A
UNIÃO MÍSTICA COM CRISTO
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
De uma maneira maravilhosa Jesus nos
fala sobre a nossa união com Ele (Jo 5,1-8). Duas assertivas entretanto merecem,
de início, nossa atenção: “Sem mim nada podeis fazer”, declaração peremptória;
e uma promessa admirável “Quem permanece em mim e eu nele produz muitos frutos”.
Quem deseja ser verdadeiramente cristão não pode ficar indiferentes a tais
palavras deste Mestre divino. Ou tudo com Ele e sem Ele nada. Isto por que Ele
é a verdadeira vinha, uma vez que é aquele que corresponde plenamente à
confiança que Deus havia colocado no povo escolhido, mas que, ante suas
infidelidades e recusas estéreis, teve que se queixar: “Que mais poderia fazer
pela minha vinha que não o tenha feito? Porque esperando eu que me desse boas
uvas, produziu apenas agraços, isto é,
uvas verdes? (Is 5,5). Não obstante tudo isto, depois de tantos profetas
rejeitados, de idolatrias irrisórias, de favores malbaratados, crimes
vergonhosos, Jesus desceu do céu à terra afirmando “Eu sou a verdadeira vinha”,
Ele o justo, o santo, o bem amado do Pai, a vinha por excelência. Vinha única e
universal ou, no dizer de Santo Agostinho, “o Cristo total” que quis reunir
toda a humanidade salva por Ele, que é a fonte da verdadeira vida. De fato, literalmente
a seiva da vida do homem regenerado, por que nele é que o Pai faz de nós seus
filhos adotivos (Rm 8,15). Graças a Ele somos concidadãos da casa de Deus (Ef
2,20), formando o que a Escritura chama com toda razão a vinha do Senhor. Seu
Pai é o divino agricultor que quer cultivar esta vinha até os confins da terra.
Na Cruz Cristo se tornou, de modo especial, na expressão dos escritores
místicos, este cacho esmagado, quando ofereceu para a humanidade a bebida da vida
eterna. Cada dia aqui na terra o vinho da sua vinha se torna o sangue na
admirável transubstanciação em cada Missa que é celebrada e, lá no céu, o vinho
novo no Reino de seu Pai nas bodas eternas.
Sublime a comunhão eucarística de cuja plenitude recebemos graça sobre
graça. Como escreveu São Paulo, nele habita, conjunta com a humanidade, a plenitude
da divindade e nele temos plenamente tudo (Cl 2,9). Ora se, assim é, só nos resta
uma profunda gratidão. Grande o amor do Pai que quis plantar nesta terra esta
Cepa divina , enviando seu Filho único (Jo 3,17) Deste modo, por Ele, com Ele e
nele, todos podemos receber e partilhar a Vida, sua Vida divina. Entretanto, o
mais belo deste maravilhoso mistério não é somente que o Senhor se fez Ele
mesmo por nós a verdadeira vinha, mas desejou que nos tornamos nós mesmos sua própria
vinha, uma vez que Ele é nossa cepa e nós somos seus ramos. Nossa genealogia
está nele. Quem nos criou também nos regenerou! Nunca se medita demais nesta
sublime realidade. O cristão se apoia
neste fundamento e nunca, portanto, está isolado, abandonado. Está
ligado a um tronco que o suporta, achando-se insertado diretamente na vida
divina que nele corre. A existência do cristão verdadeiro, portanto, é útil e boa
porque repleta de esperança e de sentido. Cumpre então que ele dê muito fruto.
Grande e prodigioso mistério. Vivemos, nos movemos, agimos, sofremos e morremos,
mas Cristo está sempre conosco, pois Ele vive, age, sofre e morre em nós. Ele é
a semente, a seiva que está no batizado. A vida eterna lhe é garantida numa
grandiosa esperança porque os germes da ressurreição estão já inscritos nos seus
corações. Tudo isto é verdade e nós podemos dizer que nós vivemos nele, porque
Ele mesmo vive em nós (Gl 2,20). Eis porque sem Ele nada podemos realizar de
proveitoso para a vida eterna! A verdadeira vida do cristão é, portanto, tudo
fazer por estar em contínua união com Cristo, sendo ininterruptamente fiel a
seus mandamentos. Feliz o batizado que observa tudo que Jesus preceituou nele
continuamente crescendo e amando sinceramente o próximo. Lembra então São João que
aquele que é fiel ao divino Redentor mora em Deus e Deus nele (1 Jo 3,23-24)
Eis porque somente o amor vivido em ato e em verdade e a marcha no caminho de
Jesus sob a luz da fé dão sentido e valor à existência humana. O
importante é a autenticidade da vida do batizado. Cada instante de sua
existência bem vivida. Então, sim, está aí alguém que pode dar bons frutos.
Para que tudo isto ocorra é preciso que o homem exterior se vá desfazendo em
nós e o homem interior vá se renovando dia a dia (2 Cor 4,16). Nunca agradeceremos demais ao Senhor
por ser Ele a verdadeira vinha e que Ele faça sempre de nós uma vinha digna
dele, fiéis a seus mandamentos, jamais nos separando dele. É necessário estar
atentos à presença da seiva divina em nós para poder dar bons frutos. Esperá-los,
porém humildemente, pacientemente, pois eles virão na hora demarcada por Deus,
desde que haja total fidelidade à ação da graça divina. Isto é que se deve
examinar à hora das orações, sobretudo no instante da Comunhão eucarística.
Então se verá se a união com Cristo está repercutindo por toda parte Quem vive
em união mística com Jesus deve dar furtos onde quer que esteja.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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