quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

 

          03     ELE VOS BATIZARÁ NO ESIRITO SANTO E NO FOGO

Côn.  José Geraldo Vidigal de Carvalho*

João Batista diz claramente que Jesus batizaria com o Espirito Santo e com o fogo (Lc 3,16). Seu batismo era de conversão e penitência.  Deste modo, ele coloca à luz o foco em Jesus e anuncia sua missão. Ele era o   precursor e também o anunciador do Messias e de seu encargo redentor. Feliz João Batista que entreabre as portas do Novo Testamento, mas ele não podia ainda ver a grandeza da Revelação em Jesus, o qual batizaria no Espirito Santo e no fogo do amor do Pai e do Filho, fogo que era a força e o poder deste amor. Através do Espírito Santo a comunhão do batizado com Deus seria completa numa filiação total. Jesus batizaria com o fogo que imergiria na dileção trinitária. Ninguém apagara este fogo que brilharia no interior de quem recebesse o batismo de Jesus, vivendo intensamente esta realidade.  Este fogo, alegria dos corações, daria sentido à vida do batizado, de sua missão e tenderia a se propagar. Fogo do amor da Trindade por nós e em nós. Eis aí o que João Batista explicou sobre o batismo de Jesus, verdades nas quais nem sempre se reflete e das quais se deve viver. Jesus o Filho de Deus era santíssimo, sem nenhuma mancha de pecado. Ora, o batismo de, João Batista era um batismo de purificação. No entanto, Jesus se deixaria batizar por ele e o próprio Batista não sabia por que motivo, dado que ele conhecia que Jesus era o Messias. É que Jesus foi ser batizado por São Joao porque Ele representava naquele rito a humanidade inteira, humanidade pecadora e, desse modo, mostraria sua vocação de Messias, do enviado por Deus, caminho que O conduziria à morte na cruz e depois à ressurreição.  Portanto, não se pode ver no batismo de Jesus com o Espírito Santo e com o fogo como um fato isolado. É preciso vê-lo no conjunto de sua vida de sua vocação para bem O compreender. Da mesma maneira, nosso batismo não deve ser visto como algo separado de nossa vida, como espécie de parêntese, como um dia de festa particular. Nosso batismo deve ser visto e vivido no conjunto de nossa vida, de nosso caminho vocacional, isto é, fé da nossa união com Deus no cotidiano de nossa vida individual e comunitária. Devemos, portanto, nos interrogar do que temos feito de nosso batismo, como o temos vivido, como tem sido nossa vida de batizados, de discípulos de Jesus. O batismo nos lavou de todos as manchas do pecado, mas com a graça de Deus o batizado deve praticar o bem e evitar o pecado, exercendo influência santificadora em seu derredor. Por tudo isso, é de suam importância viver em plenitude a graça extraordinária do próprio batismo, cuja data deve ser comemorada com suma gratidão a Deus. O ser humano se acha ferido de uma fragilidade inata, o coração do homem, desde seu nascimento, é inclinado para o mal mais facilmente do que para o bem. O batismo não opera magicamente e cada um retém as sequelas do pecado original, mas o batismo oferece todas as forças necessárias para obter a vitória sobre as más inclinações. A luta do cristão se prolonga até sua passagem para a outra vida. Assim sendo, nunca se conscientiza demais de que o batismo é um renascimento para uma vida nova. Uma imagem pode nos ajudar a compreender o que quer dizer entrar na vida de Deus, ou seja a imagem do nascimento pelo batismo. Com efeito, o cristão passa a viver não só a vida biológica, que é frágil e limitada, mas passa viver também a vida mesma de Deis sob o influxo do Espirito Santo. Esta nova força de vida é uma força   para crer, para amar e esperar sem limitações. Não é no dia de nossa morte que entramos na vida eterna, mas desde o dia do nosso batismo. Pode-se falar no batismo como uma adoção, uma decisão livre de Deus de nos considerar como seus filhos bem-amados e de nos assemelhar a seu Filho único, Jesus Cristo, vivendo no fogo o Espírito Santo. Além disto, o batismo nos torna membros de um mesmo corpo, a Igreja, família de todos os que reconhecem o mesmo Deus, Uno e Trino. Irmãos e Irmãs em Jesus Cristo, os batizados participam então de uma missão, pois o batismo não é somente crer mas viver. Cada batizado pertence a Cristo. Por isto, ele se chama cristão e deve ser testemunha viva desta nobreza, manifestando o amor de Deus para com todos os homens. Trata-se dos liames da unidade que vão além dos limites da própria Igreja, para a qual se deve atrair os que a ela não pertencem. Eis porque os cristãos devem ser perante a face do Ser Supremo sem máculas e santos pelo fogo de seu amor e assim a muitos arrastar pra junto de Jesus. * Professo no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

 

01 OS REIS PROSTRADOS O ADORARAM

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

  Na solenidade da Epifania celebramos a manifestação do Senhor (Mt 2,1-12).  Trata-se da primeira revelação do poder de Jesus aos povos da terra. Os raios do Sol divino se levanta manifestando–se ao mundo que estava envolto nas trevas. Aparece  o plano universalista do Redentor, de sua missão tão vasta a ponto de abranger todo o mundo, não apenas o povo judeu. Uma estrela esteve a serviço do Rei de todas as nações, indicando um soberano que nasceu para remir todos os homens. Não nos importa saber de que parte vieram os magos, que, do longínquo oriente, eram representantes de todas as nações da terra sem se mostrarem revestidos de planos terrenos, de uma política humana. Apresentam-se sem imposições, guiados por um astro que os convidava a homenagear um pobre menino, cujo reino não era deste mundo, mas que estava aberto aos pagãos,. Os magos procuravam o lugar onde nasceria o rei cujo força era universal. Nos presentes por eles ofertados estava significado o mistério oculto em uma humilde criança. Aquele menino era Deus e por isto lhe ofertam incenso, era Rei e isto bem simbolizado no ouro trazido, era o Salvador que redimiria a humanidade pelo sacrifico de sua vida, donde a mirra que era oferecida, já lembrando inclusive o doloroso sacrifício do Calvário. Cumpre, porém admirar e também imitar a obediência dos Magos ao chamado divino, no qual era mostrada a vocação de todas as gentes. Tudo isto devido a uma fé profunda que reinava no coração daqueles agraciados reis da terra que empreendem uma longa viagem para adorar o Rei dos reis. Admirável a disponibilidade e sua prontidão em seguir a estrela numa confiança total em Deus. Nem se deve esquecer sua paciência e perseverança, quando momentaneamente a estrela desapareceu. Não desanimaram, indagaram e foram recompensados com o reaparecimento do meteoro que os levou até onde estava o Menino. Por tudo isto cumpre receber tão preciosas lições que devem levar a uma   total correspondência às inspirações divinas. Na narrativa de São Mateus aparece ainda uma personagem que contrastava com a bondade de Jesus, ou seja, Herodes o cruel. Surge claramente o conflito entre o Messias, “o rei dos Judeus que    acabara de nascer” (Mt 2, 2) e o Rei que apareceria como símbolo da recusa em acolher Cristo e sua mensagem salvífica. Jesus seria recebido pelos homens de boa vontade, mas seria rejeitado pelos governantes de seu povo. A partir de seu encontro com Jesus os Magos que se mostram homens repletos de notáveis virtudes rompem definitivamente com um soberano ambicioso que quer assassinar o Menino que eles vieram homenagear. Deus, contudo, os adverte não por uma estrela, mas por um anjo como Ele faz com seus eleitos. É sob o fundo teológico do texto de São Mateus que os detalhes por ele narrados tomam seu verdadeiro valor, oferecendo ensinamentos preciosos. O fato dos Reis magos voltarem para sua terra por outro caminho para evitar o impiedoso Herodes traz uma valiosíssima lição. É preciso sempre que os verdadeiros seguidores de Cristo evitem seus inimigos. Em nossos dias muitos são aqueles que se deixam contaminar pelos meios de comunicação social e seus programas que pregam exatamente o contrário do Evangelho de Jesus, não tendo a coragem de banir tudo que está em desacordo com a doutrina do Mestre divino. Os Magos, vindo do Oriente, eram sábios astrônomos que se colocaram em marcha para o Cristo Messias, e tendo-O encontrado romperam com quem O queria matar. A fuga das ocasiões que colocam a fé em perigo deve sempre ser a atitude do verdadeiro cristão. É de se notar que aqueles sábios viram na estrela um sinal, ligando-a ao astro a que se refere o Livro dos Números como um dos símbolos do Messias esperado: “Surgirá uma estrela de Jacó e surgirá um astro de Israel. (Num 24,17). Já os teólogos da Idade Média haviam notado que não se tratava de um corpo celeste ordinário, dado que seu brilho era intermitente e de um movimento descontínuo.  A mensagem messiânica de toda a cena é também sublinhada pelo texto do profeta Miquéias que os escribas citam imediatamente a Herodes: “E tu Belém, terra de Judá, já não és a mais pequena entre as principais cidades de Judá, porque de ti há de sair um Príncipe que regerá o meu povo, Israel” (Mi 5,1). Assim sendo, para São Mateus, a chegada dos Magos a Belém marca o cumprimento das promessas da antiga aliança e, ao mesmo tempo, anuncia o destino de Cristo. Os Magos chegando não viram senão um menino, mas o Evangelista se refere ao que a fé devia claramente ver naquela criança, a saber, o Pastor do povo de Deus. O texto de São Mateus deixa igualmente entrever o destino de Jesus que seria marcado pelo drama da descrença. Herodes só pensava no seu poder e se torna um perseguidor a quem interessava apenas a construção de cidades terrenas. Os escribas conheciam a fundo as Escritura, mas não agiram em consequência. Os estrangeiros, viajaram por que perceberam os sinais divinos no profundo de sua ciência. Jesus seria através dos tempos um sinal de contradição. Professor no Seminário de Mariana durante

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

 

A SAGRADA FAMÍLIA

 Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Após o Natal celebramos no domingo subsequente em uma mesma solenidade as três pessoas que formam a Sagrada Família de Jesus, Maria e José. Nós os festejamos não cada um por eles mesmos, mas enquanto formam esta entidade particular que é a família humana do Filho de Deus Um trio glorioso e santo devido os prodígios da graça operados em cada um de seus membros como pela missão a eles destinada pelos desígnios de Deus. A Sagrada Família é um modelo para todas as famílias cristãs que devem viver os valores da vida familiar. Note-se a disponibilidade em acolher os planos divinos e sua atitude de serviço para realizar o que lhes pedia a vontade do Ser Supremo. O anúncio feito a Maria e a São José, o nascimento de Jesus e depois a fuga para o Egito e a vida oculta em Nazaré, em todas estas etapas a Sagrada Família foi no mais alto grau uma comunidade na qual resplandeceu uma fé admirável, comunidade de oração contínua e na qual brilhou sempre o senso do serviço dentro de casa ou na modesta carpintaria. Nela se contemplam, de fato, as mais peregrinas virtudes, numa abertura ininterrupta à presença e à obra de Deus em todos os momentos de sua existência. Nossas famílias, na medida do possível, devem ser, como a família de Nazaré, comunidades de fervor religioso numa atitude sempre serviçal. A aceitação dos preceitos divinos e a obediência às inspirações do Ser Supremo precisam fluir da experiência humana de um amor sinceramente revivido que une pais e filhos. Eis aí o caminho no qual devem estar engajadas as famílias cristãs, caminho no qual rebrilhem a graça divina e o verdadeiro amor. O distintivo da família cristã é querer descobrir e desenvolver o amor mesmo de Deus no seio da dileção humana individual, conjugal e familiar. É no cotidiano de nossas vidas que a graça divina se manifesta. Maria e José não procuraram nada de extraordinário, mas estavam abertos à obra extraordinária do Ser Suprem. Fizeram-se deste modo um exemplar magnífico. Mais que toda outra realidade espiritual o sacramento do matrimônio, que fundamenta a família cristã, é o modelo do humano aberto ao divino. Formando uma comunidade de vida e de amor, a família cristã testemunha a aliança fiel e fecunda que nosso Deus Trindade, Deus Uno e Trino, propõe aos homens.  Vivendo isto no   cotidiano, no decurso de sua existência, a família permite a seus membros realizar o verdadeiro amor que leva a uma santidade profunda na vivência dos valores familiares. A Sagrada Família de Nazaré recorda todas estas verdades e mostra como a família deve ser um santuário do amor, da vida e da fé. O amor autêntico em ato é o coração da vida e da vocação familiar. Em Nazaré Jesus aos 12 anos crescia em sabedoria e graça se preparando para aos 30 anos começar sua vida pública. É no lar que se amadurecem aqueles princípios básicos que rebrilharão na vida prática. É preciso valorizar sempre o tempo de formação à luz das orientações do pai e da mãe, sobretudo numa época na qual impera a aceleração da história, muitos esquecidos que o tempo de Deus não é o tempo dos homens para um amadurecimento dos princípios que devem orientar a conduta do cristão. Notável a educação progressiva de Jesus ministrada por José e Maria. Como diz o evangelista “Jesus progredia em sabedoria e graça diante de Deus e diante dos homens” (Luc 2,52). O Livro do Eclesiástico lembra que “o Senhor glorifica o pai nos seus filhos, fortifica o direito da mãe sobre eles” (Ec 3,2). A sabedoria que Jesus recebia na casa de Nazaré foi sem dúvida fruto   também de uma profunda influência de José e Maria com sua presença sábia e afetuosa. Hoje mais do que nunca é preciso que a família assuma com energia a missão educadora que Deus lhe confia. Educar é introduzir na realidade o sentido do dever e da prática de todas as virtudes. Nunca se ressalta demais o valor dos princípios recebidos em casa, mormente num mundo no qual s maiores absurdos morais são difundidos pelos meios de comunicação social Jesus, enquanto homem, vivia na casa de Nazaré aprendendo naturalmente a ser virtuoso como eram constantemente José e Maria. Nada mais valioso do que famílias santas, pois a família é o lugar da aprendizagem do amor e do serviços, valores essenciais para que cada ser humano possa na idade madura irradiar os princípios morais deixados por Jesus. Nas palavras e nos silêncios de Maria e de José que acompanhavam Jesus na sua vocação de salvador da humanidade, se descobre a profundada de um amor que sabe estar presente numa educação que leva à responsabilidade de um serviço dedicado ao próximo, dando cada um o melhor de si mesmo, devido a um trabalho de conversão contínua. A família se torna então verdadeiramente uma Igreja doméstica resplandecendo à luz oferecida por Jesus, Maria e José. Magníficas lições que fluem das considerações sobre a família de Nazaré!  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

 

BEM-AVENTURADA AQUELA QUE ACREDITOU

Côn.  José Geraldo Vidigal de Carvalho*

 Duas mulheres se cumprimentam no limiar da Nova Aliança: uma já idosa, a outra ainda jovem. (Luc 1,30-45).  Ambas sintetizam toda história santa. Em sua velhice Isabel representa bem o passar dos longos séculos de preparação para a vinda do Messias e Maria em sua juventude, sem mancha e sem ruga, anuncia a Igreja de Jesus. Elas têm em comum sua esperança e sua maternidade, mas sobretudo fazem que esta maternidade as engajem inteiramente no plano de Deus e as duas crianças que haveriam de nascer são filhas do impossível diante dos homens, pois Isabel era estéril e Maria antes havia decidido ficar virgem. Ambas demonstram que nada é impossível para Deus, não obstante a diferença entre as duas crianças que elas em si traziam, dadas as circunstâncias que as envolviam. Uma por milagre é o filho de Zacarias, a outra, também miraculosamente, é o Filho de Deus. No entanto, é Maria quem saúda primeiro e não sua prima, pois ela era a serva do Senhor que trazia o Servidor. Entretanto, desde que o som de sua voz chega a Isabel ela sente seu filho rejubilar seu seio. Nisto não há nada de extraordinário para uma mãe que estava no seu sexto mês, mas o notável é que o Espírito Santo é quem faz irrupção nela, e lhe desvela a mensagem simbólica deste movimento da criança no momento mesmo da chagada de Maria.  Isabel exclamou em alta voz numa dupla benção: “Bendita es tu entre as mulheres e bendito é fruto de teu ventre.  Como me é dado que venha a mim a mãe de meu Senhor’? Ela se situa no seu verdadeira lugar diante da jovem mãe do Messias. Ela percebeu que a exultação de seu filho era consequência da presença do Redentor esperado ansiosamente por todos, já que Maria trazia em si o Salvador da humanidade. Tudo isto resultado do encontro invisível de duas crianças extraordinárias. Jesus reveste sua mãe de sua dignidade de rainha, João desperta a sua mãe ao acolhimento do mistério das obras de Deus. Estava anunciado ao mundo que a desgraça causada por Eva estava para sempre superada e o Espírito Santo quis que o primeiro diálogo sobre a redenção do mundo fosse aquele de duas mulheres grávidas, imagens perfeitas da realização desta felicidade. A nota de notável ventura que completa a saudação de Isabel: “Bem-aventurada aquela que acreditou que que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor”, reluz neste diálogo maravilhoso. A beatitude de Maria se enraíza na sua fé e Jesus mesmo proclamará isto solenemente no dia em que uma mulher na multidão elevará sua voz para lhe dizer: “Bem-aventurada a Mulher que te trouxe e te alimentou. Cristo então responderá acentuando algo essencial: “Tu queres dizer, a mulher que acolhe a palavra e a guarda”. Eis aí a felicidade de todos aqueles que edificam sua vida baseada na fé nas promessas de Deus. Todos nós temos necessidade de que a Igreja nos traga esta certeza de que haverá uma realização plena de tudo que foi dito da parte do Senhor e Cristo, invisivelmente está a ponto de crescer no mundo, na nossa comunidade, na nossa família e no coração de todos os que querem se aproximar das realidades divinas prometidas. Cristo veio, vem e virá. Veio na sua humildade, vem na sua intimidade através da Eucaristia e virá um dia na imensidão do clarão de sua glória. Entretanto porque a fé deve ser cultivada, porque a esperança deve rebrilhar em nossos corações, Maria que visitou Isabel, quer vir nos visitar da parte de Deus e clama para nós: “O Senhor está próximo!” E repetiremos inspirados nas a palavra de Isabel: “Donde nos vem a felicidade vir até nós tantas graças através da Mãe de nosso Senhor! Tudo isto a envolver num gaudio profundo que borbulhava no íntimo dos corações de Isabel e Maria repercutindo nas montanhas da Judéia.  Júbilo de Maria, uma mão que traz em si um filho que é o Messias prometido e que já antes de nascer era o peregrino divino que tudo abençoava por onde passava. Alegria de Isabel cujo filho rejubila no seu ventre com a presença de Jesus. Para participar desse gaudio, para gozar esta mesma alegria que reinava nos corações de Isabel e Maria é preciso, porém, abrir nossa mentes à fé e à ação constante de Deus em nossas vidas, Fazer-nos peregrinos com Jesus, estar unidos àquela que acreditou. Pelos caminhos da terra, em sua caminhada um cristão deve levar consigo sempre as dimensões da fé, ou seja, a união com Deus e o serviço aos outros que contemplamos em Maria   que foi-se colocar a serviço de sua prima santa Isabel  Estamos próximos do Natal e, por isto, a Liturgia fixa nosso olhar nestas  duas futuras mães com todas as  belas mensagens que estamos meditando, mostrando que as luzes divinas promanam da fé e  esperança que se enraízam no íntimo dos corações daqueles que sabem escutar os apelos de Deus. Estejamos sempre engajados   no caminho da confiança, da fé no acolhimento da salvação que Jesus veio nos trazer * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

 

QUE DEVEMOS FAZER?

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Dois grandes personagens nos oferecem subsídios para a preparação da vinda de Jesus: São João Batista (Luc 3,10-18) e São Paulo na carta aos filipenses (Fil 4,4-7). O Batista é o pregador da urgência e da decisão, estando apto a responder à questão que diversas grupos de pessoas lhe faziam: “Que devemos fazer? À multidão em geral João respondia simplesmente” Repartir”, visando sobretudo as roupas e a alimentação. Aos cobradores de impostos não impõe que abandonassem o seu trabalho, mas que eles não deviam procurar se enriquecer cobrando acima do que era justo pagar. Aos soldados ele alerta que eles não deviam aproveitar-se de seu poder e de suas armas para viver às custas dos cidadãos, nem denunciassem falsamente e que estivessem contentes com o soldo que recebiam. Tratava-se, portanto, da ascese de todos os dias ao nível do ter e do poder, mas isto não era senão uma das facetas da espiritualidade do Precursor. Com efeito, seu desejo de integridade e de generosidade se enraizava na profundidade de uma humildade radical diante de Deus, do seu plano divino e diante daquele que o iria colocar em prática, o Messias. Este era quem batizaria com o Espírito Santo e com o fogo.  A primeira recomendação ascética do Precursor é que se reste fiel dentro dos desígnios de Deus preparando a chegada do Messias dentro de uma profunda humildade, pois para ele isto era uma alegria muito mais do que um esforço e por isto ele dizia: “é preciso que Ele cresça e que eu diminua” A grandeza de alma de João Batista fará com que ele guarde esta humildade e este reflexo de diminuição de si mesmo qual ele verá Jesus escolher um estilo de vida totalmente diferente do seu. Na verdade o Messias mais forte do que ele colocará todos seus discípulos na escola de sua imensa doçura. Ele dirá a seus discípulos “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. Além de todo isto São Paulo na segunda leitura sem cessar de ser prático e realista desce dentro de nosso ser cristão até à raiz de suas decisões e comportamentos. O Apóstolo insiste na ascese da alegria, da alegria ancorada em Jesus e mantida corajosamente a despeito das provas, das incertezas pessoais, familiares ou comunitárias. Isto a despeito dos transtornos da doença, da incompreensão ou da solidão. Todos alegres não deixando desaparecer o sol da esperança dentro de si mesmo. Eis o brado de Paulo: “Regozijai-vos sem cessar no Senhor, eu vos repito, regozijai-vos”! Cumpre afastar qualquer inquietude. Ascese da confiança total apesar de se querer dar rumos ao próprio destino e de toda a comunidade na qual se vive. O segredo, segundo São Paulo é tudo pedir confiadamente a Deus, entregando-lhe todas as necessidades e todos os temores. Não se deixar dominar pelos receios, pois o Senhor está próximo querendo a todos envolver na fé, na esperança e no amor. Portanto, é preciso que o coração inquieto, tantas vezes envolto em tristezas vãs, é deixar se inundar na paz de Deus, paz que segundo São Paulo deve inundar ossos pensamentos ancorados em Cristo Jesus. Assim sendo, deve estar longe de nossas preces o negativismo em nossos sentimentos, nas nossas lembranças ou visão do futuro. Nada de desânimo ou de amargura em nossos gestos ou em nossas palavras que pode vir de lembranças mórbidas do passado, paralisando ou desvitalizando a prece no momento presente. O Senhor está próximo, o Senhor vai chegar e Ele vem até nós para nos cumular de todas as graças, abrindo seu caminho. Ele quer que sejamos felizes, Assim sendo é preciso perceber a inclusão na felicidade que Jesus oferece e afastar qualquer sentimento de exclusão. Jesus oferece solução para todos os problemas pessoais e comunitários. Trata-se da atualização da Boa Nova do Evangelho através de uma interpretação correta da comemoração da vinda de Cristo no seu Natal. Aqueles que iam escutar João Bastiste nas margens do Jordão estavam decepcionados e estavam ávidos de mensagem alvissareira e João Batista lhes mostrava o que deviam fazer. A resposta a seus questionamentos abria horizontes iluminados de expectativa para o futuro. Deste modo João Batista ia preparando o caminho para Jesus, oferecendo boas perspectivas a muitos frustrados e marginalizados em busca da verdade sobre Deus e sobre o que deviam, de fato, fazer. A simplicidade e objetividade das palavras do Precursor tocava profundamente a todos que iam até ele. Nada de prescrições complicadas, mas correções deveriam ser feitas. Sua mensagem era clara, a saber, que ninguém tivesse fome nem frio por causa de vestes insuficientes. Nada de injustiças, mas correção completa no cumprimento do dever específico de cada um. Em tudo, o bom senso deveria imperar. João Batista se mostrou sempre um notável comunicador e a sinceridade de suas respostas faziam seus conselhos aceitos, levando à mais total conversão. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

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