A MISERICÓRDIA INFINITA DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Este ano o Evangelho do Domingo da
Misericórdia apresenta a aparição de Jesus ressuscitado aos apóstolos no
Cenáculo. Aí eles, por medo dos judeus, mantinham fechadas as portas. Jesus aparece
e belíssima a sua a sua saudação: “A paz seja convosco!” Tendo visto suas mãos
e o seu lado, os discípulos ficaram repletos de alegria. Jesus instituiu então
o sacramento da Penitência, outro gesto grandioso de seu imenso amor. Oito dias
depois, já com a presença de São Tomé, Jesus volta a aparecer aos apóstolos,
recrimina presencialmente o infiel e lança sua fulgurante sentença:
“Bem-aventados, Tomé, os que não viram e creram”. Como disse Santo Agostinho,
Tomé quis tocar o homem Jesus e reconheceu Deus À palavra de Jesus ele
percorreu todo o caminho da incredulidade à fé, da humanidade à divindade. Jesus lhe diz avança teu dedo, avança tua
mão, cessa de ser incrédulo, acredita. Quanto a nós é um gesto de misericórdia
da parte de Cristo que acreditemos nele caminho, verdade e vida. Ele é a cabeça
do corpo do qual nós somos os membros A cada participação na Eucaristia nós nos
unimos intimamente a Ele na sua paixão e ressurreição, nele nos tornamos, pois, de fato filhos de
Deus. Somos felizes se temos o desejo de crer na vida mais forte que a morte,
de esperar no amor mais certo que o pecado, de acolher misericórdia no mais íntimo
de nós mesmos, apesar de todas as dúvidas como as que acometeram a Santo Tomé.
Tudo isto vem nos lembrar que a fé é um
caminho, uma passagem progressiva da dúvida à confiança na busca de uma paz
mais profunda do que qualquer angústia. Leva ao grande amor de Jesus
ressuscitado para transmitir ao mundo a energia capaz de vencer a morte e o
pecado. Vida nova ao influxo do Espírito
Santo, ao vigor da confiança, à certeza do amor de Deus, à experiência do
perdão, à dinâmica da reconciliação com todos. A vida do cristão nesta terra é
itinerante, um caminhar para a frente sem nunca desanimar, um contínuo
recomeçar. As chagas gloriosas do divino Ressuscitado demonstram a fidelidade
de Deus, elas traduziam a eternidade
do amor divino na nossa história humana.
Envoltos nesa admirável misericórdia, os discípulos corajosamente se
tornaram mensageiros do perdão e da paz de Deus. Somos então convidados a renascer na
confiança em reconhecendo o Ressuscitado que se acha além de nossos sofrimentos, nossas
enfermidades, nossas misérias humanas. O
novo nascimento a que nos convida a Misericórdia divina é este consentimento livre à nossa fragilidade para acolher nela a Vida em plenitude, a que revela em Cristo o
amor além de todo julgamento meramente humano. Expor assim ao influxo do
Ressuscitado nossas impotências as mais profundas face ao mal natural a esta vida,
reconhecendo nossas fraquezas, mas também a imensidão do transformante poder divino. Deve ecoar fundo
dentro de nós a advertência de Jesus: “Deixa de ser incrédulo, é preciso acreditar”!
Por tudo isto o papa Bento XVI afirmou que “longe de ser uma devoção secundária,
o culto da Misericórdia Divisa faz parte integrante da fé e da prece do cristão”.
Através do coração transpassado de Jesus crucificado a misericórdia de Deus atinge
todos os homens. Festa da misericórdia, dizia São João Paulo II, e Cristo a
difunde sobre a humanidade através do dom do Espírito Santo que na Trindade é
a Pessoa–Amor. A misericórdia ensinava
ainda São João Paulo II é o segundo nome do Amor e do Amor tomado no seu
aspecto mais profundo. As feridas da Paixão nos recordam que a Misericórdia de
Deus é uma graça que lança para longe a banalização do mal, frisou o papa Bento XVI. É que como acentuou São João Paulo II Jesus Cristo “ trouxe em seu corpo e no seu coração todo o peso do mal, toda sua
força devastadora. Jesus na Cruz queimou e transformou o mal no sofrimento, no
fogo de seu amor sofrido”. A Igreja se tornou, verdadeiramente, a “Casa da Misericórdia”
aberta a todos os homens. Neste Domingo da Misericórdia, Jesus nos mostra de
novo suas chagas gloriosas e nos convida a nos abandonar com confiança à sua Compaixão.
São Bernardo nos lembra: “Onde pois
nossa fragilidade vai encontrar segurança senão nas chagas do Redentor? Aí eu me
sinto tanto mais protegido pois sua salvação é poderosa. Minha consciência se
perturba, mas não perde coragem, porque eu me lembro das chagas de Jesus que
foram traspassadas por causa de minhas faltas”. Repitamos então com total
confiança: “Jesus, eu confio em Vós”! * Professsor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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