CONVERTEI-VOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A advertência de Jesus:“Convertei-vos” (Mc 1,15) ecoa solene no tempo quaresmal. O Mestre divino pronunciou tais palavras após ter passado quarenta dias no deserto. João Batista que também viveu no deserto anunciou, outrossim, a conversão à prática da justiça como caminho para remover o pecado, procurando a união beatífica com Deus. Fazei penitência foi a recomendação do Precursor (Mt 3,1), preparando a ordem do Mestre divino de uma transformação interior para se poder acreditar na Boa Nova. O Batista era justo, santo, sendo que dele o próprio Cristo disse: “Entre os filhos dos homens não há um que seja superior a João Batista.” (Mt 11,11). Entretanto é este varão admirável que convidou a todos a fazer penitência, a melhorar de vida numa metamorfose necessária por meio da mortificação. Ele foi um grande penitente, vestido pobremente, coberto apenas com uma pele de camelo; jejuando rigorosamente, alimentando-se com mel silvestre, tendo como morada uma gruta nos rochedo da Palestina, longe dos deleites do mundo. Lá no deserto árido, inabitável, sem movimento e sem vida, que parece também predizia a importância da crucificação da carne, ele viveu plenamente a penitência que abre o caminho para a prática das virtudes. Por sua vez, Jesus passou quarenta dias no deserto, jejuando e orando. Logo depois sua sentença foi clara: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Ordem dada a seus seguidores no início do seu apostolado, num paralelismo sintomático com o que realizou seu Precursor. Cristo, com muito mais razão, evidentemente, podia dar esta determinação porque Ele deixara os esplendores celestes para sofrer como homem aqui na terra. Retirou-se para um lugar ermo, por um mês e dez dias, e aí se penitenciou pelos pecados da humanidade. Toda sua vida terrestre foi um contínuo sofrer, desde o seu nascimento em uma gruta de Belém, aberta a todos os ventos, em pleno inverno, até a sua terrível e dolorosa morte na cruz, coroado de espinhos, ferido em todo o corpo, insultado pela multidão e abandonado pelos seus discípulos. Todas estas considerações mostram então que a conversão se liga intimamente à penitência. A sociedade moderna endeusa a os prazeres da carne, adora a riqueza, supervaloriza a sensualidade. Impossível, porém, mudar a ordem das coisas, impossível mudar o plano divino, segundo o qual não há salvação, não há felicidade eterna, não há morte feliz, não há céu, sem uma conversão que exige renúncia. Eis porque há da parte do homem moderno horror para com a mudança de vida. Muitos só procuram diversões, só querem os prazeres mundanos e se acham mais voltados para as coisas da terra do que para as realidades eternas da Jerusalém celeste. Deve ecoar, contudo, durante a Quaresma os ensinamentos de João Batista e de Jesus que levam a uma revisão de vida, a uma corajosa abdicação de tudo que coloca em risco a salvação eterna, numa fuga audaz da voluptuosidade, da devassidão, procurando o verdadeiro cristão uma total renovação interior, ou seja, a conversão para uma vida santa e justa, porque, caso contrário, deixou claro Jesus não entrarÁ no reino dos céus (Mt 5, 20). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
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