quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

APRESENTAÇÃO DO SENHOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A apresentação de Jesus no Templo após quarenta dias de seu nascimento tem seu sentido profundo no texto Malaquias (Ml 3, 1-4). Todo o plano redentor de Deus se patenteia no Verbo que se fez carne e habitou entre nós. Simeão faz eco ao que prenunciou o Profeta: ”Meus olhos viram a salvação que preparaste à face de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel seu povo” (Lc 2,30-33). Estas passagens cantam a beleza da missão do Menino que seus pais apresentaram no templo. Infante excepcional, pois como está na Carta aos Hebreus, assim Cristo se dirigirá ao Pai: “Não quiseste nem sacrifício, nem oblação, mas me formate um corpo [...] Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb10,5-7). Esta, realmente,  a vontade divina  que todos os homens fossem salvos e chegassem ao conhecimento da verdade (1 Tm 2,4). O Pai oferece seu Filho nascido de Maria para a redenção de todos. Ele será o Cordeiro imolado (Jo 1,9) a favor da humanidade, o Servidor sofredor de que falou Isaías. Não somente Ele seria a luz das nações, mas aquele que ofereceria sua vida em expiação pelo pecado do mundo. Tal seria o destino daquele Menino que José e Maria apresentam no Templo. Sua vida toda colocada nas mãos do Pai. Ele é oferecido para ser dado em oblação reparadora pela ofensa dos homens. Sua existência toda inteira entregue nas mãos do Pai. Ela não lhe pertence como um objeto do qual Ele se apropriaria. Ele a recebe e a dá de volta dentro dos desígnios eternos da Trindade. Eis aí o mistério da Apresentação do Senhor. Todos somos objetos dos dons de Deus. A vida que nos é dada não pertence a nós. Nós a recebemos, somos dela depositários. Depois de bem fazer frutificar as dádivas divinas a maior felicidade de cada um será poder dizer ao Ser Supremo: “Pai em vossas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). Será então a verdadeira apresentação na presença do doador de todas as graças. Eis porque São Paulo aconselhava: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus" (1Co 10.31). Com Maria e José é preciso, juntamente com o divino Infante, que haja esta entrega total a Deus. O Mestre  dirá: "Felizes aqueles que escutam a Palavra de Deus e a guardam” (Lc 1, 28). Assim o mistério da Apresentação de Jesus no Tempo é um ponto de referência na vida do batizado que deseja seguir fielmente a Cristo. Cada um deve brilhar como uma luz neste mundo, apontando a muitos o caminho da salvação. Daí o sentido da bênção das velas neste dia solene.  Na época dos romanos havia uma celebração em honra do deus Pan. Durante toda a noite os devotos desta falsa divindade pagã percorriam as ruas de Roma agitando suas tochas. Em 432 o papa Gelásio I decidiu cristianizar esta festa e a fez coincidir com a celebração da Apresentação de Jesus no Tempo. É como uma preparação antecipada da noite pascal. É o encontro repetido entre Deus e os homens. Assim a solenidade da Apresentação trás à baila a teologia do Encontro ou da visita de Deus. Um encontro que não oferece nada de anormal, pois tudo se passa na simplicidade de um diálogo, de uma troca de olhar, de um sorriso, de um gesto respeitoso, nos quais Deus e o homem se aproximam, se engajam mutuamente. Entretanto, o que agrada a Deus é um coração contrito. O coração que renuncia a tudo para se colocar nas mãos de seu Senhor. Encontro desconcertante e verdadeiro, dado que o Verbo eterno esconde sua divindade sob o véu da humanidade que recebeu da Virgem Maria e se oferece a nós como um Menino nos braços de sua mãe. Nele reconhecemos o Filho de Deus que se fez Filho do homem para não massacrar a humanidade com o fulgor de sua glória eterna. Maria e José foram ao Tempo para cumprir um preceito da Lei judaica, mas em o fazendo eles apresentam aos homens aquele que veio cumprir todos os preceitos e todas as leis do Senhor Onipotente no contexto da Antiga Aliança. A grande conversão à qual todo cristão é chamado na Nova Aliança consiste em se deixar surpreender por um Deus surpreendente que procura engajar um diálogo cheio de simplicidade, de familiaridade, de sinceridade. Foi o que Jesus fez durante toda sua vida nesta terra. O Rei da glória, o senhor, o forte, o poderoso nos combates, o Deus do universo nos visitou e quer morar dentro de cada coração (Lc 19,5).  Ele veio a até nós pobre, mendigo de amor, como uma criança dependente de seus pais. Para se ir até Ele é preciso afastar todo orgulho, purificar o íntimo da consciência. O batizado anuncia então por toda parte uma vida nova já presente na História. Daí o devotamento de cada um ao próximo como sinal eloquente da presença do Reino de Deus que Jesus veio implantar nesta terra. Saibamos sempre nos apresentar ao Ser Supremo com todos estes sentimentos que a festa de hoje inspira e, então sim, Jesus será sempre a luz da vida de cada um de nós. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos





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