terça-feira, 28 de agosto de 2012

CORAÇÃO AGRADÁVEL A D EUS

                        CORAÇÃO AGRADÁVEL A DEUS
                                   Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Mestre divino alertou: “É de dentro do coração humano que saem as más intenções” (Mc 7, 21). Como notável pedagogo, Jesus lembra que o coração é o termômetro da vida humana. Se ele está isento de maldade, dele fluem as mais belas virtudes e, sobretudo, o intenso amor para com o Deus três vezes santo. Cumpre, portanto, buscar sempre a purificação interior para não se cair em todos os terríveis deslizes que o Redentor elencou (Mc 7, 21-23). Uma viagem dentro de si mesmo se torna sempre imperiosa. A experiência da interioridade é, essencialmente, uma sublime aventura, uma caminhada de regeneração do coração.  Este, higienizado, leva à prática de tudo que enobrece o ser humano, envolvendo-o na luminosidade que deve caracterizar o verdadeiro seguidor de Cristo. Então o cristão que, dia após dia, permite que a graça divina trabalhe no mais profundo de si mesmo, se liberta de toda perversidade, possuindo um olhar de misericórdia, de compaixão. Em consequência, são banidas as imoralidades, tudo que prejudica ao próximo, a falta de discernimento. É que os julgamentos espontâneos de sua visão do mundo e dos outros se metamorfoseia inteiramente. O discípulo de Jesus ao invés de estar contaminado pelo desregramento ético  passa a se interessar apenas para o que traz benefícios para si e para os outros. A graça o vai, progressivamente, desembaraçando de tudo que corrompe, depurando os seus sentimentos, purgando seus projetos, tudo mundificando, acrisolando. Passa-se a percorrer as veredas da perfeição, tornando-se isento da malvadez. Encontra então o fiel o verdadeiro tesouro que é o amor a Deus e ao próximo. Jesus, com efeito, também afirmou que “onde está o teu tesouro, lá também estará o teu coração” (Mt 6,21). Vive-se, deste modo, em plenitude a vocação cristã. Coração a coração com o Filho de Deus, na sua presença contínua e, quem foi batizado, descobre tudo que tem de fato importância na sua vida e isto em todas as ações cotidianas. Cristo se faz então a fonte viva na qual se vai desalterar a sede da justiça, da paz, da eutimia. Entretanto, pelo fato de estar sujeito às tendências do mal, o cristão  se sente imperfeito e nunca se aparta do Médico divino que lhe proporciona em todas as circunstâncias os medicamentos espirituais para não deixar que se corrompa o seu coração. Esta situação perdurará até o momento de se deixar esta terra para o encontro beatífico com Deus na outra vida. À predileção pelas coisas terrenas, quem tem o coração purificado, opta por tudo que é nobre, digno de louvor até o instante da eterna imersão no êxtase perene na Casa do Pai. As preocupações secundárias, sem valor, já não tomam o lugar do Ser Supremo na existência do cristão, pois  a dileção divina toma conta de seu coração. Desta maneira, a debilidade humana é tonificada pelas mercês celestiais, o egoísmo é vencido, a vaidade abolida, a sensualidade dominada. Conhece então o fiel a autêntica liberdade, desembaraçado que fica do fardo dos desvios morais.  Dá-se então a presença do Transcendente na humilde realidade humana. Todo ritualismo fica eliminado, dado que a participação nos atos de piedade resta impregnada da luz que flui de dentro do coração unido a seu Criador. Eis porque Cristo denunciou a perversão mesma das práticas de uma religiosidade, que traduza somente um louvor a Deus com os lábios e não com as ações concretas. Tão somente, assim, se evita a instrumentalização perversa da religião, como acontece com tantos cristãos que não agem de acordo com o que Jesus ensinou e perdem a noção do que é puro e impuro e acabam cedendo ao espírito mundano e às aberrações estampadas continuamente nos meios de comunicação social. Jesus convida então a um sério exame de consciência que leve, de fato, à renovação interior, pois, como Ele advertiu “é de dentro do coração humano que saem as más intenções” e tudo mais que denigra a dignidade de que se diz seu sequaz. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.










COMO ENTRAR NO REINO DO CÉU

            COMO ENTRAR NO REINO DO CÉU
                        Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O trecho do Evangelho de São Marcos (9,38-48) apresenta orientações preciosíssimas de Cristo que desceu a detalhes como entrar no reino do céu e evitar perder a felicidade eterna. Além de mostrar que qualquer serviço ao próximo, nele vendo sua pessoa, não ficará sem recompensa e além de condenar a agressão ética às crianças, Ele insiste na fuga corajosa das ocasiões de pecado. Nem as mãos nem os pés devem levar ao abandono dos mandamentos. Num contexto impregnado de erotismo, Ele recomenda cuidado especial com os olhos que são as janelas da alma. Certos programas televisivos, os sites pornográficos da internet, a licenciosidade estampada nas revistas e jornais exigem que o cristão saiba fechar os olhos a toda esta miséria moral. Nunca se fixam demais as palavras que estão na Bíblia Sagrada: “Quem ama o perigo nele perecerá” (Ecli 3,27). Séria advertência de São Pedro para se estar atento às insinuações do mal, porque, diz ele: “Vosso adversário, o demônio, vos rodeia como um leão que ruge, procurando a quem devorar” (1 Pd 5,8). Múltiplos são os artifícios do demônio e ai daquele que parlamenta com ele, pois será conduzido infalivelmente ao abismo do pecado como aconteceu com Adão e Eva no paraíso. O seguidor de Cristo deve se entregar corajosamente ao combate espiritual com as armas da luz.  Aos Efésios assim falou  claramente São Paulo: “Revesti-vos da armadura  de Deus para poderdes resistir aos assaltos do diabo, porque não temos de lutar contra a carne e o sangue mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelo ar” (Ef 6,11-12). Há necessidade imperiosa do controle dos pensamentos, das palavras e das ações. O que muitas vezes se esquece é da necessidade de se combater as mínimas indolências espirituais, que levam ao afrouxamento da concentração nos esforços em busca da própria perfeição. Nada de abrir brechas para o inimigo. Para evitar as insídias diabólicas cumpre começar por corrigir as imperfeições. Jesus admoestou: “Quem não é fiel no pouco não é fiel no muito” (Lc 6,10). Trata-se de uma vigilância contínua da alma que só termina quando alguém deixa este mundo para entrar na eternidade. Por tudo isto, a questão não é sentir as incitações do inimigo, mas nelas  consentir. Eis aí o segredo da existência do discípulo de Cristo. Quem combate e vence as forças do mal se torna dia a dia mais forte num progresso permanente. Por tudo isto, mister se faz um policiamento contínuo sobre os pensamentos que podem ser bons ou maus. Muitos surgem do interior do cristão, mas outros provêem do demônio que sugere a malícia. Aquele que grava lembranças ruins,vindas destas duas fontes,  se torna presa fácil do maligno. Adite-se que a  mesma precaução que se deve ter com as mãos, com os pés e com os olhos,  é preciso ter com o que se fala. O salmista advertiu em nome de Deus: “Guarda tua língua da maldade, teu lábios das palavras enganosas; evita o mal, faz o bem, procura a paz e esforça-te por alcançá-la”. (Sl 34,14-15). A mortificação da língua é um dos meios  eficazes para se chegar ao céu. Eis porque está escrito no Livro do Eclesiástico: “Quem me dera uma guarda para a minha boca e um selo prudente para os meus lábios, para que não venha a cair com eles e para que a minha língua não me leve à ruína” (Ecl 22,27). Em síntese,  para colocar em prática o que Jesus preceituou sobre a fuga do pecado é necessário cuidar de todas as ações. Como alertou o Mestre divino, tudo que se faz deve ter como ponto de referência a salvação eterna. Assim, aquilo que um cristão pratica deve estar animado, vivificado e aperfeiçoado pelas boas intenções da alma sem as quais ele não seria senão um corpo morto, sem vida e sem espírito. Donde o ditame de São Paulo: “Tudo que fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando graças, por meio dele, a Deus Pai” (Col 3,17). Deste modo, tudo que  o batizado pratica  o vai conduzindo para o reino de Deus. É de bom alvitre então repetir sempre o que está no salmo 50: “Formai em mim, ó Deus, um coração puro, e infundi em mim um  espírito firme”.  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




quarta-feira, 22 de agosto de 2012

JESUS, O SANTO DE DEUS

JESUS, O SANTO DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das profissões de fé de São Pedro foi assim registrada por São João: “Nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus” (Jo 6,67), ou seja, o Filho de Deus, como havia anunciado o Anjo a Maria (Lc 1,35). Por ter esta convicção, quando muitos dos discípulos de Cristo já não andavam mais com Ele por não acreditarem no discurso do Pão do Céu e Jesus interrogou aos doze se eles também não queriam abandoná-lo, em nome deles, Pedro assim se expressou: “A quem iríamos nós, Senhor? Tu tens as palavras de vida eterna”. Através da fé os Apóstolos tinham chegado ao conhecimento da divindade de Cristo, a qual era conhecida pelos próprios demônios como referiu São Marcos na cena do endemoninhado de Cafarnaum. Com efeito, o espírito imundo que se apossara daquele homem havia proclamado: “Sei quem tu és, o Santo de Deus!” (Mc 1, 23). Tratava-se do mistério do Messias que iria sendo revelado através de sua doutrina, de seus atos, de seu poder. A ele cabe, com efeito, no pleno sentido do termo um atributo que pertence só a Deus, três vezes santo e, por isto, Jesus ensinava com autoridade e apenas Ele tinha palavras de vida eterna. Ele viera ao mundo para santificar os que nele cressem, para fazê-los participantes de sua própria vida, por ser Ele o pão celeste. Como os Apóstolos cumpre então recebê-lo com amor, fé e esperança, sem imitar jamais Judas Iscariotes que viria a traí-lo. Jesus aceitou a canonização que Lhe fizera São Pedro porque Ele havia escolhido os doze, mas alertou que um deles era um demônio. É preciso, portanto, proclamar com palavras e obras que Cristo é, realmente, o Messias, a única tábua de salvação, movido o cristão pelo Espírito de Deus que leva a contemplar as profundezas da santidade divina que o Redentor ostentava, por ser Ele mesmo Deus. Esta santidade do Mestre divino deve resplandecer na existência de seus seguidores, mas é preciso que não esteja o batizado possuído pelo espírito do mundo contrário à santidade divina. É necessário penetrar fundo nas profundezas da grandeza de Deus para que as ações façam refletir as aclamações dirigidas a Jesus, o Santo de Deus. Isto interpela a cada um sobre a verdade e autenticidade de sua vida cotidiana que deve estar impregnada do pensamento de Cristo, o Santo a viver em cada um que crê. A santidade de Jesus não significa somente a ausência do pecado ou a purificação, extirpando tudo que é maldade no íntimo de si mesmo. Ela possui um sentido positivo de plenitude no mais alto grau. Em Cristo, o Santo de Deus, plenitude e pureza coincidem. Por isto, em consequência, Ele não é somente  o ponto culminante da perfeição, mas sua verdadeira fonte. Ele comunica a cada um de seus seguidores sua poderosa vitória sobre o mal. Da parte do batizado cabe a colaboração à graça que Ele oferece para entrar livremente na sua santidade e se tornar testemunha fidedigna do Evangelho. Sua ordem foi esta: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48), como, aliás, é a ordem do Ser Supremo: “Sede santos, porque eu sou santo” (Lv 11,44). Isto se dá quando Deus ocupa o lugar que ele deve ter na existência de cada um. No atual contexto histórico secularizado, repleto de mensagens que atraem para o que é ilusório, há necessidade urgente de muitos santos que vivam intensamente a primazia de Deus em todas as partes onde se encontre um discípulo de Jesus, testemunhando seu amor e a luminosidade de sua doutrina. Esta total adesão ao Redentor incita a edificar tudo sobre Ele, pois como mostrou São João “Ele nos tornou capazes de ter parte na herança dos santos (Jo 1,12). Quanto mais se compreende quem é Jesus, o Santo de Deus, mais seu epígono chega, a si conhecer,  qual é o seu destino glorioso e a razão de ser desta caminhada terrena. Degusta-se então o que significa entrar na vida de Jesus e na sua alegria, na sua paz, na sua tranqüilidade. Então, sim, a mensagem do Evangelho se propaga por toda parte. Outros dirão: “Como é feliz quem segue Jesus. Isto porque todo encontro verdadeiro com Cristo leva a descobrir os meios para O fazer conhecido, amado e seguido. Como admoestou o bem-aventurado João Paulo II, “não basta falar de Jesus. É preciso torná-lo visível pelo testemunho de vida”. Este é a mais eloqüente demonstração de que Ele é verdadeiramente o Santo de Deus, o Messias prometido no qual se encontram todos os tesouros que satisfazem a alma humana. Ninguém pode ser venturoso longe dele, o único  que tem palavras de vida eterna. Ele, porém, quer uma conduta tal que não seja baseada nas escolhas pessoais, nos caprichos de cada um, regulada na mídia pelos maus formadores da opinião pública.  Cumpre, portanto, transformar a santidade do Mestre divino na realidade cotidiana, recusando a maldade das mensagens, das doutrinas errôneas, que dele podem afastar quem, de fato, O quer seguir, e se diz cristão. *  Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


 




PROMESSAS FEITAS A DEUS E AOS SANTOS

PROMESSAS FEITAS A DEUS E AOS SANTOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
          A Bíblia fala nas promessas de Deus que são profecias. Deus fiel as cumpre, mas nem sempre os homens fizeram por merecer as recompensas divinas pela obediência aos mandamentos. Jesus foi o grande Prometido de Deus como objeto das promessas e portador de novas promessas. Cumpre seguir seus ensinamentos para atrair todas as graças da redenção. Quanto a promessas humanas feitas a Deus e aos santos é preciso, em primeiro lugar, saber que não se deve jamais comercializar os dons divinos.  O mercantismo espiritual é sumamente condenável. Religião é culto a Deus que é Senhor misericordioso.   O que Jesus ensinou foi: “Pedi e recebereis; buscai e achareis” (Mt 7,7.   Quem reza com fé obtém as graças divinas e, se não recebe especificamente o que solicitou, não deixará de alcançar algo bem melhor condizente à sua salvação e à do próximo por quem orou. Deus é quem sabe o que é melhor para cada um. A verdadeira confiança em Deus e na poderosa intercessão dos santos não deve se externar de maneira tão pouco recomendável e interesseira através de promessas.  Condicionar as graças divinas ao fato de ser atendido por que se lhe prometeu alguma coisa é um absurdo. O Ser Supremo não estabeleceu um balcão lá no céu para oferecer suas dádivas em troca de promessas. Quem, ingenuamente, fez promessas a Deus, à Virgem Maria ou aos santos e anjos deve procurar um sacerdote para comutar o voto caso não  o possa cumprir. A melhor penitência é o cumprimento do dever de cada dia, a prática das virtudes  e total adesão à vontade divina. O bom cristão, alcançada a graça pedida, agradece ao Criador e aos santos, procurando, isto sim, ser mais cada dia mais perfeito. Procure por em prática o que está no salmo 136, dando ação de graças pelos benefícios recebidos, sem ter feito nenhuma promessa. É preciso que os verdadeiros cristãos não tenham nunca uma visão antropomórfica de Deus, visto como o Grande Banqueiro, cuja clemência é obtida através de seduções muito humanas. Cumpre, isto sim, uma fé inabalável no Criador e não  se basear em seduzimentos que revelam uma insegurança existencial que cumpre seja vencida.  É necessário que brilhe sempre a  coragem daquele que sabe que o Senhor é seu pastor e que nada lhe há de faltar. Deus, como ensinou Jesus, é o Pai nosso que está nos céus e, como filhos, se deve viver na certeza de seu amor paterno.  Foi o que ressaltou São Paulo: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, mas O entregou por todos nós, como não nos terá dado tudo com Ele?”  (Rm 8,32). Diferente é a conduta do cristão que, sem fazer promessas, recebe as graças divinas através de Maria ou dos santos e, agradecido, vai em peregrinação aos santuários marianos ou aos templos especialmente dedicados ao santo de sua devoção. Ainda no mês de julho quem traceja estas linhas foi a Vendeville, perto de Lille no norte da França, em peregrinação ao Santuário de Santa Rita de Cássia, à Capela da Medalha Milagrosa  em Paris e, nesta cidade, à Basílica de Nossa Senhora das Vitórias.
          Milhares de romeiros a cada dia estão em Aparecida agradecendo os favores obtidos pela Padroeira do Brasil. Isto é sumamente louvável.
           * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

SEIS ANOS SEM DOM LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

            SEIS ANOS SEM DOM LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
 Dia 27 de agosto de 2006 pranteava o Brasil e toda a Igreja o falecimento do notável Arcebispo de Mariana, Dom Luciano Mendes de Almeida, um dos evangelizadores mais extraordinários já surgidos na História da Igreja. Não seria exagero dizer que a humanidade perdeu um gênio e o esta terra a presença de um daqueles que honraram o ser racional pela sua perfeição existencial. Inteligência privilegiada, tudo que falava ou escrevia tinha um sentido profundo, repleto de mensagens fulgurantes.. Cabe a este denodado Apóstolo o título de cidadão do mundo, não apenas por ter percorrido, em suas atividades missionárias, quase todos os países dos diversos continentes, como ainda pela marca que deixou na alma de milhares de pessoas com as quais se encontrou nos caminhos deste planeta. Uma das provas disto foi a comoção mundial que sua enfermidade causou, sendo que a Cúria Metropolitana de Mariana  recebeu mensagens de todas as partes do exterior e dos  diversos.Estados do Brasil ao ensejo de seu falecimento. Caracterizou D. Luciano uma bondade irradiante e um interesse pelo bem estar espiritual e material do ser humano. Foi um humanista na plenitude do termo. Epígono de Santo Inácio de Loyola viveu inteiramente o ideal dos jesuítas. Ao ensejo de sua doença as Irmãs Alcantarinas do Estado de São Paulo, dia 11 de agosto, numa nota de solidariedade à Arquidiocese de Mariana assim se expressaram:“Dom Luciano, para a Igreja, é o Profeta dos Novos Tempos. Para a Vida Religiosa Consagrada, é TESTEMUNHA, PROFECIA e ESPERANÇA. Sempre amou a Vida Consagrada; mesmo enquanto bispo, não deixou de ser Religioso Jesuíta”. Carioca de nascimento (5.10.1930), nasceu no seio de uma nobre família sendo seus pais  Cândido Mendes de Almeida e Emília Mello Vieira Mendes de Almeida. Após estudar  em Nova Friburgo (1951-1953), foi para Roma onde fez o Curso de Teologia (1955-1958) e doutorou-se em Filosofia (1965). No ano de 1976 foi sagrado Bispo no dia 2 de maio. Colocou seu talento a serviço do Evangelho, tendo sido Secretário Geral da CNBB (1979-1987) e Presidente da mesma (1987-1994). Desde 1987 foi membro do Conselho Permanente do Sínodo Episcopal e, desde 1992, da Pontifícia Comissão de Justiça e Paz. Foi Vice-Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (1955-1998). Seu pastoreio episcopal se iniciou como Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, atuando na região Leste I (1976-1988) e, entre tantas obras realizadas, se destaque o seu cuidado e desvelo para com os marginalizados, fazendo-se tudo para todos para a todos salvar. Depois de tantos labores foi elevado a Arcebispo Metropolitano de Mariana e o na alheta de seus gloriosos antecessores muitíssimo honrou o Áureo Trono Episcopal da circunscrição Primaz das Minas Gerais. Impulsionou a Pastoral Arquidiocesana em todos os sentidos. O Clero marianense  e o todo o  Povo de Deus  viu nele sempre um Pai amoroso, um Mestre admirável, um Pastor desvelado e, no final do século XX e neste início de milênio, ninguém faria mais do que ele realizou. Percorreu toda as Paróquias deixando após si um rastro de otimismo e de espiritualidade que prosseguirão através dos tempos. Iluminou este mundo, vivendo o significado sublime de seu nome que há de ser sempre glorificado, dado que não se apaga nunca a memória dos grandes homens. Este gigante da evangelização ao penetrar na Casa do Pai coberto de tantos merecimentos se tornou mais um poderoso protetor de todos que o invocam e, sobretudo, o imitam no labor apostólico a favor do Reino de Deus. Os méritos de D. Luciano hão de permanecer sempre recordados, rutilando cada vez mais, porque o seu ardor pelo bem, a consistência da sua têmpera, a fibra do seu coração, a magnitude  de sua cultura, a irradiação de sua santidade brilharão  não apenas no espírito  dos que tiveram a dita de o conhecer, mas  ainda no daqueles que ouvirão falar de seus feitos adamantinos. No vasto catálogo dos grandes vultos do cristianismo  está inscrito, definitivamente, o nome glorioso de D. Luciano Mendes de Almeida. Apóstolo intrépido como Paulo de Tarso, sábio como Tomás de Aquino, caridoso como Vicente de Paulo, dinâmico como João Paulo II, um herói de nossos dias, ostentando todos os matizes da santidade, ele é merecedor de todas as homenagens.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

VIVER NA PRESENÇA DE DEUS

VIVER NA PRESENÇA DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Tal foi a ordem divina: “Anda na minha presença e sê perfeito (Gen. 17,1). Para isto cumpre um total desapego de tudo e uma íntima pureza interior que fluem do silêncio no qual a alma se envolve e o ser humano passa a conhecer uma profunda unidade em si mesmo e no Ser Supremo. As paixões ficam submersas no amor e a paz passa a reinar em todas as circunstâncias. Isto porque tanto mais alguém entra em união com o seu Criador mais ele se simplifica e deixa de complicar-se no dia a dia. Com efeito, quando Deus entra numa alma que O recebe amorosamente Ele a conduz a um deserto, dado que o ser humano passa a desejar estar a sós com o Senhor de tudo e nunca se sente isolado, quando  reserva momentos de uma prece diante do hóspede divino. Verifica-se então um silêncio sem tensões. Donde a importância de um momento de reflexão mesmo quando se recitam orações vocais. É estar atento ao recado do Espírito Santo que vem de palavras tantas vezes repetidas, mas que se tornam instrumento do Paráclito. É lógico que o instante de uma meditação é ainda mais favorável para escutar as mensagens celestiais. No decurso inclusive das ocupações cotidianas é de bom alvitre, por um breve momento que seja, dizer a Deus que aquela ação é para sua honra e glória. Trata-se do retorno contínuo a Ele numa aspiração persistente da alma. Daí o significado expressivo do viver cada segundo da existência plenificada pelo Todo-poderoso no qual “existimos, nos movemos e somos” (Atos 17,28). Cria-se, desta forma, o hábito de agir pelo instinto sobrenatural que eleva tudo para a Trindade santa. Está aí o motivo pelo qual os santos sempre mantinham uma postura de suavidade, refletindo no exterior a imensidade de uma eternidade já vivida nesta terra. Para se chegar a esta realidade existencial a ascese é indispensável num combate contínuo a tudo que obsta estar unido a Deus, mesmo porque quando alguém está cheio de si mesmo ou se deixa levar pelos desregramentos da natureza, já não há lugar para Deus. A guarda do coração é de vital necessidade, levando à penitência e à mortificação sem cair em qualquer tipo de exagero ou em alucinações condenáveis. Deus quer sempre almas vigorosas que não se deixam levar pela emotividade. É de se notar que  mesmo os grandes místicos tiveram que começar a vencer corajosamente as distrações que se intrometem nas orações, mas eles, suavemente, logo as afastavam, sabendo que elas podem ser uma provação enviada por Deus, o qual nunca deixa de agir em quem a Ele sinceramente se entrega. É a arte espiritual de acalmar a imaginação. As distrações involuntárias não debilitam o amor, desde que evidentemente haja um combate corajoso, embora suave, e que não deixa brechas. O que o Espírito Santo não aprova é a negligência condenável. Há, isto sim, uma indiferença salutar advinda da consciência da presença daquele que enche, ocupa todo o espírito humano envolto no seu admirável silêncio. Deus, de fato, quer conduzir os corações sinceros à união do perfeito amor. Esta dileção leva o ser racional não à busca de uma mera tranqüilidade, mas simplesmente a perceber a imensidão divina que o envolve. Isto lhe basta. A alma fica até convencida de que lutar para possuir o silêncio é, em si, um silêncio interior, fruto da graça e não do mérito pessoal. O combate às distrações ganha assim uma dimensão que imerge na serenidade absoluta. O ser racional compreende então que o Senhor visita de modo especial a alma quando Ele quer e da maneira que Ele quer. O coração se submete a seus desígnios. Depara-se, desta forma, a paz e nada entrava a verdadeira liberdade de se doar a Deus. Aí a solução de todos os problemas da vida, o remédio para todo e qualquer sofrimento, a fonte da eutimia longe de toda agitação. Através desta paz o cristão se torna o lugar onde Deus, de modo especial, habita. Quem assim procede, não manifesta nenhum tipo de excentricidade. A atmosfera espiritual que emana de sua alma influencia naturalmente os outros. Os eflúvios que jorram do íntimo de si mesmo atingem o próximo suavemente e mostram a grandeza de uma existência aderida ao Ser Supremo. Toda dualidade é banida porque, mesmo sendo forte o desejo de se estar a sós com Deus, os deveres cotidianos não são sacrificados. Depara-se então uma outra forma de silêncio, não obstante os trabalhos e os contatos sociais. É que é possível esta harmonia e o próprio Deus opera uma síntese admirável, sendo que, deste modo, os instantes de oração se fazem ainda mais significativos. Felizes os que captam as maravilhas de se viver na presença de Deus! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

DIACONATO,PRESBITERATO, DIACONATO PERMANENTE

DIACONATO, SACERDÓCIO E DIACONATO PERMANENTE
                 Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
       Está claro no Direito Canônico que “por divina instituição, graças ao sacramento da ordem, alguns entre os fiéis, pelo caráter indelével com que são assinalados, são constituídos ministros sagrados isto é, são consagrados e delegados a fim de que, personificando a Cristo Cabeça, cada qual, no seu receptivo grau, apascente o povo de Deus, desempenhando o múnus de ensinar, santificar e governar” (Cânon 1008).
       O Cânon seguinte mostra que “as ordens são o episcopado, o presbiterado e o diaconato”.
       Antes de ser ordenado padre, o candidato, que fez o Curso de Filosofia e Teologia no Seminário, recebe o diaconato e assume a obrigação do celibato, não podendo, portanto, se casar.
        O diácono já pode exercer o ministério da palavra, tem faculdade de pregar, é o ministro ordinário do Batismo e da Comunhão, ministro da exposição e Bênção Eucarística. É assistente também ao Matrimônio.
       Pode dar as bênçãos que lhe são expressamente permitidas pelo direito, de caráter invocativo. É que o bispo lhe impõe as mãos não para o sacerdócio, mas para o ministério.
       O diaconato foi instituído pelos Apóstolos (Atos 6,1;8,5) com os sete escolhidos por eles, durante o primeiro ano do cristianismo.
       Ministério especial na Igreja é, além disto,  o diaconato permanente.
        O diácono permanente tem especial testemunho a dar.
       A graça sacramental da sua ordenação torna fecundos os seus esforços, precisamente porque a sua ocupação secular lhe permite o acesso à esfera temporal num mundo, que normalmente, não é próprio dos outros membros do clero.
       Ao mesmo tempo, o fato de ser ele um ministro ordenado da Igreja, confere dimensão especial aos seus esforços aos olhos daqueles com quem ele vive e trabalha. Importante é, outrossim, o contributo que um diácono permanente casado oferece à santificação da vida familiar.
       Tão íntima é a sua participação e unidade no sacramento do matrimônio que a Igreja usualmente pede o devido consentimento da esposa antes de o seu esposo ser ordenado diácono permanente (Cân 1031).
       Neste mês de agosto, dedicado às vocações, que todos rezem para que Deus dê numerosas vocações sacerdotais à sua Igreja e  muitos diáconos permanentes, os quais tanto contribuem para a evangelização com seu testemunho de vida. O serviço do diácono é o serviço da Igreja sacramentalizado.
       Não é apenas um dos muitos ministérios, mas deve realmente ser, como o definiu Paulo VI, uma “força” motriz para a diaconia da Igreja.
       Eis a ordem de Cristo: "Rogai ao Senhor da Messe que mande operários para a sua Vinha” (Lucas 10,2 ).
       Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.