segunda-feira, 3 de maio de 2021

 

O AMOR  CRISTÃO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*                                                                                           

Há sempre alguma força no ser humano que o impulsiona a trabalhar, a progredir, a se organizar. Ânimo que o leva a agir dia a dia, ano a ano, durante toda sua passagem por este mundo Para uns, esta força, por exemplo, é o interesse, para outros é a sede do poder. Para o verdadeiro cristão, para o autêntico seguidor de Cristo, porém, acima de tudo e sobretudo, deve ser o amor sobre o qual Ele falou longamente aos apóstolos, sendo Ele mesmo a fonte, o modelo, desta verdadeira dileção. Claras as suas palavras: “Permanecei no meu amor “(Jo 15,9-17). Isto porque Ele, somente Ele, tem as palavras e a realidade da vida eterna. Ele, por primeiro, nos amou, vindo a este mundo para se sacrificar   pela nossa salvação até à morte e morte de cruz. Este amor de Jesus pelos homens O levou a uma imolação sem limites. Tal atitude exige, então, uma correspondência a tanta generosidade e Ele mesmo mostrou como agir em consequência: “Se sois fieis a meus mandamentos, vós permanecereis no meu amor”. A fidelidade a seus ensinamentos eis aí, o que mede a amizade entre Jesus, o Filho de Deus e nós que somos também filhos e filhas de Deus. É preciso que se lembre sempre que amar é deixar que os outros existam plenamente não obstante as fronteiras sociais e culturais, as incongruências da existência humana, as sombras do egoísmo ou da agressividade, seja onde quer que se esteja vivendo. Amar é saber repartir o bem sem cessar em casa, nas comunidades eclesiais, nos locais de trabalho porque o amor de Cristo nos deve impelir a espalhar o bem, desejando-O participante de todos com os quais se convive. Isto inclusive imitando a Deus a quem assim se dirige o salmista: “Tu abres a mão e sacias a todo vivente” (Sl 145,16). Deste modo procede o discípulo de Jesus   que jamais tem as mãos fechadas, nunca deixando de fazer o bem. O caminho da caridade não deve ter limites. Isto para que a alegria de Jesus esteja em nós e para que nossa alegria seja perfeita. Lembremo-nos sempre que Deus ama cada um pessoalmente com uma dileção total, incondicional e a vinda de Jesus a este mundo ratificou que, seja cada um de nós quem for, ou o que tenhamos feito ou faremos, o seu amor   jamais diminuirá, e isto nos deve encher de ânimo   para que   sejamos sempre bons uns para com os outros. A única retribuição que Jesus espera de cada um de nós é reconhecer a imensidão de seu amor e O acolher para viver dele. Donde tal deve ser a prece o cristão: “Senhor, eu sei que tu me amas. Obrigado por         tudo!”. Jamais, portanto viver sem Jesus como se Ele não existisse. Daí viver coerentemente, nunca passando um minuto sequer longe dele.  Ele mostrou como assim proceder: “Se vós sois fiéis a meus mandamentos, vós permanecereis no meu amor, como eu guardei fielmente os mandamentos de meu Pai e eu permaneço no seu amor”. Ser fiel aos dez mandamentos é se mostrar fiel a seu Pai. E como é que Jesus nos amou?  Basta olhar para a Cruz. Pois “a cruz é glória não porque é um instrumento de dor, mas porque é o sinal do fim infligido a quem amou, a quem é justo, a quem livremente e por afeição depôs a própria vida pelos outros”. Seu amor foi gratuito, antes mesmo de sermos redimidos pelo seus sofrimentos salvíficos. Ao olhar o crucificado vemos que Ele passou um cheque de amor em branco e tem todo o direito de receber uma resposta de afeto de nossa parte, através do amor que manifestamos uns aos outros, a saber, como Ele nos amou. Suas palavras foram claras: “O que fizestes a menor de meus irmãos foi a mim que o fizestes”. Deste modo, a existência do cristão fica sempre valorizada. Tudo que que ele faz pelos membros de sua família, pelos amigos, pelos colegas de trabalho, pelos membros de sua Paróquia fica realmente valorizado. Isto sem priorizar ninguém, mesmo porque não há uma ordem de prioridade no dom mesmo que Deus faz a cada um de nós. Em toda parte viver deste modo a dileção de Jesus. É preciso que se lembre sempre que Maria, sua mãe e nossa mãe, não foi uma revolucionária, nem uma a mulher fechada em si mesma, ela a cheia de graças, se limitando a amar Jesus e José. Deus fez crescer nela um coração que abrigou um imenso amor e a fez a mãe de todos os homens, fonte de todas as graças para   os que vivem a dileção divina. Jesus não nos pede coisas extraordinárias, impossíveis. Ele quer simplesmente que acolhamos seu afeto por nós e, em consequência, que amemos os outros como Ele nos amou. Ele deseja nos ver como um apóstolo que dê fruto para os irmãos, fruto que se manifesta numa dileção sincera. Como bem se expressou São João Crisóstomo, “se o amor está difundido por toda parte disto nascerá uma infinidade de bens”.  Amar é, portanto, dar a própria vida numa abnegação constante, sacrificando o seu tempo, sempre interessado no progresso espiritual e material dos irmãos, para que eles se desenvolvam continuamente. Amar é saber proteger os outros, possibilitando que cresçam como autênticos seres humanos. Amor concreto, e como foi dito, frutuoso, porque o amor do cristão, se ele não se manifesta em obras que ajudam, é um amor vazio, fruto de uma fé morta. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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