O ESPÍRITO DE PENITÊNCIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Durante a quaresma todos os cristãos são chamados a viver ainda mais profundamente o espírito de penitência. A penitência é uma virtude absolutamente necessária para que se obtenha a remissão das faltas graves ou leves e, sem essa virtude o Sacramento da Confissão não produz o seu efeito. Com efeito, a penitência é uma virtude sobrenatural que tem por fim destruir no íntimo do coração o pecado e oferecer à justiça divina uma satisfação pela ofensa que foi feita ao Ser Supremo ao se desprezar um dos dez mandamentos. É a virtude pela qual o pecador se dispõe a readquirir a amizade com Deus. A Bíblia mostra que o rei Davi, no apogeu de sua glória, arrastado pelas paixões desregradas, esqueceu-se de suas obrigações e caiu em muitos pecados graves que escandalizam o povo. O profeta Natan, enviado por Deus, foi procurá-lo e energicamente o repreendeu (2 Sm, cap. 12). O rei Davi, perturbado e humilhado, reconheceu os seus erros e arrependeu-se. No salmo 50 assim se expressou: “Piedade de mim ó Deus, pela vossa misericórdia e pela vossa grande clemência apagai os meus delitos. Lavai-me inteiramente de minha culpa e purificai-me de meu pecado, pois reconheço meus crimes e o meu pecado, tenho-o sempre diante de mim” (Sl 50 1-5). Ai está o primeiro ato da virtude da penitência: reconhecer os seus pecados e humilhar-se diante de Deus, Isto, porém, não basta. É preciso ainda arrepender-se e detestar o pecado, desejando o que disse o mesmo Davi: “Formai em mim, ó Deus, um coração puro, e infundi em mim um novo espírito constante” (Sl 50, 12). Isto significa que há uma disposição firme de não mais se cair no erro. É este arrependimento profundo e verdadeiro que se deve ter, não nos lábios, mas no íntimo da alma que aspira uma renovação total. A tudo isto é preciso que se ajunte a reparação à justiça divina através dos trabalhos e sofrimentos da vida ofertados em desagravo ao Criador desprezado. Eis a verdadeira virtude da penitência: detestar os pecados, arrepender-se sinceramente, aceitar com resignação as provas da existência e impor-se certas mortificações, para desagravar a justiça divina. Esta virtude da penitência é, assim, necessária para a salvação. Como Maria Madalena, como Santo Agostinho, como São Jerônimo e tantos outros santos é necessário fazer penitência. Este é o convite que a Igreja dirige aos fiéis nestes dias da quaresma bem na alheta do que disse Jesus: “Se não fizerdes penitência todos vós perecereis” (Lucas 13,3) . Trata-se de cumprir com coragem o dever de cada dia, de se ter paciência, sobretudo, no trato com o próximo, enfim, o empenho na prática de todas as virtudes. É deste modo que o verdadeiro discípulo de Cristo se prepara para o maior dia do ano que é a data da Páscoa, o glorioso 8 de abril. Vale o alerta de um grande santo: “Temo a Jesus que passa e pode não voltar”. Na quaresma Ele vem a cada coração pedindo uma renovação total através do espírito de penitência e mister se faz corresponder a este seu chamado celestial para se obter todas as graças da Semana Santa e, mormente, do dia da Páscoa. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
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