SANTISSIMA
TRINDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na festa da
Santíssima Trindade celebramos Deus Uno e Trino, que é Amor e que convida a
todos a partilhar este amor, a receber esta dileção generosa e a corresponder sinceramente
à mesma. Inúmeros através dos tempos os escritos teológicos sobre o mistério
divino, mas impossível à mente humana compreendê-lo. É preciso crer nesta verdade
e viver em função dela. Jesus foi claro ao mostrar a missão dos Apóstolos: “Ide,
ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo, ensinando-as a observar tudo que vos mandei! E eis que eu estou convosco todos os dias até
ao fim do mundo” (Mt 26,16-20), Os cristãos receberam esta mandato e o
interiorizaram século após século. A salvação é anunciada e é oferecida numa
vida de comunhão intima com Deus Pai, Filho e Espírito Santo. O Ser Supremo não
apenas fez saber que Ele existe, mas revelou que há três pessoas realmente
distintas numa só natureza divina. Com efeito, o Pai que nos ama e deseja a
salvação de toda a humanidade; o Filho, o enviado do Pai a este mundo no qual
se realiza esta salvação pela sua Morte e Ressurreição; e o Espírito Santo que
habita em nossos corações, fazendo-nos viver e rezar como filhos e filhas de
Deus, santificando as ações humanas. Nosso Deus não é um Deus longínquo, frio,
impessoal, mas um Deus no qual se vive uma comunhão e relações pessoais. Esta
revelação extraordinária é evocada cada vez que se faz o sinal da Cruz, quando então
se reza “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. É que se trata do
mistério de um Deus presente na vida do cristão e de toda a Igreja. Mistério de vida, de comunhão com as pessoas
divinas que agem na vida de cada um, vida da graça recebida no dia do batismo. Nesta solenidade da Santíssima Trindade
celebramos então esta troca permanente, este dom total de uma a outra das três
pessoas da Trindade. Cristo não guardou nada para si mesmo, pois tudo que
recebeu do Pai, Ele colocou em suas mãos. A vontade de Jesus não foi outra a
não ser manifestar o amor de seu Pai. É no seu Filho único que esse Pai nos
patenteou sua ternura infinita. É na pessoa de Cristo Crucificado que Ele nos
mostrou seu imenso amor e na pessoa de Cristo Ressuscitado que Ele revelou seu
extraordinário poder. É graças à ação do Espírito Santo que tudo isto se
realizou A Santíssima Trindade é, deste modo, este mistério de amor e de vida
que hoje recordamos, contemplando a grandeza imensa de nosso Deus, Uno e Trino.
Na carta aos Romanos São Paulo nos faz tomar consciência da glória à qual somos
chamados. Assim se expressa o Apóstolo: “Efetivamente não recebestes o espírito
de escravidão para cairdes de novo no temor, mas recebestes o espirito de
adoção filial, pelo qual clamamos: Aba, ó Pai. O Próprio Espírito atesta com o
nosso espírito que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos igualmente
herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rom 8,17-18). É o amor
que une o Pai ao Filho o ao Espírito Santo que está presente em nós. Esta relação filial não cessa com nossa
morte, mas somos chamados a ressuscitar e a entrar na glória do Filho, Ele que
partilha a intimidade do Pai no Espírito Santo. Não fomos criados para a morte,
mas destinados a entrar na glória da Trindade. Pela comunhão eucarística o fiel
recebe o penhor desta vida eterna. Por tudo isto o amor que une entre elas cada
uma das pessoas da Santíssima Trindade constitui o fundamento da comunidade dos
cristãos entre si. Amar com o amor que
une as três pessoas divinas, amar como Deus se ama, amar com o amor que Deus
tem para com cada um de nós. Eis como se deve viver o mistério do Deus Uno e
Trino. Trata-se da dimensão da solidariedade que deve caracterizar o cristão,
para que ele não se perca num ativismo vazio, nem se omita numa condenável
ausência de um apostolado frutífero que leva a fazer Deus de fato conhecido e
amado. Em tudo devemos estar iluminados pelo Espírito Santo, trabalhados pela
Palavra de Cristo, fazendo em tudo a vontade do Pai, testemunhando o amor do
Deus Trindade. Ele nos convida a entrar neste seu amor trinitário, vivendo
segundo o Espírito Santo, a fim de nos tornarmos autênticos discípulos de Cristo.
Temos toda nossa vida para aprender a viver segundo o Espírito Santo, sendo
verdadeiros seguidores de Jesus numa adoração perfeita a Deus Pai. Cumpre
penetrar, de fato, no amor trinitário para se tornar verdadeiramente um cristão
maduro e completo. Evitar, portanto, as fraquezas que desfiguram a imagem de
Cristo em si mesmo, procurando fazer crescer o desejo de conhecer e amar sempre
mais as Três Pessoas divinas. Escutar e obedecer sempre as inspirações do
Espírito Santo santificador, deixando-se guiar por Ele em tudo, sempre
lembrados do que preceituou Jesus: “Sede perfeitos como o Pai celeste é
perfeito” (Mt 5,48). *Professor no Seminário de Mariana
durante 40 anos.
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