quarta-feira, 21 de setembro de 2022

 Parábola do Mau rico e do pobre Lázaro

Nesta parábola Jesus não pretendeu descrever a geografia do lugar dos mortos. Ele referiu simplesmente o que sobre isto se falava no seu tempo para melhor se fazer compreender e ir diretamente ao essencial de sua mensagem. É de se notar que a narrativa não diz que o rico é punido porque ele é rico, nem o pobre é recompensado porque é pobre. Trata-se de um rico que não se ocupa nem dos homens e nem de Deus. É a ausência de todo sentimento religioso e o império do egoísmo que são execrados e, inversamente, Deus premia a piedade e confiança do pobre porque Jesus lhe dá um nome que é todo um programa de vida, pois Lázaro significa “Deus veio em ajuda”. Dito isto, as lições da parábola aparecem claramente. A primeira concerne à morte como limite absoluto. Quer se tenha fausto e no luxo ou coberto de úlceras, mendigando na porta dos outros, chega um momento no qual as coisas tomam seu verdadeiro valor. Trata-se do modo como se viveu é que contará e esclarecerá toda a vida de quem passou por este mundo. A morte que totaliza todas as fidelidades de uma existência, fixa também o cada um definitivamente nas suas escolhas. Cumpre, portanto, enquanto se tem tempo, se converter, saber dar rumos certos à própria vida antes de entrar na eternidade. Ora, o rico da parábola era como um cego ao longo de sua trajetória. Ele não via a necessidade que Ele tinha de Deus e de seu perdão. Ele não tomava conhecimento de Lázaro que não reclamava de nada e simplesmente desejava matar a fome com as migalhas que caia da mesa do opulento, vendo os cães que viam lembra-lhe as chagas. Até à hora da morte o cenário das coisas aqui no mundo podem causar ilusões. Lázaro morre no esquecimento total. O rico falece e toda a cidade vem lhe prestar homenagens.  Entretanto, no outro mundo tudo se muda diante de Deus. Nada e ninguém impedirá jamais a Deus de ser por sua vez, misteriosamente, o Criador e o Juiz, infinitamente bom e infinitamente lúcido.  A morte não opera a justiça, pois é Deus mesmo que se reserva como apreciar cada um acima da qualidade da vida, levando em conta a qualidade do coração. Nós gostaríamos poder escapar desta lógica de nossas próprias escolhas, mas Jesus insiste e coloca nos líbios de Abraão palavras estranhas: “Entre ele e nós há um grande abismo”.  Não se trata isto senão de uma imagem, certamente, mas é a imagem do irreversível.  Foi-se um tempo, o tempo mesmo da vida, na qual o ímpio teria podido fazer qualquer coisa para Lázaro, como, por exemplo, os pedaços de pães que havia nos banquetes e que poderiam alimentar o pobre durante toda uma semana.  Agora, porém, mesmo Lázaro, mesmo o amigo de Abraão, não poderiam fazer mais nada para este rico. A outra lição da parábola diz respeito aos filhos do rico que precisavam então se converter. Jesus é bem objetivo na sua resposta O que converte não são as experiências extraordinárias, mesmo se um dos mortos voltasse para lhes falar, passado o primeiro sustos, cairiam de novo na mediocridade.  Isto porque ninguém pode responder em lugar do outro e só a palavra sincera, decisão pessoal, é que são imprescindíveis para a absoluta conversão do coração. De fato, temos Moises, lemos os Profetas e até “nos últimos dias Deus nos falou através de seu Filho “(Há 1,2). Se não somos convencidos por uma tal prova de amor quem poderá jamais nos falar de esperança? A conversão que muda uma vida é o retorno completo para Deus, a disposição de acolher a palavras de seu Enviado. Isto é o que deve dar sentido à nossa vida. Não obstante nossas diferenças, nossas riquezas ou pobrezas, o que vale é nossa crença vigorosa em Cristo que clama por conversão dando sentido real a nossa vida. Total esperança no nosso senhor Jesus Cristo que nos chama a uma mudança de vida, caminhando sempre para o melhor. Como foi dito, não se trata da situação de vida de cada um, mas do modo como se vive diante de Deus. Vivemos numa sociedade onde impera o consumismo e na qual muitas vezes o bem aparece como o mal e o mal como o bem. É preciso estar atentos, vigilantes, sabendo bem discernir o modo como vivemos perante Deus e o próximo. Assim como o rico tinha Moisés e os profetas nós temos, além deles, os santos e santas que nos apresentam tantos maravilhosos   exemplos de uma vida correta. O abastado da parábola só pensava nele mesmo e o pobre, apesar de sua louvável paciência, devia merecer mais consideração da parte daquele rico. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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