segunda-feira, 30 de outubro de 2017

LOUVORES A TODOS OS SANTOS

LOUVORES A TODOS OS SANTOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na solenidade dedicada a todos os santos elevam-se os pensamentos até à pátria celeste para festejar a multidão dos batizados de todas as raças, de todas as línguas e de todas as nações, os quais já gozam da visão beatífica. Apenas Deus a todos eles conhece. Louvores, portanto, não apenas àqueles que foram canonizados, muitos merecedores de especial devoção dos fiéis, mas também tantos parentes e amigos que viveram intensamente as bem-aventuranças (Mt 5, 1-12). Por sua fidelidade ao Evangelho e à Igreja foram nesta terra testemunhas de Cristo. Pelos seus exemplos despertaram onde estiveram a vontade da santidade, porque estiveram sempre em união com Deus no qual se encontra a plenitude da santificação humana, Ele a fonte de toda perfeição. Honrando todos os santos é deste modo, a Deus que se está prestando louvor. Além disto, ao se considerar a glória dos bem-aventurados pulsa nos corações dos que ainda caminham para a Jerusalém do alto o desejo de estar lá um dia na companhia dos que souberam optar pelo Reino de Deus. Com efeito, se homens e mulheres mortais, apesar de todas as dificuldades e sofrimentos, souberam conquistar o prêmio eterno, também os que ainda militam neste mundo não podem nem devem perder tal recompensa reservada aos conquistadores de um lugar na Casa do Pai. Se eles puderam, nós também conseguiremos um dia estar na companhia deles para glorificar o Senhor por toda a eternidade. Os santos se fizeram exemplos a serem seguidos e os devemos imitar, desprezando bens terrenos e almejando as beatitudes que realmente elevam e dignificam os seguidores de Cristo. Os santos no céu se regozijam pelos que se esforçam por viver santamente. Estes precisam levar outros a não perderem a felicidade eterna. Jesus foi claro: “Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão” (Lc 15,7). Entretanto, todos os fiéis têm condições espirituais para serem santos e obedecer às ordens de Deus: “Sede santos, porque eu sou santo”, com está no Livro do Levítico (Le 1, 44-45), O termômetro e a essência desta santidade é o próprio Deus. Cristo foi também taxativo: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 5,48). Nas bem-aventuranças desceu a detalhes sobre quem são aqueles que trilham este caminho que leva à verdadeira felicidade.  Bem-aventurados quanto à esperança que não permite haja desânimo na trajetória até a pátria definitiva. Felizes na virtude e na imperturbabilidade já degustadas nesta terra e que terá sua consumação na outra margem da vida. O escritor romano Cícero afirmou que ser feliz é, sem padecer mal algum, possuir o conjunto de todos os bens. Contudo o mundo e os filósofos e escritores pagãos colocaram a felicidade na opulência e não na pobreza, nos prazeres terrenos e não na pureza da consciência, no orgulho e não na mansidão. Falavam naqueles que choram pela perda de riquezas passageiras e não deplorando a perda dos bens espirituais, lágrimas santas que se opõem aos que riem e se alegram com prosperidades mundanas, Não souberam penetrar o sentido da misericórdia que vai ao encontro dos que sofrem. Não entenderam que a paz verdadeira flui da união da alma com Deus e se estende ao próximo e a toda sociedade, na concórdia total com os inimigos. Exaltavam os que tinham fome e sede da justiça humana e não poderiam compreende que ter fome e sede de justiça é misticamente ter fome e sede de Deus a quem se deve unir-se com todo amor. Não admitiam a paciência e, assim não podiam entender porque Jesus afirmou serem felizes os que padecem perseguição. Esta vem dos inimigos da verdade e dos naturais padecimentos do exílio terreno. Eis porque foi dito que obrar coisas difíceis era próprio dos romanos, mas padecer coisas árduas será sempre distintivo do verdadeiro cristão. Os santos que hoje são festejados viveram em plenitude as oito bem-aventuranças e foram sempre exemplo para todos que estavam em seu derredor. Agora juntos de Deus são nossos intercessores, pois mediante seus sufrágios chegam a nós os benefícios de Deus. A alguns foi dado patrocinar causas especiais e a eles mais assiduamente se elevam as preces. Todos, porém, que se acham no céu protegem nesta terra seus parentes e amigos que os invocam com confiança e persistência. A providência divina mostra sua sabedoria ao constituir os santos como nossos protetores. Como, porém, estão eles no céu mais unidos à vontade santíssima de Deus, os santos corrigem nossas preces, conformando-as aos desígnios divinos, dado que nem sempre rogamos o que realmente é o melhor para nós. Por tudo isto a devoção aos santos e as homenagens a eles dirigidas animam a não perder jamais o rumo do céu. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O MAIOR MANDAMENTO

O MAIOR MANDAMENTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus, após vencer os saduceus que haviam proposto uma questão sobre a ressurreição (Mt 22, 23-33), foi  abordado pelos fariseus e um deles, capciosamente, indagou: “Mestre, qual é o maior mensamente da lei” (Mt,22 34-40). Entre os judeus esse assunto era de suma relevância, dada a multiplicidade dos preceitos da lei. Contavam-se no Torá ou Lei de Moisés seiscentos e treze numa complexidade que levava a mesclar normas principais com outras suplementares. Não havia desse modo no judaísmo uma visão objetiva sobre o princípio fundamental de toda a Lei. Tratava-se de elucidar o cerne mesmo da exigência moral e a razão última de sua motivação. No fundo era preciso estabelecer qual era o essencial de tudo que Deus havia preceituado. Conforme a resposta de Cristo, seus inimigos poderiam depois checar sua conduta, a veracidade de sua doutrina. Para evitar debates inúteis Jesus foi direto à elucidação da pergunta: “Ama o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento”. Era o que constava no Deuteronômio, texto recitado duas vezes por dia pelos bons israelitas (Deut 6,4-5). Cristo, porém, sabiamente, une a este preceito o mandamento do amor ao próximo, inseparável do amor de Deus e que estava proclamado no Livro do Levítico (Lev 19,18). Com sua sabedoria de Mestre Ele ligava deste modo o amor ao semelhante e o amor de Deus, estabelecendo uma lógica hierarquia, pois o amor de Deus estava em primeiro lugar, estando o amor ao próximo em segundo lugar como norma semelhante à primeira. Ficava evidente que o inverso não era verídico. Havia, deste modo, uma relação profunda entre os dois mandamentos, certa equivalência, porque o amor devido ao Ser Supremo, infinitamente bom e misericordioso, devia ser estendido através da bondade e da clemência a todo o semelhante. São João dirá na sua primeira carta: “Em verdade, quem não ama o seu irmão, que vê, não pode amar a Deus que não vê e este mandamento recebemo-lo dele: quem ama a Deus ame também o seu irmão” (1 Jo 4). Os dois mandamentos são semelhantes, a saber, amar a Deus, o Criador e o Redentor, e amar o próximo, criado à imagem e semelhança de Deus, remido pelo mesmo sangue divino. Não há oposição entre estes dois preceitos que são integrantes. Acontece, porém, que na teoria logo são admitidas estas verdades, mas na prática é necessário sempre um autoexame para se verificar se não ocorre o desprezo de um deles. É que o verdadeiro seguidor de Cristo se abre a uma prática que visa as duas realidades, ou seja, um amor do próximo que seja prolongamento da intimidade pessoal com o Deus Altíssimo. O amor a este Deus estendido no encontro fraternal com os outros. Jesus condensou de uma maneira peremptória toda fé de Israel e de todos os seus discípulos conjugando o amor de Deus com o amor do irmão. Enunciou um princípio espiritual de ação, uma atitude que devia ajudar cada um a caminhar no sentido da verdadeira vida humana em toda e qualquer situação. Jesus mostrou que um amor a Deus que não se expande no amor sincero aos outros não atinge sua verdadeira dimensão. Por entre as tarefas importantes da existência de cada um, demandando atenção, tempo e energia, muitos ficam sem saber o que é realmente prioritário. Jesus oferece um critério supremo: É preciso sempre realizar aquilo que convém para provar amor a Deus e ao semelhante., não aquilo que a pessoa julga boa para si mesma de uma maneira egoística. Jesus deixou uma fórmula simples para discernir o que é verdadeiramente importante entre tantos valores que se apresentam ao ser humano, isto é, o duplo amor que necessita impregnar todas as obras. O ícone deste programa de vida é a cruz. Nela Ele deu a prova suprema do amor de Deus para com a criatura humana que O deve amar na mesma proporção. Ele foi também claro ao dizer: “Este é o meu mandamento que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que o daquele que dá a vida pelos amigos. Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos ordenei” (Jo 15,13-14). A Cruz indica tudo isto, a saber, a travessa vertical apontando. para o Alto, para o amor a Deus e a travessa horizontal, indicando o abraço fraternal envolvendo todos os irmãos num amor sem limites. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


sábado, 21 de outubro de 2017

DAR A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR

DAR A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR, A DEUS O QUE É DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A resposta que Jesus deu aos fariseus e herodianos é uma das sentenças mais conhecidas dos cristãos: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é Deus” (Mt 22,15-21). Este ensinamento impregnou o pensamento dos cristãos, tornando-se até popular. É preciso, contudo, penetrar fundo nesta lição do Mestre divino. Seu objetivo não foi simplesmente colocar um divisor entre o temporal e o espiritual. Não foi também seu objetivo justificar os que erroneamente querem colocar as práticas religiosas apenas na esfera privada, pessoal. O que Jesus disse deve ser interpretado num contexto bíblico mais amplo para se pinçar e compreender o seu significado profundo. Levantaram uma questão para tentar colocar Jesus numa situação embaraçosa, mas a eles não interessava a verdade e foram, por isto mesmo, chamados por Cristo de hipócritas. Pagar o imposto romano já era em si reconhecer, de certo modo, a legitimidade de uma ocupação invasora e para a fé judaica a única aplicável em Israel devia ser a lei de Deus. Assim sendo, se Jesus lhes respondesse que era preciso pagar o imposto a César Ele se fazia colaborador dos romanos. Se Ele respondesse que não era preciso pagar o importo, os fariseus poderiam denunciá-lo por rebelião contra as autoridades que dominavam o país. Jesus estaria inclusive impulsionando os judeus à revolta. Aliás, mais tarde diante de Pilatos para complicar Cristo no julgamento haveriam de dizer que Jesus era inimigo do Imperador. Deste modo, ao interrogar Jesus pensaram em colocá-lo numa cilada sem saída. Com sua sabedoria Cristo lhes manda que mostrem uma peça do dinheiro romano, sinal por excelência do poder político do dominador. Portanto, ao pagar o imposto os judeus aceitavam o jogo econômico de Roma. Isto era uma visível incoerência, mas não tinham como escapar do domínio ao qual estavam submetidos. Eis porque Jesus lhes disse “Dai a César o que é de César”. Entretanto, o Mestre divino foi mais longe ao acrescentar “Dai a Deus o que é de Deus”. Ele focalizava uma dimensão espiritual e lançava uma lição.  Ele perguntou de quem era a imagem que estava na moeda. Era de César, assim dê a ele o que lhe pertence. Ao se referir, porém, naquele momento também a Deus, Cristo lembrava outra imagem. Esta se achava  no livro do Gênesis: “Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus, e criou-os homem e mulher” (Gên 1,27). Jesus sabiamente levou seus interlocutores a outra realidade, mas importante do que o dinheiro de César, qual seja a vivência da imagem de Deus na vida de cada um, a submissão total ao Criador. Era um ensinamento universal. O homem, é certo, tem que se adaptar aos fatos materiais e políticos para poder viver em sociedade. Entretanto, não pode o ser racional descurar as exigências de sua vida espiritual. Precisa dar a Deus o que é de Deus cuja autoridade é bem mais doce e suportável do que a dos homens. O próprio Jesus afirmou: “O meu jugo é suave, o meu fardo é leve” (Mt 11,30). Muitas vezes se esquece facilmente da presença discreta e amável de Deus que habita nos corações dos que O amam e respeitam, Dar a Deus o que é de Deus é estar sempre intimamente unido a Ele a quem se deve total submissão na vida cotidiana. Criados à imagem e semelhança de Deus o homem e a mulher devem ser uma oferenda contínua a Ele pelas preces e pelo empenho na evangelização. Os fariseus e herodianos traziam à baila a questão material do imposto a ser pago ao Imperador, mas  Jesus lhes lembra algo muito mais importante que é o aspecto espiritual que engrandece a criatura perante seu Criador. Como cidadãos temos que cumprir os nossos deveres para com o Estado.  Como criaturas devemos estar sempre cônscios de nossas obrigações para com Deus. Ao poder civil a cada instante cada um paga taxas altíssimas, dinheiro quase sempre mal empregado por muitos políticos. Deus, porém, não procura nada a não ser uma amizade real e sincera com Ele através de orações fervorosas. Além dito, quando o cristão se coloca ao serviço do próximo na família ou na sua comunidade é a Deus que ele está servindo,  a Ele que a cada um, continuamente, cumula com tantas graças e benefícios. Cumpre assim uma imersão total no mistério de Deus. O dinamismo cultural da fé cristã leva discípulo de Jesus a lidar com as coisas materiais, priorizando, porém, as realidades espirituais.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.                           

Céu, inferno e purgatório

CÉU, INFERNO E PURGATÓRIO.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Este tema faz parte  dos NOVÍSSIMOS DO HOMEM: Morte, Juízo, Inferno e Paraíso.
Após o Juízo a alma vai para o céu, para o inferno ou para o purgatório, que é onde se expiam os pecados não reparados neste mundo.
  Livro do Eclesiástico contém um conselho fundamental : “Em todas as tuas obras, lembra-te dos teus novíssimos, e jamais pecarás (Ecl. 7, 40).
MORTE
“Considerai que sois pó, e que em pó vos haveis de tornar” (Gên 3,19).
“Por isso, vigiai, porquanto não sabeis em que dia virá o vosso Senhor” (.Mateus 24:42-44)
Ensina o Catecismo da Igreja Católica (CIC):
§1006 "É diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto." Em certo sentido, a morte corporal é natural; mas para a fé ela é na realidade "salário do pecado" (Rm 6,23). E, para os que morrem na graça de Cristo, é uma participação na morte do Senhor, a fim de poder participar também de sua Ressurreição.
§1007 A morte é o termo da vida terrestre. Nossas vidas são medidas pelo tempo, ao longo do qual passamos por mudanças, envelhecemos e, como acontece com todos os seres vivos da terra, a morte aparece como o fim normal da vida. Este aspecto da morte marca nossas vidas com um caráter de urgência: a lembrança de nossa mortalidade serve também para recordar-nos de que temos um tempo limitado para realizar nossa vida:
Lembra-te de teu Criador nos dias de tua mocidade (...) antes que o pó volte à terra donde veio, e o sopro volte a Deus, que o concedeu (Ecl 12,1.7).
§1008 A morte é consequência do pecado. Intérprete autêntico das afirmações da Sagrada Escritura e da tradição, o magistério da Igreja ensina que a morte entrou no mundo por causa do pecado do homem. Embora o homem tivesse uma natureza mortal, Deus o destinava a não morrer. A morte foi, portanto, contrária aos desígnios de Deus criador e entrou no mundo como consequência do pecado. "A morte corporal, à qual o homem teria sido subtraído se não tivesse pecado", é assim "o último inimigo" do homem a ser vencido (1 Cor 15,26).
§1009 A morte é transformada por Cristo. Jesus, o Filho de Deus sofreu também Ele a morte, própria da condição humana. Todavia, apesar de seu pavor diante dela, assumiu-a em um ato de submissão total e livre à vontade de seu Pai. A obediência de Jesus transformou a maldição da morte em bênção.
§1010 Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. "Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro" (Fl 1,21). "Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos" (2Tm 1,11). A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo Batismo, o cristão já está sacramentalmente "morto com Cristo", para Viver de uma vida nova; e, se morrermos na graça de Cristo, a morte física consuma este "morrer com Cristo" e completa, assim, nossa incorporação a ele em seu ato redentor:
É bom para mim morrer em  Cristo Jesus, melhor do que reinar até as extremidades da terra. É a Ele que procuro, Ele que morreu por nós: é Ele que quero, Ele que ressus
JUÍZO
O Catecismo da Igreja Católica ensina que «a morte põe termo à vida do homem, enquanto tempo aberto à aceitação ou à rejeição da graça divina, manifestada em Jesus Cristo» «Ao morrer, cada homem recebe na sua alma imortal a retribuição eterna, num juízo particular que põe a sua vida em referência a Cristo, quer através de uma purificação, quer para entrar imediatamente na felicidade do céu, quer para se condenar imediatamente para sempre».
.Haverá então dois livros: o Evangelho e a Consciência. No Evangelho ler-se-á o que o culpado devia fazer; na Consciência, o que tiver feito. Na balança da divina justiça não se pesarão as riquezas, nem a dignidade, nem a nobreza das pessoas, mas sim, somente as obras. “Não é ouro nem o poder do rei que está na balança, mas unicamente as obras boas ou más”
Esta no CIC §1848 Como afirma S. Paulo: "Onde avultou o pecado, a graça superabundou" (Rm 5,20). Mas, para realizar seu trabalho, deve a graça descobrir o pecado, a fim de converter nosso coração e nos conferir "a justiça para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor" (Rm 5,21). Como o médico que examina a ferida antes de curá-la, assim Deus, por sua palavra e por seu Espírito, projeta uma luz viva sobre o pecado.
Após o juízo seguem-se o purgatório, o inferno, ou o céu
PURGATÓRIO
Jesus foi claro: “Há pecados que não são perdoados nem neste nem no outro mundo” ((Mt 12,32)
 Ensina o CIC §1030 Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu.
§1031 A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório sobretudo no Concílio de Florença e de Trento. Fazendo referência a certos textos da Escritura, a tradição da Igreja fala de um fogo purificador:No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade, dizendo, que, se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoada nem presente século nem no século futuro (Mt 12,32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro”.
§1032 Este ensinamento apoia-se também na prática da oração pelos defuntos, da qual já a Sagrada Escritura fala: "Eis por que ele [Judas Macabeu) mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos de seu pecado" (2Mc 12,46). Desde os primeiros tempos a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico, a fim de que, purificados, eles possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos:
Levemos-lhes socorro e celebremos sua memória. Se os filhos de Jó foram purificados pelo sacrifício de seu pai que deveríamos duvidar de que nossas oferendas em favor dos mortos lhes levem alguma consolação? Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer nossas orações por eles.§1472
AS PENAS DO PECADO Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o pecado tem uma dupla consequência. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, consequentemente, nos toma incapazes da vida eterna; esta privação se chama "pena eterna" do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado "purgatório". Esta purificação liberta da chamada "pena temporal" do pecado. Essas duas penas não devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas, antes, como uma consequência da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, de tal modo que não haja mais nenhuma pena.
O INFERNO
 Jesus fala muitas vezes da "Geena", do "fogo que não se apaga", reservado aos que recusam até o fim de sua vida crer e converter-se, e no qual se pode perder ao mesmo tempo a alma e o corpo. Jesus anuncia em termos graves que "enviar seus anjos, e eles erradicarão de seu Reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade, e os lançarão na fornalha ardente" (Mt 13,41-42), e que pronunciar a condenação: "Afastai-vos de mim malditos, para o fogo eterno!" (Mt 25,41).
Doutrina da Igreja sobre o inferno no CIC:
§1036 As afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja acerca do Inferno são um chamado à responsabilidade com a qual o homem deve usar de sua liberdade em vista de seu destino eterno. Constituem também um apelo insistente à conversão: "Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à vida. E poucos são os que o encontram" (Mt 7,13-14): Como desconhecemos o dia e a hora, conforme a advertência do Senhor, vigiemos constantemente para que, terminado o único curso de nossa vida terrestre, possamos entrar com ele para as bodas e mereçamos ser contados entre os benditos, e não sejamos, como servos maus e preguiçosos, obrigados a ir para o fogo eterno, para as trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes.
 Inferno e aversão livre e voluntária de Deus
§1037 Deus não predestina ninguém para o Inferno; para isso é preciso uma aversão voluntária a Deus (um pecado mortal) e persistir nela até o fim. Na Liturgia Eucarística e nas orações cotidianas de seus fiéis, a Igreja implora a misericórdia de Deus, que quer "que ninguém se perca, mas que todos venham a converter-se" (2Pd 3,9): Recebei, ó Pai, com bondade, a oferenda de vossos servos e de toda a vossa família; dai-nos sempre a vossa paz, livrai-nos da condenação e acolhei-nos entre os vossos eleitos. 7
Inferno É consequência da rejeição eterna de Deus  É o pecado mortal  que causa a morte eterna
Ensina o CIC §1861 O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, como o próprio amor. Acarreta a perda da caridade e a privação da graça santificante, isto é, do estado de graça. Se este estado não for recuperado mediante o arrependimento e o perdão de Deus, causa a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no inferno, já que nossa liberdade tem o poder de fazer opções para sempre, sem regresso. No entanto, mesmo podendo julgar que um ato é em si falta grave, devemos confiar o julgamento sobre as pessoas à justiça e à misericórdia de Deus.
A Separação eterna de Deus principal pena do inferno.
CÉU
Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam." (1 Coríntios 2:9)
“E verão o seu rosto, e nas suas frontes estará o seu nome.
E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre”.
(Apocalipse 22,4-5).
Lemos no Catecismo da Igreja Católica: n. 1023 Os que morrem na graça e na amizade de Deus, e que estão totalmente purificados, vivem para sempre com Cristo. São para sempre semelhantes a Deus, porque o vêem "tal como ele é" (1Jo 3,2), face a face (1Cor 13,12).
No céu, todos,  em grau e modo diverso, participamos da mesma caridade de Deus e do próximo e cantamos o mesmo hino de glória a nosso Deus. Pois todos quantos são de Cristo, tendo o seu Espírito, congregam-se em uma só Igreja e nele estão unidos entre si.

Depois de entrar na felicidade de Deus, a alma não terá mais nada a sofrer. No paraíso não há doenças, nem pobreza, nem incômodos. Deixam de existir as vicissitudes dos dias e das noites, do frio e do calor; é um dia perpétuo, sempre sereno, primavera perpétua, sempre deliciosa. Não há perseguições nem ciúmes; neste reino de amor, todos os seus habitantes se amam mútua e ternamente, e cada qual é tão feliz da ventura dos outros como da própria. Não há receios, porque a alma, confirmada na graça, já não pode pecar nem perder a Deus. Tudo é novo, tudo consola, tudo satisfaz.
No céu se terá é a reunião de todos os gozos que se podem desejar.
O bem, que se terá no paraíso, é o Bem supremo, que é Deus
 .
CONCLUSÕES
. Se o mundo anda tão mal, é porque pouco se medita ou mesmo não se cogita seriamente sobre os Novíssimos.
O justo experimenta, ao morrer, um prelibar da alegria celestial
Que consolação não darão então  no dia do juízo as orações, o desprendimento dos bens terrestres e tudo o que se tiver feito de acordo com os Mandamentos na práticas das Virtudes!
 Aquele que oferece a Deus a sua morte pratica para com Ele o ato de amor mais perfeito possível, pois que, abraçando de bom coração esta morte que agrada a Deus, no tempo e do modo que Deus quer, se pratica o que se reza no Pai Nosso: “Seja feita a vossa vontade”.
. O inferno é um lugar de tormentos (Lc 16, 28), como lhe chama o mau rico que a ele foi condenado: lugar de tormentos, onde todos os sentidos e todas as faculdades do condenado devem ter o seu tormento próprio, e quanto mais se tiver ofendido a Deus com algum dos sentidos, tanto mais terá a sofrer este mesmo sentido.
No inferno a vista será atormentada pelas trevas. De quanta compaixão nos possuiríamos se soubéssemos que existia um infeliz encerrado em escuro cárcere por toda a vida, ou por quarenta ou cinquenta anos! O inferno é um abismo fechado de toda a parte, onde nunca penetrará raio de sol
Razão tem Santo Agostinho: "Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar que se dilata e se difunde, interroga a beleza do céu... interroga todas estas realidades. Todas elas te respondem: olha-nos, somos belas. Sua beleza é um hino de louvor. Essas belezas sujeitas à mudança, quem as fez senão o Belo, não sujeito à mudança?"
Nunca se reflete demais no que disse São Paulo: “ A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso.(Filipenses 3:20-21).


* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

OS VINHATEIROS PERVERSOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Na parábola dos vinhateiros perversos Jesus sintetiza a história da Aliança de Deus com a humanidade (Mt 21,33-43). Para sua vinha de predileção, o país de Israel Ele mandou os profetas que não foram bem recebidos e, até, mal tratados. Na plenitude dos tempos numa derradeira manifestação de misericórdia Ele enviou o seu próprio Filho, o verdadeiro herdeiro das promessas feitas a Abraão. Cristo foi rejeitado, crucificado fora da Cidade e seus inimigos o mataram. Entretanto. “a pedra que os construtores rejeitaram se tornou a pedra angular”. O Reino de Deus se estenderia por toda a terra, pois esta pedra angular que é o Messias, desprezado pelos chefes de Israel, uniria e sustentaria os membros do edifício divino através dos tempos. Séculos afora, porém, novos maus vinhateiros surgiriam, falsos profetas, arautos do erro que, deliberadamente por malícia ou por ignorância, combateriam Jesus Cristo e sua obra redentora. Revolta contra sua Igreja e as exigências do Evangelho e repugnância à observância integral e verídica dos mandamentos sagrados. Todos os meios seriam usados para enfraquecer sua doutrina, desqualificando seus seguidores, armando campanhas caluniosas. Tentativas para denegrir os católicos, as legítimas autoridades eclesiásticas, num uso satânico dos meios de comunicação social. Tudo isto num desejo malévolo de marginalizar Jesus e seus fiéis seguidores. Entretanto, a obra salvadora do Filho de Deus não ruiria por terra, pois o Enviado do Pai afirmou que as portas do inferno não prevaleceriam contra sua Igreja. É que há da parte de Deus um permanente desejo de salvar os seres humanos, apesar da atuação das forças malignas desencadeadas por satanás. Este se empenha em desestabilizar a fé no coração dos fiéis seguidores de Jesus, mas a vitória será sempre daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. A obra salvadora de Deus é imbatível, surpreendente, uma maravilha aos olhos dos que têm fé e andam nas veredas da virtude e sabem que a esperança nas promessas divinas não decepciona. Deus, porém, não isenta os justos da luta contra o espírito do mal, mas lhes confere firmeza. Conta assim com os de boa vontade para a construção de um mundo conforme os parâmetros do Evangelho e, através deles, demonstra sempre os sinais de seu poder. É deste modo que os cristãos verdadeiros não desfalecem e dão frutos para o Reino de Deus. O Vinhateiro divino conta, século após séculos, com milhares de autênticos discípulos de Jesus a espalhar por toda parte a mensagem da salvação eterna, ampliando o grande edifício edificado sobre a Pedra Angular, Cristo Redentor, pedra sempre sólida por entre os turbilhões da perversidade desencadeada por aqueles em cujo coração reina o ódio contra Ele. Como bem salientou o notável teólogo Frei Jean-Christian Lévêque  “coragem nos vem para entrar nós mesmos, na construção da casa de Deus”. Para que haja sempre esta fidelidade à Pedra Angular pairam as palavras animadoras de Jesus: ”Procurai o Reino de Deus e tudo mais vos será dado em acréscimo” (Mt 6,33), Deste modo, as ilusões terrenas não impedem aos autênticos cristãos de serem pedras vivas unidas à Pedra Angular e acontecimentos admiráveis ocorrem nesta terra. É porque há milhares de bons vinhateiros, cristãos fervorosos por toda parte que o Reino de Deus se mostra como uma edificação sólida É um lamentável erro o que diz certa música ao afirmar que “hoje, se a vida, é tão ferida, deve-se a culpa, a indiferença dos cristãos (sic).São inúmeros os bons cristãos que existem por toda parte com pensamento elevados sempre para Deus com um coração ardente e uma alma livre, almejando ser um vinhateiro fiel a seu Deus e Senhor. São aqueles que cumprem o seu dever e suas boas obras os transforma em pedras luminosas no edifício da Igreja seja onde estiverem. Há maus vinhateiros, mas, em compensação, numerosos os que trabalham fielmente para o Reino de Deus. Sejamos sempre de suas fileiras para glória de Deus e bem das almas. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos