O AMOR CRISTÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Há
sempre alguma força no ser humano que o impulsiona a trabalhar, a progredir, a
se organizar. Ânimo que o leva a agir dia a dia, ano a ano, durante toda sua
passagem por este mundo Para uns, esta força, por exemplo, é o interesse, para
outros é a sede do poder. Para o verdadeiro cristão, para o autêntico seguidor
de Cristo, porém, acima de tudo e sobretudo, deve ser o amor sobre o qual Ele
falou longamente aos apóstolos, sendo Ele mesmo a fonte, o modelo, desta
verdadeira dileção. Claras as suas palavras: “Permanecei no meu amor “(Jo
15,9-17). Isto porque Ele, somente Ele, tem as palavras e a realidade da vida
eterna. Ele, por primeiro, nos amou, vindo a este mundo para se sacrificar pela nossa salvação até à morte e morte de
cruz. Este amor de Jesus pelos homens O levou a uma imolação sem limites. Tal
atitude exige, então, uma correspondência a tanta generosidade e Ele mesmo
mostrou como agir em consequência: “Se sois fieis a meus mandamentos, vós
permanecereis no meu amor”. A fidelidade a seus ensinamentos eis aí, o que mede
a amizade entre Jesus, o Filho de Deus e nós que somos também filhos e filhas
de Deus. É preciso que se lembre sempre que amar é deixar que os outros existam
plenamente não obstante as fronteiras sociais e culturais, as incongruências da
existência humana, as sombras do egoísmo ou da agressividade, seja onde quer
que se esteja vivendo. Amar é saber repartir o bem sem cessar em casa, nas
comunidades eclesiais, nos locais de trabalho porque o amor de Cristo nos deve
impelir a espalhar o bem, desejando-O participante de todos com os quais se
convive. Isto inclusive imitando a Deus a quem assim se dirige o salmista: “Tu
abres a mão e sacias a todo vivente” (Sl 145,16). Deste modo procede o
discípulo de Jesus que jamais tem as
mãos fechadas, nunca deixando de fazer o bem. O caminho da caridade não deve
ter limites. Isto para que a alegria de Jesus esteja em nós e para que nossa
alegria seja perfeita. Lembremo-nos sempre que Deus ama cada um pessoalmente
com uma dileção total, incondicional e a vinda de Jesus a este mundo ratificou
que, seja cada um de nós quem for, ou o que tenhamos feito ou faremos, o seu
amor jamais diminuirá, e isto nos deve
encher de ânimo para que sejamos sempre bons uns para com os outros. A
única retribuição que Jesus espera de cada um de nós é reconhecer a imensidão
de seu amor e O acolher para viver dele. Donde tal deve ser a prece o cristão:
“Senhor, eu sei que tu me amas. Obrigado por tudo!”.
Jamais, portanto viver sem Jesus como se Ele não existisse. Daí viver
coerentemente, nunca passando um minuto sequer longe dele. Ele mostrou como assim proceder: “Se vós sois
fiéis a meus mandamentos, vós permanecereis no meu amor, como eu guardei
fielmente os mandamentos de meu Pai e eu permaneço
no seu amor”. Ser fiel aos dez mandamentos é se mostrar fiel a seu Pai. E como é que Jesus nos amou? Basta olhar para a Cruz. Pois “a cruz é
glória não porque é um instrumento de dor, mas porque é o sinal do fim
infligido a quem amou, a quem é justo, a quem livremente e por afeição depôs a
própria vida pelos outros”. Seu amor foi gratuito, antes mesmo de sermos
redimidos pelo seus sofrimentos salvíficos. Ao olhar o crucificado vemos que
Ele passou um cheque de amor em branco e tem todo o direito de receber uma
resposta de afeto de nossa parte, através do amor que manifestamos uns aos
outros, a saber, como Ele nos amou. Suas palavras foram claras: “O que fizestes
a menor de meus irmãos foi a mim que o fizestes”. Deste modo, a existência do
cristão fica sempre valorizada. Tudo que que ele faz pelos membros de sua
família, pelos amigos, pelos colegas de trabalho, pelos membros de sua Paróquia
fica realmente valorizado. Isto sem priorizar ninguém, mesmo porque não há uma
ordem de prioridade no dom mesmo que Deus faz a cada um de nós. Em toda parte
viver deste modo a dileção de Jesus. É preciso que se lembre sempre que Maria,
sua mãe e nossa mãe, não foi uma revolucionária, nem uma a mulher fechada em si
mesma, ela a cheia de graças, se limitando a amar Jesus e José. Deus fez
crescer nela um coração que abrigou um imenso amor e a fez a mãe de todos os
homens, fonte de todas as graças para
os que vivem a dileção divina. Jesus não nos pede coisas extraordinárias,
impossíveis. Ele quer simplesmente que acolhamos seu afeto por nós e, em
consequência, que amemos os outros como Ele nos amou. Ele deseja nos ver como
um apóstolo que dê fruto para os irmãos, fruto que se manifesta numa dileção
sincera. Como bem se expressou São João Crisóstomo, “se o amor está difundido
por toda parte disto nascerá uma infinidade de bens”. Amar é, portanto,
dar a própria vida numa abnegação constante, sacrificando o seu tempo, sempre
interessado no progresso espiritual e material dos irmãos, para que eles se desenvolvam
continuamente. Amar é saber proteger os outros, possibilitando que cresçam como
autênticos seres humanos. Amor concreto, e como foi dito, frutuoso, porque o amor do cristão, se ele não se
manifesta em obras que ajudam, é um amor vazio, fruto de uma fé morta. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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