A ASSUNÇÃO DE MARIA E A NOSSA
RESSURREIÇÃO FUTURA
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
A Assunção de Maria ao céu prefigura a
nossa ressurreição futura. Duas verdades de fé. Com efeito, o Papa Pio XII há
70 anos, no dia primeiro de novembro de 1950, declarou e definiu o dogma da
Assunção em corpo e alma da Virgem Mãe de Deus à gloria celestial. Como se
recita no Credo, nós cremos na ressurreição da carne e na vida eterna. Assim como
a Mãe de Jesus, nós somos destinados ao mesmo itinerário de glória, não obstante
as vississitudes da trajetória terrena. Isto do mesmo modo como ocorreu com a
Virgem Maria. Valeu também para ela o célebre brocardo per crucem
ad lucem, frase com a qual São Bruno resumiu a vida dos monges
cartuchos, mas que vale para todo o cristão, pois é a partir dos sofrimentos
aceitos por amor a Deus é que se chega à luz duradoura do céu. A felicidade
perene passa sempre pela cruz dos aborrecimentos e Jesus deixou claro: “Quem
quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. Bem
sabemos quão terríveis foram os padecimentos de sua Mãe Santíssima. A mesma
Virgem, Senhora das Dores, é aquela que hoje contemplamos “vestida de sol,
tendo a lua debaixo dos seus pés e sobre a sua cabeça uma coroa de doze
estrelas”, como lemos no Apocalipse (Ap 12,1). Não há limites nas obras de
Deus. Assim sendo, esta solenidade da Assunção de Maria aos céus é um convite
para que cada um se engaje resolutamente no caminho da transfiguração de seu
ser, condição para a ressurreição gloriosa no último dia. Dar, a exemplo de
Maria, um sim sem condições à vontade divina, uma livre resposta à fé que leva
o cristão a acatar em tudo os desígnios de Deus. Hoje pedimos à Virgem Maria
que interceda por nós para sermos constantes nesta terra e podermos um dia
estar com ela lá no céu. Isto após vencermos as forças do mal sob a paz e a luz
resplandecentes de Deus. São João Paulo II na encíclica Redemptoris
Mater – Mãe do Redentor - assim se expressou: "Como é grande,
como é heroica a obediência da fé da qual Maria deu prova face aos decretos
insondáveis de Deus! Por uma tal fé, Maria se uniu perfeitamente a Cristo no
seu despojamento”. É imitando esta fé extraordinária da Virgem, a qual foi
elevada aos céus, que cada um de seus filhos deve comemorar esta solenidade de
sua entrada na glória sem fim. Deste modo, ela estará sempre próxima das
alegrias e das dores de seus filhos peregrinos rumo à felicidade sem fim. Foi a
fidelidade radical de Maria que a levou a ser coroada na plenitude da gloria da
Trindade Santa. Eis porque Ela é a honra da Igreja, a alegria da humanidade
transformada pela graça. Sua Imaculada Conceição a preservou das sequelas do
pecado original, assim como sua Assunção a resguardou da degradação do túmulo.
Dois privilégios concedidos por Deus dado que ela, ao conceber do Espírito
Santo, o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós. Por ocasião de sua
visita a Santa Isabel, no seu hino o Magnificat, mostrou
sua decisão de servir a Deus com um coração ajustado à vontade divina. Deixou assim
uma maneira de proceder para estar para sempre gozando deste Ser infinitamente
amável. Trata-se de servir a Deus humildemente nas tarefas cotidianas; de
louvar a Deus por todos os seus benefícios, contemplando-O nas maravilhas de
cada hora. O Concílio Vaticano II nos diz que na sua assunção e sua
glorificação Maria é a imagem e o começo do que será a Igreja em sua forma
acabada no retorno de Cristo. Agindo como Maria, o cristão terá um lugar lá no
Céu na medida em que soube proclamar os louvores a Deus neste mundo, colocando
em tudo em prática o Evangelho. A luta é de cada hora, pugna contra o diabo e
seus sequazes, mas Maria, nos ensina ainda o Concílio Vaticano II, Ela, de
fato, brilha diante do povo em marcha como um sinal de esperança certa e de
consolação (LG 68). Alegremo-nos, portanto, porque a Mãe de Jesus e nossa mãe
espiritual nos aguarda lá no céu. Matriculemo-nos, pois, na escola de Maria,
atentos a suas inspirações e, assim, ela nos acolherá um dia, após o juízo
universal, também de corpo e alma na casa preparada desde toda a eternidade
para os que souberam amar e servir a Deus nesta terra. Trata-se então de viver
na fé, na esperança e no amor a Deus e ao próximo, numa prece contínua e em
ininterrupta ação de graças* Professor no Seminário
de Mariana durante 40 nos.
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