terça-feira, 4 de agosto de 2020

01 JESUS E PEDRO ANDANDO SOBRE AS ÁGUAS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A cena envolvendo Jesus e Pedro caminhando sobre as águas oferece lições preciosas (Mt 14,22-33). Na Bíblia o mar com suas ondas revoltas se apresenta como um domínio de imprevistos e de momentos de angústias. Torna-se assim um campo de instabilidade, de pavor e de morte. Sob este aspecto aí estava o símbolo das forças do mal. A imaginação humana criou então os monstros marinhos, forte representação do pânico e do terror que se apossava daqueles que se aventuravam longe da segurança do litoral. Compreende-se então a perturbação dos apóstolos ao verem o Mestre divino caminhando sobre o mar. Pensaram até que era um fantasmão e gritaram de pavor. Jesus, porém, daria uma demonstração de que era o senhor das forças da natureza. Ele convida Pedro a vir até Ele, participando deste seu sucesso. Impulsivo como era, Pedro também se pôs a andar sobre as ondas, mas faltou-lhe fé e se pôs a afundar. Apela a Jesus para salvá-lo e recebe depois a reprimenda “Homem de fé diminuta, porque duvidaste?”. Duplo ensinamento, ou seja, Jesus é continuamente vitorioso, mas para segui-lo é preciso confiança total nele que afiança a seus seguidores o triunfo por entre as dificuldades de cada hora. Ele garante a quem nele acredita salvação em todas as circunstâncias. Ele jamais falha em suas promessas de salvação do corpo e da alma. Por mais que a barca de sua Igreja seja agitada por ventos contrários ressoará de contínuo suas palavras dirigidas a seus discípulos: ”Coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33), O cristão sabe que deverá um dia enfrentar a morte, mas que na outra margem da vida Ele o espera, pois, tendo morrido no Calvário, venceu a morte, ressuscitando imortal e impassível. Com Ele o cristão pode subjugar as águas turbulentas da vida, inclusive, na hora de deixar este mundo. É preciso, contudo, não duvidar como São Pedro, mas caminhar sobre as águas agitadas com a graça divina e a força do Espírito Santo. Quem tem  Deus na barca de sua existência não temerá mal algum e não se deixará dominar pelo medo. Reina no coração do verdadeiro discípulo de Cristo a tranquilidade, pois sabe que com Jesus a vitória é certa. Nunca se mentaliza demais as palavras de São Paulo: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” (2 Cor 4,8-9), Donde a conclusão do Apóstolo: “A vida de Jesus se manifesta em nosso corpo”. Esta verdade deve impregnar inteiramente a existência de seu seguidor que poderá então fazer com os apóstolos o ato de fé ante o divino Salvador “És verdadeiramente o Filho de Deus”. Eis porque em todas as dificuldades da vida é preciso implorar o socorro de Jesus a exemplo de São Pedro: “Senhor, salva-me”. Como ocorreu com este Apóstolo, Cristo virá amparar quem O invoca com confiança, pois sua misericórdia é sem limites. É preciso, contudo, fazer dele o centro da vida de cada um, descobrindo existencialmente o valor imenso de seu poder. É Ele que dá sentido à vida do cristão. Cumpre deixar que Ele seja o senhor da existência de seu seguidor. È deixar seu amor ultrapassar todas as angústias, todas as dificuldades. Dele provem a força que permite o cristão poder usufruir os dons com os quais Ele cumula aqueles que lhe são fieis. Ele deseja que cada um caminhe sem desfalecimentos. Aí está a garantia do sucesso na vida espiritual até a chegada à eternidade feliz junto dele. Aspirar a um mar da vida tranquilo sem as dificuldades próprias de um exílio será uma ingenuidade infantil. Jesus, contudo, asseverou: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Isto significa que com Ele tudo se pode realizar  como aconteceu com os apóstolos no mar agitado, mas que se acalmou tão logo Jesus entrou na barca. Bastou uma palavra dele e reinou o bom tempo. Este elã, esta dinâmica, esta certeza dotam o cristão de uma capacidade salutar para enfrentar qualquer tipo de calamidade. Esta fé é magnífica. Ela mostra que ninguém neste mundo tem a faculdade de livrar o ser humano de suas desgraças. Deus permite provas que comprovam o grau da confiança nele, Quando Pedro ia se afundando só lhe restou este apelo: “Senhor, salva-me”. Jesus estendendo a mão o segurou, o salvou. Crer é dirigir a Jesus a súplica confiante que resolve todos os problemas.  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 


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