sábado, 4 de fevereiro de 2012

A cura do leproso

A CURA DO LEPROSO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
As curas físicas operadas por Jesus representam no plano corporal as curas que Ele deseja realizar no plano espiritual. No caso do leproso (Mc 1,40-45) está bem simbolizada a lepra moral que é o pecado que pode ser sanado pela graça e pelo seu amor misericordioso. Na narração do Evangelho aquele pobre doente caiu de joelhos para pedir sua purificação, bem mostrando isto a atitude que deve ter o cristão, ou seja, orar intensamente para obter a ajuda necessária para vencer os males do corpo e da alma. Para que um enfermo possa ser sarado deve se reconhecer possuído de uma doença, pois, do contrário, não procurará o médico e os medicamentos não lhe serviriam para nada. Reconhecer que se é portador de uma moléstia é o primeiro passo para se procurar a cura. No plano espiritual quem se julga santo, isento de qualquer falta ética não se dirige ao Redentor e fica preso, escravo de suas prevaricações. Cumpre a honestidade e a humildade para que se reconheçam as próprias imperfeições. Davi proclamou claramente: “Um coração contrito e humilhado Deus não despreza” (Sl 50). Grande deve ser realmente a confiança no Senhor sempre bondoso. Impressionante o que Jesus afiançou: “Não precisam de médicos os sãos, mas os doentes; não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mc 2,17). É de se notar que, não obstante a lepra fosse uma moléstia repugnante, Cristo não coloca o leproso à distância. Não obstante a chagas repugnantes, apesar dos olhares dos circunstantes, Ele se aproximou daquele doente do mesmo modo que Ele recebe cada um de seus discípulos ainda que repletos de culpas. A lepra espiritual não afasta o Redentor, contando que haja a boa disposição de mudança de vida. Daqueles que um dia, porém, o queriam apedrejar, deles e de sua cidade ele se apartou, como aconteceu em Jerusalém: “Pegaram então em pedras para lhas atirar. Jesus, porém, se ocultou e saiu do templo”. (Jo 8,59). Ele ajuda quem quer sinceramente seu auxílio. O leproso foi até Ele e prostrou-se por terra deixando bem claro seu profundo anelo de cura. Claríssimas as orientações do Mestre divino: “Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Porque todo que pede, recebe, e o que busca encontra, e ao que bate abrir-se-á” (Mt 7,7-8). Poderes celestes estão à disposição dos que confiam nas palavras do Mestre divino. Este, porém, deve ser abordado com humildade. O miraculado foi sábio: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Muitos, por vezes, se dirigem ao Ser Supremo numa atitude de verdadeira imposição, sendo de bom alvitre, pelo menos no íntimo do coração, deixar implícito para Deus que seja feita sua vontade e não a de quem suplica. Ele é quem sabe o que é melhor para cada um, mas, é certo, que, se o que se pede não for para o bem da salvação própria e do próximo, Ele, na sua munificência infinita, dará graça ainda maior do que a instada. Algo não muito louvável no leproso curado foi que ele, apesar da recomendação de Jesus não deixou de apregoar o milagre, dado que “ele foi e começou a contar e a divulgar muito do fato”. É preciso primeiro no silêncio de uma prece sincera agradecer ao Benfeitor divino as graças alcançadas num gesto de gratidão, de reconhecimento, de louvor. Perde-se facilmente uma bênção do céu quando, nem bem agradeceu ao Criador, alguém sai divulgando o acontecimento, mais para se mostrar do que para glorificar ao Senhor. Maria, no seu hino gratulatório afirmou diante de Isabel que Deus nela realizara grandes maravilhas, mas o fez apenas porque a Mãe de João Batista havia antes elogiado sua fé profunda. É necessário ainda, a exemplo daquele leproso que foi curado por Jesus prostrar-se a seus pés envoltos no fervor, na humildade, na confiança no amor, no abandono à sua vontade santíssima e sapientíssima Ele conhece as regiões inexploradas de cada coração e seu olhar clarifica e purifica contanto que se vá a Ele com desejos sinceros de cura. Ele não se manifestou como um mágico vindo do além. Ele deseja que seus dons integrem o fiel na misericórdia do Pai, estabelecido firmemente em seu amor. Todas estas reflexões patenteiam que o cristão pode e deve viver na alegria porque conta sempre com a proteção daquele que tem poder sobre todos os males, tendo afirmado peremptoriamente: “Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância!” (Jo 10,10). É por isto que, como mostrou São Marcos, “de toda parte vinham procurá-lo” (Mc 1, 45). Imitemos os seus contemporâneos e junto dele depararemos a saúde corporal e espiritual, muita paz e felicidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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