quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

 

11 A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O Evangelho do segundo domingo da quaresma convida-nos a viver uma experiência de transfiguração (Mt 17,1-9). Este episódio nos leva a ver além das aparências para aí reconhecer a presença de Cristo que veio a este mundo aclarar nossos caminhos humanos. Colocamos então nossos passos nos passos de Pedro, Tiago e João. Note-se, inicialmente, que o evangelho nos diz que Jesus foi transfigurado sobre uma alta Montanha. Na Bíblia a montanha não é apenas um lugar geográfico. É, simbolicamente, onde se dá uma revelação. Aí se percebe que algo importante vai acontecer. Para penetrar o sentido profundo deste fato cumpre sair do nível do superficial que frequentemente é o lugar de nossas mediocridades. Trata-se de fazer uma caminhada até onde, como diz um salmo, “a verdade e o amor se encontram; a justiça e a paz se abraçam” (Sl 85,11). Aí se encontram as quatro chaves que abrem as portas da verdadeira felicidade. No Tabor Jesus se transfigurou diante de seus discípulos e apareceu na sua glória. A glória, doxa em grego, é o que aparece a nossos olhos quando isto que estamos vendo reflete e traduz o que se vê no interior. É isto a Transfiguração de Jesus que nos leva a contemplar, ou seja, o invisível. Não fiquemos nas aparecias, porque diz a Bíblia: “Deus não julga segundo as aparências” (1 Sm 16,7). Não caiamos neste equívoco. Muitos sofrimentos têm por origem esta maneira de viver unicamente sobre aquilo que é superficial, fictício e sem maior importância. A Transfiguração de Jesus nos convicta então a um olhar novo sobre Jesus e também sobre todos aqueles com quem nós vivemos, bem como sobre os acontecimentos do mundo e da Igreja. Moisés e Elias aparecem ao lado de Cristo, eles que são duas grandes figuras bíblicas que marcaram a História do Povo de Deus. Sua história se ilumina pela presença do Mestre divino transfigurado e é o próprio Cristo que vem aclarar o caminho deles e o que a Bíblia nos relata. Como cristãos valorizemos sempre as passagens do Antigo Testamento. Sua história é nossa história e o próprio Jesus não é compreendido senão como aquele que vem cumprir o que tantos profetas anunciaram a seu respeito. Notemos que, mais tarde, em outra montanha Jesus será crucificado entre dois ladrões. É o mesmo mistério de amor levado a seu término: a glória e o Amor até o máximo sofrimento de tanto amar, duas visões inseparáveis para revelar quem é o Cristo, Filho de Deus, nosso Redentor. Na narrativa da Transfiguração é Pedro que toma a palavra, quando Jesus não diz nada, pois é sua presença que fala. Pedro afirma que “é bom estamos aqui”. Felicidade tão grande a ponto dele ajuntar: “façamos aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e uma outra para Elias”. Trata-se de um acampamento. A tenda, é aquela da presença que nós traduzimos em nossas igrejas por tabernáculo. Nada é maior do que o Mistério da presença que se revela na Verdade e comunhão de Amor. É isto que deveriam estar experimentando os três Apóstolos com uma densidade indescritível. Este gozo, porém, não era um privilégio a eles reservada. É também para nós desde que tomemos o mesmo caminho que Pedro, Tiago e João. Com a nuvem se ouviu a voz do Pai: “Este é meu Filho bem amado, escutai-O”. A nuvem é normalmente na Bíblia um sinal da presença de Deus. Há uma luminosidade mas que possui um véu que impede a claridade total. A nuvem é a visão que permite guardar a Esperança. O horizonte não é fechado. Há novas perspectivas para o futuro. É evidente que a voz não se trata daquela que vem dos microfones e câmaras instaladas nas igrejas, mas se trata daquela voz interior vinda das profundezas do coração, A voz que se exprime em todas as línguas, porque ela diz o que o coração pode captar e entender e que a fé pode, de fato, fazer compreender. Crer sob a boa sequência, na boa expansão da onda vinda lá de dentro de si mesmo, faz se ajustar no diapasão daquilo que Deus quer nos dizer. Depois vem o tempo de descer para a planície. Tudo isto foi, sem dúvida, uma magnífica experiência para Pedro, Tiago e João, mas que será vivida em plenitude após a ressurreição de Jesus. Deixemos que o Evangelhos de Cristo transfigurado nos penetre inteiramente de sua luz. Iluminaremos assim com esta luz celestial tudo que estiver em nosso derredor. A fim de evitar confusões e falsas interpretações Jesus exige então que os Apóstolos não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do homem tivesse ressurgido dos mortos (Mc 9,9). Seria após a ressurreição que eles compreenderiam melhor, mais profundamente, a amplidão daquele episódio. * Prof. no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

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