Côn. José Geraldo
Vidigal de Carvalho*
Muitas as lições que a Parábola do Filho Prodigo oferece (Lc
15, 1-32) A maneira como o filho mais velho reagiu à recepção dada por seu pai
ao irmão que havia abandonado o lar e dissipado bens da família fica bem clara
nos dizeres paternos a ele que ficara fiel e não concordava com a atitude
misericordiosa expressa numa peculiar festividade pelo retorno:” Meu filho tudo
que é meu é teu”. Na verdade ele não
chamava aquele que regressava “meu irmão”, mas se referia a ele como
“teu filho” que voltara. Fica claro deste moco que negava a fraternidade que os
ligava, dado que ele estivera sempre a serviços do pai sem jamais tê-lo
desobedecido. Então o pai tenta lhe explicar que aquele que
regressara ao lar não era um estrangeiro, mas seu irmão, não obstante tudo e o
que dele estava recriminando. Procurava lhe mostrar que perfeita fora e era sua
comunhão com seu pai, pois lhe lembrava “Tudo que é meu é teu”, Meu filho eu
sou o teu pai e não simplesmente o senhor, como sou o pai do teu irmão e não
seu juiz. Neste caso, para se alegrar
com a volta do transviado ele devia antes de tudo reconhece-lo com irmão e
firmar ele também uma autêntica relação filial.
Isto não estava acontecendo pois a situação era vista sob o ângulo do
julgamento moral ao analisar atitudes diferentes. O filho mais velho colocava acima de tudo a
importância de sua obediência e fidelidade e quando via seu irmão rebelde, mas agora
arrependido, o que lhe vinha à mente não era o que lhes era comum, mas o que os
opunha: um que havia abandonado a casa paterna para viver sua vida a seu bel
prazer, o outro que havia ficado sempre fiel a seu pai. Se a necessidade do
perdão, da misericórdia do pai era mais manifesta para o filho pródigo do que para
seu irmão, este último não devia se esquecer de que ele vivera sempre tranquilo
sob a égide paterna. Belíssimo ensinamento pois todos somos irmãos filhos do
mesmo Pai que está no céu e que felizes são os que sabem usufruir a verdadeira vida em Cristo
Jesus e que devem ter comiseração com os irmãos que erram e tudo fazer para que
voltem à casa paterna. Para isto, porém,
é preciso muita humildade, porque somente Deus é santo, é prefeito e eis porque
quem pode se aproximar do banquete eucarístico por estar em estado de graça
deve humildemente dizer: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha
alma, mas dizei uma só palavras e serei salvo!”. O irmão mais velho da Parábola
se jactava de ser obediente e até recrimina o pai por não lhe ter dado algo
para festejar com seus amigos, esquecido inclusive de que estar sempre a
serviço do pai já era algo a ser louvado.
A fidelidade a Deus não é um favor, mas uma felicidade e nem sempre se
faz todo que se deveria fazer, pois inúmeras são as precariedades humanas.
Lembrar-se de suas faltas não para se mortificar, mas para render graças àquele
que nos acolhe sempre e isto é essencial para nossa vida fraterna. A ação de graça
é fundamental para a fraternidade e deve fluir juntamente com o reconhecimento
da própria fraqueza e de um arrependimento das faltas devidas à miséria humana.
Por isto está na oração que Jesus ensinou “Perdoai nossas ofensas”, prece que
até os grandes santos recitaram inúmeras vezes. Ao olhar misericordioso de Deus
todos nós somos iguais na mesa dos pecadores. Todos os cristãos precisam sempre
do perdão e da graça de Deus. A Ele nos dirigimos no salmo 129: “Se levardes em
conta nossas faltas quem haverá de subsistir?”
Todas chamados a participarem da mesa do pão e do vinho que o Pai
celeste não deixa faltar nunca, mesmo que seja um filho pródigo que sabe voltar
aos braços do pai misericordioso. Notável o modo como o filho que regressou ao
lar se dirigiu a seu pai reconhecendo seu erro, pois a raiz do pecado se
encontra sempre naquele que se deixa levar pelo espírito de independência, egoísmo
e orgulho. Como aconteceu com o filho pródigo muitos querem fazer o que lhes
parecem bom, como bom lhes parece. Há aqueles que como o filho pródigo se
julgam muito fortes para fazer face à vida e tomam decisões sem ter em conta a
advertência do Pai que está nos céus, deixando de lado a lei divina. O filho
pródigo errou ao se afastar da casa de seu pai, mas acertou quando, arrependido,
regressou e humildemente se retratou. O mesmo deve fazer todo aquele que inflige
a sagrada lei de Deus, voltando à obediência e fidelidade a seu Pai celeste. Deus,
porém é Pai misericordioso que perdoa os corações arrependidos mesmo que estes
nada tenham a Lhe oferecer, nada exigindo em troca. Façamos sempre tudo também
pelo arrependimento dos que se extraviarem.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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