quarta-feira, 30 de novembro de 2022

 

VINDE A MIM, DISSE JESUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O Evangelho nos diz que Jesus “Vendo as multidões, teve compaixão delas porque estavam fatigadas e abatidas como ovelhas sem pastor/” (Mt, 9,36-10.8). Percorrendo nosso mundo deparamos, de fato, esta triste realidade descrita pelo Filho de Deus. Os dirigentes muitas   vezes mais se preocupam com o poder e dinheiro próprio e não têm olhos para ver a miséria em seu derredor. Muitos os desesperados, torturados, esfaimados, É a eles que se dirige Jesus, Aquele que pode trazer esperanças de uma vida melhor através de seus ministros dedicados  que, com generosidade, podem dulcificar tantos  sofrimentos  por meio da luz de sua doutrina, desanuviando  as trevas do sofrimento e fazendo degustar  a alegria perdida, mas tão desejada O povo de  Israel podia melhor que nós   captar  a ideia do papel de um bom pastor e sabia exatamente a importância de sua missão na assistência a suas ovelhas. Jesus por meio de seus ministros, bons pastores, desejava e deseja sempre através dos tempos que haja bons pastores que possam direcionar os desorientados que almejam bem conceituar o sentido da vida. Eis porque Jesus escolheu os doze apóstolos que teriam seus sucessores séculos afora para virem de encontro aos sofredores, pregando a solução de seus problemas, expulsando os demônios, valorizando seus sofrimentos oferecidos em reparação dos pecados que são a fonte de tantos males. A mensagem de Jesus condoído pelos moléstias que tantos padecem é uma mensagem de paz, de amor que pode sanar as enfermidades, curar suas feridas, oferecendo a certeza de uma felicidade perene junto dele numa eternidade feliz, esperança esta que ampara sempre nas tormentas da vida. Jesus veio a este mundo como o Messias salvador e nele se pode inteiramente confiar e com Ele vencer nas procelas que surgem na existência humana neste vale de lágrimas. É a verdadeira fé que leva cada um a poder afirmar: “Jesus é o meu salvador”. Então se compreende o valor da prece confiante a sustentar o cristão nos momentos mais tenebrosos. Hoje mais do que nunca cumpre se peça a Jesus que envie operários para sua messe que possam continuar sua obra redentora. Entretanto, se é verdade que cabe aos  sucessores dos Apóstolos estarem na primeira linha de amparo aos sofredores, cabe a cada cristão, seja onde ele estiver; ser também a guarida corajosa a seus irmãos. O batizado não pode ser um mero usufruidor do amor de Jesus. Deve ajudar o Mestre divino na sua obra de consolação dos aflitos nas mais diversas circunstâncias. São Vicente de Paulo, que afirmou que “o estado de sofrimento é uma felicidade porque   ele santifica as almas”, declarou que “o amor não pode ficar ocioso, é preciso socorrer o doente e o assistir tanto quanto se pode em suas necessidades e em suas misérias, cuidando de o livrar das mesmas em tudo ou em parte”. Nunca o cristão pode se esquecer das palavras de Jesus “o que fizerdes ao menor de meus irmãos foi a mim que o fizestes”. Socorrer o irmão doente é socorrer o próprio Cristo. À sombra da Cruz de Jesus ir ao encontro dos que padecem males físicos ou morais, os que sofrem violências familiares, que padecem nas ruas, os alcoolizados, os drogados. Trata-se da caridade redentora, de toda forma de generosidade e de amor para com os que sofrem e que jazem numa necessidade de amparo fraternal. Isto significa viver o espírito de Cristo, fixando nele nossa fé e a dedicação ao próximo que sofre.  Segundo o Profeta Isaias Jesus na sua Paixão se tornou “familiar do sofrimento” e assim durante seu ministério mostrou sua compaixão, reflexo da compaixão do Pai. Cristo bebeu o cálice do absoluto despojamento do amor próprio, e se fez nosso modelo. Como escreveu São Paulo aos Filipenses Ele “subsistindo na natureza de Deus, não julgou o ser igual a Deus um bem a que não devesse nunca renuciar, mas despoujou-se a si mesmo, tomndo a natureza  de servo , tornando-se  semelhante aos homens e reconhecido como homem por todo o seu exterior, humilhou-se a si memso fazendo-se obediente até a morte  e à morte de cruz (Fil  2,6). Tornou-se assim     para nós um modelo  de total abnegação. Ele dissse aos peregrinos de Emaus  que era preciso que  Ele sofresse para entrar na sua glória (Lc 24,26). É sobretudo no serviço aos sofredores que o cristão pode, de fato, imitar o Mestre divino, fazendo-se tudo para todos. Seus sofrimentos foram o fruto maduro de sua  imensa caridade e seu amor o levou até a dar sua vida por todos os homens. Ele se fez o Cordeiro que tira os pecados do mundo na sua grandiosa dileção pelos que padecem os males nessta terra. O autêntico cristão imita a Jesus e vai de encontro a todos as dores do próximo, aliviando-lhe seus padecimentos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

 

                                 AS GRANDES VERDADES DO NATAL

                                              Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O dia do Natal de Jesus relembra para todos os cristãos verdades fundamentais da fé. Uma delas é que à natureza divina da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, se uniu, no dia da Anunciação, a natureza humana recebida da Virgem Maria pelo poder do Espírito Santo. Os teólogos empregam então, com propriedade, o termo união hipostática. Santo Agostinho explica este dogma de fé ao dizer que o Verbo de Deus recebeu o que não era, não perdendo o que era.  Cristo, de fato, como ensina São Leão Magno, “desceu de tal modo, sem diminuição de sua majestade ao tomar a condição de nossa humildade, que, uniu a verdadeira condição de servo àquela condição em que é igual ao Pai e ligou ambas as naturezas com o vínculo de tão íntima aliança que nem a inferior com tão grande glorificação ficou absorvida, nem a superior diminuída com a assunção que realizou”. Note-se que o vocábulo assunção é tão técnico como a expressão hipostática. Trata-se de uma união cuja iniciativa cabe à Segunda Pessoa divina e que resulta na elevação da natureza assumida, uma vez que o resultado final é algo humano-divino que se dá. Por isto andou em clamoroso erro Eûtiques, heresiarca grego, que, no século quinto, ensinava que a natureza humana de Cristo se dissolvera na natureza divina, o que, evidentemente, jogava por terra todo efeito da Encarnação de Jesus que veio para resgatar a humanidade pecadora. O Concílio de Calcedônia em 451 condenou esta heresia. O Redentor pagaria o que a nossa condição terrena tinha em dívida para com Deus. É, deste modo, que Jesus se tornou o único Mediador como convinha ao remédio necessário à raça humana, ou seja, que Ele pudesse morrer em virtude de uma das naturezas e ressuscitasse em virtude da outra. Enquanto Deus, foi o médico celestial; enquanto homem, pôde resgatar a estirpe à qual passou também a pertencer. Daí resulta imensa gratidão ao Criador que, pela muita misericórdia que nos devotou, tendo compaixão de nós, estando nós mortos por causa do pecados, nos fez reviver em Jesus para sermos nele uma nova criação de suas poderosas mãos.  Corresponder à gratuidade de Deus, renascendo para uma vida nova, eis aí a obrigação de todos que têm fé. Cumpre revestir o homem novo de que fala o Apóstolo Paulo, deixando para trás tudo que não está de acordo com o que Jesus ensinou. É o conselho de Leão Magno num de seus mais belos sermões do Natal: “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade, e, já que foste feito participante da natureza divina, não queiras voltar à antiga vileza com procedimentos indignos de tamanha nobreza”. Jesus nasceu, de fato, para nos transladar para a luz do reino eterno do Ser Supremo, do qual é preciso começar a participar já nesta terra. Diante do Presépio é necessário que o batizado se lembre que, ao ser regenerado na pia batismal, se tornou o templo vivo da Trindade Santa e que, portanto, não pode cometer ações por cuja perversidade expulse de si tão grande Senhor para se submeter à escravidão ignóbil do Diabo. Importância tal tem cada um daqueles que Jesus veio remir que o preço desta redenção, a qual se iniciou em Belém, é o próprio sangue divino. Que, então, perante a manjedoura se renuncie às obras da carne de que fala São Paulo na Carta aos Gálatas (5,19). Apenas assim as alegrias do Natal serão consistentes e não uma mera comemoração externa de um fato histórico. O referido São Leão Magno frisa no seu texto a palavra HOJE: “Nasceu hoje o nosso Salvador”. A mesma eficácia salutar que, um dia, tal acontecimento trouxe em Belém, se dá para aqueles que se imergem nesta festa singular através da participação na liturgia. Este é o grande sinal de que os atos salvíficos de Cristo se realizam novamente, conferindo à alma fiel as graças vinculadas a tal evento. Hoje nasce Jesus para as almas dispostas com fé viva e ortodoxa a recebê-lo com júbilo no seu coração! Verdadeiro Deus Jesus viveu a condição humana para nos mostrar a proximidade de Deus Pai, seu amor infinito, incondicional, pessoal e personalizado para cada pessoa. A mensagem do Natal é, de fato, esta: Deus quis participar da vida dos homens com as alegrias do cotidiano, mas também aa dificuldades, o sofrimento e até mesmo a morte. A mensagem do Natal é portanto um convite a uma absoluta entrega nos desígnios divinos, pois Jesus nos leva até Deus seu Pai e nosso Pai agora neste mundo e depois por toda a eternidade.  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

 

56 A CAMINHADA DE SÃO JOSÉ

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Professamos no Credo que Jesus “foi concebido por uma ação única do Espírito Santo e nasceu da Virgem Maria”. Esta afirmação nos coloca na linha direta da primeira e da segunda gerações cristãs através das narrativas de São Mateus (1, 18-24) e de São Lucas. Lucas viu os acontecimentos sobretudo sob o ponto de vista de Maria e Mateus do ponto de vista de São José, e esta convergência não é profundamente significativa, mas nos leva ao seio mesmo da tradição primitiva. É evidente que gostaríamos de mais detalhes. No Antigo Testamento Deus se serve de casais estéreis para realizar seu plano, mas seguindo os processos ordinários da natureza. Porque neste caso de José e Maria não procedeu da mesma maneira? Somente Deus o sabe, Cabe a nós aceitar o plano divino. São Mateus não penetrou fundo na psicologia de São José, mas quis esclarecer teologicamente os fatos e deles tirar uma espécie de catequese para seus leitores, os cristãos vindos do mundo judaico. Sua narrativa sublinha duas ideias principais: “Jesus vem ao mundo na linhagem de Davi”, respondendo deste modo à expectativa de seu povo, e Ele o faz por intermédio de José que O adotou como filho. No que concerne a Jesus assim  Ele é dito que veio ao mundo na grande família de Abraão, descendente do rei Davi e deste modo  se expressa: “Matã gerou  Jacó, Jacó gerou José o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado o Messias” (Mt 1,15-16)  São Paulo nos confirma isto a sua maneira: Ele nasceu da raça de Davi e desde a aurora do cristianismo, na comunidade  na qual ensinava São Mateus, reconhecia  em Jesus, nascido de Maria, o Messias , isto é, o Eleito de Deus, repleto do Espírito Santo para realizar sua missão no meio dos homens. O nome que recebeu aquele menino esperado por Maria é pleno de significado.  No Antigo Testamento o nome indica o que é e o que deve fazer um ser racional nos desígnios de Deus. É um resumo da pessoa e um programa de vida. Este Jesus que devia nascer seria “o Senhor que salva” e Ele seria aquele que libertaria seu povo de seus pecados, ou seja, a libertação de ordem moral e espiritual, e toda a libertação que, operada por Cristo, devia   promover a restauração da relação entre o homem e Deus. Libertação universal que se estenderia não somente ao povo da antiga aliança, mas a todos aqueles que pela fé se tornassem filhos de Abraão. O título Emanuel vem completar este retrato teológico do Filho de Maria. Ele vem do profeta Isaias e constitui, ele também, um programa, uma missão. Este Jesus seria “Deus conosco”, Deus presente na história dos homens que Ele veio remir, Deus caminhando com os homens para os reconciliar com Ele. Este título Emanuel Jesus o reivindicará solenemente no momento de deixar seus discípulos e depois de os ter enviado a todas as nações: “Eis que eu estarei convosco até o fim do mundo”. Entretanto, este Jesus que entra assim na missão de Messias na história do povo de Deus é por meio de São José que isto se dá. José que O adota legalmente como filho e este o outro. ponto sobre o qual São Mateus insiste. José era o homem justo. Justo no sentido bíblico, ou seja, alguém que acreditava e era coerente com sua fé, um homem disposto pela sua santidade a entrar no desígnio de Deus, seja qual fosse, um homem justo, porque totalmente “ajustado” ao querer divino. José sabia a importância que tinha a Lei para ele, e também que um fracasso perante a Lei teria terríveis consequências para Maria e o Menino; ele sabia a importância do querer de Deus. Ele decidira pela solução a mais discreta, a mais próxima do plano divino, simplesmente abandonando Maria, cuja gravidez ele inovava. Deus que estava já agindo pelo Espírito Santo na existência de Maria, interveio paralelamente na vida de José e lhe descore o essencial de seu plano. José imediatamente dá rumo certo a sua trajetória e recebe Maria como sua esposa e vai ter assim um papel importantíssimo nos desígnios divinos.  No fundo a grande força de São José foi acolher a iniciativa de Deus.  É nisto sobretudo que ele intimamente estava de acordo no que Maria vivia. Eis porque São José contesta nossas lentidões, nossas reticências e vem nos revelar que nunca devemos fazer de Deus um nosso satélite e de O colocar a nosso serviço. Diante da vontade divina cumpre jamais duvidar. Admiremos ainda a discrição de São José e a imitemos sempre. A discrição foi para São José uma forma heroica de adesão aos planos de Deus. Diante das situações aflitivas e até desesperadoras jamais reagir com agressividade e intransigência, mas saibamos sempre imitar o estilo da conduta de São José. Nada de gerar rupturas, incompreensões. Em tudo é preciso paciência, muita paciência, reanimarmos a nós mesmos e reanimar os outros, dispostos a acatar a vontade de Deus.  Ficar sereno nas tensões sejam elas quais forem. Agir sempre cristãmente, confiantes em Deus. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

 

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

 

 OS ENVIADOS DE JOÃO BATISTA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O trecho do Evangelho de São Mateus focalizando o Precursor que, estando no cárcere, envia discípulos até Jesus interrogando-O sobre sua missão, de início, levanta, algumas questões (Mt 11,2-11). Assim, por exemplo: o Evangelho de Jesus é ainda capaz de falar a nossos contemporâneos, ou é preciso inventar um discurso diferente? O estilo da ação de Cristo, aquele das Bem-aventuranças, pode ainda salvar o mundo ou é necessário um outro tipo de manifestação? Estas questões podem ter surgido para João Batista ao verificar a maneira de falar de Jesus que era bem diversa do seu modo de agir. Ele conheceu então uma rude prova para sua fé, uma incerteza tal que o levou a colocar sua dúvida através de seus próprios seguidores. Em síntese a questão decisiva proposta a Jesus foi esta: “És tu Aquele que deve vir, (o Messias aguardado por Israel) ou devemos esperar um outro?” Ninguém melhor do que o Batista havia sentido as aspirações de seu tempo, o extraordinário desejo de liberdade, autenticidade, que borbulhava no povo judaico. Os tempos, naquele momento, eram duros para todos que desejavam ser fiéis. Havia os Romanos, ou seja a paz pela força. Havia também a propaganda oficial a favor dos deuses do Império. Havia outrossim o poderio das transações comerciais do ocupante e as práticas fáceis de uma civilização já decadente. João Batista iniciara sua pregação de preparação dos caminhos de Jesus, vindo do deserto longe das grandes cidades. Centenas tinham ido até ele, o asceta, o homem que lutava para purificar os costumes, aparando os vícios, cortando os erros. Eis porque seus ouvintes haviam escutado uma palavra estranha, até então não ouvida, até revolucionária clamando veementemente: “Arrependei-vos porque o Reino de Deus está próximo”. João Batista era um homem de uma só ideia: “Deus não admite o pecado”. Era isto que ele havia dito nas bordas do Jordão ao povo, aos soldados, aos funcionários. No palácio de Herodes ele foi claro: “Tu não tens direito de ter a mulher de teu irmão!” Agora ele estava na prisão. Entretanto o que lhe importava era que ele havia podido reconhecer o Messias que se esperava e falado dele aos seus ouvintes como “Aquele que iria tirar o pecado do mundo”. Ele sempre se julgou inferior a Jesus: “Ele deve crescer e eu diminuir”. Ele mesmo disse que ele era uma a voz que gritava no deserto. Agora, na prisão, ele ouvia falar das obras de Cristo, de sua pregação, de seu estilo peculiar. João jejuava, Jesus comia e bebia com todo mundo, mesmo com os pecadores. João havia predito: “Já o machado está posto à raiz das árvores e toda árvore que não der frutos será cortada e lançada ao fogo”. Jesus recusou   o estilo de um messias guerreiro e nacionalista, pregando a ternura de Deus. João gritava, Jesus em vez de agitar as massas, dedicava o tempo para reencontrar cada um e cada uma, como um ser insubstituível. Como Messias recusava toda libertação pela força e mostrava o essencial: Deus vindo ao encontro do homem. João estava na prisão confuso sobre a obra que realizara e manda seus discípulos perguntar a Jesus: “És tu aquele que deve vir ou devemos nós aguardar um outro”? Jesus responde através de fatos e por uma citação da Escritura: “Releia Isaias e verás isto: Então os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a boa nova. Feliz aquele que não encontra em mim uma ocasião de queda”.  Eis aí o drama da esperança que nós também vivemos hoje. Nós sabemos que, em Jesus, Deus nos deu tudo: o perdão, um caminho de vida, a esperança da glória eterna. Alguns, porém, estando agitados perguntam: “Senhor a quem iremos nós? Somente vós tendes palavras de vida eterna e mais ninguém nos pode ajudar!” Dizem também ser Ele a Cabeça do Corpo que é a Igreja, mas que o modo como esta Igreja cresce na terra muitas vezes os desconcerta. É que quereriam uma Igreja triunfante e a veem tantas vezes perseguida e envolvida nos percalços da história. Nós muitas vezes desejamos uma Igreja mais audaciosa, mas ela avança ao passo de pecadores que são os seus membros. Não se trata assim da Igreja que imaginamos. Ela é santa e pecadora, ou seja, santa na sua estrutura estabelecida por seu Fundador, mas pecadora nos seus membros, frágeis criaturas. É preciso que creiamos ser Cristo o Redentor absoluto do mundo, mesmo que sua mensagem não nos coloque no mundo em posição de força, porque a atitude do cristão no mundo deve ser a do serviço, visando o futuro de nossas comunidades e para isto é preciso atravessar o deserto de nossas incertezas. É necessário atestar com convicção que Cristo hoje ainda é a força da salvação para o mundo em marcha.  Ele abre um caminho de doçura e de perdão. Em todas as circunstâncias Ele é nossa salvação e é aquele que se manifestou aos seguidores de João Batista como o Messias que deveria vir a este mundo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

 

 CONVERTEI-VOS

Côn. Jose ‘Geraldo Vidigal de Carvalho*

Ao aproximarmos do Natal, Deus nos leva ao deserto para aí escutar o apelo do Precursor, um novo convite à conversão (Mt 3,1-12), Mateus começa sua narrativa da vida pública de Jesus descrevendo o ministério de João Batista: “Naqueles dias apareceu João Batista que proclama no deserto da Judéia: “Convertei-vos   que está próximo o reino dos céus”. A insistência está colocada em sua mensagem e é em seguida somente   nos versículos 7 a 13 é que São Mateus falará de seu batismo. Paradoxalmente, João escolheu para pregar no deserto junto de colinas áridas batidas por um sol intenso, local que convidava à solidão e ao recolhimento interior.  Era situado a alguns quilômetros de Jerusalém. João não se colocou nas praças das cidades ou nas grandes encruzilhadas onde as pessoas são forçadas a passar. Ele preferiu o deserto. Deste modo, todos aqueles que desejassem ouvi-lo deveriam procurar um caminho e deixar de lado qualquer comodidade. É que a linguagem de João é de austeridade e do esforço: “Convertei-vos”. Proclama ele. Tratava-se de um programa de vida espiritual. Isto porque a conversão não é somente uma mudança de mentalidade, mas, sim, de toda uma caminhada para Deus. Imagina-se que a conversão é um instante privilegiado numa existência, mas é, porém, muito mais que isto. É toda uma vida que recomeça a partir de um momento de reencontro. A conversão é um rumo a ser adotado. Um retorno, certamente, mas sobretudo um retorno que deve durar a vida toda. Não se trata de algo passageiro que conduz o ser humano a refletir sobre si mesmo ou sobre suas faltas, mas uma peregrinação de amor que leva o homem para Alguém, para aquele que chama para o Reino de Deus, ou seja, para o Deus que oferece a paz e a alegria. Se há conversão é porque “o Reino de Deus está próximo”.  O Reino de Deus, ou seja, o Reino dos céus, é o estabelecimento na terra da autoridade soberana do Ser Supremo, a realização de seu plano de salvação. Este Reino de Deus nos atrai, dirá Jesus (Mt 12,28), porque é lá que se encontra o Messias, que se tornou próximo de nós para sempre. É o encontro com o Enviado de Deus, pessoalmente, em casa, na fraternidade, na comunidade, é a grande empreitada de uma vida, é o momento que não se pode perder, é o caminho que não se deve abandonar. Depois de haver resumido a mensagem do Batista, São Mateus para um instante sobre sua personalidade fora de série e o seu papel na história da salvação. O alimento de João Batista eram gafanhotos e mel silvestre numa sobriedade admirável. Quanto a vestimenta era -uma túnica de pelos de camelo e um cinto em volta dos rins, lembrando Elias (Rãs 1,8) e sua simplicidade, por seu modo de vestir pois sua intenção era colocar toda sua vida no rastro do grande profeta de Javé. O Evangelista Mateus aliás inseriu   explicitamente o Batista na linha dos grandes profetas: “Este João   é aquele do qual falou o Profeta Isaias: “No deserto uma voz clama: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas (Si 40,3) Como o Profeta que anuncia o retorno dos deportados   no século 6º. antes de Cristo, João inaugurava os tempos novos. Deus por Jesus vai livrar seu povo de toda escravidão. Depois São Mateus retorna à mensagem do Batista e, especialmente, à sua severidade para com os   Fariseus e os Saduceus: “! Raça de víboras”, e de novo diz “Vós não produzis senão obras de morte”. É certo que eles chegam em grande número, mas João não desejava que recebessem o batismo por esnobismo. Ele era claro:” Produzi um fruto que exprime vossa conversão”. Deus, com efeito não se contentará com simples sentimentos nem com práticas puramente exteriores: Ele quer atos concretos, que envolvam o homem todo inteiro. A fé mesma deve se purificar de toda a procura de comodidade. “Não digais a vós mesmos: Temos Abraão por pai!”. Segundo a doutrina judia corrente, Israel usufruía os méritos de Abraão, mas, para o Batista, contar sobre estes méritos seria simplesmente ainda se apoiar sobre um privilégio religioso, A conversão seria incompleta. Os verdadeiro filhos de Abraão são todos aqueles, Israelitas ou não, que imitam sua fé e seu engajamento total no projeto de Deus. Através dos Fariseus e dos Saduceus, é nós que somos tomados a parte pelo Precursor. Porque nós também somos   ameaçados pela rotina e nossos retornos ao Senhor ficam frequentemente algo passageiro. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

 


IMACULADA CONCEIÇÃO

  Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A glória de Maria procede de sua dignidade de Mãe de Jesus Cristo, mas
esta prerrogativa outorgou a ela outros privilégios, de sorte que em
redor do título de Genitora do Filho de Deus Encarnado florescem todas
as perfeições que nela contemplamos. Entre os privilégios desta mulher
singular fulge a Imaculada Conceição, ou seja, a isenção do pecado
original no mesmo momento em que a sua alma foi criada e unida ao
corpo. Todos nós nascemos privados da graça santificante, da pureza
primitiva, da amizade de Deus. Ela, porém, foi pura, imaculada, como
outrora nossos primeiros pais no paraíso terrestre. Eles desobedeceram
a Deus, perderam sua amizade e nos legaram o pecado original.  Para a
Rainha das Virgens, entretanto, tudo é luz.  Ela entrou no mundo
destinada a ser a progenitora do Redentor da humanidade, brilhando com
todos os esplendores da divindade de Cristo a quem conceberia pelo
poder do Espírito Santo. Eis porque todas as belas-artes, cujo ideal é
a beleza sem mancha e sem defeitos, inclinaram-se diante da Virgem
imaculada, prestando-lhe homenagens, proclamando-a a sua rainha e
procurando reproduzir lhe os traços nos mais primorosos trabalhos
humanos. Foi a beleza imaculada de Maria que arrancou do gênio de
Rafael as suas Madonas, do pincel de Murilo as suas Conceições, da
virtude de Fra-Angélico as suas Virgens. Foi a beleza imaculada de
Maria que fez vibrar a alma de Mozart e de Gounod, entoando a
“Ave-Maria”; foi a beleza imaculada de Maria que guiou o buril dos
artistas na pureza das linhas, na graciosidade dos contornos, na
harmonia do conjunto dessas estátuas que fazem o encanto de nossas
igrejas e o ornamento das nossas cidades. Foi a beleza imaculada de
Maria que fascinou e encantou o coração da humanidade, a ponto de
reformar os seus costumes e de purificar os seus sentimentos; foi a
beleza imaculada de Maria que suscitou através dos tempos as virgens
cristãs em sua radiante pureza e na sublimidade do seu heroísmo. Foi
quem depositou na fronte de nossas mães a modéstia, a graça, uma doce
majestade que são ao mesmo tempo a honra, a segurança e a felicidade
da família. Ela é a cheia de graça, a bendita entre todas as mulheres.
Na vida de Maria Santíssima não houve um só momento em que ela
estivesse sujeita ao pecado, e esta crença universal de todos os
séculos cristãos foi solenemente proclamada dogma de fé a 8 de
dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX: «Declaramos que a Bem-aventurada
Virgem Maria, desde o primeiro instante de sua concepção, por uma
graça especial e um privilégio do Altíssimo, em vista dos méritos de
Jesus Cristo, o Salvador da raça humana, foi preservada da mancha do
pecado original». Este privilégio excepcional, esta glória sem igual,
lhe vieram unicamente dos merecimentos infinitos do Verbo de Deus que
em seu seio se encarnou, para redimir o gênero humano. Como a nuvem da
tarde reveste-se de púrpura e de luz, refletindo os últimos raios
solares, quando o astro do dia vai desaparecendo no horizonte, assim
Maria, recebendo a eficácia dos méritos do Redentor, apareceu na terra
iluminada e foi sempre pura, santa, sem mancha original. Jesus é
realmente o Deus feito Homem e, por conseguinte, a humanidade lhe é
tão necessária como a divindade. Maria entrou nos planos salvíficos do
Ser Supremo. O sangue que correu nas veias do Cristo procedeu da vida
de Maria, e a fonte desse sangue não poderia ser impura, o princípio
dessa vida não poderia ser manchado. A Virgem santa, que apresenta ao
mundo o vencedor do pecado, não deveria estar um instante sequer sob a
lei do pecado. Aquela por cujo intermédio a graça divina derrama-se
sobre a criatura não viveria, ainda que um só momento, fora da graça.
A desonra materna tornar-se-ia a ignomínia do Filho, e ainda que
Cristo destruísse o império do pecado, haveria sempre uma sombra em
sua glória, pois antes de ser o vencedor do mal, não teria podido
vencer o mal em sua santa Mãe, e a graça, que tudo purifica, teria
sido impotente na Conceição de Maria. Não nos basta, porém, recordar
toda a grandeza da Virgem Imaculada. Cumpre imitar sua pureza sem
mancha numa pugna constante contra tudo que possa conspurcar a alma
numa fuga perseverante das ocasiões de pecado, das novelas imorais,
dos sites pornográficos, enfim de tudo que a mídia sob inspiração do
Maligno oferece para perdição eterna. Observância total, absoluta do
sexto e do nono mandamentos sagrados da Lei de Deus. Por isto, o
cristão está sempre a repetir: “O Maria concebida sem pecado original,
rogai a Deus por nós que recorremos a vós”! * Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos.

sábado, 12 de novembro de 2022

 ESTAI PREPARADOS

Côn.. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O Evangelho de hoje no início do Advento oferece séria advertência de Jesus: “Estai preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do Homem”. Cristo falava de sua outra vinda: Ele vem agora e Ele virá ainda. O importante para todos hoje é saber como O reconhecer e como educar nossa percepção para acolher sua vinda de ontem, de hoje e de amanhã. A advertência de Jesus nos alerta para uma salvação prometida para toda a terra, não apenas como o que aconteceu para Noé. Isto porque o nome de Jesus é “o Filho do homem”, um título que designa, sobretudo no livro de Daniel, um homem realizado sob o olhar de Deus. Este Filho do homem é enviado por Deus para vir estabelecer a justiça e para revelar a salvação de toda a humanidade. É o que havia anunciado o profeta Isaias, O que torna viva nossa esperança pela promessa do Senhor: “Ele será juiz entre as nações e o árbitro de ao dilúvio. Há uma semelhança entre a vinda do Filho do homem e    o que aconteceu a Noé: Noé recolheu na sua arca uma amostra de todos os viventes. No Evangelho de numerosos povos. No Evangelho de hoje esta missão do Filho do homem é comparada à ação de Deus com relação hoje viventes – homens e animais – é um pequeno resto inaugurando uma criação nova.  Jesus nos convida então a compreender que a obra do Filho do homem é comparável àquela de Noé, Ele é como o ramo de oliveira, Ele é o nosso arco íris no céu, que reúne a humanidade na justiça. Deste modo a vinda do Filho do homem orienta nosso coração para uma salvação destinada à criação inteira. Esta boa nova recebida hoje anuncia, para além de todas as provas que podem nos acontecer, se dá num mundo renovada pela vinda contínua do Filho do homem. Entretanto, esta Boa Nova nos convida a nos dispor a acolher com autenticidade a salvação oferecida.’ Isto significa que cumpre estar atentos em todas as circunstância, não por temor, mas porque a salvação está aí, ela já chegou. Jesus nos convida a viver intensamente esta realidade da salvação oferecida a todos. Nada de se deixar distrair ou alarmar por entre atitudes superficiais ou uma resignação passiva, quando, na verdade, a lembrança da vinda do Filho do Homem deve nos levar a viver na alegria, nos ajudando a guardas a esperança em todas as circunstâncias. É um convite a vigiar ativamente, Trata-se de vigiar, isto é, a viver com o cuidado dos outros, na prática de todas as virtudes, Esta vigilância é, com efeito, velar pelo bem estar cada um na medida do possível. É o vivar procurando ser para o outro uma arca na qual se pode encontrar, amizade, paz e conforto. Porque hoje também terríveis ameaças pesam sobre a humanidade. Catástrofes naturais, lutas entre nações, fome e muitos são os refugiados longe de suas pátrias. Cumpre estar vigilantes ante tudo isto e não ficarmos indiferentes com o que se passa mundo afora. Nossa força interior é a esperança da salvação que Deus nos oferece e é   também d nossa contribuição inventiva para construir arcas de salvação. Esperar é um verbo ativo e não uma forma passiva de resignação diante dos males. Esperar não é estar adormecido, mas pelo contrário, estar atentos para ir lá onde podemos ser úteis, ajudando sempre o próximo. Tudo isto porque o Senhor vem!! Como falou o Papa Francisco, a Igreja pode ser no meio dos sofrimentos um “hospital de campanha”, um oásis de reconforto, de compreensão, da fraternidade e de compaixão. Cada vez que uma pessoa encontra perto dela uma arca de salvação, é o Filho do homem que aí chegou. É deste modo que a salvação de Deus toma sentido desde agora no meio de nós. Cumpre sempre se interrogar: “Que é preciso fazer para ser salvo”? Crer em Deus, em sua palavra, e viver de seus ensinamentos na Bíblia, porque uma fé sem as obras é morta. Por tudo que estamos refletindo, Jesus nos interroga sobre a realidade de nossa fé, e nos convida, desde agora, a nos preparar para o reencontro com Ele, isto é, a viver em nosso coração desde hoje como se este fosse o último dia. Isto não quer dizer, nada prever para o futuro, ou tudo abandonar, mas estar preparados para aparecer diante dele, quando for da vontade divina. Estar preparados é a grande mensagem do Evangelho de hoje. Vigiar, não estar sonhando, mas estar atentos. Vigiar é desejar, esperar, caminhando para o encontro com o Filho do homem. Vigiar é estar cônscio de que estamos numa peregrinação lutando sempre contra uma certa sonolência da fé. É sair de uma vida espiritual tornada como que anestesiada na qual estamos mais ou menos cansados de rezar, de procurar um Deus que nos parece longe O verdadeiro desejo do encontro com o Filho do homem faz então atravessar a noite das provas deste exílio terreno. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

 

CRISTO REI DO UNIVERSO

Côn. José Geraldo  Vidigal de Carvalho*

 No tempo de Jesus, quando se levava um homem ao suplício, em todo o percurso até o lugar da execução, o condenado levava  um letreiro  com letras bem visíveis  dizendo o motivo do castigo. Eis o que se pode ler, fixado sobre a cruz de Cristo “Rei dos Judeus”. Ora nesta mesma época a região denominada Palestina não estava sem rei. Eram aliás dois: Herodes  Antipas na Galileia e  na Transjordânia,   e Felipe  em Golan. Apenas a Judéia com Jerusalém era controlada diretamente pelo procurador romano. Se os juízes de Jesus,  em particular o romano, o haviam podido  reter contra Ele esta anotação  política  “ele  quis se fazer rei” é que espontaneamente  durante a vida pública de Jesus muitos,  sobretudo entre o povo  haviam reconhecido nele o Messias aguardado por Isael e, na verdade,  um Messias Rei . Esperava-se que Jesus tomaria em mãos os destinos políticos do paíz, ele que havia alimentado  uma multidão, multiplicando os pães num local deserto. Esperava-se que afastaria  o jugo do ocupante e daria novamente a independência  a seu povo. Jesus não acreditava nestas manifestações, nem no que seria colocado  sobre a cruz.  Messias, filho de Davi, ele o era de fato, Messias o  enviado de Deus, mas não queria que o assimilassem aos reis terrestres. Eis porque no decorrer de seu processo Ele respondera a Pilatos: “Meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36). A cena da crucifixão nos permite mesurar também a esperança que Jesus havia suscitado; e o desapontamento   da multidão diante de um Messias crucificado. São Lucas nos descreve   grupos  de homens perto da cruz: os chefes judeus que ironizavam:   os soldados romanos que zombavam;  o povo que O olhava; Maria, mãe do crucificado, João evangelista e outros fiéis. Jesus na cruz  era bem, com diz São Paulo,  “um escândalo  para os judeus  e uma loucura para os pagãos” (1 Cor 1,23). Dois malfeitores estavam  crucificados com Jesus  sendo que um fazia coro com  os zombadores .  As contestações  traziam referência ao verbo salvar, em ligação com o nome Messias, (Cristo) ou rei: “ Ele salvou os outros, que salve a si mesmo, se é o Cristo, o Eleito”; “ se és  o rei dos judeus, salve-te a ti mesmo” “ Não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós”. Sem o saber estes homens que desafiavam Jesus  nos orientam para o essencial do mistério  de seus sofrimentos  e de sua morte. Jesus não quer se salvar da cruz, porque ele queria nos salvar pela cruz, pelo amor que Ele tem a seu Pai sobre a cruz. Porque é o amor que traz a salvação e não o sofrimento por  si  mesmo. Nós temos lá diante de Jesus sofredor uma luz que esclarece nosso próprio destino e o destino de todos aqueles que nós amamos. Jesus não nos salva da cruz, de nossa cruz, mas Ele nos salva pela sua cruz, pelo amor  que Ele nos provou ter sobre  a cruz e Ele nos oferece a oportunidade  de nossa parte  fazer de nossa cruz uma prova de amor. Ele mesmo afirmou: “Aquele que quer me seguir, tome sua cruz e me siga”. Qual é nossa cruz? É o real de nossa existência, o cotidiano de nossas vidas, todas as grandes provas das tribulações, tudo que devemos suportar  para ficar fiéis a Deus e servir Jesus nos irmãos, enfim tudo que nós assumimos por amor, para melhor reproduzir a imagem di do Filho de Deus. Ele a nos dizer : “Toma tua cruz de teu combate  para demonstrar uma autenticidade cristã, a cruz  de teu esforço de caridade, a cruz das preocupações com o apostolado, tudo isto por amor. É deste modo que nossa vida deve ser imolada a Cristo, Rei do universo e vivida  em função do soberano enviado pelo Pai. Nossa vida já não nos pertence, mas àquele que por nós morreu e ressuscitou como primeiro  entre os mortos. Este é o destino pascal  inscrito já no nosso batismo, fundamento de todos os filhos de Deus, leigos ou consagrados¸ crianças, jovens ou adultos. É no cotidiano  que se adere à vontade do Pai e se dá um encontro maravilhoso com a cruz deste Rei singular, É no dia a dia que  se diz a Deus que nós O amamos.. Trata-se de uma dileção e uma alegria cristãs. É em nossa vida de todos os dias que Cristo Rei, o Messias quer ser nosso soberano, porque  Ele  quer ser rei antes de tudo dos corações livres e sinceros. Sua realeza não é deste mundo,  ela não se apoia em estruturas  políticas, ela não se  impõe pela força nem pela subserviência das consciências. A realeza de Jesus  é o brilho universal de sua  palavra, é a iluminação de cada coração  dos que creem, é o incêndio  da caridade até os confins da terra, a  começar pelo incêndio de nosso coração, onde tudo deve receber o fogo da imolação para glória de Deus e salvação do mundo * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos .