sábado, 31 de julho de 2021

 

BENDITA ÉS TU ENTRE AS MULHERES

Côn. Jose Geraldo Vidigal de Carvalho*

Festejar a assunção da Virgem Maria aos céus, não é apenas celebrar sua ascensão de corpo e alma para junto da Trindade Santa, mas, antes de tudo e sobretudo, é solenizar a maravilha da salvação que nela em plenitude, por primeiro, se realizou. Cristo a recebe festivamente na casa do Pai e bem se pode dizer que na festa de hoje se soleniza a assunção de Maria por ser ela a Mãe do Salvador, que a introduz nos esplendores da eternidade do Ser Supremo. De fato, ela, como a saudou o Anjo, era a cheia de graça e o Senhor estava com ela, enriquecida, realmente, em sumo grau de bens espirituais (Lc 1.39-56). Esta assunção é então algo de passivo e quem é dela objeto a recebeu por puro favor divino. A Virgem Maria é a grande beneficiada, pois este fato é obra do Senhor que nela assumira nossa humanidade. Em Maria nós vemos na história humana pela primeira e única vez a realização de uma assunção numa criatura por causa de uma sublime maternidade. Tudo nela, em seu corpo e em sua alma, é assumido na glória eterna de Deus, de maneira perfeita e total. Celebra-se, portanto, a entrada de corpo e de alma da Mãe de Jesus na glória de Deus Pai. Tudo nesta celebração é alegria para Maria e para todos nós seus filhos espirituais. Eis porque Santa Terezinha do Menino Jesus com razão proclamava que “o tesouro da Mãe pertence também aos filhos”, exultantes de júbilo por esta maravilha da assunção. Com toda a Igreja os cristãos são convidados a se rejubilar na solenidade de hoje. A Virgem Maria preservada da mancha do pecado original, tendo cumprido o curso de sua vida terrestre foi, de fato, elevada de corpo e alma à glória do céu e exaltada pelo Senhor como a Rainha do Universo para ser assim ainda mais conforme a seu filho Jesus. Tal foi a Fé da Igreja proclamada solenemente dia primeiro de novembro de 1950 pelo Papa Pio XII. Deste modo, a Virgem Maria foi associada à vida, à morte e à ressurreição de seu Filho de uma maneira realmente inimaginável. Ela que se apresentou ao Arcanjo São Gabriel como a “humilde serva do Senhor” é também aquela que apregoou no seu hino que todas as gerações a proclamariam bem-aventurada. Ela que se acha com seu corpo e sua alma, isto é, com toda sua pessoa na alegria do céu, na exultação da Cidade de Deus. Neste triunfo de Maria admiramos as maravilhas que Deus realizou em uma frágil humanidade, o que honrou de macieira admirável todo o gênero humano. Ela soube maravilhosamente acolher o Verbo eterno de Deus que nela se fez carne e habitou entre nós. Em Maria Deus encontrou a morada ideal, pois nela não havia nenhum espaço que fosse inacessível à presença do Todo Poderoso Senhor. Nela nenhum obstáculo a esta sublime presença.  Ela foi um ícone no qual resplandeceu a glória divina. Esta glória inefavelmente recebida numa vida inteiramente submetida a seu Senhor. Sua vida foi um total SIM ao Ser Supremo. Ela se tornou então criatura e mãe em Jesus, de um Deus que quis se oferecer a todo o homem que soubesse a seu exemplo acolhê-lo como Filho de Deus, o divino Salvador. Maria nos é oferecida como mãe para que seu filho possa nascer em cada um dos batizados. Isto porque ela de tal modo se deixou amoldar por Deus que ela não reteve nada de si mesma, pois Ela ofereceu tudo a seu Senhor Onipotente. Se ela reteve seu Filho em seus braços, foi para melhor O oferecer aos homens feridos pelo pecado.  Contemplar Maria é ver a criatura humana tal como Deus a criou. Eis porque hoje mais do que nunca é preciso entrar na escola de Maria para aprender o que é a coragem cristã, a confiança, o amor e a esperança. Isto significa viver a inteligência da fé, sabendo, porém, que infinito é o mistério da fé. Jamais compreenderemos o mistério divino. Entrar na escola de Maria é se colocar na rota de Jesus, é ser o testemunho de sua   obra salvífica. Com Jesus o cristão é capaz de enfrentar todas as provas, como ocorreu com sua mãe em tantos lances acerbos de sua existência, como ocorreu, por exemplo, lá no Calvário, onde apesar de um sofrimento tão grande ela se manteve corajosamente de pé. Deus quer que também nós façamos frente aos sofrimentos inevitáveis a este degredo terrestre. A exemplo de Maria deixar Deus viver em nós. Com Maria e como Maria saibamos viver os tempos da fé, tempos do acolhimento em plenitude da Palavra de Deus e da revelação de seus desígnios misericordiosos. Que em nossas vidas esteja sempre afastado o demônio com todas as suas malévolas ciladas. Foi para este combate que Cristo veio a esta terra. Luta também da Igreja que é a imagem de Maria. Luta que cada cristão tem que enfrentar desde que recebeu o espírito da verdade no dia de seu batismo. Combate contra o pecado sob todas as suas formas, combate pela justiça do reino e Deus e a verdade do Evangelho. * Professor no Seminário de Mariana durante 40anos.

 

quinta-feira, 22 de julho de 2021

 

AQUEELE QUE CRÊ POSSUI A VIDA ETERNA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Peremptória a assertiva de Jesus: Aquele que crê possui a vida eterna” (Jo 6, 41-51) A fé exige, porém da inteligência posturas decisivas como, por exemplo, admitir a existência de Deus, que falou aos homens; e que Jesus de Nazaré é o divino Redentor, que veio salvar a humanidade perdida pelo pecado. Além disto, entre outras verdades quem crê deve proclamar que a Palavra de Cristo permanece na sua Igreja, não obstante as misérias humanas, anunciando através dos séculos a vitória do divino Crucificado. Entretanto para alimentar e sustentar esta crença Jesus mostrou que Ele era o pão da vida, o pão vivo descido céu e quem comesse deste pão viveria eternamente. Isto porque não é fácil acreditar, depositando em Deus uma confiança total na vida e na morte. Já o povo escolhido fizera a experiência por ocasião do Êxodo. Os filhos de Israel tinham deixado o Egito na alegria da libertação dos dominadores, mas como a caminhada no deserto não terminava logo, eles começaram a achar insípido o maná de Deus e contra Ele passaram a murmurar. Elias no deserto, também ele, cansado da peregrinação e da hostilidade que sua missão estabelecia, reclamou e expressou seu sentimento de que Deus estava exigindo demais. Esta dificuldade em crer os contemporâneos de Jesus a experimentavam, não obstante os milagres que Ele fazia. Eles O conheciam muito ou, pelo menos, pensavam que O conheciam. Em Nazaré sabiam quem era sua mãe, uma mulher simples, discreta, sempre alegre. Cria-se que sabiam também quem era seu pai, porque todos tomavam Jesus como filho do carpinteiro José. Como é então que alguém, tendo crescido numa família da terra, podia pretender que descera do céu? Eis aí o primeiro murmúrio das pessoas da Galileia. Um outro murmúrio foi registrado na parte propriamente eucarística do discurso do Pão da Vida, quando esta expressão é aplicada à carne de Jesus, oferecida pela vida do mundo. Indagariam escandalizados: “Como pode este homem nos dar sua carne a comer”? No que diz respeito ao primeiro murmúrio, que contestava sua origem divina, Jesus se contentou a clamar: “Cessai de murmurar entre vós” É que as discussões meramente humanas jamais conduzem à plenitude da fé e somente quem crê é que possui a vida eterna. Esta fé em Deus e em Cristo não é o resultado de longas e intermináveis elucubrações intelectuais. Ela é um dom divino e Jesus é “o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer desse pão viverá eternamente e o pão que eu darei   é a minha carne pela vida do mundo” afirmou Jesus.  É que esta fé precisa deste alimento celeste para se robustecer e jamais se extinguir. Todos os alimentos terrestre não são nada diante do alimento da fé, que sustenta na crença das coisas de Deus.  É certo que temos que trabalhar para poder comprar o alimento que nos sustenta a vida do corpo Trata-se de um alimento necessário e urgente e, no entanto, Jesus chama a atenção de que se trata de um alimento que perece. É preciso então desejar o pão da palavra divina, alimento da fé que faz crescer em nós a vida da alma, alimento de uma crença firme e inabalável. Jesus foi claro: “Na verdade vos digo que aquele que crê tem a vida eterna”. Ele é o pão da vida, que desceu do céu e quem come deste pão não morrerá jamais. A Eucaristia é, de fato, o pão que é a carne de Cristo para se poder conseguir esta vida eterna. Nas Missas passamos da liturgia da palavra para a liturgia eucarística e todos são convidados a comer o pão da vida eterna que é o corpo de Cristo. Jesus veio de Deus e nos revelou o amor do Pai. Ele era o Messias que viera para salvar a humanidade e que poderia dar o seu próprio corpo em alimento através do pão eucarístico. Daí a importância de se firmar a origem divina de Cristo como fez São João no prólogo de seu Evangelho: “No começo era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus”. A natureza, portanto, do Filho de Deus, seu ser, era divino.  O Verbo é o Filho que recebeu a vida do Pai e o Pai é Pai porque ele dá a vida ao Filho. É esta relação que dá identidade ao Filho e ao Pai e é esta mesma relação que lhe dá o existir desde toda a eternidade. Pois, bem é esta extraordinária realidade que é vivida por aquele que comunga recebendo então a plenitude da grandiosidade do mistério trinitário e Jesus um dia disse a Filipe quem me vê, vê o Pai (Jo 14, 9-10).   Aquele que se nutre do alimento eucarístico une-se cada vez mais intimamente a Deus, recebendo, portanto, a vida eterna, sempre mais abundante. Porque, assim como o Pai comunica a vida eterna ao Filho unigênito divinizando-O, assim também o Filho comunica a vida da graça a quem come a sua carne. Deste modo, pois a vinda no mundo do Filho deve ser reconhecida como o dom do Pai, verdade que deve ser vivida intensamente em cada comunhão   * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

 

segunda-feira, 19 de julho de 2021

 

DAI-NOS SEMPRE DESTE PÃO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus de uma maneira admirável mostrou que Ele é o Pão da Vida, o Pão que veio do céu. O resultado desta verdade, exposta pelo próprio Cristo, foi a súplica daqueles que a escutaram: “Dá-nos sempre desse pão (Jo 6,23-35). No Evangelho de São João vemos, através de palavras simples, ensinamentos profundos sobre a pessoa de Jesus e sua sublime obra redentora.  Para os outros evangelistas os milagres de Jesus foram sobretudo atos de um poder maravilhoso que marcaram a irrupção do reino de Deus na história dos homens. Segundo eles, por estes milagres o Filho de Deus inaugurou na terra a realização definitiva da vontade divina, são vitórias sobre o falso príncipe deste mundo, satanás. Para São João o objetivo dos milagres de Jesus foi revelar que Ele era o Enviado de Deus, o Filho de Deus, transmitindo aos homens as palavras do Senhor Onipotente, cumprindo assim sua obra nesta terra. Ele deveria ser em tudo seguido. Deste modo, segundo este evangelista, os milagres apontavam, sempre diretamente sobre a pessoa de Jesus em quem se deveria crer, esperar, certo de que dele vinha a salvação. Foi o que ficou bem claro no milagre da multiplicação dos pães. Aqueles que captavam o sentido profundo dos sinais operados por Cristo e penetravam fundo em suas palavras maravilhosas nelas imergiam como os que exclamaram: “Dá-nos sempre deste pão”. Eram aqueles que percebiam uma relação única de Cristo com o Pai que o enviara, sabendo que Ele e o Pai eram uma mesma pessoa e, por isto, ele tornava visível nesta terra a santidade divina, seu poder e seu amor. Isto significava que se atinou com o mistério da pessoa de Cristo, que passava a ser visto não apenas como um esplêndido ideal do homem dado a seus irmãos, não somente o Galileu cujas palavras comoviam os ouvintes, mas sobretudo Aquele que estava marcado com o sinal do Pai e que podia dar o alimento que permanece para a vida eterna. Isto porque Ele tinha o poder de vencer a morte, dado que era o Filho do Pai celeste, Senhor da vida. Mais poderoso que Moisés que pela força de Deus dava o maná ao povo no deserto, alimentando-o, Jesus, seria Ele mesmo o alimento dos que nele cressem, Pão vivo descido do céu, realizando algo muitíssimo superior ao que fizera Moisés. O Pão vivo descido do céu era Ele mesmo. O maná foi um alimento perecível, mas o alimento da Nova Aliança era o próprio Senhor da vida que deixaria para os que nele crescem algo mais prodigioso. O discurso sobre esse prodígio foi tão convincente que logo suscitou o desejo dos ouvintes a receber tão maravilhosa dádiva, que transmitia uma segurança inestimável, envolvendo quem o recebesse com sua eficácia muito superior aos alimentos terrestres. A grandiosa obra de Deus era que acreditassem nele e quem O recebesse teria como o penhor desta fé uma eternidade feliz. Deste modo, a fé seria o fundamento da obra de Deus e ao mesmo tempo a resposta do homem. Na época de Jesus a fé em Israel era antes de tudo um fazer ou não fazer segundo os 613 mandamentos que estavam em vigor ou seja 365 interdições e 248 exortações. Muitos dentre estas ordens não eram senão preceitos humanos que foram ligando-se entre si, alguns até contrários à vontade divina. Jesus foi claro ao afirmar que muitos o honravam com os lábios, enquanto o seu coração estava bem longe dele: “Em vão, porém, me prestam culto, ensinando doutrina que são preceitos humanos” (Mc 7, 1-13|). Deviam ser observados sob pena de ser maldito (Gal 3,10). Linguagem, portanto, dos homens, porque Deus não amaldiçoa jamais; Ele, quer sempre abençoa, além de serem estes preceitos antigos um fardo desumano impossível de ser suportado (Mt 11,28-30). Ao se declarar o Pão da Vida Jesus unificava tudo   e ensinava que a obra de Deus era que se acreditasse naquele que Ele enviou. Eis aí a grande mensagem da Nova Aliança. Crer em Jesus e fazer o que Ele ensinou. Ele que veio ao mundo não para condenar, mas para salvar. O Maná era o símbolo da Lei, Palavra de Deus, mas como foi dito, muitas vezes deturpada. Jesus, porém, era o Pão de Deus, penhor da vida eterna, descido do céu para dar vida ao mundo. A Ele, portanto, se deveria aderir inteiramente numa comunhão estreita e constante para receber com Ele a vida eterna. Donde a prece “Senhor, dá-nos sempre deste pão”.  Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

terça-feira, 13 de julho de 2021

 

                                                                                                                           A MULTIPLICAÇÃODOS PÃES

Con. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus tendo ido para o outro lado do mar da Galileia viu uma multidão que o seguia (Go 6,1-15), A partir de cinco pães e dois peixes, Ele “rendeu graças e os distribuiu” para quase cinco mil homens. Deus todo poderoso que era pôde fazer aquele prodígio e, quanto a nós, mais do que procurar simplesmente explicações de como isto foi feito, deve nos interessar a razão pela qual Ele realizou tão estupendo milagre É certo que seus milagres foram prova de seu poder divino, mas, além de nos levar até um Deus todo-poderoso, precisam aumentar uma total e absoluta confiança nele. Todo e qualquer milagre sobre ser um sinal destinado a atrair a atenção é algo que une uma realidade material a uma significação espiritual. Deus em seu ato criador, dispôs as leis naturais para organizar o cosmos, este mundo maravilhoso no qual vivemos e os milagres que derrogam estas leis, são sempre algo de excepcional. Nos milagres operados por Jesus, porém, além de admirarmos sua onipotência, cumpre captar a manifestação do interesse de Deus pelas suas criaturas. Ele não faz nada de absurdo e sempre tem em vista ajudar os homens, restaurando lhes a saúde, sua dignidade, sua vida. Os prodígios operados por Ele visaram testemunhar sua benevolência, seu amor para com os seres racionais. É isto precisamente que contemplamos na multiplicação dos pães. Mesmo na sua época, como acontece em nossos dias, milhares passando fome, mas vemos que Ele se condoeu de um grupo de cerca de cinco mil homens, Esta clemência ocorreu com os doentes, os coxos e aleijados, mas Ele curou apenas alguns deles. Epidemias, guerras se sucedem através dos tempos, mas a ação do divino Taumaturgo se limitou a alguns episódios durante sua passagem por este mundo. É que a intenção primordial de Cristo era mostrar que, vindo atender as esperanças de alguns, Ele firmou a expectativa de todos. Aliás, Ele mesmo afirmou: “Vinde a mim todos vós que estais atribulados e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Atendendo às súplicas de quem nele confia, vindo em auxílio dos atribulados, Ele deixa, contudo, palpitante o desejo da busca do bem absoluto que se possuirá apenas na outra vida. Aqueles para quem Ele multiplicou os pães voltariam a ter fome, mas eles se lembrariam de que havia alguém que com sumo poder os auxiliaria, se nele confiassem e procurassem em tudo os bens eternos. Daí então ser necessário ir sempre à fonte da verdadeira e   perene felicidade. Assim sendo, a multiplicação dos pães hoje recordada vem lembrar uma multiplicação muito mais maravilhosa que é a multiplicação do Pão eucarístico que vem alimentando espiritualmente milhares de fiéis através dos tempos e é, em si, o pão da vida eterna. Jesus mesmo asseverou: “Quem come deste pão viverá eternamente” (Jo 6, 51), quando obterá o bem absoluto sem limitações alguma. Jesus, quer, portanto, que desejemos o sumo Bem. O pão que Ele multiplicou para aqueles que O seguiam não impediria que eles voltassem a ter fome, mas era assim sinal do Pão da vida que era Ele mesmo, sabedoria de Deus. Além disto, Cristo deixou outro ensinamento mostrando que para Ele o seu alimento era fazer a vontade do Pai e que nossos desejos estejam orientado para fim tão nobre e necessário. Ensinou seus discípulos a pedirem sempre a Deus “seja feita a vossa vontade” (Mt 6,10). Deste modo nossas aspirações e bens materiais devem ser orientados sempre para sua verdadeira finalidade. Tudo deve convergir para nossa vocação espiritual, ou seja, tendo como referência a pátria verdadeira para a qual devem ser orientadas todas as nossas aspirações. Donde ser importante ter fome de Deus.  Nesta peregrinação terrestre não pode faltar o Pão eucarístico que leva à vida eterna. Este Pão celeste, contudo alimentará verdadeiramente, espiritualmente milagrosamente somente, quando o fiel se entregar inteiramente a Ele que fará maravilhas na vida de cada fiel. Uma relação de fé com Ele é imprescindível, pois se trata de passar do visível ao invisível. É preciso reconhecer nele a divindade que escapa a nossos olhos mortais, presença, porém bem real. Entretanto só a fé O pode acolher, reconhecer nele o “Verbo de Deus que se fez carne e habitou entre nós”. A Ele então presente em nosso coração e em nossa vida estamos sempre unidos. Trata-se do olhar interior. O olhar da fé é uma luz admirável que   permite então O acolher de todo o coração e, se este foi um objetivo de todos os milagres de Cristo, maior ainda ele o foi com a multiplicação do Pão eucarístico que é o grande alimento desta virtude pela qual se tem uma profunda Comunhão de vida com Ele. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

segunda-feira, 5 de julho de 2021

 

A COMPAIXÃO DE Jesus

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Segundo São Marcos os doze Apóstolos voltaram radiosos de sua primeira missão (Mc  6, 33-34). Pregaram a conversão, expulsaram demônios e curaram doentes em nome do Senhor Jesus. Estavam fatigados, mas uma multidão vinha para ver Jesus e conversar com Ele. Cristo então levou seus discípulos para um lugar deserto, tranquilo, longe do bulício reinante. Momentos felizes junto do Mestre divino para uma prece fervorosa, hábito salutar que Ele desejava inculcar a seus discípulos. E era a melhor maneira de fazer repousar seus missionários. Não um repouso banal, uma mera parada para esquecer todos os cuidados e todo cansaço. Aqueles discípulos estavam junto dele para O escutar e para tudo Lhe confiar, usufruindo todo o descanso que Ele oferece a todo aquele que se volta confiadamente para Ele. Ele prometeu: “Vinde a mim todos que penais sob o peso do fardo e eu vos darei o repouso Tomai sobre vós meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e assim encontrareis conforto para vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu peso é leve (Mt 11,28-30). Os doze Apóstolos felizes na escola de Jesus, escutando suas novas diretrizes e Lhe narrando tudo que haviam feito como Ele ordenara. Era isto que ocorria na barca que os levava para a outra margem, visando prosseguir aqueles momentos de salutar tertúlia do Mestre com seus missionários. Entretanto, muitos pressentiram para onde Jesus se dirigia com seus apóstolos e quando eles desembarcaram depararam uma multidão que já se encontrava no lugar onde deveria reinar tranquilidade e um silêncio repousante. Ali estavam doentes, pobres desejando cura e consolo e também muitos sequiosos de ouvir as palavras maravilhosas de Cristo sobre o Reino dos céus. São Marcos registrou então a reação de Jesus: que “viu aquela grande multidão e condoeu-se dela, porque eram como ovelhas sem pastor”. Encheu-se de compaixão o coração amoroso de Jesus e uma piedade imensa tomou conta deste coração diante do que então acontecia. Eles não tinham minguem para os guiar, para lhes oferecer felicidade, para os orientar, para lhes transmitir esperança, fazendo brilhar para eles raios de expectativa de dias melhores.   Jesus se lembrou das palavras do profeta Jeremias quando Deus prometia a seu povo pastores dignos deste nome: “Juntarei depois os restos de minhas ovelhas de todas as regiões, para onde eu as tiver deixado lançar e as reconduzirei a apriscos, onde, proliferando, crescerão. Estabelecerei sobre elas pastores que as apascentarão, não terão mais temores, nem apreensões e não se perderá nenhuma, diz o Senhor (Jer 23,3-4). Ali estava então Jesus, o Pastor por excelência a lhes dar o essencial, ou seja sua palavra divina, a lhes transmitir as verdades eternas. Ninguém falaria mais belamente do Pai e das realidades eternas. Ele era o Bom pastor que daria sua vida pelas suas ovelhas. É preciso, portanto, como Jesus, compadecer cada um daqueles que estão longe de Deus, como ovelha sem um guia seguro. Isto através da palavra, do exemplo, das preces, de um apostolado ardente, zelo pela salvação de todos, discernindo perante todos o essencial do acessório. A começar pelo testemunho de vida lá onde Deus o colocou e, na medida do possível, se engajando em algum movimento de apostolado, ajudando na evangelização no meio em que vive. Através de todos aqueles que procuram estar em união com Ele, Jesus continua a ter compaixão dos que estão fora dos caminhos do bem e da virtude, em situações que precisam de amparo espiritual. Estar sempre unido a Deus, para O levar aos que dele se apartaram. A vida do cristão deve ser ritmada pelo desejo de espalhar a virtude por toda a parte num interesse constante pelo bem espiritual próprio e dos outros, numa visão iluminada pela fé na vida eterna. Jesus mandou os doze apóstolos a evangelizar, mas depois os levou ao descanso da prece junto dele. Cada um deve estar atento, pois a qualquer momento o Senhor o tira de suas tranquilidades para o bem do próximo que deve ser envolvo na compaixão do Filho de Deus a chamar para os caminhos da conversão própria e dos irmãos. Trata-se da abertura da vida divina dentro de si e na existência daqueles com os quais se convive. Não se está nunca sozinho neste mundo, mas temos que ter consciência de que participamos de uma aventura coletiva. Somos responsáveis uns pelos outros. Deus não pode estar em nós se Ele não se acha entre nós. Trata-se da solidariedade cristã que é o fundamento de todo apostolado. Há sempre alguém que reclama atenção, uma criança que chora, um trabalhador que clama por um salário melhor, um jovem que está perdido em suas ilusões, enfim, pessoas nas mais variadas circunstâncias que precisam de apoio, de uma palavra de conforto, de luzes para uma nova vida. O campo do apostolado é imenso e a todos se deve levar a compaixão de Jesus.” Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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