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O DINHEIRO DA INIQUIDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de carvalho*
Como observam
vários comentaristas do Evangelho de São Lucas (16, 1-13) muitos poderiam
pensar que todo dinheiro é perverso e queima os dedos do cristão. Entretanto, esta
não é a lição que Cristo quer ministrar no referido texto. Com efeito, Jesus de
Nazaré conheceu a bela nobreza do homem que ganha a vida pelo trabalho de suas
mãos. Ele reconhecia o justo preço da obra bem feita e como todo artesão
consciencioso merece seu salário. Além disto, o grupo de seus discípulos era
organizado e tinha um ecônomo, ainda que pouco fosse o que possuíam. Este
ecônomo, Judas, se tornou escravo do dinheiro e traiu o Mestre divino. Além
disto, algumas mulheres que também seguiam Jesus desde a Galileia e “muitas outras”
os ajudavam com seus haveres (Lc 8,3). Jesus e seus doze apóstolos não viviam de ar e,
sem dúvida alguma, apreciava Ele a ajuda destas mulheres e não lhe dizia:
“Guardai vosso dinheiro, porque ele é coisa má”. Então que era aos olhos de
Cristo “o dinheiro da iniquidade”? Era aquele que era ganho de uma maneira
perversa e aquele que se tornava um poder de injustiça ou de opressão e,
sobretudo, o dinheiro que levava a uma escravidão quem o possuía ou o desejava
possuir Eis porque Jesus não empregou a palavra dinheiro, mas a palavra “Mâmôn”
que no judaísmo no seu tempo designava a riqueza, o ganho, frequentemente o
ganho mal adquirido, e também as seguranças ilusórias deste mundo, opostos à
confiança dos pobres de Israel no seu Deus. Uma vez bem conceituado o sentido
do “dinheiro da iniquidade” se percebe que esta passagem do Evangelho oferece
um resumo de todo o ensinamento do Mestre divino sobre o dinheiro. Este deve
nos servir para cultivar amigos que nos acolherão como irmãos na vida futura lá
onde o dinheiro não nos será mais necessário, nem para nós, nem para eles. Isto
se liga a uma outra parábola de Jesus: “Ajuntai tesouro lá no céu” (Mt 6, 19).
Cristo sublinha, em seguida, que nossa honestidade nas coisas da terra permite
a Deus nos fazer confiança nos interesses do Reino dos céus. Além disto, administrando
os bens deste mundo devemos pouco a pouco nos associar a Deus no grande
trabalho da redenção humana. Aí está o bem verdadeiro dos filhos e filhas herdeiros
de Deus e coerdeiros de Cristo. Jesus, além do mais, acrescenta que não se pode
servir a dois senhores, ou seja a Deus e aos haveres terrenos, dado que, neste
caso, um excluirá o outro. Ou se servirá a Deus ou às gloríolas efêmeras deste
mundo, endeusando tantas vezes o amor próprio, cultivando o egoísmo, o apego às
coisas materiais. É preciso, de fato, optar por Deus ou as falsas ilusões que o
apego ao dinheiro pode oferecer. Ou Deus ou a divinização do poder terrestre.
Portanto ou Deus ou o Mâmôn, ou Deus ou o ganho condenável, ou Deus ou as
seguranças imediatas mundanas. Um dia tornará para cada um de nós bruscamente
inúteis todas as nossas posses e jogará por terá toda servidão ao dinheiro em si.
Todas essas considerações, porém, não devem levar a uma atitude de indolência e
má compreensão do trabalho honesto a ser feito e que gera o subsídio para viver
bem a vida que Deus oferece ao bons seguidores de Jesus. O importante é que no meio
das transitoriedades deste mundo, se estabeleça firmemente nosso coração lá
onde estão as verdadeiras alegrias, tudo conforme os ensinamentos de Jesus. O
Mestre divino dizia: “Lá onde está vosso tesouro, lá estará o vosso coração” (Lc
12, 34). Portanto, cumpre fugir do dinheiro enganador. Para o autêntico seguidor
de Jesus as riquezas lhe são somente emprestadas e ninguém é delas proprietário,
mas administrador. Um dia se dará contas a Deus de tudo que dele se recebeu. O
bom emprego da riqueza honestamente adquirida consiste em fazer com ela o bem,
ajudando os mais necessitados, fazendo dela um meio de partilha. O dinheiro não
é um mal em si mesmo mas pode ser instrumento de benefícios para o próximo,
dando oportunidade de fazer muito bem aos outros. Cada um deve examinar o que faz do dinheiro
que ganha honestamente, examinando de onde lhe vem os recursos de suas
atividades. Cumpre resistir sempre às tentações do Maligno e não se deixar
levar pelos cuidados excessivos do dinheiro. É preciso ser sempre generoso,
disposto a ajudar os mais necessitados para poder gozar de paz interior e
alegria. Em tudo é necessário respeitar
o evangelho e a moral cristã. Procurar a solidariedade que ofereça ao próximo
um viver digno de um ser humano, um futuro concreto, oferecendo aos outros boas
soluções para a vida deles. Nisto é que deve consistir a habilidade dos filhos
da luz. No Evangelho de hoje Jesus alerta sobre a habilidade que muitos colocam
em solucionar os problemas terrenos e a falta de engenhosidade da parte dos filhos
da luz na construção do Reino do céus: “Os filhos deste mundo são mais hábeis
entre eles do que os filhos da luz”. É preciso estar atentos, porque o coração
humano continua a ter os mesmo limites e indigências de sempre. Hoje em dia
também se ouve falar do tráfico de influências, de corrupção, de enriquecimento
ilícito, de falsificação de documentos e outros erros como na época de Jesus. A
Deus, porém, não se engana com as aparências humanas e sua mediocridade. O cristão não fala nunca de astúcia, mas do
interesse em praticar. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
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