quinta-feira, 26 de maio de 2022

 

26 RECEBEI O ESPIRITO SANTO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Com o envio do Espírito Santo por Cristo se comemora o começo da Igreja neste sentido   em que ela começou a se manifestar mundo todo, a se irradiar. Sua criação, real, secreta, porém é bem mais antiga. Certos Padres de Igreja, ou seja, influentes teólogos, mestres cristãos, na grande maioria importantes bispos de igrejas cristãs primitivas, assinalam a Encarnação do Verbo como início desta Igreja. Após sua ressureição, porém, tendo aparecido aos Apóstolos no Cenáculo, depois de lhes desejar a paz, Jesus lhes disse: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio” e, dito Isto, soprou sobre eles e afirmou-lhes:” Recebei o Espírito Santo àqueles a quem perdoardes os pecados ficarão eles perdoados, àqueles a quem os retiverdes ficar-lhes-ão retidos” (Jo 20, 19-23). Os discípulos estavam amedrontados, mas Jesus lhes mostrou que deviam sair pelo mundo e lhes dá o Espírito de fortaleza que é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Por isto, inicialmente, lhes desejou duas vezes: “A paz esteja convosco”. Não mais o medo, o temor que deles se apoderaram. O verdadeiro dom de Deus lhes era outorgado, não somente a ausência de angústia ou vitória sobre o medo, mas o shalom bíblico que é de uma só vez calma e harmonia, energia e plenitude da força divina sobre eles. Foi depois disto que os discípulos O reconheceram ao ver as chagas daquele que fora crucificado.  Era uma paz concedida por quem havia por eles se sacrificado  e que deveria permanecer neles sem cessar.  O Cristo da fé deveria ser sempre identificado como o Jesus da história, o Salvador que tinha este poder de lhes enviar o Espírito Santo: “Recebei o Espírito Santo”. Tratava-se de uma permanência perene deste Espírito vivificador. Então Ele os enviava ao mundo eles que não são mais do mundo, os envia com sua paz a afrontar o mundo do pecado, da recusa de Deus  e de toda e qualquer divisão. Eles seriam testemunhas a difundir a esperança que estava neles. O Paráclito testemunharia que tudo que  Ele ensinara era verdadeiro e justo. Era o Espírito da Verdade  que atestaria a cada homem que ele  é filho e  herdeiro de Deus: Espírito de santidade  que rediz a cada um “ Abba, ó Pai” e que vem a cada um com  gemidos inenarráveis  (Rm 8,36). Tudo isto nos é recordado na solenidade de hoje e mostra a cada fiel a missão de que se acha revestido. Não se trata de uma posse egoísta do Espírito Santo, pois cumpre difundir por toda parte os dons celestes que a Terceira Pessoa da   Santíssima Trindade oferece. Tudo isto fruto de um grande amor recebido. Assim a solenidade de hoje leva a cada um a viver, na paz e na alegria de Jesus, o mistério mesmo de sua Igreja, pois esta Igreja é a uma só vez anamnese da obra de Jesus, atualização da vida do Senhor e profecia da glória de Jesus Cristo, para todos os homens amados por Deus. Neste dia de Pentecostes, esta passagem de São João tomada nas primeiras aparições do Ressuscitado está a fixar alegria e paz naqueles que O recebem. Trata-se de um júbilo que sai do interior para o exterior Um duplo movimento a ser vivido no dia de hoje O movimento prospectivo na vida do nosso cotidiano.  Jesus soprou sobre os Apóstolos e   lhes desejou que recebessem o Espirito Santo e isto foi fundamentalmente para uma total libertação individual e dos outros. Assim sendo toda ação do cristão tem total consistência. A Igreja será ela mesma em todos os momentos da história, ou seja, na medida em que recebe o Espírito Santo, Por Ele se dá sempre a prece do coração que une todos os cristãos no mesmo Espirito. Cada cristão se torna então o arauto da redenção operada por Cristo e consumada pela presença da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Esse, assim enviado por Cristo, para transmitir a paz, a alegria, a união que sai do coração e se irradia por toda parte. Flui de cada um aquela orientação de reconciliação com a vida do próximo, fazendo   de cada instante um Pentecostes contínuo.  É um movimento que parte do interior de cada um envolvendo   a todos. É o admirável ritmo de toda a Igreja de Cristo que pôde dizer aos Apóstolos “Recebei o Espírito Santo” e daí todas as maravilhas acima refletidas e que devem se expandir por toda a parte. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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