Parábola do Mau rico e do pobre Lázaro
Nesta parábola
Jesus não pretendeu descrever a geografia do lugar dos mortos. Ele referiu
simplesmente o que sobre isto se falava no seu tempo para melhor se fazer compreender
e ir diretamente ao essencial de sua mensagem. É de se notar que a narrativa
não diz que o rico é punido porque ele é rico, nem o pobre é recompensado
porque é pobre. Trata-se de um rico que não se ocupa nem dos homens e nem de Deus.
É a ausência de todo sentimento religioso e o império do egoísmo que são
execrados e, inversamente, Deus premia a piedade e confiança do pobre porque
Jesus lhe dá um nome que é todo um programa de vida, pois Lázaro significa
“Deus veio em ajuda”. Dito isto, as lições da parábola aparecem claramente. A
primeira concerne à morte como limite absoluto. Quer se tenha fausto e no luxo
ou coberto de úlceras, mendigando na porta dos outros, chega um momento no qual
as coisas tomam seu verdadeiro valor. Trata-se do modo como se viveu é que
contará e esclarecerá toda a vida de quem passou por este mundo. A morte que totaliza
todas as fidelidades de uma existência, fixa também o cada um definitivamente
nas suas escolhas. Cumpre, portanto, enquanto se tem tempo, se converter, saber
dar rumos certos à própria vida antes de entrar na eternidade. Ora, o rico da
parábola era como um cego ao longo de sua trajetória. Ele não via a necessidade
que Ele tinha de Deus e de seu perdão. Ele não tomava conhecimento de Lázaro
que não reclamava de nada e simplesmente desejava matar a fome com as migalhas
que caia da mesa do opulento, vendo os cães que viam lembra-lhe as chagas. Até à
hora da morte o cenário das coisas aqui no mundo podem causar ilusões. Lázaro
morre no esquecimento total. O rico falece e toda a cidade vem lhe prestar
homenagens. Entretanto, no outro mundo
tudo se muda diante de Deus. Nada e ninguém impedirá jamais a Deus de ser por
sua vez, misteriosamente, o Criador e o Juiz, infinitamente bom e infinitamente
lúcido. A morte não opera a justiça,
pois é Deus mesmo que se reserva como apreciar cada um acima da qualidade da
vida, levando em conta a qualidade do coração. Nós gostaríamos poder escapar
desta lógica de nossas próprias escolhas, mas Jesus insiste e coloca nos líbios
de Abraão palavras estranhas: “Entre ele e nós há um grande abismo”. Não se trata isto senão de uma imagem,
certamente, mas é a imagem do irreversível.
Foi-se um tempo, o tempo mesmo da vida, na qual o ímpio teria podido
fazer qualquer coisa para Lázaro, como, por exemplo, os pedaços de pães que
havia nos banquetes e que poderiam alimentar o pobre durante toda uma semana. Agora, porém, mesmo Lázaro, mesmo o amigo de
Abraão, não poderiam fazer mais nada para este rico. A outra lição da parábola
diz respeito aos filhos do rico que precisavam então se converter. Jesus é bem
objetivo na sua resposta O que converte não são as experiências
extraordinárias, mesmo se um dos mortos voltasse para lhes falar, passado o
primeiro sustos, cairiam de novo na mediocridade. Isto porque ninguém pode responder em lugar
do outro e só a palavra sincera, decisão pessoal, é que são imprescindíveis para
a absoluta conversão do coração. De fato, temos Moises, lemos os Profetas e até
“nos últimos dias Deus nos falou através de seu Filho “(Há 1,2). Se não somos convencidos
por uma tal prova de amor quem poderá jamais nos falar de esperança? A
conversão que muda uma vida é o retorno completo para Deus, a disposição de
acolher a palavras de seu Enviado. Isto é o que deve dar sentido à nossa vida.
Não obstante nossas diferenças, nossas riquezas ou pobrezas, o que vale é nossa
crença vigorosa em Cristo que clama por conversão dando sentido real a nossa
vida. Total esperança no nosso senhor Jesus Cristo que nos chama a uma mudança
de vida, caminhando sempre para o melhor. Como foi dito, não se trata da
situação de vida de cada um, mas do modo como se vive diante de Deus. Vivemos
numa sociedade onde impera o consumismo e na qual muitas vezes o bem aparece
como o mal e o mal como o bem. É preciso estar atentos, vigilantes, sabendo bem
discernir o modo como vivemos perante Deus e o próximo. Assim como o rico tinha
Moisés e os profetas nós temos, além deles, os santos e santas que nos
apresentam tantos maravilhosos exemplos de uma vida correta. O abastado da
parábola só pensava nele mesmo e o pobre, apesar de sua louvável paciência,
devia merecer mais consideração da parte daquele rico. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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