OS
DEZ LEPROSOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No
tempo de Jesus na Palestina ser leproso era ainda a mais do que hoje ser
condenado a viver à margem da comunidade humana. A legislação do Levítico deixava
claro: “O enfermo atacado pela lepra
trajará vestes rasgadas, andará de cabeça descoberta [...] e gritará: Impuro,
Impuro! Enquanto durar o seu mal, ele
morará à parte: sua residência será fora do acampamento” (Lev 13,45). É à
entrada de uma povoação que Jesus escuta que lhe clamavam: “Jesus, Mestre, tem
piedade de nós!” Dez leprosos estão lá,
tomados pela miséria desta doença, mas decididos a ter ima chance de cura para
suas vidas, a última chance, pois que eram rejeitados pelos homens. Eles se
punham à distância, como era o costume, por temor, talvez, de se aproximar de Jesus
e nunca a distância lhes parecia tão dura de suportar. É assim que tantas vezes
os homens, na sua relação com Jesus, com Ele se comportam. Muitos creem que a
lepra corporal e espiritual os torna indignos do amor do Pai e que ela não
merecerá a ternura e o desvelo de Jesus. Vários são os que têm medo do Mestre
divino por causa de suas misérias do corpo e da alma. Julgam que Deus não os ama
assim como são. Pode haver o temor de se aproximar do Senhor tal como se é e
pode haver o medo de crer que Deus não os ama assim como são em sua pequenez e
desgraça. Ele não ama a lepra espiritual, mas ama todo o ser leproso e não há
lugar no coração de Deus nem para rejeitar, nem para se desgostar de sua pobre criatura.
Bem se recita no salmo: “Um coração contrito e humilhado, Senhor, tu não
rejeitarás nunca” (Sl 51,19). É falso julgar que Cristo se mantêm a uma
distância do pobre pecador, quando este sente o peso de sua solidão, de sua
precariedade e quando o ser humano percebe a ausência de todo socorro humano.
Jesus não despreza nunca quem a Ele vai com confiança. Ele se compadeceu dos
leprosos que se sentiam tão menosprezados e pouco receptivos pelos
circunstantes. Note-se que Jesus não lhes diz: “Aproximai-vos, aproximai-vos,
pois eu v ou os curar”, mas fala com suma doçura: “Ide vos mostrar aos sacerdotes!”.
Com efeito de acordo com a Lei cabia aos sacerdotes fazer constar oficialmente
a cura depois do oferecimento de diversos sacrifícios da parte de quem fora
curado e isto medida de suas possibilidades financeiras. Tal a ordem dada por Cristo àqueles leprosos; “Ide
para que fique constatado o fato da cura”! Jesus lhes pede um ato de fé total.
Deviam pôr-se a caminho para a verificação da cura, quando ainda a lepra estava
ainda lá sob seus olhos, e lhes tocava a carne. Diante da palavra de Cristo
eles partiram. Pouco depois se dá a cura súbita, completa, total, para os dez
ao mesmo tempo. Os dez tinham, acreditado, mas um só se mostrou agradecido. Na
verdade, o mais pobre, o mais desprezível de todos, o único samaritano daquele
grupo de infelizes leprosos. Os nove receberam o presente de Cristo e isto lhes
pareceu algo normal. A bondade divina e não os havia tirado de seu egoísmo.
Receberam o benefício, mas não captaram a grandeza do gesto do benfeitor. Eles
não compreenderam que por meio desta cura Jesus lhes transmitia uma sublime
mensagem, ou seja, que Deus os curava e merecia louvor, agradecimento. O
samaritano voltou repleto de júbilo, proclamando louvores ao grande Benfeitor.
Tomara consciência de que Cristo o amava. A ponto de o curar de uma maneira tão
extraordinária. Voltou imerso em grande júbilo, não cessando de agradecer o
benfeitor. Prostrou-se ante ele com seu corpo curado, com seu coração inundado
de alegria, proferindo um agradecimento que muito o dignificava. Belíssima lição! Examinemos
então se temos sido sempre agradecidos a Deus por todos os seus favores, todas
as suas graças. É toda nossa vida que deve ser uma resposta de amor às
generosidades divinas. Deus nunca se impões, mas Ele se propõe à confiança de
cada um manifestando sempre sua misericórdia, Lá onde imperam as situações de
precariedade e de sofrimentos há sempre ocasião da multiplicação das graças do
Todo Poderoso Senhor. A bondade divina deve, além disto, nos levar a ter
compaixão de tantos irmãos e irmãs privados de dignidade e a nos sentir
chamados a atender seus clamores e a lhes levar a grandeza da compaixão de
Deus; O verdadeiro cristão deve ser o canal dos benefícios celestes deste Deus
que não exclui ninguém de suas benemerências. Esta é também a missão do verdadeiro
cristão anunciar por toda parte a clemência divina. Como bem acentuou o Papa
Francisco, a Igreja, esposa de Cristo adota a atitude do Filho de Deus que vai
ao encontro de todos os sofredores. Sua linguagem e seus gestos transmitem sempre ternura, auxilio oportuno. Saibamos escutá-lo e imitá-lo! * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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