quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

 

AS TENTAÇÕES DE JESUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Como lemos em São Mateus, Jesus, após ser batizado, “subiu da água e eis que se lhe abriram os céus e viu o Espírito de Deus, que, em figura de pomba, desceu sobre Ele. E veio uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual ponho minha complacência”. Portanto, confortado em sua identidade, foi que Ele   foi conduzido pelo Espírito Santo para o deserto (Mt 4,1-11).  Foi, assim, para um lugar de encontro, em solidão com Deus, e um lugar de combate espiritual. Observe-se que satanás tentará, Jesus, inicialmente, por duas vezes invocando explicitamente a qualidade excelsa de seu ser: “Se és o filho de Deus”.  Aquele que acabava de ser manifestado como Filho de Deus foi colocado à prova e foi o mesmo Espírito que repousa sobre Jesus que o conduz ao deserto para aí suportar provas da tentação. Fala o demônio a Jesus: “Se tu és Filho de Deus, dize que estas pedras se transformem em pães [,] “Se és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo”. O motivo invocado pelo diabo não era falso. Jesus era bem o Filho de Deus. Entretanto, as consequências que ele tira disto eram um erro crasso e constituem a tentação. Transformar as pedras em pão e se lançar do alto do templo são duas tentações que se resumem numa única prova, ou seja, se valer do título de Filho de Deus para agir em consequência. O demônio queria que Ele manifestasse prodígios para se gloriar de sua independência daquilo que, na verdade, era um dom de seu Pai. Esta tentação lembra bem aquela do homem sofreu no jardim do Éden. A serpente infernal incitava o primeiro casal humano a   desconfiar de Deus: “Absolutamente, não morrereis, mas Deus sabe que no dia em que comerdes da fruta proibida vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses que conhecem o bem e o mal”. Ser como os deuses no meio da criação, decidindo o bem e o mal, dominando para seu proveito os elementos, eis o que o homem iria adquirir. O que é notável nas respostas de Jesus é que Ele fará apelo a sua humanidade e à submissão para com o Pai, a fim de afastar a tentação. Está escrito: “Não só de pão viverá o homem” [...] Tu não tentarás o Senhor, teu Deus”. Descobrindo nossa identidade, nosso valor, a tentação fundamental, para Jesus e para o homem é de se porem rival de Deus, nosso Pai. Ora nossa identidade e nossa vocação não são algo que devemos escolher e defender cuidadosamente contra aquele que a desejaria retirar nós. Mas o que nós somos é um dom que se recebe e se vive numa dependência que é um filiação. Jesus era o Filho de Deus não porque poderia mudar as pedras em pão ou se lançar incólume do pináculo do templo abaixo, mas Ele realiza sua identidade de Filho de Deus alimentando-se da Palavra de seu Pai e não o colocando à prova. A terceira tentação levava a uma ambição desmedida oferecendo falsamente tudo que existe no mundo em troca da absurda adoração do espírito do mal. Firme as palavras de Jesus: “Adorarás ao Senhor, teu Deus, e a ele só prestarás culto”. Na sua humanidade Cristo sofreu as tentações e as venceu e com Ele sempre também nós triunfaremos do demônio. Ele nos ensinou a rezar ao Pai: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.  Todas as incitações do espírito perverso que o homem suporta o Senhor as suportou na sua humanidade e nos ensinou como vencer satanás e suas maldosas insinuações para que com Ele e por Ele sempre vençamos na luta entre a verdade e o erro. Jesus, enquanto homem, poderia afirmar que seu alimento era fazer a vontade do Pai e jamais, portanto, se portar como um seu rival. Jesus apela para a Palavra de Deus que como uma luz desmascara o erro e como uma espada expulsa o inimigo. Jamais Ele perderia sua identidade, porque Ele era o Verbo de Deus que habitou entre nós. Por sua atitude perante satanás Cristo cumpria as Escrituras e também realizava sua vocação de salvador do gênero humano. Jesus venceu a fome, o orgulho, o desejo de poder, o imediatismo. Deste modo, praticamente nos ensinou como vencer as tentações diabólicas. Deu-nos inclusive o exemplo da oração e do jejum como uma prova de fé e de amor. Pelo pequeno sacrifício do jejum fazemos algo que nos custa um pouco e nos dispomos a afastar as insinuações diabólicas, pois a oração e a penitência são uma prova de sinceridade e de amor diante de Deus e seus desígnios. O diabo é aquele que divide e desune, o tentador que quer seduzir para o mal.  É satanás o mentiroso, o pai da falsidade, procurando excitar o desejo humano de ter, de poder, de ser igual a Deus. Quem, porém, se apoia na Palavra divina o pode sempre vencer. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 



 

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