O TEMPLO DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quando Jesus expulsou os vendilhões do Templo de Jerusalém, os
discípulos se lembraram do que está escrito no Salmo 69: “Devora-me o zelo de
tua casa” (Jo 2,13-25). Indagam os comentaristas: “Que vinha Cristo procurar no
Templo ao aproximar-se a Páscoa? Que esperava o Filho do Pai encontrar naquele
Santuário?” Segundo alguns intérpretes da Escritura Ele veio reencontrar entre
os homens a presença viva especial de Deus no meio de seu povo. Ele procurava
corações voltados para seu Senhor e rezar com eles. Naquele lugar sagrado
Jesus, porém, depara o mercantilismo, a superficialidade e não a adoração
cordial ao Ser Supremo. Instalados no Templo estavam mercadores de animais¸
trocadores de moeda. Jesus viera a uma casa de oração e descobre um bando de
profanadores do lugar santo. Ao invés de hinos de louvar ao Pai, barulho ensurdecedor
de animais e de vendedores que vociferavam. Tudo isto provocou a justa
indignação do divino Redentor que não poderia aprovar o que impedia a manifestação
de louvor dos verdadeiros adoradores do Pai. Ali deveriam estar somente os que prestassem o
autêntico culto religioso devido ao Criador. Jesus expulsa então todos os
vendedores e demais profanadores da Casa do Pai celeste. Manda-os não para trevas
exteriores, mas para fora do recinto bendito para que reconhecessem seu gravíssimo erro e pudessem regressar
depois como adoradores em espírito de verdade do Deus de Israel, sem serem
escravos de um comércio indigno no lugar destinado ao louvor divino. Estava
claro no livro do Êxodo: “Não terás outro Deus que não eu” (Ex 20,1). Apesar da
justa e clara lição dada por Cristo aquele Templo de Deus não foi preservado,
pois Israel e Roma precipitaram sua ruina. Com efeito, o descaso de um lado e a violência
de outro concorreram para esta ruína, não restando senão a esplanada. Não mais
oferendas e sacrifícios ou um Sumo Sacerdote para pronunciar no Santo dos
Santos o Nome inefável do Eterno Senhor. Entretanto, através do Sacrifício do
Calvário, oferecido pelo Salvador, ficou evidente que o poder de Deus restaria
mais forte que todas as idolatrias e que todos os insultos ao Deus verdadeiro.
Jesus mesmo profetizou que os judeus poderiam destruir aquele Templo, mas, em
três dias, Ele o reergueria (Jo 2,19). Esta predição atravessaria os séculos e
deve ressoar fundo dentro do coração dos seus verdadeiros seguidores. Estes
devem, portanto, refletir profundamente no que significa o Templo de Deus nesta
terra, Trata-se, de fato, do lugar sagrado para se prestar de modo especial
toda honra e glória ao Ser Supremo Por toda parte se ergueriam templos
majestosos, ricos em ouro e prata, ornados pelos artistas mais renomados,
edifícios nos quais brilhariam os esplendores das mais variadas artes, tudo
isto para a glorificação de Deus, mas não seria este esplendor externo o
essencial. De fato, a sincera consagração interior que o coração de milhares de
fiéis ostentariam numa espiritualidade pura seria sempre o essencial.
Eis aí o valor imenso do Templo no Novo Testamento, no qual se oferece a
renovação incruenta do Sacrifício do Gólgota e do qual se pode verdadeiramente
dizer que é oferecido na Casa Sagrada de Deus entre os homens, seja ela pequenina
como as mais humildade Capelas ou os mais suntuosas Catedrais e Basílicas.
Nelas se encontrariam sempre a salvação do corpo e da alma. É que a presença de
Deus não está, de fato, encerrada entre quatro paredes, mas o Templo edificado
com materiais terrenos passou verdadeiramente a abrigar corações nos quais este
Deus habita, fiéis que se reúnem para comunitariamente louvá-lo ou
individualmente, longe do bulício do mundo, para estar silenciosamente com Ele
em fervorosas tertúlias, preces que vivificam o mundo. Além disto, cumpre sempre
lembrar que Jesus que esteve neste mundo é o Emanuel, o Deus conosco, o novo
Templo que surgiu nesta terra e em quem residiu a vida mesma de Deus. Como mostrou São Paulo aos Colossenses, nele
habitou com a humanidade a plenitude da divindade e nele temos plenamente o
chefe de todo principado e de toda potestade (Col 2, 9). São João proclamou solenemente “O Verbo de
Deus se fez carne e habitou entre nós e nós vimos sua gloria. Ora, de sua
plenitude todos nós recebemos” (Jo 1, 14. 16). O Templo de Jerusalém, profanado
pelos vendilhões, foi posteriormente destruído. Jesus, Templo vivo de Deus, foi
morto e sepultado, mas as forças do mal não prevaleceram e não prevalecerão nunca.
Cumpre, porém, a todos que creem e sabem valorizar a Casa de Deus usufruir de todas as graças que ai se obtêm.
Além de tudo isto, é imprescindível nunca se esquecer de que pelo batismo o cristão
se torna também ele o templo vivo da Santíssima Trindade. Séria portanto a
advertência de São Paulo: “Não sabeis que sois o templo de Deus e que Espírito
de Deus habita em vós? Ora se alguém maltrata o templo de Deus, Deus também
maltratá-lo-á Porque sagrado é o templo de Deus e tal templo sois vós” (1 Cor 3,16). É preciso
viver initerruptamente na presença deste Deus que mora na alma de quem está em
estado de graça. Donde a advertência de São Pedro que se deponha toda malícia e
todo engano, os fingimentos, as invejas e todas as maledicências,
aproximando-nos de Jesus, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas eleita e
estimada perante Deus (2 Pd 2,1-9). * Professor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.