quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

APRESENTAÇÃO DO SENHOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A apresentação de Jesus no Templo após quarenta dias de seu nascimento tem seu sentido profundo no texto Malaquias (Ml 3, 1-4). Todo o plano redentor de Deus se patenteia no Verbo que se fez carne e habitou entre nós. Simeão faz eco ao que prenunciou o Profeta: ”Meus olhos viram a salvação que preparaste à face de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel seu povo” (Lc 2,30-33). Estas passagens cantam a beleza da missão do Menino que seus pais apresentaram no templo. Infante excepcional, pois como está na Carta aos Hebreus, assim Cristo se dirigirá ao Pai: “Não quiseste nem sacrifício, nem oblação, mas me formate um corpo [...] Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb10,5-7). Esta, realmente,  a vontade divina  que todos os homens fossem salvos e chegassem ao conhecimento da verdade (1 Tm 2,4). O Pai oferece seu Filho nascido de Maria para a redenção de todos. Ele será o Cordeiro imolado (Jo 1,9) a favor da humanidade, o Servidor sofredor de que falou Isaías. Não somente Ele seria a luz das nações, mas aquele que ofereceria sua vida em expiação pelo pecado do mundo. Tal seria o destino daquele Menino que José e Maria apresentam no Templo. Sua vida toda colocada nas mãos do Pai. Ele é oferecido para ser dado em oblação reparadora pela ofensa dos homens. Sua existência toda inteira entregue nas mãos do Pai. Ela não lhe pertence como um objeto do qual Ele se apropriaria. Ele a recebe e a dá de volta dentro dos desígnios eternos da Trindade. Eis aí o mistério da Apresentação do Senhor. Todos somos objetos dos dons de Deus. A vida que nos é dada não pertence a nós. Nós a recebemos, somos dela depositários. Depois de bem fazer frutificar as dádivas divinas a maior felicidade de cada um será poder dizer ao Ser Supremo: “Pai em vossas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). Será então a verdadeira apresentação na presença do doador de todas as graças. Eis porque São Paulo aconselhava: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus" (1Co 10.31). Com Maria e José é preciso, juntamente com o divino Infante, que haja esta entrega total a Deus. O Mestre  dirá: "Felizes aqueles que escutam a Palavra de Deus e a guardam” (Lc 1, 28). Assim o mistério da Apresentação de Jesus no Tempo é um ponto de referência na vida do batizado que deseja seguir fielmente a Cristo. Cada um deve brilhar como uma luz neste mundo, apontando a muitos o caminho da salvação. Daí o sentido da bênção das velas neste dia solene.  Na época dos romanos havia uma celebração em honra do deus Pan. Durante toda a noite os devotos desta falsa divindade pagã percorriam as ruas de Roma agitando suas tochas. Em 432 o papa Gelásio I decidiu cristianizar esta festa e a fez coincidir com a celebração da Apresentação de Jesus no Tempo. É como uma preparação antecipada da noite pascal. É o encontro repetido entre Deus e os homens. Assim a solenidade da Apresentação trás à baila a teologia do Encontro ou da visita de Deus. Um encontro que não oferece nada de anormal, pois tudo se passa na simplicidade de um diálogo, de uma troca de olhar, de um sorriso, de um gesto respeitoso, nos quais Deus e o homem se aproximam, se engajam mutuamente. Entretanto, o que agrada a Deus é um coração contrito. O coração que renuncia a tudo para se colocar nas mãos de seu Senhor. Encontro desconcertante e verdadeiro, dado que o Verbo eterno esconde sua divindade sob o véu da humanidade que recebeu da Virgem Maria e se oferece a nós como um Menino nos braços de sua mãe. Nele reconhecemos o Filho de Deus que se fez Filho do homem para não massacrar a humanidade com o fulgor de sua glória eterna. Maria e José foram ao Tempo para cumprir um preceito da Lei judaica, mas em o fazendo eles apresentam aos homens aquele que veio cumprir todos os preceitos e todas as leis do Senhor Onipotente no contexto da Antiga Aliança. A grande conversão à qual todo cristão é chamado na Nova Aliança consiste em se deixar surpreender por um Deus surpreendente que procura engajar um diálogo cheio de simplicidade, de familiaridade, de sinceridade. Foi o que Jesus fez durante toda sua vida nesta terra. O Rei da glória, o senhor, o forte, o poderoso nos combates, o Deus do universo nos visitou e quer morar dentro de cada coração (Lc 19,5).  Ele veio a até nós pobre, mendigo de amor, como uma criança dependente de seus pais. Para se ir até Ele é preciso afastar todo orgulho, purificar o íntimo da consciência. O batizado anuncia então por toda parte uma vida nova já presente na História. Daí o devotamento de cada um ao próximo como sinal eloquente da presença do Reino de Deus que Jesus veio implantar nesta terra. Saibamos sempre nos apresentar ao Ser Supremo com todos estes sentimentos que a festa de hoje inspira e, então sim, Jesus será sempre a luz da vida de cada um de nós. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos





O SER RACIONAL E DEUS

O SER RACIONAL E DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O ser humano, criatura de Deus, é, em consequencia, um ente contingente, ou seja, existe, mas poderia não existir. Deus é o Ser Absoluto, aquele no qual a essência coincide com a existência, Ser Supremo, na linguagem dos filósofos Ens a Se, existe por si mesmo. É o Ser Transcendente, Necessário. São Paulo ensina que “Ele não está longe de cada um de nós, porque dele recebemos a vida, o movimento e o ser” (Atos 17, 27-28).  Toda a vida humana está, de fato, ordenada para Deus de tal forma que o mesmo Apóstolo chega a falar que “somos progênie de Deus” (v 28). Nem sempre, porém, se reflete sobre estas luminosas verdades. Cada um tem um mundo imenso dentro de si.  Deus nos criou, nos mantém e concorre para cada um dos nossos atos. Ele age ininterruptamente em todas as nossas faculdades, em todos os nossos sentidos e em cada uma das inúmeras células de que se compõe o corpo humano. Nada escapa a seu soberano domínio. Santo Agostinho foi feliz ao afirmar que “nele moram as causas de tudo o que transcorre, as imutáveis origens de todas as coisas mutáveis e as razões eternas e vivas de todas as coisas irracionais e temporais (Conf. I, V).  A Bíblia inculca esta verdade de maneira maravilhosa, lembrando inclusive que Deus está por toda parte. Proclama  o salmista: “Senhor, vós me perscrutais e me conheceis, sabeis quando me sento e quando me levanto, de longe penetrais os meus pensamentos. Vós examinais o meu caminhar e as minhas paradas e todo o meu proceder vos é familiar” (Sl 139 [138] 1-4).  Na inteligência divina se acham de antemão discriminados os caminhos que toda criatura deve percorrer,  o papel que deve desempenhar e qual o destino que terá cumprido no instante em que deixar este mundo. Deus influencia e penetra todos os pensamentos e afeições, impressões, sentimentos e atos. Ele, contudo, criou o homem livre e este pode acatá-lo ou desprezá-lo. Entretanto, se a onipotência divina se estende a todos os seres e atua de modo especial naqueles que foram criados “a sua imagem e semelhança”, que felicidade então a do batizado que possui Sua presença especial dentro de si através da graça santificante! São Pedro tem uma expressão belíssima ao dizer que o cristão participa da natureza divina – divinae consortes naturae.(2 Pd 1,4). É toda uma existência que se acha mergulhada em Deus. Por sua subsistência divina, Deus está presente tão realmente como está no céu. Eis porque o verdadeiro cristão vive na Sua presença santíssima, nunca se esquecendo de seu Senhor, lançando nele todas as preocupações, confiando-Lhe o cuidado de prover todas as necessidades. Cumpre preludiar nesta terra a vida eterna, cuja ventura suprema será a visão beatífica. Deste modo, resulta uma trajetória terrena inteiramente conformada aos desígnios do Onipotente, na obediência completa a seus preceitos e numa atenção contínua a suas inspirações. Longe dele impera a desordem e nunca a paz. Longe dele reinam o desgosto, a confusão, o infortúnio e jamais a serenidade. É preciso uma lembrança contínua de que Deus é o princípio e o fim do ser racional e daí a necessidade da submissão à Sua vontade santíssima. A dependência ontológica de Ser Supremo é uma realidade que precisa ser vivida integralmente em todos os momentos. Não basta, entretanto, tender para Ele com toda a energia, é necessário ainda manifestar a Ele, uma adesão completa. Os atos de amor, de reparação pelas próprias faltas, de agradecimento são expressões que intensificam as relações com Ele. Todos os pormenores de cada instante são vividos segundo seu império universal e, por isto, nele se deve pensar a cada momento. Deus não deve explicações a ninguém e, quando alguém reflete, percebe que muitos males são ocasionados exatamente porque se contradiz a vontade divina. Ser limitado, contudo, o homem deve aceitar sempre os desígnios divinos e reconhecer as limitações pessoais, as inevitáveis fraquezas inerentes à sua natureza. Os projetos de santidade inclusive precisam ser colocados nas mãos de Deus que conhece perfeitamente as debilidades de cada um. Quanto aos males físicos é cuidar em tudo da própria saúde e procurar transformar os espinhos de um vale de lágrimas em pérolas para a eternidade. Luzes, consolações, trabalhos, dificuldades, tudo entregue nas mãos de Deus. Não se trata de um conformismo irracional, mas de uma sabedoria que ilumina os passos de cada um nesta caminhada para a Casa do Pai. Tudo coopera para o bem dos que amam a Deus!

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A MISSÃO EVANGELIZADORA DA IGREJA

A MISSÃO EVANGELIZADORA DA IGREJA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Dentre as lições que se destacam no trecho de São Mateus proposto para o terceiro domingo do tempo comum (Mt 4,12-23) surge claramente a missão evangelizadora da Igreja. Com efeito, Jesus chama alguns pescadores para o seguirem e eles imediatamente deixaram tudo para acompanhá-lo.  Salienta então o evangelista que ”Jesus andava por toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o evangelho do reino”.  Deste modo, seus discípulos aprendiam com Ele como evangelizar, Ele luz que brilhou para o povo que vivia nas trevas. No Evangelho de hoje Jesus convida a todos a se tornar seus discípulos. Ele era esta grande luz de que falou o Profeta Isaias e mais tarde Jesus dirá que seus seguidores eram luzes do mundo. Os Apóstolos e seus sucessores, os bispos, que transmitiriam uma parte de seu poder aos sacerdotes, teriam a incumbência oficial de pregar o Evangelho. Entretanto, todos os batizados por participarem do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo teriam também esta missão evangelizadora. Esta consiste em mostrar ao mundo, de acordo com os carismas concedidos a cada um, que Jesus é a salvação, a luz que aclara a existência humana, o caminho que conduz ao Pai. Trata-se do anúncio da libertação total oferecida pelo Redentor longe do qual não há felicidade possível. Cumpre evangelizar, porém, de uma maneira responsável, inteligente e perseverante. No seu documento “Evangelii Gaudium” – Alegria do Evangelho, lançado dia 26 de novembro último, o Papa Francisco, afirmou que a renovação da Igreja não pode ser adiada. É necessário, asseverou o Pontífice, o resgate da mensagem essencial do cristianismo. É preciso o emprego de “novos caminhos e métodos criativos” para levar à Igreja os fiéis que se afastaram ou que não a conhecem. De fato, tem razão o Papa, pois há uma acomodação de muitos católicos que simplesmente aceitam o avanço das seitas e abandonam sua religião ou não se empenham num apostolado para trazer para a Igreja Católica os dissidentes. Falta para muitos o senso crítico. Aceitam o que diz a mídia, se deixam levar pelo consumismo desenfreado. Adite-se que o Papa mostrou que as instituição católicas devem ser mais convidativas. Este sacerdote conhece muitos casos de jovens que levaram católicos para sua seita, enquanto dificilmente se percebe um jovem católico atraindo para sua Igreja outros jovens, sobretudo quando se trata do namoro e de se convolar núpcias. Nada de polêmica, mas mister se faz um apostolado mais intenso, uma convicção bem fundamentada através do crescimento do conhecimento da doutrina exposta pela Igreja. Todos os católicos devem ser tomados por um fervor e um dinamismo novo no que tange ao que ele pode fazer numa verdadeira missão evangelizadora. Nada de um pessimismo individualista, estéril, mas cumpre difundir por toda parte a alegria de pertencer à Igreja Católica. Diante dela não se pode empregar o dito getuliano: “Deixa como está para ver como é que fica”. Cada um é responsável pela sua comunidade oferecendo a todos uma fiel significação de Jesus numa evangelização contínua em casa, no trabalho, nos lugares de diversão, enfim onde cada um estiver. É belo ser apóstolo do Senhor. Uma fé esclarecida bem longe de todo e qualquer laivo de superstição ou prática religiosa superficial, infantil que possa conter uma espécie de comercialização espiritual com Deus. Isto é muito comum quando se fazem promessas, cuja paga seria uma retribuição por graças recebidas. É louvável pedir favores do céu e, se forem obtidos, agradecer. Isto sim, eis o que é agradável a Deus. O melhor agradecimento, porém, é a retificação contínua da conduta. A obra missionária deve começar com um trabalho pessoal de conversão. Trazer outros para a freqüência dos sacramentos, do cumprimento do dever da participação da Missa dominical. O campo de ação é vasto e é necessário se preocupar sempre com os irmãos que vivem longe da amizade com o divino Redentor, numa existência pecaminosa. Difusão da espiritualidade, da felicidade de uma vida pautada pelos mandamentos que são fonte de felicidade e paz interior. Tudo isto indica um estilo novo de ser católico, ou seja, alguém que se engaja criteriosamente num movimento de renovação, visando uma religiosidade profunda, inserindo o Evangelho por toda parte. Nem se pode esquecer a luta em prol da justiça e da participação na transformação do mundo o que é uma dimensão constitutiva da pregação do Evangelho. Isto está incluído na redenção da humanidade e na liberação da pessoa humana de tudo que a escraviza. Como a evangelização é dinamizada pelos sucessores dos Apóstolos, Ministros oficiais da Palavra regeneradora, este apelo de Jesus deve ecoar no fundo de cada consciência: “Rogai ao Senhor da Messe para que envie operários para a sua messe” (Mt 9, 38). Toda comunidade deveria oferecer à Igreja pelo menos um Sacerdote santo e virtuoso! Imenso, portanto, o campo em cada um deve trabalhar, colaborando com a missão evangelizadora da Igreja. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

GOVERNO PERDULÁRIO

GOVERNO PERDULÁRIO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*, da Academia Mineira de Letras.
            Ao lado da precariedade do sistema rodoviário brasileiro e de outros males que atingem a população o grande tema do momento continua sendo o aumento dos impostos. O problema é bem antigo. Em 1713 grande era a aflição que pairava nas Minas Gerais. Além do imposto por bateia e dos impostos de indústrias e profissões, pagavam-se diversas e não pequenas taxas como os direitos de entrada, incidindo em   cargueiro de fazendas secas; cargueiro de molhados;  escravos;  cabeça de gado, enfim em todas as atividades coloniais. Uma consciência crítica resultou deste estado de coisas daí e a revolta que se instalou fatalmente, fruto das resistências aos excessos da fiscalização extorsiva. Sintomáticas foram as revoltas de 1720 na vila de Pitangui, onde Domingos Rodrigues do Prado, paulista de Taubaté agitou o povo, seduzindo-o para não pagar os quintos. Em junho daquele ano, em Vila Rica se levantou um grande motim, pois entrou logo o povo a clamar contra as casas da fundição que o Rei havia mandado estabelecer. A violência fluía natural deste contexto, gerada pela própria ordem social e como negadora desta ordem. A violência advinha assim quantidade de impostos. Reações violentas sempre se opuseram a tal atitude governamental.  As tensões nas Minas promanavam da situação e a rebeldia surgia, manifestando-se drasticamente. Tratava-se de uma questão de sobrevivência. Em 1755 o terremoto de Lisboa acarretaria nova pressão sobre os colonos. Afirma Diogo de Vasconcelos: “Em tempo algum o povo de Minas foi esmagado por um aparelho mais brutal e caviloso”. Foram anos amargos de subsídio voluntário para a reedificação daquela cidade. Em 1783 o fisco era terrível. Na França, a indignação contra a gabelle, um imposto sobre o sal, foi um dos fatores que contribuíram para a Revolução Francesa, durante a qual os coletores de impostos foram mortos na guilhotina.  
Saltando no tempo até 2014, aí estão as contradições do Governo no que tange a arrancar dinheiro da população, a qual vive denunciando a malversação do dinheiro público
Surgem, felizmente, novos defensores do povo, atualmente os corajosos democratas e eles têm razão.
Houvesse mais parcimônia nos gastos governamentais e, inclusive,  menor seria a carga tributária que acaçapa a cidadão.

O governo é perdulário, gasta realmente mal. Há dias os jornais publicavam os gastos astronômicos do governo do Maranhão com compras de alimentos e tudo pago com dinheiro do povo. Somas fabulosas estão sendo gastas com estádios que se tornarão elefantes brancos. Tudo isto é sumamente constrangedor. Eis porque a cidadania exige um apurado senso crítico. É preciso estar o cidadão, sobretudo num ano eleitoral, vigilante, protestando contra a corrupção. Ficar bem informado é a saudável estratégia que blinda contra a influência maléfica dos mentirosos.

sábado, 11 de janeiro de 2014

EIS O CORDEIRO DE DEUS

EIS O CORDEIRO DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
João Batista num momento de pulcra inspiração contemplou algo muito representativo no divino Redentor, do qual lançou um ícone perfeito. Com efeito, ele “viu Jesus aproximar-se dele e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29-34). A imagem do Cordeiro remete logo àquele do Êxodo que é oferecido e anuncia a libertação. Uma brisa de liberdade flui desta imagem. O Precursor havia visto o Espírito descer sobre Jesus no dia do Batismo no Jordão e este Espírito é aquele que emancipa o ser racional, tornando-o livre das cadeias do mal.  Este Cordeiro é também aquele do profeta Isaias, o Cordeiro imolado, o servo sofredor. Surge então a efígie de Cristo na sua cruz, uma vida dada para que todos tenham a vida eterna. Eis aí como João contemplava Jesus, o Cordeiro de Deus. Jesus dirá mais tarde: “Eu vim para que todos tivessem a vida e a tivessem em abundância”(Jo 10,10). João viu em Jesus este Cordeiro de Deus, o cristão deve ver no próximo a figura de Jesus que disse: “O que fizerdes ao menor de vossos irmãos foi a mim que o fizestes” (Mt 25,4).  Quando se valoriza uma pessoa é a Jesus que se está valorizando. Isto torna cada ação luminosa, porque a qualquer momento se está sempre a serviço de alguém  no qual se deve servir o Cordeiro de Deus. Entretanto, antes é preciso, de fato, ter olhos de João Batista para ver o próprio Jesus não tanto no sentido físico, mas contemplativo e místico. Ele deve ser a esperança daquele que nele crê, porque é Ele quem tira o pecado do mundo. João Batista fala do pecado no singular, o qual este Cordeiro vem apagar. Este pecado é a recusa do ensinamento que Jesus veio transmitir ao mundo da parte de Deus, recusando o plano teológico do Messias, plano exposto no Evangelho. Cumpre seguir sempre o Cordeiro de Deus, manifestando-O ao mundo, impregnando a sociedade com sua mensagem sublime. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade se fez homem para se tornar este Cordeiro que repara a injúria da criatura ao seu Criador. Isto porque grande foi o amor de Deus para com a humanidade prevaricadora. O amor, realmente, custa caro e no Calvário o Cordeiro divino foi imolado. Cumpre então aos que foram resgatados com seu sangue preciosíssimo amá-lO de preferência ao pecado e a tudo que se opõe aos preceitos do Ser Supremo tantas vezes desprezados. É preciso uma luta sem tréguas contra tudo que foi causa do sofrimento de Jesus, combatendo a hipocrisia e desmascarando as falsidades que campeiam na mídia, todos os erros que se encobrem com o termos como “politicamente correto”, assertiva. em si. certa, mas cujos desdobramentos levam a desvios lamentáveis. Pugna contínua contra um pacto social entre o bem e o mal. A fé do cristão ou é explícita ou é morta. A vitalidade da fé de um cristão depende de seu dinamismo manifestado nas suas obras, no seu modo de ser. Nada mais condenável do que ter Jesus nos lábios e o mundo no coração. A imagem do Cordeiro de Deus deve se refletir em todo o ser daquele que Ele redimiu, brilhar em todo seu comportamento, em toda sua mentalidade. Trata-se então do amor contagioso que salva, que arrasta, que ilumina os que estão nas trevas, porque não amam a verdade.  Esta verdade é o lugar de um combate contra o erro, contra o medo de testemunhar o Evangelho. O fiel ao Cordeiro de Deus é o lampadário de Sua luz salvífica. Os profetas do mal, porém, continuam através dos tempos a imolar o Cordeiro de Deus pregando anomalias que ferem a ordem estabelecida por Deus. É que o Cordeiro de Deus será, de uma maneira ou de outra, imolado através dos tempos por aqueles que não acatam sua redenção redentora lá no Gólgota. Entretanto, testemunhar a verdade vale a pena, pois apenas ela liberta. No fundo de si mesmo todo ser humano sabe disto, mas se deixa muitas vezes enganar. Deseja a verdade como bem supremo, mas o relativismo ilude os incautos e acaba conduzindo ao desespero. Cumpre que todos os católicos não ajam por ingenuidade, ou por ignorância de sua fé, ou por indolência espiritual. Que não tenham medo de denunciar os erros dos arautos do ceticismo e do utilitarismo. Lutar e testemunhar se tornam a melhor homenagem que se faz ao Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. * Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, Professor durante 40 anos no Seminário de Mariana.







quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Endereço de e-mail

Prezados amigos,
favor usar vidigal@homenet.com.br
e não cjgvidigal@gmail.com
Atenciosamente
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho

OS CINCO MANDAMENTOS DA LEI DA IGREJA

IMPORTÃNCIA DOS MANDAMENTOS DA LEI DA IGREJA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho *
É importante sempre recordar os cinco mandamentos da Lei da Igreja, que são cinco: 1- Participar da Missa aos Domingos e outras festas de guarda, ficando livre de trabalhos e de atividades que pudessem impedir a santificação desses dias No Brasil os dias santos de guarda são: Santa Maria, Mãe de Deus - 01 de janeiro; Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi) - data variável entre maio e junho: 1ª quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade; Imaculada Conceição de Maria - 08 de dezembro; Natal de Jesus Cristo - 25 de dezembro. 2- Confessar-se ao menos uma vez por ano. 3- Receber o sacramento da Eucaristia pelo menos pela Páscoa. 4- Abster-se de comer carne e observar o jejum nos dias estabelecidos pela Igreja.  Dias de jejum e abstinência: quarta-feira de cinzas e sexta-feira santa. 5-Atender às necessidades materiais da Igreja, cada qual segundo as próprias possibilidades. Estes cinco mandamentos, na sua forma atual, foram promulgados em 2005 pelo Papa Bento XVI, quando suprimiu o termo "dízimos" do quinto mandamento (pagar dízimos conforme o costume), cujo sentido real era, obviamente, contribuição, não taxação, mesmo porque dízimo, no sentido próprio da palavra, nunca existiu na Igreja Católica. Muitos indagam porque estes mandamentos foram instituídos. Conforme está no número 2041 do Catecismo da Igreja Católica, “os mandamentos da Igreja situam-se nesta linha de uma vida moral ligada à vida litúrgica e que dela se alimenta. O caráter obrigatório dessas leis positivas promulgadas pelas autoridades pastorais tem como fim garantir aos fiéis o mínimo indispensável no espírito de oração e no esforço moral, no crescimento do amor de Deus e do próximo”. Estes mandamentos mostram o mínimo que um fiel deve observar para cumprir suas obrigações para com Deus. Há uma diferença entre os mandamentos de Lei de Deus e os mandamentos da Lei da Igreja. Os mandamentos de Lei de Deus são o conjunto de dez leis dadas, segundo o Antigo Testamento, a Moisés no monte Sinai. Os Mandamentos da Lei da igreja são obrigações estabelecidas pela Igreja consideradas as mais importantes para os fiéis. Ela legisla por força da autoridade que Cristo lhe conferiu. A Igreja tem, de fato, o poder legislativo no âmbito religioso, visando o progresso espiritual dos fiéis. O cinco mandamentos da lei da Igreja prescrevem o mínimo que um fiel deve pratica. Com efeito, quem penetra fundo, por exemplo, no significado da Comunhão não se limitará nunca a receber o Sacramento da Eucaristia uma vez por ano. Ao instituir a Eucaristia Cristo desejava se unir a nós em estreita comunhão. Ele mesmo asseverou: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). É que Ele não só quis prolongar uma imolação já de si tão estupenda, senão que desejou que nós estivéssemos unidos a Ele por uma união reduplicada, profunda, ou seja,  nós nele e Ele em nós num modo de estar recíproco. O ser racional em Deus e Deus nele! Maravilha que só um grande amor poderia realizar. Apenas na eternidade o cristão terá plena consciência da imensidade de benefícios espirituais que, no tempo, estiveram a seu inteiro dispor no Sacramento do Altar. A graça sacramental específica que ele outorga é a força que de si comunica por ser alimento divino. Robustez, fruto da união física com o Verbo Eterno de Deus. Esta união com Ele é transformadora, metamorfoseando o fiel em Cristo. Por isto quem tem fé procura viver  em estado de graça para poder sempre comungar. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.








sábado, 4 de janeiro de 2014

O BATISMO DE JESUS

O BATISMO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A solenidade do Batismo de Jesus oferece oportunidade para uma verdadeira catequese e é uma fonte preciosa de inspiração para todos os cristãos (Mt 3,13-17). A narrativa do Evangelista São Mateus revela vários aspectos importantes da personalidade de Cristo e descerra o véu do significado sublime do batismo de cada um. Os céus se abriram e o contato entre Deus e a humanidade se deu de maneira admirável. O batismo revela para quem o recebe a presença da Santíssima Trindade que rompe seu silêncio para se fazer presente de um modo especial no ser racional, convidando-o a trilhar os caminhos da libertação e da salvação eterna. No batismo de Jesus Ele viu o Espírito de Deus descer sobre Ele em forma de pomba. No poema da Criação (Gen. 1,2), o Espírito de Deus pairou sobre as águas e as agitou e fez delas nascer a vida. É este mesmo Espírito que desceu sobre as águas do Jordão. Jesus, o novo Adão, viverá em amizade com Deus, seu Pai. Trata-se de uma nova criação. Os cristãos são convidados a se unir ao Senhor e a todos aqueles e aquelas que, batizados, devem trabalhar na construção de um mundo de paz e repleto de amor ao Criador e a todas as criaturas. No Jordão se ouviu a voz do Pai dizendo: “Este é o meu Filho bem-amado, nele eu coloco todas as minhas complacências”. O ideal de quem recebeu a vida batismal é se transformar em outro Cristo para conhecer a plenitude do amor do Pai. Este ideal foi colimado plenamente por São Paulo: “Já não sou eu quem vive é Cristo quem vive em mim” (Gl 2,20). Eis porque o batizado a exemplo de Jesus ama a todos, se interessa por todas as suas necessidades, leva por toda parte a justiça, a luz da verdade, a alegria, É artesão da paz e da reconciliação. Quando o cristão vive o seu Batismo o mundo fica sempre melhor, há mais tolerância, menos intransigência, corrupção, mentira e hipocrisia. Há mais esperança e menos orgulho, mais luminosidade e não trevas. O batismo, de fato, abre o cristão para a luz de Deus e cumpre que ele se deixe sempre aclarar por esta iluminação divina. Para isto é preciso viver à maneira de Deus, se tornando dia a dia mais santo aquele que se tornou o templo da Santíssima Trindade no instante em que foi batizado. Esta vida interior de Deus no batizado o envia para aclarar o mundo, dado que pelo caráter batismal se passa a participar do múnus sacerdotal, profético e régio de Jesus. O batizado está colocado à frente da natureza visível para ser o adorador contínuo da Natureza invisível do Ser Supremo. Pela oração, pelo apostolado, pela palavra se torna o anunciador da salvação e o difusor da soberania divina. Como é o templo do Espírito Santo vive na presença do Deus Uno e Trino. Caminha nesta terra, mas sabe que seu destino é o céu. De fato, a graça santificante recebida no Batismo é a semente da glória eterna. Tudo isto  leva o cristão a ultrapassar com garra, destemor, coragem as dificuldades da existência terrena, sempre envolto em serenidade e total confiança no Criador de tudo. Para que todas estas sublimes realidades aconteçam sempre o batizado se alimenta do Pão da vida na Eucaristia, restaurando neste Sacramento suas forças. Busca, também, na Palavra revelada a luz para sua inteligência. Assim nos contatos cotidianos testemunha o Evangelho por toda parte. É preciso viver sempre intensamente os efeitos salutares do Batismo. Em síntese, por esse Sacramento somos admitidos na mesma família de Cristo. O que Ele é por natureza o batizado o é pela graça, verdadeiro filho de Deus e, portanto, irmão de Jesus, herdeiro do reino divino. Nunca se deve esquecer a recomendação de São Leão Magno: ”Reconhece, ó cristão, a tua dignidade, e uma vez que foste feito participante da natureza divina, não queiras voltar à tua antiga miséria com uma conduta degenerada. Não esqueças de que Cabeça e de que Corpo tu és membro. Recorda-te de que, arrancado do poder das trevas, fostes transladado ao esplendoroso Reino de Deus” (Sermão 21).  São estas sublimes verdades que o Batismo de Jesus no Jordão vem recordar a cada um. Nesta solenidade se deve comemorar também o dia do próprio batismo, do sacerdote que lhe ministrou este sacramento, dos padrinhos que o levaram à pia batismal. Nunca se valoriza demais a graça imensa do batismo e as circunstâncias nas quais que foi recebido. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

PRIMEIRA SEXTA FERIA DO ANO

PRIMEIRA SEXTA FEIRA DO ANO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na primeira sexta feira do ano convém lembrar esta assertiva clara de Jesus: “Quem tiver sede venha a mim e beba!” (Jo. 7,37). Cumpre, contudo, reparar as ofensas a este Coração divino. Lemos no salmo: “Impropério aguardou o meu coração. Esperei quem tivesse compaixão de mim e não houve; quem me consolasse e não achei (Sl. 68,21). Cumpre, além disto, levar por todas as partes este apelo de Cristo: ”Vinde a mim todos os que andais aflitos e sobrecarregados, e eu vos aliviarei!"Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Pois o meu jugo é suave, e o meu peso é leve” (Mt. 11, 28-30). É que o Coração de Jesus está a nos dizer: “Eu vim para trazer fogo à terra; e que quero senão que arda?” (Lc. 12,49).  Proclamemos sempre: «Não há salvação senão nele». (At., 4,12). “É nele, ensinou São Paulo aos Colossenses, que se ocultam todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl. 2,3). Entretanto, lembra São Gregório Magno que “conhecer o Coração de Jesus é muito bom, mas amá-lo é melhor”. Santa Margarida Maria viveu isto e pôde asseverar: “Desde que o Coração de meu amável Jesus seja conhecido e amado e que Ele reine, isso me basta”. Acrescentou: “O Sagrado Coração de Jesus abriga tesouros incompreensíveis que quer dispensar a todos os corações de boa vontade, porque é o derradeiro esforço do seu amor para com os pecadores” [...] «Não é preciso mais que amá-Lo, a esse Santo dos santos, para ficarmos santos». Nunca nos esqueçamos, contudo que, “o  fim principal desta devoção ao Sagrado Coração de Jesus é o de atrair as almas ao seu amor”. Leão XIII mostrou que, “o Coração de Jesus é a fonte inesgotável de todos os dons celestes” e Pio XI repetia sempre: “Coração de Jesus, vós sois a minha única esperança”. À Irmã Benigna Consolata Jesus afirmou: «A alma nunca deve ter medo de Deus, porque Deus é misericordioso: o maior prazer do meu Coração é conduzir ao meu Pai numerosos pecadores; eles são minha glória e minhas jóias. Eu as amo tanto, pobres pecadores». Eis o que afirmou Santa Matilde, incentivando a se ter confiança em Jesus: “Se fossem escritas todas as graças que tenho recebido do Sagrado Coração de Jesus, um livro por  maior que fosse não bastaria para contê-las”. Uma frase do sábio papa Pio XII explica isto: “Da difusão do culto do divino Coração do Redentor, que teve esplêndido coroamento não só na consagração da humanidade, ao findar do século XIX, mas também na introdução da festa da Realeza de Cristo, advieram indizíveis bens a inúmeras almas — uma torrente caudal que alegra a cidade de Deus”. É preciso então crer no amor deste Coração divino, morando dentro desta guarida de felicidade e paz. O glorioso Santo Antônio dá esta explicação: “Se queremos encontrar o melhor do ouro puro para nossa felicidade, precisamos ir ao Coração de Jesus, e aí contemplar as riquezas de seu amor”. Acrescentou este santo: “O Coração de Jesus é como que o princípio da vida sobrenatural, é como que o altar aurífero, onde de noite e de dia em um incenso odorífico se evola até aos céus, e perfumes suavíssimos embalsamam a terra”. Santa Teresa de Ávila proclamava que o Coração de Jesus é a fonte mesma de todas as graças divinas. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia: “Desde que compreendi o amor do Coração de Jesus, confesso que expeli do meu coração toda e qualquer apreensão”. É preciso, porém, trabalhar para que o  Coração de Jesus reine sobre cada família em particular a fim de vir a reinar sobre  toda a sociedade, pois Ele é Rei de amor, de ventura sem par. Os devotos do Coração de Jesus são felizes  os amantes do Coração de Jesus penetram pela ferida do seu lado aberto na cruz e aprendem nesse santuário de sangue a alegria e glória do espírito. Ninguém formou almas mais heróicas que aquelas que se santificaram no cadinho da ferida deste Sagrado Lado, na fornalha divina do Coração de Cristo. É que o Sagrado Coração de Jesus é o supremo e último recurso da divina Redenção. O Sagrado Coração é todo poderoso para alcançar misericórdia. Um alerta, porém: Não é suficiente amar este Coração divino de qualquer forma, mas é preciso amá-lo de modo digno dele; é mister viver com ele uma vida íntima. Amar, de fato,  o Coração de Jesus quer dizer venerar os gloriosos estigmas do Crucificado e abraçar com afeto filial seus membros lívidos e dilacerados, nos quais Ele se compraz em renovar diariamente e perpetuar até à consumação dos séculos o poema inefável da sua Paixão. Ser devoto do Sagrado Coração de Jesus quer dizer conhecê-lo e torná-lo conhecido para amá-lo e fazê-lo amado. Entretanto, esta verdadeira  devoção ao Sagrado Coração de Jesus exige reformas espírituais. Por meio dela deve a caridade tornar-se operosa, pronta, fácil e diligente. Saibamos amar esta Coração divino, Coração que jorra luz! Coração imaculado! Coração de amor e paz, que nos livra do pecado! Tenhamos sempre esta certeza absoluta de que para quem ama o Coração de Jesus, tudo é fácil, porque tudo é feito por amor, e as delícias que encontra nesse Coração Divino lhe tornam suave o peregrinar da vida. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.