quinta-feira, 29 de setembro de 2022

 

OS DEZ LEPROSOS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No tempo de Jesus na Palestina ser leproso era ainda a mais do que hoje ser condenado a viver à margem da comunidade humana. A legislação do Levítico deixava claro: “O enfermo atacado pela lepra   trajará vestes rasgadas, andará de cabeça descoberta [...] e gritará: Impuro, Impuro!   Enquanto durar o seu mal, ele morará à parte: sua residência será fora do acampamento” (Lev 13,45). É à entrada de uma povoação que Jesus escuta que lhe clamavam: “Jesus, Mestre, tem piedade de nós!”  Dez leprosos estão lá, tomados pela miséria desta doença, mas decididos a ter ima chance de cura para suas vidas, a última chance, pois que eram rejeitados pelos homens. Eles se punham à distância, como era o costume, por temor, talvez, de se aproximar de Jesus e nunca a distância lhes parecia tão dura de suportar. É assim que tantas vezes os homens, na sua relação com Jesus, com Ele se comportam. Muitos creem que a lepra corporal e espiritual os torna indignos do amor do Pai e que ela não merecerá a ternura e o desvelo de Jesus. Vários são os que têm medo do Mestre divino por causa de suas misérias do corpo e da alma. Julgam que Deus não os ama assim como são. Pode haver o temor de se aproximar do Senhor tal como se é e pode haver o medo de crer que Deus não os ama assim como são em sua pequenez e desgraça. Ele não ama a lepra espiritual, mas ama todo o ser leproso e não há lugar no coração de Deus nem para rejeitar, nem para se desgostar de sua pobre criatura. Bem se recita no salmo: “Um coração contrito e humilhado, Senhor, tu não rejeitarás nunca” (Sl 51,19). É falso julgar que Cristo se mantêm a uma distância do pobre pecador, quando este sente o peso de sua solidão, de sua precariedade e quando o ser humano percebe a ausência de todo socorro humano. Jesus não despreza nunca quem a Ele vai com confiança. Ele se compadeceu dos leprosos que se sentiam tão menosprezados e pouco receptivos pelos circunstantes. Note-se que Jesus não lhes diz: “Aproximai-vos, aproximai-vos, pois eu v ou os curar”, mas fala com suma doçura: “Ide vos mostrar aos sacerdotes!”. Com efeito de acordo com a Lei cabia aos sacerdotes fazer constar oficialmente a cura depois do oferecimento de diversos sacrifícios da parte de quem fora curado e isto medida de suas possibilidades financeiras.  Tal a ordem dada por Cristo àqueles leprosos; “Ide para que fique constatado o fato da cura”! Jesus lhes pede um ato de fé total. Deviam pôr-se a caminho para a verificação da cura, quando ainda a lepra estava ainda lá sob seus olhos, e lhes tocava a carne. Diante da palavra de Cristo eles partiram. Pouco depois se dá a cura súbita, completa, total, para os dez ao mesmo tempo. Os dez tinham, acreditado, mas um só se mostrou agradecido. Na verdade, o mais pobre, o mais desprezível de todos, o único samaritano daquele grupo de infelizes leprosos. Os nove receberam o presente de Cristo e isto lhes pareceu algo normal. A bondade divina e não os havia tirado de seu egoísmo. Receberam o benefício, mas não captaram a grandeza do gesto do benfeitor. Eles não compreenderam que por meio desta cura Jesus lhes transmitia uma sublime mensagem, ou seja, que Deus os curava e merecia louvor, agradecimento. O samaritano voltou repleto de júbilo, proclamando louvores ao grande Benfeitor. Tomara consciência de que Cristo o amava. A ponto de o curar de uma maneira tão extraordinária. Voltou imerso em grande júbilo, não cessando de agradecer o benfeitor. Prostrou-se ante ele com seu corpo curado, com seu coração inundado de alegria, proferindo um agradecimento que muito o   dignificava. Belíssima lição! Examinemos então se temos sido sempre agradecidos a Deus por todos os seus favores, todas as suas graças. É toda nossa vida que deve ser uma resposta de amor às generosidades divinas. Deus nunca se impões, mas Ele se propõe à confiança de cada um manifestando sempre sua misericórdia, Lá onde imperam as situações de precariedade e de sofrimentos há sempre ocasião da multiplicação das graças do Todo Poderoso Senhor. A bondade divina deve, além disto, nos levar a ter compaixão de tantos irmãos e irmãs privados de dignidade e a nos sentir chamados a atender seus clamores e a lhes levar a grandeza da compaixão de Deus; O verdadeiro cristão deve ser o canal dos benefícios celestes deste Deus que não exclui ninguém de suas benemerências. Esta é também a missão do verdadeiro cristão anunciar por toda parte a clemência divina. Como bem acentuou o Papa Francisco, a Igreja, esposa de Cristo adota a atitude do Filho de Deus que vai ao encontro de todos os sofredores. Sua linguagem e seus gestos   transmitem sempre ternura, auxilio oportuno. Saibamos escutá-lo e imitá-lo! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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