quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O ZELO PELA CASA DE DEUS

ZELO PELA CASA DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O episódio dos vendilhões do Templo (Jo 2,14-25 oferece ocasião para que se levante uma questão da qual resulta um ensinamento preciosíssimo: “Porque Cristo agiu tão violentamente”? Ele improvisou um chicote de cordas e expulsou a todos do templo, derrubando as mesas dos cambistas. Poder-se-ia pensar que a reação de Jesus não correspondia à sua mensagem de paz e de amor. Ele ensinara a ter comiseração, paciência diante do agressor. Ele pregou a não-violência e daria exemplo extremo indo como um Cordeiro para o lugar de sua morte. No lugar de protestar e ameaçar seus perseguidores ele rogaria ao Pai que os perdoasse porque não sabiam o que estavam fazendo lá no Calvário. Ali no templo, porém, a situação era diferente. Ele não se sente pessoalmente atacado, mas, pelo contrário, percebeu que seu Pai era maltratado por práticas indignas de um local destinado exatamente ao culto divino. Seu amor pelo Pai o forçou a reagir e Ele não poderia compactuar com aquela profanação do lugar sagrado. Cristo mostrou que os direitos de Deus são sagrados, não podem ser negligenciados. Isto vem lembrar a todo aquele que tem fé e freqüenta as Igrejas a grande reverência que se deve ter no recinto dedicado a Deus e à veneração de Maria, anjos e santos, tanto mais que a presença de Jesus na Eucaristia exige, de fato, uma compostura especial, um notável recato que demonstre, realmente, o amor ao Divino Prisioneiro do Sacrário. O cuidado, porém, não é apenas com o templo no qual a comunidade se reúne para louvar e agradecer ao Pai, mas também o santuário vivo que é a alma em estado de graça. Claríssimas as palavras de Jesus: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele morada" (Jo 14,23). A Trindade mora no fiel como num templo vivo. Daí a necessidade imperiosa de preservar a alma das impurezas, dos despudores deste mundo hedonista, injusto, que menoscaba os dez mandamentos da Lei divina com uma horripila audácia e refinada malícia Qualquer pecado é uma irreverência para com o Hóspede divino, cuja presença é afastada pelas faltas graves. As drogas, a bebida, as imoralidades, a violência, a glutonaria maculam esta Casa do Ser Supremo. Esta deve ser engalanada, embelezada com a prática de todas as virtudes. A habitação de Deus na alma em estado de graça não deve ser entendida como aquela presença segundo a qual a imensidade divina está ontologicamente em tudo como lemos no livro Atos dos Apóstolos: “Nele nós existimos, nos movemos e somos” (At 17,28), envolvendo, portanto, os bons e os maus, respeitando em todos a liberdade de o aceitar ou não. Esta habitação não deve também ser entendida como uma presença resultante da operação ou da infusão da graça e dos dons sobrenaturais naqueles que se dispõem a recebê-los, mas como uma união interior real, decorrente da descida das Três Pessoas divinas na alma. Com efeito, os justos, além da graça e dos dons, possuem de modo especial a Deus morando dentro de si. Não se trata, assim, de uma união metafórica que não ultrapassa as palavras ou que consistiria numa mera analogia. É união verdadeira e real. Eis por que o verdadeiro cristão vive e se sente na presença especial do Ser Supremo, se percebe amado por Ele de modo especial, e faz tudo, as menores atividades, em Sua honra e glória. Daí o significado profundo do sinal da cruz pronunciado em nome das Três Pessoas divinas não rotineiramente, mecanicamente, mas como um ato de consagração daquilo que se vai fazer. Durante o dia o hóspede divino não fica então esquecido e o “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo” se torna uma rápida, mas santificadora visita a quem reside lá dentro de cada um. Disto resulta o cuidado em se evitar toda e qualquer ocasião de pecado e tudo que possa macular o corpo e a alma tão unidos ao Deus três vezes santo. Com isto a vida se transcorre com serenidade, paz, imperturbabilidade e sem tensões prejudiciais à pessoa, havendo total equilíbrio psicossomático. Não se deve, portanto, jamais profanar a casa de Deus e vale sempre o alerta de São Paulo: “Não sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós: Ora quem desonra o templo de Deus, Deus não o abençoará. Porque sagrado é o templo de Deus e tal templo sois vós” (1Cor 3,16-17). Como se pode notar o Apóstolo repete o termo templo quatro vezes para bem fixar esta maravilhosa realidade. De todas estas reflexões resulta, portanto, a reverência não só nas Igrejas como respeito a si mesmo e aos outros. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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