quinta-feira, 12 de maio de 2022

 

SE ALGUÉM ME AMA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Um apelo e uma questão surgem desta declaração de Jesus: “Se alguém me ama, guardará as minhas palavras, meu Pai o amará e nós viremos a ela e faremos nele nossa morada” (Jo 14, 22-29).  Trata-se, de fato, das consequências maravilhosas que o amor de Cristo produz na vida do cristão, levando-o, em consequência, a crescer continuamente na dileção do Mestre divino. Exatamente por isto é preciso um exame acurado de como se tem usufruído desta presença inefável de Deus, tema que deve reter a atenção de quem tem fé e deve aumentar continuamente a sua união com o hóspede divino. Cumpre examinar atentamente o que temos feito da presença de Deus que nos brinda com sua amizade e como é que estamos correspondendo às suas sublimes inspirações, indagando se, de fato, temos feito sempre a sua vontade. Ao júbilo da presença do Ser Supremo em nós devemos agregar a responsabilidade da correspondência a este Ser que nos fala e que permanece no íntimo de cada um que verdadeiramente O ama. Perceber as iniciativas divinas que através do seguidor de Cristo deseja salvar o mundo, irradiando a paz que flui de seu maravilhoso amor. Amar Jesus é crer que nele Deus falou e acolheu tudo que somos e seremos.  Nosso amor a Cristo não deve nunca ser senão uma resposta ao amor que Deus nos transmite em seu Filho e amor com amor se paga. A ternura imensa de Deus se expande na existência de quem lhe retribui total dileção.   Deste modo, se torna realidade o que não era para a antiga aliança senão um sonho impossível. Salomão diz na sua prece: Mas verdadeiramente habitará Deus com os homens na terra? Eis que o céu e o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que te tenho edificado? (1R 8,27). Deus não espera, para se dar a nós, a casa de prece que não acabamos de construir e, mais ainda, o que nós podemos fazer pessoalmente ou comunitariamente, na solidão ou em conjunto. O principal é olhar o que Des quer fazer por nós, em nós e conosco.  Finalmente, o único verdadeiro caminho para a amizade de Cristo é deixar Deus nos amar tanto quanto Ele quer nos amar e de permitir esteja livre o caminho para que Ele venha até nós como Ele o quiser e quando Ele o quiser. Disse Jesus “viremos a ele”, ou seja as três Pessoas da Trindade Santa habitando a alma em estado de graça.  Cumpre então deixar abertos os caminhos do Espírito na prece e na ação, sob a forma de coisas jamais vistas, nunca vividas, ou nunca entendidas. O Paráclito, realmente é para a Igreja o espírito da memória, da lembrança, da continuidade com Jesus.  O que o Espírito nos faz compreender e viver foi dito por Jesus e para nos ensinar todas as coisas o Paráclito simplesmente, divinamente, nos rememora todo que Ele nos transmitiu da parte do Pai. Tudo isto se dá porque Deus vem habitar naquele que O ama. Entrar na novidade da Trindade é pois, em continuidade da palavra relevante de Jesus, descobrir progressivamente seu Nome, sua Pessoa e sua Missão salvadora e nos abrir pouco a pouco à realidade tal qual Deus a vê nos corações, tal qual Ele, por isto mesmo, os ama. Para o cristão verdadeiro se dá então um eterno cotidiano por causa das maravilhas que nele Deus opera. Deus é simples, simples também deve ser a prece, simples será nosso olhar purificado pela presença admirável do Senhor que vem a cada um com a multiplicidade dos dons de sua misericórdia infinita que purifica com sua inefável presença.  Esta nos torna espiritualmente fiéis e criativos e na verdade criativos porque fieis. Pode-se então atingir o cume da perfeição, uma vez que Deus, Uno e Trino, entra nesta relação profunda e misteriosa com a alma que sabe hospedá-lo. Trata-se da transformação participante que leva à santidade mais eminente. Para entrar nesta união transformante, a todos estão abertas as portas.  Eis porque são inúmeros os que, vivendo profundamente sua união com o hóspede divino, atingem os páramos de uma santidade extraordinária, fruto de uma graça mística concedida àqueles que sabem usufruir este contato com aquele que é a santidade infinita. Para isto é preciso a cada um dar a Deus todo o seu coração, todo o seu amor. A união transformante com Deus presente em quem está em estado de graça resulta na transformação da alma pela união de um amor completo a Deus que ilumina, envolvendo o cristão em luzes admiráveis. Para que tudo isto ocorra Jesus coloca apenas uma condição:” Se alguém me ama” O amor é sempre um dom, mas amar supõe uma escolha, uma disposição livre da vontade que procura captar as realidades sobrenaturais nas quais o fiel está envolto. O amor que Jesus espera de cada um não é algo impossível, mas é amor dedicação, a oferta de si mesmo numa conformidade contínua com a vontade divina. Professor o no Seminário de Mariana durante 40 anos

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