação e missão divinas.  
Lucas é claro quanto ao fim que teve em vista: “Muitos se propuseram escrever uma narração dos fatos que acontecem entre nós, como nos transmitiram o que deles foram testemunhas oculares desde o começo e, depois de ter investigado cuidadosamente tudo desde as origens, eu também resolvi te escrever um relato com ordem e sequência, para que tenhas na devida conta a solidez dos ensinamentos que recebestes oralmente” (1,1-4).  
João também deixou o móvel de seu escrito; “Jesus fez ainda, na presença dos discípulos, muitos outros milagres que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e, acreditando, tenhais vida no seu nome” (20,30-31).
Nota Lavergne no seu livro Synopse des Quatre Évangiles que “Mateus escuta e argumenta; Marcos observa e narra; Lucas examina e expõe; João reflete e comunica”.
 Por isto mesmo se pode dizer que Mateus é o evangelho dos sermões; Marcos o texto dos eventos; Lucas a boa nova do gáudio cristão e João a carta dos sinais da glória de Cristo.
Os Evangelhos são os livros mais valiosos do mundo, pois “nos colocam na presença do magistério de Cristo e permitem provar a autoridade divina deste magistério pelos milagres e cumprimento das profecias. Estes mesmos documentos, além disto, mostram a importância do magistério da Igreja e os caracteres especiais, incomunicáveis que o distinguem”9. A beleza de suas páginas jamais foram igualadas. Seu conteúdo responde plenamente às mais profundas inquirições do espírito humano.
·         Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.










segunda-feira, 13 de junho de 2016

O CULTO AO CORAÇÃO DE JESUS

O CULTO AO CORAÇÃO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O culto ao Coração de Jesus remonta aos escritos dos primeiros teólogos e, sobretudo, se enraíza no texto mesmo da Bíblia. As Escrituras se referem centenas de vezes ao coração. No Evangelho é marcante a passagem que relata o fato do soldado romano que abriu o lado de Jesus morto na Cruz. Daí jorraram sangue e água (Jo 19,34), bem significando as graças redentoras dos sacramentos. Entretanto, somente na metade do século XVIII é que foi oficialmente instituída pela Igreja a festa em honra do Coração de Jesus, atendendo às solicitações formuladas  por santa Margarida Maria Alacoque. O fervor dos fiéis permitiu que esta veneração se tornasse uma comemoração solene celebrada na sexta-feira que segue a semana da Festa de Corpus Christi. Cumpre penetrar fundo na essência da devoção ao Sagrado Coração do Mestre divino.  Esta devoção faz com que o fiel entre no mistério da Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Cristo teve um corpo humano, possuindo assim coração que pulsou de amor pela humanidade que Ele viera remir. Ao ler os Evangelhos se percebe a compaixão que Ele teve pelos sofredores. Movido por esta comiseração foi que  Ele ressuscitou o filho único da viúva de Naim, tendo-se condoído com a tristeza daquela mãe.  Com ternura lhe diz: “Não chores” e realizou o notável milagre (Lc 7,11).  Quando as turbas foram a pé a  sua procura, Ele, ao descer do barco em que estava, segundo São Mateus,  “ao ver aquela multidão, condoeu-se dela e curou-lhes os enfermos” (Mt 14,14). Em seguida, como o lugar era deserto, multiplicou pães e peixes para dar de comer a mais de cinco mil pessoas (Mt 14,21). Este Coração de Jesus tão amoroso se inflamou de cólera ante a profanação do templo de Jerusalém e expulsou os vendilhões clamando: “Está  escrito::”A minha casa é casa de oração, mas vós fazeis dela um antro de ladrões” ( Mt 21,12-13). Acolheu, porém, sempre com ternura os pecadores arrependidos que O procuravam., como aconteceu com aquela pecadora na casa de Simão, o fariseu, numa das mais comovedoras cenas narradas no Evangelho (Lc 7,36-8,3). Ele sabia diagnosticar os sentimentos do ser humano e se mostrava compassivo lá onde reinava um sincero desejo de mudança de vida.   Eis porque o devoto do Coração de Jesus precisa saber compreender o próximo, envolvendo a todos numa caridade fraternal. Isso, contudo, só ocorre a quem se deixa envolver na dileção sem limites de um Deus que é oceano infinito de misericórdia Este Deus initerruptamente  pronto a perdoar como se lê no capítulo 11 do Profeta Oséias.  Com efeito, Israel cercado da ternura do Senhor Onipotente O abandonou, mas este Deus depois encontra um caminho de perdão para seu povo. São Paulo mostrou então  que o Coração  de Jesus fez refulgir nesta terra as quatro dimensões do amor. Assim desejou aos Efésios: “Que Cristo habite, pela fé, vossos corações e que vós, radicados e alicerçados na caridade, sejais capazes de compreender, com todos os santos, qual  seja a largura, ao comprimento, a  altura e a profundidade  isto é, o conhecer a caridade de Cristo, que ultrapassa qualquer conhecimento, de modo que sejais repletos de toda a plenitude de Deus” (Ef 3,17-20). Eis porque o Coração trespassado de Jesus no Calvário é bem o lugar da conversão dos pecadores.  Toda conversão é de um valor imenso diante de Deus porque é a descoberta do pecado causa de tantas amarguras do divino Redentor. Dá-se deste modo a recuperação da graça santificante. Meditar no amor que palpita no Coração de Jesus é encontrar, de fato, a trilha da santidade. Esta devoção leva o cristão a desejar a configuração com o Coração de Jesus, atingindo o ideal alcançado por São Paulo. Este pôde asseverar aos Gálatas: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim. Esta minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e por mim se entregou” (Gl 2, 20-21). O Papa Pio XII na encíclica Haurietis aquas, assim se expressou: “desejando ardentemente opor segura barreira às ímpias maquinações dos inimigos de Deus e da Igreja, como também fazer as famílias e as nações voltarem ao amor de Deus e do próximo, não duvidamos em propor a devoção ao sagrado coração de Jesus como escola eficacíssima de caridade divina; dessa caridade divina sobre a qual se há de construir o reino de Deus nas almas dos indivíduos, na sociedade doméstica e nas nações, como sabiamente advertiu o nosso mesmo predecessor, de piedosa memória: "Da caridade divina recebe o reino de Jesus Cristo a sua força e a sua beleza; o seu fundamento e a sua síntese é amar santa e ordenadamente. Donde necessariamente se segue o cumprir integralmente os próprios deveres, o não violar os direitos alheios, o considerar os bens naturais como inferiores aos sobrenaturais, e o antepor o amor de Deus a todas as coisas".(Mt 26-37). Tudo isto frutos opimos do culto ao Coração de Jesus! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

CONDIÇÕES PARA SEGUIR JESUS

CONDIÇÕES PARA SEGUIR JESUS
Côn. . José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Aos apelos de Jesus cumpre uma resposta profunda, imediata, sem hesitação, sem um entusiasmo  infundado  (Lc 9,57-62).  Nos encontros com o Mestre divino três atitudes são bem exemplificadas no Evangelho de hoje. Alguém disse a Cristo: “Seguir-te-ei para onde quer que fores”. Trata-se de um pretensioso porque pensa ser suficiente este desejo, confiado nas próprias forças, era movido por um entusiasmo passageiro. É logo alertado, pois os caminhos de Jesus são penosos, dado que “o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”. Portanto, seu seguimento exige renúncia aos confortos exagerados da vida e desapego das riquezas. Os bens materiais não devem ser endeusados, mas empregados sabiamente como dons advindos de Deus. O jactancioso orgulho de agir por si só sem confiar na força da graça. Foi o que aconteceu com São Pedro que antes da Paixão de Jesus afirmara: “Ainda que tenha  de morrer contigo não te negarei” (Mt 26,14). Foi contudo advertido pelo próprio Cristo: “Nesta mesma noite, antes de o galo cantar, negar-me-ás três vezes”. Foi o que aconteceu. Portanto, a primeira condição para ser fiel é uma profunda humildade e o reconhecimento dos próprios limites. Não basta um arrebatamento momentâneo, mas um total reconhecimento da necessidade da graça divina. Foi com este auxílio celeste que depois Pedro pôde afirmar a Cristo que ele muito o amava.  A outro personagem, diz o Evangelho de hoje, Jesus disse: “Segui-me”. Ele, porém, queria primeiro  sepultar seu pai. Entretanto, Jesus respondeu: “Deixa primeiro os mortos sepultarem seus mortos, tu vai anunciar o reino de Deus”. A lição foi clara, não que Jesus condenasse um filho por cumprir um dever elementar com relação a seu pai, mas quis mostrar que as preocupações estritamente familiar não devem fornecer escusas para justificar a omissão no trabalho evangelizador. Cristo não reprova a piedade filial, mas quis prevenir os seus seguidores contra todo imobilismo e desvio de um apostolado evangelizador. Um dever não deve excluir um outro mais imperioso. O discípulo de Jesus deve ser um evangelizador. Um terceiro personagem queria primeiro se despedir dos seus parentes e as palavras de Cristo ilustram o que ele já dissera: “Ninguém que no ato de por a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus”. Portanto, Cristo quis ensinar que seu seguidor deve colocar o Evangelho em primeiro lugar. Não se deve nunca colocar as comemorações familiares acima dos deveres religiosos. É o que acontece tantas vezes àqueles que, por vezes, deixam de participar da Missa dominical por motivos inteiramente fúteis e por falta de planejamento de suas obrigações. Jesus sempre se mostrou obediente a José e Maria em Nazaré, atendeu o pedido de Maria nas bodas de Caná e no Calvário não a abandonou e mostrou a São João que deveria cuidar dela como uma mãe. Entretanto, nunca seus laços familiares colocaram óbice à sua missão evangelizadora. O critério supremo que deve orientar as decisões de seus discípulos é colocar em primeiro lugar o Reino de Deus, conciliando assim os deveres familiares e apostólicos. Assim sendclaras ficaram as condições para acompanhá-lo: não se apegar às coisas materiais, colocar Deus em primeiro lugar  e nunca olhar para trás. Ele não deixará dúvidas: “Quem quiser ser meu discípulo renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34). São as condições para um discipulado que conduz à vida feliz na eternidade. São Paulo assim falou aos filipenses: “Continuo a minha corrida, olhar fixo na meta, rumo à palma à qual Deus lá do alto me chama em Jesus Cristo” (Fl 3,14). Há condições para seguir a Jesus e o Evangtelho de hoje oferece  coordenadas importantes. Cumpre tomar decisões sempre imediatas com discernimento e com o coração generoso dado pelo Espírito Santo. Nada de ser cristão pela metade. É preciso, de fato, uma conversão profunda, sempre opondo ao medo um grande amor ao Mestre divino, acompanhando-o por toda parte..  Nuca retardar o sim dado a Deus, com aconselha o teólogo Pe. Denis Lecompte. Não sejamos intransigentes João e Tiago que queriam fogo do céu contra os samaritanos, mas, como discípulos fiéis de Jesus, trabalhemos sempre pela conversão dos que estão no erro, sendo nós mesmos prestos no seguimento de Jesus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

O CRISTO DE DEUS



O CRISTO DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Admirável a profissão de fé do Apóstolo Pedro, quando Jesus interrogou aos discípulos quem Ele era, pois tomando a palavra respondeu:  “O Cristo de Deus” (Lc 9,20). De fato, Ele era o Ungido de Deus, o Messias, e, na verdade, o Messias sofredor segundo a interpretação cristológica de Isaias (52 e 53). Aliás, logo após as palavras de Pedro, diz São Lucas que Jesus afirmou que o Filho do homem tinha que sofrer muito, ser rejeitado e morto. Cumpre ao cristão desejar conhecer sempre mais e melhor Aquele que veio a este mundo como o Redentor prometido, se mobilizando num processo existencial de conversão e de seguimento daquele que é a fonte e a plenitude da vida. Isto foi compreendido perfeitamente por São Paulo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). É preciso descobrir nele a “imagem do Deus invisível e o “primogênito de toda criação” (Cl 1,15). Na sua pessoa divina que se fez carne se deu o encontro do mistério do divino e do humano para a realização dos planos salvíficos da Trindade misericordiosa. Disto resulta a necessidade de reconhecer, na prática, que Jesus é o Senhor, o Salvador de cada um. Entretanto, ostentar os padrões desta crença na existência diária supõe disposições que levam a ostentar uma percepção acutilante da profundidade de tudo que Ele ensinou. O seguidor de Cristo deve manifestar ao mundo o rosto do Mestre divino que uma fé profunda vai pintando em seu coração. Trata-se de um comprometimento sério  com aquele que é a única tábua de salvação, o verdadeiro manancial da felicidade. A vinculação a Cristo ocorrida no dia do batismo traz uma responsabilidade enorme e da consciência da mesma depende cada um se fazer “luz do mundo e sal da terra”.  Apenas assim se demonstra que Jesus, que foi morto, ressuscitou e está vivo,  que está presente na existência de seu discípulo o qual, deste modo, o faz cada vez mais conhecido e amado. Nisto consiste basicamente o anúncio do Evangelho. Aquele que busca desta maneira  a plenitude de sua conformidade com o modelo divino está a proclamar por toda parte  que Cristo vivo e vivificante  preside a história humana, fecundando-a com seu poder e glória. O verdadeiro cristão é, assim, o instrumento basilar para que a obra redentora se prolongue através dos tempos. Jesus aparece então não como um mero exemplar de uma religiosidade abstrata, mas como um companheiro  de jornada, “autor e consumador da fé” de que fala a Carta aos Hebreus e que leva à conquista da vida eterna (Hb 12,2). Para isto é necessário aceitá-lo para que Ele possa comunicar a vida divina, segundo o seu ardente desejo: “Eu vim para que todos tivessem a vida e a tivessem em plenitude” (Jo 10,10). Então  a presença de Jesus  se converte em força transformadora a envolver todo o ser humano que a Ele adere. Ele se faz contemporâneo de cada um e da sociedade na qual age este seu epígono. Realiza-se o contato vivo sacramental com Cristo, fruto da identificação pessoal e da incorporação nele. O estar nele equivale então ser Ele mesmo na realização total da célebre definição: “O cristão é outro Cristo”. Para que este ideal seja colimado os meios estão ao alcance de todos. A Palavra que está na Bíblia, meditada, vivida e que, sobretudo, é apresentada em cada Missa dominical como um roteiro semanal de raro valor espiritual. Na celebração eucarística se oferece o momento culminante da união com Ele através da Comunhão pela qual se dá uma presença reduplicada: Ele em nós e nós nele. Clara sua mensagem: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele” (Jo 6,17).  Deste modo, terminada a Missa começa a missão de levá-lo por toda parte. Brilham então os sinais do reino de Cristo e seu discípulo se torna o fermento na massa social, impregnando-a da Boa Nova trazida por Ele do céu a esta terra. Nisto consiste o dinamismo do autêntico apostolado e Jesus amoroso é empaticamente acolhido, inundando a todos com raios luminosos de sua divindade. O espírito de Cristo deve penetrar a mente de todos aqueles com quem o cristão convive, devido a uma conaturalidade que se torna, por assim dizer, perceptível. Por força de tanto repetida perderam sua pujança primitiva as sentenças que diziam que o importante é o testemunho de vida e que “palavras sem obras são tiros sem bala”, atroam, mas são sem efeito.  Nunca se tem demais convicção de que o exemplo é que arrasta e quem sabe que Jesus é o Cristo de Deus não deixará desta forma de ser o intermediário pelo qual Ele possa prosseguir sua missão salvífica a bem próprio, do próximo e de todo o mundo. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.