segunda-feira, 26 de setembro de 2022

 SERVIR NA FÉ

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Os Apóstolos pediram a Jesus: “Aumenta-nos a nossa fé” (Luc  17, 5-10). A atividade do homem deve ser orientada e caracterizada pela natureza e objeto de sua fé. Ter fé não significa simplesmente ir à Igreja, nem mesmo em pedir a ajuda divina nos limites do sofrimento ou das várias outras provações da vida. A   fé é a virtude que deve guiar toda a vida do cristão em tudo que ele é e pratica. A fé em Deus é uma maneira de apresentar e qualificar a postura daquele que crê. O cristão autêntico se acha impregnado de fé, habitado por ela, vivendo nela e atento aos recados divinos.  Donde o conselho do salmista: “Hoje não fecheis o vosso coração, mas escutai a voz do Senhor” (Sl 94). Donde haver ocasião para crescer sempre mais na prática desta virtude e daí a razão de ser do pedido dos discípulos a Jesus, porque quanto maior foi a fé tanto mais vigorosa e meritória será a existência de cada um, inclusive no serviço do próximo na imitação do Mestre divino que se apresentou como o servidor por excelência, exemplificando isto ao lavar os pés dos apóstolos na última ceia. Cumpre contemplar na fé esta vida inteiramente prestativa daquele que determinou: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. Então coisas maravilhosas acontecem em derredor do fiel seguidor de Cristo, Este não é possuído por um espírito de temor ou de timidez mas, sim, pelo espírito de força e de amor para ousar bem servir o próximo e para perseverar sem nada guardar para si, a não ser a Palavra de Deus. Jesus convida pela fé à prática da caridade e da santidade completas.Donde a atenção em não prejudicar a ninguém, seja ele quem for, porque no próximo se enxerga pela fé o próprio Jesus Cristo. Trata-se de uma esclarecida caridade fraterna, do respeito ao outro na pratica do preceito legado por Jesus *Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Deus é amor e Ele nos leva a amar, a respeitar, a ajudar.  É preciso lutar contra toda má ideologia ou desvirtuada teologia da fé, longe de qualquer atitude de desamor aos outros.  Jamais deixar de perdoar o próximo e isto só é possível com a graça divina, a qual só pela fé se desenvolve nos corações. Donde uma dileção sem restrições. Daí a fuga também de todo escândalo, palavra que vem do grego e significa um objeto que leva o outro a cair, como uma pedra no caminho. Nada se compara às alegrias do serviço na fé bem longe das servidões materiais, psicológicas e espirituais do mundo de hoje. Colocar-se ao serviços de Deus e dos outros é crescer nas aspirações fundamentais do ser humano. É um esforço necessário diante das estrutura do mundo ocidental no qual tudo é feito para que o homem creia que ele pode encontrar em si mesmo suas razões de viver e de progredir. Dizer que Deus tem uma soberania total e universal em tudo, pode parecer uma incongruência no contexto atual. Daí o afastamento daquele no qual nós vivemos, existimos e somos. Daí também a dificuldade de servir na fé, uma relação de simplicidade com o Ser Supremo. É com Ele que o cristão, que crê, deve transformar o mundo. Entretanto, não é tão fácil ter uma relação simples com Deus cuja grandeza ofusca o ser humano que tenha uma fé diminuta. Eis aí a razão de ser do término do Evangelho de hoje: “Assim, também vós uma vez feito tudo o que se vos ordenou, dizei: ‘Somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer’. A fé deve nos levar a reconhecer que em tudo somos simples servidores.   A obra de Jesus é grandiosa, mas Ele quer a cooperação de todos os seus seguidores fiéis, apesar de sua pequenez. Sua obra é levar à luminosidade parcelas de sua criação. Donde, portanto, a importância da fé que inspira confiança, fidelidade apesar da grandeza da obra. Esta fidelidade leva a uma confiança na ajuda do Mestre com o qual se colabora. Os apóstolos haviam presenciado as maravilhas operadas por Jesus e eram eles que pediam a Ele que lhes aumentasse a fé. Ter fé neste caso não é admitir verdades, mas confiar inteiramente em Deus, pois é Ele que é o todo poderoso Senhor. Num mundo no qual reinam as discórdias, as altercações, a fé se torna o anteparo, trazendo a presença do amor diante da obscuridade das más ações. A fé não pode ser medida. Ser um fiel que crê é dar um salto na confiança naquele que tudo pode. Esta fé não se adquire nos livros, mas o fiel a recebes gratuitamente no contato com o Poderoso Senhor. A fé deve ser vivida intensamente. Deus está no coração da fraqueza humana, no cerne da pequenez de cada um. Ela não se acha no poder dominador, mas no fundo de nossas misérias. De fato todos somos servos inúteis porque tudo vem de Deus, tudo nos é ofertado de graça. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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