01 JESUS E PEDRO
ANDANDO SOBRE AS ÁGUAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A cena
envolvendo Jesus e Pedro caminhando sobre as águas oferece lições preciosas (Mt
14,22-33). Na Bíblia o mar com suas ondas revoltas se apresenta como um domínio
de imprevistos e de momentos de angústias. Torna-se assim um campo de
instabilidade, de pavor e de morte. Sob este aspecto aí estava o símbolo das
forças do mal. A imaginação humana criou então os monstros marinhos, forte representação
do pânico e do terror que se apossava daqueles que se aventuravam longe da
segurança do litoral. Compreende-se então a perturbação dos apóstolos ao verem
o Mestre divino caminhando sobre o mar. Pensaram até que era um fantasmão e
gritaram de pavor. Jesus, porém, daria uma demonstração de que era o senhor das
forças da natureza. Ele convida Pedro a vir até Ele, participando deste seu
sucesso. Impulsivo como era, Pedro também se pôs a andar sobre as ondas, mas
faltou-lhe fé e se pôs a afundar. Apela a Jesus para salvá-lo e recebe depois a
reprimenda “Homem de fé diminuta, porque duvidaste?”. Duplo ensinamento, ou
seja, Jesus é continuamente vitorioso, mas para segui-lo é preciso confiança
total nele que afiança a seus seguidores o triunfo por entre as dificuldades de
cada hora. Ele garante a quem nele acredita salvação em todas as
circunstâncias. Ele jamais falha em suas promessas de salvação do corpo e da
alma. Por mais que a barca de sua Igreja seja agitada por ventos contrários
ressoará de contínuo suas palavras dirigidas a seus discípulos: ”Coragem, eu
venci o mundo” (Jo 16,33), O cristão sabe que deverá um dia enfrentar a morte,
mas que na outra margem da vida Ele o espera, pois, tendo morrido no Calvário,
venceu a morte, ressuscitando imortal e impassível. Com Ele o cristão
pode subjugar as águas turbulentas da vida, inclusive, na hora de deixar este
mundo. É preciso, contudo, não duvidar como São Pedro, mas caminhar sobre as
águas agitadas com a graça divina e a força do Espírito Santo. Quem tem Deus na barca de sua existência não temerá
mal algum e não se deixará dominar pelo medo. Reina no coração do verdadeiro
discípulo de Cristo a tranquilidade, pois sabe que com Jesus a vitória é certa.
Nunca se mentaliza demais as palavras de São Paulo: “Em tudo somos atribulados,
mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não
desamparados; abatidos, mas não destruídos” (2 Cor 4,8-9), Donde a conclusão do
Apóstolo: “A vida de Jesus se manifesta em nosso corpo”. Esta verdade deve
impregnar inteiramente a existência de seu seguidor que poderá então fazer com
os apóstolos o ato de fé ante o divino Salvador “És verdadeiramente o Filho de
Deus”. Eis porque em todas as dificuldades da vida é preciso implorar o socorro
de Jesus a exemplo de São Pedro: “Senhor, salva-me”. Como ocorreu com este
Apóstolo, Cristo virá amparar quem O invoca com confiança, pois sua
misericórdia é sem limites. É preciso, contudo, fazer dele o centro da vida de
cada um, descobrindo existencialmente o valor imenso de seu poder. É Ele que dá
sentido à vida do cristão. Cumpre deixar que Ele seja o senhor da existência de
seu seguidor. È deixar seu amor ultrapassar todas as angústias, todas as
dificuldades. Dele provem a força que permite o cristão poder usufruir os dons
com os quais Ele cumula aqueles que lhe são fieis. Ele deseja que cada um
caminhe sem desfalecimentos. Aí está a garantia do sucesso na vida espiritual
até a chegada à eternidade feliz junto dele. Aspirar a um mar da vida tranquilo
sem as dificuldades próprias de um exílio será uma ingenuidade infantil. Jesus,
contudo, asseverou: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Isto significa que
com Ele tudo se pode realizar como aconteceu
com os apóstolos no mar agitado, mas que se acalmou tão logo Jesus entrou na
barca. Bastou uma palavra dele e reinou o bom tempo. Este elã, esta dinâmica,
esta certeza dotam o cristão de uma capacidade salutar para enfrentar qualquer
tipo de calamidade. Esta fé é magnífica. Ela mostra que ninguém neste mundo tem
a faculdade de livrar o ser humano de suas desgraças. Deus permite provas que
comprovam o grau da confiança nele, Quando Pedro ia se afundando só lhe restou
este apelo: “Senhor, salva-me”. Jesus estendendo a mão o segurou, o salvou. Crer
é dirigir a Jesus a súplica confiante que resolve todos os problemas. * Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos.
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