SE ALGUÉM ME AMA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Um apelo e
uma questão surgem desta declaração de Jesus: “Se alguém me ama, guardará as
minhas palavras, meu Pai o amará e nós viremos a ela e faremos nele nossa
morada” (Jo 14, 22-29). Trata-se, de
fato, das consequências maravilhosas que o amor de Cristo produz na vida do
cristão, levando-o, em consequência, a crescer continuamente na dileção do
Mestre divino. Exatamente por isto é preciso um exame acurado de como se tem
usufruído desta presença inefável de Deus, tema que deve reter a atenção de
quem tem fé e deve aumentar continuamente a sua união com o hóspede divino. Cumpre
examinar atentamente o que temos feito da presença de Deus que nos brinda com
sua amizade e como é que estamos correspondendo às suas sublimes inspirações,
indagando se, de fato, temos feito sempre a sua vontade. Ao júbilo da presença
do Ser Supremo em nós devemos agregar a responsabilidade da correspondência a
este Ser que nos fala e que permanece no íntimo de cada um que verdadeiramente
O ama. Perceber as iniciativas divinas que através do seguidor de Cristo deseja
salvar o mundo, irradiando a paz que flui de seu maravilhoso amor. Amar Jesus é
crer que nele Deus falou e acolheu tudo que somos e seremos. Nosso amor a Cristo não deve nunca ser senão
uma resposta ao amor que Deus nos transmite em seu Filho e amor com amor se
paga. A ternura imensa de Deus se expande na existência de quem lhe retribui
total dileção. Deste modo, se torna realidade
o que não era para a antiga aliança senão um sonho impossível. Salomão diz na
sua prece: “Mas verdadeiramente
habitará Deus com os homens na terra? Eis que o céu e o céu dos céus não
te podem conter, quanto menos esta casa que te tenho edificado? (1R 8,27). Deus não espera, para se
dar a nós, a casa de prece que não acabamos de construir e, mais ainda, o que
nós podemos fazer pessoalmente ou comunitariamente, na solidão ou em conjunto.
O principal é olhar o que Des quer fazer por nós, em nós e conosco. Finalmente, o único verdadeiro caminho para a
amizade de Cristo é deixar Deus nos amar tanto quanto Ele quer nos amar e de
permitir esteja livre o caminho para que Ele venha até nós como Ele o quiser e
quando Ele o quiser. Disse Jesus “viremos a ele”, ou seja as três Pessoas da Trindade
Santa habitando a alma em estado de graça. Cumpre então deixar abertos os caminhos do Espírito
na prece e na ação, sob a forma de coisas jamais vistas, nunca vividas, ou
nunca entendidas. O Paráclito, realmente é para a Igreja o espírito da memória,
da lembrança, da continuidade com Jesus.
O que o Espírito nos faz compreender e viver foi dito por Jesus e para
nos ensinar todas as coisas o Paráclito simplesmente, divinamente, nos rememora
todo que Ele nos transmitiu da parte do Pai. Tudo isto se dá porque Deus vem
habitar naquele que O ama. Entrar na novidade da Trindade é pois, em continuidade
da palavra relevante de Jesus, descobrir progressivamente seu Nome, sua Pessoa
e sua Missão salvadora e nos abrir pouco a pouco à realidade tal qual Deus a vê
nos corações, tal qual Ele, por isto mesmo, os ama. Para o cristão verdadeiro
se dá então um eterno cotidiano por causa das maravilhas que nele Deus opera.
Deus é simples, simples também deve ser a prece, simples será nosso olhar
purificado pela presença admirável do Senhor que vem a cada um com a
multiplicidade dos dons de sua misericórdia infinita que purifica com sua
inefável presença. Esta nos torna
espiritualmente fiéis e criativos e na verdade criativos porque fieis. Pode-se então
atingir o cume da perfeição, uma vez que Deus, Uno e Trino, entra nesta relação
profunda e misteriosa com a alma que sabe hospedá-lo. Trata-se da transformação
participante que leva à santidade mais eminente. Para entrar nesta união
transformante, a todos estão abertas as portas.
Eis porque são inúmeros os que, vivendo profundamente sua união com o
hóspede divino, atingem os páramos de uma santidade extraordinária, fruto de
uma graça mística concedida àqueles que sabem usufruir este contato com aquele
que é a santidade infinita. Para isto é preciso a cada um dar a Deus todo o seu
coração, todo o seu amor. A união transformante com Deus presente em quem está
em estado de graça resulta na transformação da alma pela união de um amor
completo a Deus que ilumina, envolvendo o cristão em luzes admiráveis. Para que
tudo isto ocorra Jesus coloca apenas uma condição:” Se alguém me ama” O amor é
sempre um dom, mas amar supõe uma escolha, uma disposição livre da vontade que
procura captar as realidades sobrenaturais nas quais o fiel está envolto. O
amor que Jesus espera de cada um não é algo impossível, mas é amor dedicação, a
oferta de si mesmo numa conformidade contínua com a vontade divina. Professor o no Seminário de Mariana durante
40 anos
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