sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

 

9 FILHOS DO PAI CELESTE

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Claríssima a ordem de Jesus: “Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste (Mt 5,38-48), Bem outro é, geralmente, o comportamento da sociedade humana. Cristo nos deixa patente que a justiça do coração de seu seguidor não deve ser retidão meramente mundana. É certo que as leis civis são necessárias e os tribunais sociais têm razão de ser. O Filho de Deus não os nega, mas Ele quer que seus discípulos tenham vistas mais largas, ultrapassando os preceitos terrenos. É que o homem não foi feito para viver eternamente na terra, aqui ele está de passagem, pois sua destinação final é a vida eterna com Deus e esta vida eterna é preparada agora neste mundo. Eis porque é necessário não se deixar prender às coisas da terra, mas delas se servir como meios para caminhar rumo à casa do Pai. O comportamento do cristão tem então um sentido todo especial cuja orientação o Mestre divino deixou bem explícita, mostrando qual deve ser a verdadeira relação do ser humano com Deus e com os outros.  Trata-se de estar voltado verdadeiramente para Deus e perceber de que maneira nós O escutamos e amamos, buscando a perfeição divina. A Lei do talião era naquela época uma medida de progresso, dado que ela limitava o direito à vingança, levando a uma proporção equilibrada de maneiras de ser e de agir. Cristo, porém, além disto, afirma a necessidade de um perdão total, vencendo o desejo de represália com um amor profundo. Ele mesmo na cruz intercederia pelos seus algozes: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem (Lc 23,34). Ao mandamento antigo deveria se sobrepor o preceito do amor. Ele ensinou: “A quem te bater na face direita, oferece-lhe também a outra”. Muitos pensam que se trata simplesmente do abandono de direitos legítimos. Não é bem assim, pois Jesus, pedagogicamente, quis é  mostrar a reconstrução da fraternidade ao expor  voluntariamente seu seguidor a uma forma de vulnerabilidade,  desejando que o outro reconheça sua perversidade  com tal ação de violência,  opondo à maldade   um gesto de abandono confiante e a confiança conduz ao amor, ao reconhecimento do gesto  incoerente e impetuoso, porque oferecer também a outra face  significa, deste modo,  denunciar e interpelar o agressor, com um gesto ou uma ação pacífica, mas firme, como que dizendo: “ Tu me bateste na face direita, não queres também me bater na outra? O que tu fazes te parece correto?” O verdadeiro cristão não apela nunca para a vingança mas fica firme, fundamentado, e está sempre aberto ao perdão cordial. Perdoar não é fácil, mas deve ser sempre a atitude do cristão. São Basílio aconselha a se ter em todas as circunstâncias a calma. Quem não é discípulo de Jesus lança mão da injúria, o cristão, contudo, paga sempre o mal com o bem. À atitude de violência se opõe a doçura; ao rancor a brandura; à maldade a virtude. Um age como filho das trevas, o outro como verdadeiro filho de Deus.  Jesus quis nos ensinar o essencial da vida cristã, nos incitando a ir além dos preceitos da lei mosaica. O código da Aliança do Antigo Testamento prescrevia o equilíbrio nas relações humanas estabelecendo o princípio da reciprocidade dos atos (Ex 21,23-28) Jesus, porém, quis conduzir seus seguidores a uma sabedoria bem superior que é aquela de ser humanista e respeitoso com todos sem distinção, sem julgamento e sem espírito de retaliação. O princípio do “olho por olho, dente por dente” difunde o espírito da ira, da animosidade. Jesus, entretanto, pregou a fraternidade, a dileção que leva à liberdade espiritual que permite impedir o ciclo infernal do mal. Cristo desejou que se tivesse bem clara a distinção entre o erro e a virtude. Quem se reconhece como filho de Deus deve considerar os outros como irmãos, mesmo porque Deus ama todas as criaturas sem distinção.  A ira, a cólera, o rancor   devem ser transfigurados no verdadeiro sentido da filiação divina, numa atitude que é o apogeu da sabedoria, fruto da contemplação do esplendor do Pai que precisa impregnar inteiramente o coração do cristão. Este abandona a lei de talião para incrementar o mandamento do amor, reconhecendo sempre que é filho do Pai celeste e, assim, ama a todos como irmãos que gozam da mesma filiação divina A virtude da caridade fazia com que os pagãos   dissessem a respeito dos cristãos: “Vede como eles se amam!   A caridade é a marca definitiva do seguidor de Cristo É preciso pedir sempre a Jesus que nos ajude a praticar em plenitude a caridade delicada e eficaz, fazendo desta virtude, verdadeiramente, o sinal distintivo de nossos cristianismo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

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