O
BATISMO DE JESUS NO JORDÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
O
batismo de Jesus no Rio Jordão se deu num momento religioso marcante. Com
efeito, a pregação de São João Batista havia produzido numerosas conversões.
Inúmeros os que haviam decidido mudar de vida, abominando seus erros.
Procuravam o batismo no rio Jordão em cujas águas viam o sinal desta renovação interior.
Embora, Cordeiro Imaculado, sem a mínima mancha de pecado, Jesus valorizou o
que então aí se dava e foi também ser batizado pelo seu Precursor (Mc 1,7-11).
Com este ato de humildade deu início a sua vida pública, unindo-se àqueles que Ele
viera salvar. Momento significativo, solene, no qual a divindade do Redentor
foi proclamada pelo Pai: “Tu és o meu Filho amado no qual eu me comprazo”. O
mistério de Jesus, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, começava a se revelar.
Ele o mestre divino a mostrar o valor da renovação interior, numa união com os
irmãos e irmãs pecadores, sob a complacência do Pai que está nos céus. Jesus a
mostrar a seus seguidores o caminho de uma fé profunda e de uma humildade
absoluta, condições para se obter a plena salvação que Ele, o Filho de Deus,
viera trazer do céu à terra. Portanto, importantíssima esta passagem do
Evangelho de São Marcos, registrando o Batismo de Jesus. Esta cena recorda a
todos os cristãos o dia de seu batizado quando foi remido do pecado original,
vindo nele habitar a Trindade três vezes santa. Deus presente, fonte viva na
qual se imerge mais ainda este eleito do Todo- poderoso Senhor. Assim sendo, o
batismo de Jesus foi um mistério de amor, lembrando o grande afeto de Deus para
com o homem pecador. Jesus, misturando-se a uma multidão de prevaricadores, foi
uma demonstração extraordinária da condescendência divina, como que um escândalo
proporcionado pela benevolência de um Deus cheio de ternura para com os seres racionais,
abaixando-se até sua pequenez. Assim o gesto de Jesus ao se fazer batizar pelo
Batista lá no Jordão continha em si o sentido da vida, da missão, da pregação futura
do Redentor até sua crucifixão no alto de uma Cruz. Através dos Evangelhos
contemplamos Jesus sempre entre os marginalizados, levando-lhes a dileção do
Pai celeste, a ponto de se fazer qualificar de “glutão e beberão” amigo dos publicanos
e dos pecadores” (Mt 11,19). Aliás, este mesmo Jesus, batizado no Jordão entre pecadores,
lá no Calvário estaria crucificado entre dois malfeitores. No Jordão, se ouviu
a voz do Pai e, ao morrer Jesus mais tarde no Gólgota o véu do templo se rasgaria
de alto a baixo, sendo estes dois fatos bem significativos, ou seja, aquele que
morreria na Cruz era o mesmo que no seu batismo fora proclamado o bem-amado do
Pai. Assim sendo, o batismo de Jesus deve nos encher de plena confiança na
misericórdia deste Deus compassivo que esteve entre os pecadores nas águas
purificadoras do Jordão. Confiança bem inspirada também pelo que se lê no
profeta Isaias onde Deus afirma que aqueles que nada têm venham a ele e
viverão. Todas estas reflexões deixam bem
claro o motivo pelo qual Jesus quis ser batizado. Um sentido profundo da nova
criação do mundo e do homem. Uma nova
gênese, um renascimento. Os céus fechados pelo pecado se abrem e se escuta a
voz do Pai. Ali se acham o novo Adão e o universo renovado, santificado, que emerge
com Cristo das águas do Jordão. O homem que seria regenerado pelas águas do
sacramento do batismo se tornaria filho de Deus, pois Jesus era o Filho
bem-amado do Pai. Belíssimas mensagens que fluem da comemoração do batismo de Jesus. Elas nos
levam a valorizar ao máximo as fontes vivas de nosso próprio batismo para aí
encontrar as forças novas de uma vigorosa espiritualidade. Degustemos então as
palavras de São Clemente de Alexandria: “Toda nossa vida é uma primavera porque
nós temos em nós a Verdade que não envelhece e esta Verdade irriga toda a nossa
existência. Não nos esqueçamos
finalmente que as águas do Jordão nas quais deparamos a proclamação da
divindade do Redentor nos lembram que lá no Calvário do lado aberto do Salvador
jorraram sangue e água, que continuam a
jorrar cada dia na Igreja, porque foram a figura da água do batismo de todos os
cristãos. Como outrora no Jordão a voz do Pai continua a testemunhar através
dos tempos que este Jesus é seu Filho bem-amado. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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