quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O triunfo de Ramos

O TRIUNFO DE RAMOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Inicia-se a grande semana, denominada por antonomásia de Semana Santa. Durante ela a Igreja comemora as dores de Jesus e a hora da redenção do gênero humano. No princípio do terceiro milênio não se contemplam fatos históricos que permaneçam vivendo no coração dos homens trazendo mensagens mais sublimes do que aqueles acontecimentos que se deram um dia em Jerusalém. É a consumação do processo salvífico que é então recordado pela Liturgia, acendendo a fé, a esperança e o amor no íntimo de todos os batizados. Desde a entrada triunfante de Cristo na capital de seu país até sua gloriosa ressurreição, todos os detalhes da Paixão de Jesus são recordados preparando a solenidade do maior dia do ano que é a vitória do Redentor sobre a morte, prenúncio da ressurreição dos que Lhe são fiéis e que estarão com Ele na glória eterna. A volubilidade do ser humano aparece viva no Dia de Ramos, pois a cidade de Jerusalém que aclama festivamente o Filho de Deus, cinco dias depois esta mesma urbe pedirá a gritos feéricos sua morte. O mesmo Nazareno que atravessou as ruas no meio de ovações delirantes, voltaria a transitar por elas dentro de poucas horas sob o peso de uma cruz, a caminho de um ignominioso trespasse. Isto é um alerta para todos os cristãos, pois não se pode confiar nunca nem na própria intrepidez e nem nas demonstrações externas de fidelidade a Deus, nem nas aclamações públicas ao Ser Supremo, porque a inconstância é sempre um perigo que pode levar à traição dos mais acendrados ideais religiosos. Cumpre estar sempre de atalaia para não se passar do fervor ao abandono da religião ou à condescendência com as forças satânicas que contam com o apoio da mídia e de quantos se entregam à dissolução dos costumes. Não se deve louvar a divindade apenas dentro dos templos, mas ainda no lar, no trabalho, nos lugares de sadias diversões, nas escolas, por toda parte. Trata-se de se transmitir a mensagem de que não há paz e felicidade longe do divino Redentor. É preciso, porém, a firmeza da fé, buscando-O com a lealdade da inteligência e com a pureza do coração para não se repetir a atitude incongruente dos que outrora louvaram a Cristo e depois lamentavelmente O desprezaram. Adite-se que a Liturgia liga a entrada festiva de Jesus em Jerusalém com sua Paixão recordada na Missa deste dia. A Igreja, pedagogicamente, quer mostrar que as alegrias deste mundo são passageiras e cedem logo lugar à tristeza. Nesta terra há a mistura dos bens e dos males numa irreversível alternância. Jó assim se dirigiu a Deus: “Tu visitas o homem pela manhã e, de vez em vez, o pondes à prova” (Jó 7,18), bem mostrando que também a existência do homem espiritual conhece momentos nos quais ele toca o Infinito, mas também instantes de provações que o Ser Supremo permite para sua purificação e santificação. A Paixão de Cristo, porém, vem lembrar a todos os seus discípulos que, unidos a Ele, é possível sempre sublimar todos os sofrimentos deste vale de lágrimas. A lição de paciência que os sofrimentos de Jesus oferecem é um arrimo para seus discípulos. Por outro lado tudo que o Redentor sofreu vem lembrar o horror que se deve ter para com o pecado, causa de tantos tormentos. A Semana Santa oferece ocasião para uma ótima Confissão, mas aqueles que estão comungando e já se confessaram a pouco tempo devem deixar espaço para os que nem sempre têm oportunidade de se aproximarem do Sacramento da Penitência. Quer, porém, no júbilo do triunfo de Ramos, quer na dor da Paixão do Senhor há necessidade da sinceridade. Esta levará à verdadeira contemplação dos mistérios celebrados na Grande Semana, afastando a dureza do coração e da falta de piedade. Como lembrava São Gregório Nazianzeno num de seus sermões, sobretudo durante a Semana Santa é preciso que cada um, como Simão de Cirene, tome a cruz e siga a Cristo. Então se compreenderá que esta cruz de Cristo não significa sofrimentos, mas sacrifício, porque o sofrimento é sacrifício sem amor, ao passo que o sacrifício é sofrimento com amor. Não se pode neste exílio terreno evitar o sofrimento, mas quem o acata com espírito de sacrifício se purifica, melhora o mundo e valoriza assim a paixão de Jesus. Passa deste modo o fiel de hosanas vazios, louvores insinceros a Deus ao verdadeiro amor que é capaz de transformar a dor em alegria, tornando leve o peso da cruz de cada dia. Eis aí belas mensagens do Domingo de Ramos! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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