SEREIS
MEUS DISCÍPULOS, SE VOS AMARDES UNS AOS OUTROS
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Amar, como ensina Jesus, é o sinal
distintivo de seus amigos, a característica dos cristãos (Jo 13, 31-38). O
Mestre divino passa da questão do fim de sua presença visível nesta terra ao
mandamento novo do amor fraterno. É que Ele glorificado não estaria mais, de fato,
presente visivelmente entre seus discípulos, mas estaria presente de outra
maneira, quando seus seguidores mostrassem um grande amor entre si. Estes
versículos do Evangelho de São João constituem o Início do testamento
espiritual de Jesus na tarde da Quinta Feira Santa. Judas acabara de sair entrando na noite da
traição, da tristeza, e era o momento oportuno
para Jesus falar de coração aberto. Explica então a seus discípulos fiéis
que o Pai o iria glorificar e que esta glorificação incluiria seu retorno para
junto dele e, portanto, breve iria se dar sua partida. Entretanto, Ele nos
deixa como garantia de sua amizade um mandamento novo. Um liame visível iria
ficar entre Ele e seus seguidores: “Eu vos dou um mandamento novo: amai-vos uns
aos outros”. Uma questão então se apresenta, ou seja, em que sentido este
preceito era novo? Já no Livro do
Levítico Deus ordenara: ”Tu amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lev
19,18). Onde está então a novidade? É que o mandamento de Jesus era novo porque
ele está ligado à nova aliança. Na Bíblia quem fala em mandamento está pensando
em aliança, ou seja, em reciprocidade entre Deus e seu povo. Assim do mesmo modo que os dez mandamentos de
Deus eram o sinal de uma primeira
aliança no Sinai, o mandamento novo era a versão nova e definitiva que Jesus
selaria justamente pela sua morte e sua glorificação. Além disto, o mandamento
de Jesus era novo porque o modelo de nosso amor seria o amor dele para conosco: ”Como eu vos amei vós deveis vos amar também
uns aos outros”. Como Jesus nos amou o Evangelho de São João responde em três
afirmações. Jesus amou seus discípulos porque “o Pai os tinha dado a Ele:”, “eles
eram teus e tu os deste a mim”, “tu os amastes como tu me amastes” ( 17,
6.9.23). Jesus amou até o fim cada um dos seus que estavam no mundo, até o limite
da compreensão, da compaixão e da paciência, até o extremo da humildade e do
serviço, pois se ajoelhou diante deles para lhes lavar os pés, Ele o Mestres e
o Senhor. Enfim, Jesus, pastor, deu a vida pelos seu rebanho, para que suas ovelhas
tivessem a vida em abundância e cada um de nós pudesse fazer sua a convicção
que tocava profundamente o Apóstolo Paulo: “Ele me amou e se entregou por mim”!
Amar como Jesus amou é amar os outros, o irmão, a irmã, o esposo, a esposa ou o
filho, como o presente que Deus nos fez e faz todos os dias como aquele ou aquela
que o Pai mesmo nos deu para amar. De nossa parte, amar até o extremo do
serviço, do perdão e da esperança, não para anexar o outro ao nosso projeto,
aos nossos desígnios, à nossa felicidade, não simplesmente para retribuir o
amor ou a amizade que recebemos dos outros, mas acolhendo o outro em suas
misérias, suas fraquezas, suas impertinências. Tudo isto no devotamento, na
fidelidade, na gratuidade dada aos outros.
Seria amar com um amor realista que sabe lavar os pés do próximo e se
entregar a seu serviço a cada instante. Como concluem muitos teólogos, Deus
manifestou de uma maneira nova seu amor para com os homens na paixão
glorificante de Jesus, porque Deus inaugurou na nova aliança uma intimidade
nova com os homens e estes deviam inaugurar entre eles uma atitude fraternal de
um tipo novo e aí está o mandamento de Jesus. Portanto, a crucifixão de Jesus
anunciada foi o acontecimento decisivo da glorificação do Pai e do Filho. Assim
a morte não seria mais um lugar de silencio, mas sinal da revelação de Deus
Pai, uma maravilhosa mensagem de vida. A
crucifixão de Jesus seria assim um acontecimento produtivo porque ela marcaria
a ida do Filho para junto do Pai. Isto significa que a morte de Jesus não seria
uma ruptura com relação ao Pai, mas, pelo contrário, nela se reforça a comunhão
com o Pai, e assim com todos aqueles que cressem. A morte de Jesus seria, deste
modo, a expressão de seu amor para com os seus discípulos. Este amor é a força
que permite a seus seguidores não se fecharem em um passado tenebroso, mas se
abrirem a um futuro percebido como o espaço de sua fidelidade na sua comunidade e no mundo. Tudo isto firmando a fraternidade
entre os seguidores do Mestre divino na real vivência do mandamento novo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
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