sexta-feira, 30 de setembro de 2016

DAR GLÓRIA A DEUS


DAR GLÓRIA A DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Dez leprosos foram curados por Jesus e apenas um repleto de alegria e com o coração extravasando gratidão soube gratular a graça recebida (Lc 17,11-19). São Lucas, na sua narrativa, descreveu o gesto do samaritano, dizendo que um deles, vendo que se tinha curado, voltou, louvando a Deus em alta voz e lançou-se aos pés de seu Benfeitor com a face em terra, agradecendo-lhe. Cristo não passou recibo na ingratidão dos outros miraculados e pedagogicamente indagou “Não foram limpos os dez? Onde estão os outros nove? Entretanto, apenas aquele que pertencia ao povo natural da região de Samaria, inimigos dos judeus ortodoxos da época, havia voltado para render graças. Mereceu o elogio de Jesus: “Levanta-te e vai; a tua fé te salvou”. Na azáfama do dia a dia nem sempre todos se lembram de agradecer a Deus seus inúmeros benefícios, os quais se multiplicam a cada instante. É certo que a Missa dominical oferece oportunidade para manifestar o louvor gratulatório, dado que se participa da Eucaristia que é ação de graças. Após uma semana na qual Deus multiplicou os seus dons o cristão retorna à Casa do Senhor para lhe agradecer. Uma das características mais importantes da religião é a gratidão a Deus. Inúmeros versículos da Bíblia patenteiam o valor de ser grato por tudo ao Criador. Jesus exaltou a conduta do décimo leproso curado, mostrando o quanto isto lhe foi agradável. Durante a semana, como ensinou Santo Inácio de Loyola, cumpre ao cristão fazer, sobretudo no fim do dia, uma releitura de tantos dons outorgados pela bondade divina, ou seja, os traços de Deus na vida de cada um, não obstante tantas infidelidades pessoais. Este comportamento multiplica a generosidade do Senhor de tudo. É a chave de ouro de que fala o Pe. Antônio Vieira, a qual abre a arca dos tesouros celestes. Agradecer com toda simplicidade e total confiança, aliadas a uma humildade de quem sabe que não merece tantas graças, mas que se mostra reconhecido Disto resulta notável purificação interior porque flui da fé que reina lá no interior do coração. A gratidão é, sem dúvida, uma das armas espirituais mais eficazes para atrair as bênçãos de Deus. Nem se deve deixar de agradecer a este Deus a graça de se estar livre da lepra do pecado. Infelizes aqueles que deixam esta terrível moléstia instalar em sua vida. Felizes, porém, aqueles que, a exemplo dos dez leprosos, procuram Jesus, o Médico divino. Este no Sacramento da Confissão cura a doença do pecado.  Para evitar esta moléstia espiritual o cristão se vale do tripé sagrado: a penitência, a prece e a caridade para com o próximo. Meios seguros para combater o mal em sua raiz. Nos nossos dias a epidemia do Aedes Aegipti e suas horrípilas consequências urgiram medidas imediatas e a moda se tornou o repelente contra este mosquito que se tornou tristemente famoso como o mosquito da zika, da dengue e da chikungunya. Muitas vezes as doenças transmitidas por este vírus se tornam mortais, como à morte estavam destinados os leprosos na época de Cristo. Dez foram audaciosos e, não obstante todos os interditos legais, se aproximaram de Jesus. Hoje os impedimentos são as armadilhas dos meios de comunicação social que afastam de Deus e obstaculizam alcançar a vida alma. A lepra do pecado gangrena as ações humanas, infeccionando toda uma existência. Apenas o poder divino pode sanar e restituir a graça santificante que é a participação da vida da Trindade Santa. É preciso se deixar tocar pelo amor de Cristo, porque o pecado, lepra da alma, desfigura e é a maior desgraça que pode acontecer a quem tem fé e crê na vida eterna. A melhor maneira para não se deixar contaminar com esta doença espiritual é a fuga corajosa das ocasiões que levam a ofender a Deus. A Bíblia é clara: “Quem ama o perigo nele perecerá” (Ecl 3,27). É preciso, porém, sempre se lembrar de que “um coração contrito e humilhado Deus não despreza” (Os 51,19). Jesus nunca deixará de dizer ao pecador arrependido: “Vai, a tua fé de te salvou”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O DESTINO DO RICO E DO POBRE LÁZARO

O DESTINO DO RICO E DO POBRE LÁZARO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Duplo destino, dupla lição oferece a parábola do rico glutão e do justo Lázaro (Luc 16,19-31). Jesus não pretendia apresentar uma abordagem sócio espacial do outro mundo, mas oferecer um precioso ensinamento sobre uma questão fundamental no que tange ao que ocorre após a morte. Um dos personagens vivia impiamente, era egoísta, não se preocupava nem com Deus, nem com o próximo. Lázaro, porém, era um deserdado da sociedade, doente e faminto e subsistia com as migalhas dos poderosos e tinha um coração bom. Confiava na Providência divina, vivendo a definição de seu nome, pois Lázaro significa “Deus é meu socorro”. Ambos deixaram este mundo através da morte que é o limite absoluto de todos os mortais. Esta não faz distinção nem entre os se cobrem  de vestimentas luxuosas, nem os que estão afetados por feridas e maltrapilhos. Ela sobe ao palácio dos ricos, desce ao tugúrio dos pobres, não tem dia nem hora, mas totaliza num instante tudo que alguém foi na sua passagem por esta terra. Diante de todos, porém, estará sempre o Senhor de tudo, justo Juiz, o qual com sabedoria e lucidez punirá a uns e recompensará a outros. Tudo dependerá da condição da existência de cada um, da qualidade do seu coração. Há entre os lugares onde se encontrará o ímpio e onde estará o justo “um grande abismo”, ou seja, trata-se de uma situação irreversível, que ninguém poderá alterar. Aqui na terra, sim, há sempre oportunidade de conversão e a misericórdia de Deus é sem limites. Uma fonte inestimável de merecimentos é exatamente o temor de Deus e a ajuda aos mais necessitados numa louvável solidariedade. Para quem tem fé a esperança abre caminhos luminosos para a prática das mais belas virtudes. Este é o tempo oportuno para se escutar a Palavra revelada pelo Ser Supremo, para colocar em prática as inspirações vindas do alto, para corresponder às exigências da Lei do Senhor. O apelo de Deus é um clamor à dileção, à compaixão, à sinceridade, à verdade em sua plenitude. Um coração arrependido, desolado nunca fica sem a resposta divina e, assim, o homem se dispõe a evitar a fatalidade de uma punição eterna. Deus reina apenas no interior dos que estão repletos de amor. Quando alguém se escraviza a suas riquezas, a suas ideias, a seus valores humanos, a suas convicções errôneas, a seus falsos ídolos, este Deus está longe de seu coração. O rico da parábola era incapaz de contemplar o sofrimento de Lázaro, porque vivia atrás do tapume de seu orgulho, de sua ilusória segurança. Não entendia o essencial da verdadeira felicidade e se mergulhava numa supérfluo e estapafúrdio luxo e na glutoneria. As chamas que o atormentavam eram o sinal de seu profundo remorso pelos erros que cometera e dos quais não se arrependera. Agora por entre as labaredas nas quais estava envolvido é que se lembrava de seus cinco irmãos os quais ele deveria ter advertido em vida, mas já era tarde demais. Está escrito no livro de Isaías o que disse o Senhor a respeito dos que se rebelaram contra Ele: “Seu verme não morrerá jamais” (Is 66,24). Imagem viva da pena eterna dos condenados. É o mesmo que se acha no livro de Judite: "O Senhor os punirá no dia do juízo, entregando ao fogo e aos vermes suas carnes e chorarão, penando eternamente” (Jud. 16,17). Assim sendo, esta parábola narrada por Cristo é um alerta. São Paulo então nos adverte: “Não nos cansemos na prática do bem, pois, se agora não desfalecermos, no tempo oportuno colheremos. Portanto, enquanto para isso temos tempo, façamos o bem a todos, máxime aos nossos irmãos de fé” (Gl 6, 9-11). Lázaro na outra vida encontrava consolação, paz, felicidade duradoura. Neste Ano da Misericórdia divina cumpre saber usufruir da compaixão imensa de Deus numa correção completa  de todos os erros, pois na outra vida  a sorte de cada um é irreversível e, por isso, imutável. É preciso viver todos os ensinamentos do Evangelho de hoje, para que, trilhando os caminhos das virtudes, se possa atingir a ventura perene da Casa do Pai, onde Cristo está à espera de cada um de nós. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O DINHEIRO A SERVIÇO DO BEM

O DINHEIRO A SERVIÇO DO BEM
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Sábio pedagogo, Jesus ensina a seus seguidores o emprego correto dos bens materiais que são adquiridos pelo dinheiro. (Lc, 16,1-13).Sua sentença é lapidar: “Não podeis servir a Deus e as riquezas”. O verdadeiro cristão não é proprietário de nada, mas deve ser um gerente sábio de tudo que recebe do seu Senhor Onipotente. Todos darão contas ao Ser Supremo de tudo que dele receberam, ou seja, o modo como empregaram as dádivas divinas neste mundo. De plano, todo desperdício é condenado e, sobretudo, o uso do dinheiro advindo da iniquidade e aplicado para o mal. Entretanto, com a mesma astúcia  condenável  com que os perversos, como o administrador da parábola, se utilizam de suas posses, para obter favores, os bons devem se valer do próprio dinheiro para alcançar uma recompensa eterna. Isto, evidentemente, se dá quando nenhuma quantia á malbaratada, mas drenada para as necessidades próprias  e de seus dependentes  e para a ajuda oportuna aos mais necessitados. Deus não pode aprovar nenhuma atitude imoral, mas gratifica toda e qualquer ação justa, reta, eticamente honesta. O dinheiro, fruto de um trabalho consciencioso, deve, portanto, aproximar o cristão de Deus. É célebre o ditado: “Quem dá aos pobres empresta a Deus”. Esmola, contudo, bem direcionada para as obras sociais paroquiais, para as atividades dos vicentinos e outras associações de caridade. É que uma outra recomendação de Jesus não pode ser esquecida: “Ajuntai para vós tesouros no céu” (Mt 6,19). Deste modo, o bom emprego do que se possui se torna um instrumento de partilha e fomenta a amizade. Assim sendo, o dinheiro não é mau em si mesmo e pode abrir a porta para muitas ações boas e louváveis. É, porém, fonte de muitas tentações a serem vencidas, mesmo porque ninguém deve ser dele um escravo. Torna-se então dinheiro da iniquidade, da injustiça, da opressão. A segurança que as riquezas oferecem são ilusórias, mas perene deve ser a confiança na Providência de Deus que nunca deixa faltar nada aos que O temem e servem. Deus sempre está ao lado dos honestos. Servir, portanto, tranquilamente apenas a Deus, combatendo o amor-próprio, o egoísmo, o poder pelo poder. Foi a ambição que levou Judas Iscariotes à mais vil traição da História. O alerta de Cristo, sobre as riquezas vale para qualquer contexto sócio-econômico, sobretudo para o atual, situação marcada pelo consumismo, pela corrupção edênica, pelo endeusamento da fortuna adquirida por meios lesivos ao próximo e a toda a nação. Se as autoridades, os poderosos deste mundo não dão um bom exemplo, pessoalmente o cristão não se deixa contaminar por esta onda de perversidade, aprovando os desvios do dinheiro público que a todos pertence e as falcatruas que se multiplicam nos mais diversos setores da sociedade. O necessário aos pobres serve, tantas vezes,  para o supérfluo dos ricos, tornando-se assim o dinheiro adubo do demônio. Todo cuidado é pouco com as propagandas enganosas, dado que os fabricantes de mentiras são useiros e vezeiros em fabricar falsidades. Jesus situa seu discípulo numa alternativa de sucesso honesto ou de uma idolatria perversa do mal. Paulo Setúbal no seu magnífico livro “Confiteor”, escreveu: “A paixão do dinheiro, não há dúvida, é paixão capital, avassaladora, que entorpece, que embota, que abrutalha, que sufoca todas as nobrezas do coração do homem. A paixão do dinheiro é a paixão que se opõe com mais força à Paixão de Cristo. O dinheiro é a matéria;  Cristo é a espiritualidade. Treva e luz; noite e dia. Dinheiro e Cristo. Enquanto o mundo for mundo, a paixão de Cristo e a paixão do dinheiro não poderão jamais andar juntos”. O notável escritor decoficou bem o que Jesus afirmou: “Não podeis servir a Deus e as riquezas”! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



sábado, 3 de setembro de 2016

Alegrar-se com a misericórdia divina

ALEGRAR-SE COM A MISERICÓRDIA DIVINA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Sobretudo neste Ano da Misericórdia as três parábolas que patenteiam a clemência divina merecem atenção especial (Luc 15, 1-31. Elas manifestam, através de três imagens, a grande dileção de Deus para com os homens. Este Deus se interessa por suas criaturas, as aguarda sem cessar. Na sua passagem por esta terra Jesus acolhia os pecadores e causava espanto aos fariseus hipócritas. A eles com sabedoria celestial Cristo cabalmente responde. Alegria do pastor que encontra a ovelha perdida. Gaudio da mulher que depara a dracma que desaparecera, a qual cuidadosamente procurava por toda a casa. Júbilo do pai com o retorno do filho desavisado que abandonara o lar, mas que retorna arrependido. Tudo isto é o mesmo que acontece com Deus e as comparações são claras e sugestivas. Sobretudo a parábola do Filho Pródigo sempre causou impressão profunda naqueles que refletem na sublimidade do perdão do pai que organiza um festim para comemorar o retorno daquele que se transviara e caíra em erros lamentáveis. O pecado é sempre uma injúria ao amor divino, mas o arrependimento tudo repara e merece ser festejado pela clemência paterna. Deus que não desampara os que lhe são fiéis e os cumula de benefícios maravilhosos, sabe, porém, perdoar e acolher o pecador arrependido. Muitos cristãos são como o filho mais velho, pois não apreendem a extensão do indulto divino. O pai é recriminado por anistiar aquele que havia dilapidado sua fortuna com as prostitutas numa vida desregrada. Tenta ele explicar, porém, que ele não se tratava de um estrangeiro, de um corrupto, mas de alguém que errou, tendo reconhecido sua iniquidade. O pai não se mostra então um juiz inexorável, um senhor desalmado. Ao dizer ao filho intransigente “tudo que é meu é teu” fez vibrar as cordas de sua bondade e cabia, isto sim, àquele que nunca o deixara saber usufruir dos bens da casa paterna. Se tal não estava ocorrendo, a culpa não era do pai, mas daquele que não se sentia filho e que naquele instante renegava seu irmão, que regressara confiante na absolvição daqueles que ele lamentavelmente largara, Lição magnífica de solidariedade é o que flui das palavras do pai que percebera a dependência vital do filho arrependido. Naquele momento o filho mais velho era quem mais necessiva da misericórdia do pai, pois se considerava um mero servo, um criado como outro qualquer e não como filho. O filho pródigo, porém, proclamava sua ligação filial, porque disse entristecido: “Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho”. Muitos são os que julgam o próximo e se consideram melhores do que os outros, exatamente por não terem uma noção exata da misericórdia do Pai do Céu, do qual todos somos filhos e, em consequência, somos irmãos. Vale a pena recordar as palavras de São Paulo: “Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, o primeiro dos quais sou eu”. Isto, é evidente, não em ordem de tempo, mas, como explica Santo Agostinho, “pelo número e gravidade dos pecados” (1 Tm 1,15). Quem se julga isento de culpa é incapaz de olhar os outros com complacência. Quem serve a Deus reconhece o mar imenso de favores celestiais que recebe e não se julga merecedor de mais benefícios divinos. Obedecer a Deus é já uma grande graça, não é um fardo pesado. Nada de comparações com os outros que, possivelmente, têm muito mais merecimento diante de Deus. Ao olhar do amor misericordioso de Deus todos somos iguais, porque pecadores necessitados do perdão e da misericórdia divinas. Somente Deus é perfeito e santo. Assim sendo, nesta parábola, o filho mais idoso estava mais perdido do que o irmão mais novo arrependido. Agia como um justo, mas seu coração estava endurecido com relação aos outros. Era um insensível, tomado por um sentimento de inveja e não reconhecendo a dignidade de seu irmão. Criticou asperamente o direito que ele tinha de ser perdoado e amado pelo pai, Quem erra deve imitar o filho pródigo e ter sempre um arrependimento sincero das faltas cometidas. Jamais devemos ser como o filho mais velho que sabia simplesmente obedecer ao pai, mas não o amava, desconhecendo tantas maravilhas que estavam a seu derredor. Deus quer sempre a observância dos mandamentos, mas isto por amor filial a Ele e não por mero temor da perda da felicidade eterna. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

UMA BELA LIÇÃO DE JESUS

UMA BELA LIÇÃO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Notáveis teólogos têm tecido comentários sobre a célebre sentença do Filho de Deus: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Uma observação importante e nem sempre considerada é que Jesus não disse que seu discípulo aprendesse a ser afável e humilde de coração de acordo com seu exemplo, mas aprendesse que Ele é manso e humilde de coração.  De fato, ninguém pode exercitar estas virtudes no sentido em que o Mestre divino as praticou. Em primeiro lugar porque Ele, sendo Deus, se humilhou, encarnando-se e depois porque  aqui na terra suportou com rara calma as mais horripilas injúrias, sempre docemente submisso aos desígnios eternos da salvação da humanidade. São Paulo assim se expressou: “E achado na forma de homem. humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fl 2,8). No auge dos sofrimentos no Calvário suplicou pelos seus algozes: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Antes, não tendo Ele sido recebido pelo povo em uma aldeia, os discípulos, Tiago e João, lhe perguntaram se eles deviam mandar descer fogo do céu para aniquilar os habitantes daquele lugar, mas Jesus  com a sua brandura de sempre os repreendeu dizendo: “Não sabeis vós de  que espírito sois? Ora, o Filho do homem não veio com o objetivo de destruir a vida dos seres humanos, mas sim para salvá-los” (Lc 9, 55-56). Os sentimentos interiores de Cristo estavam muito acima do que se passa no íntimo dos corações dos homens tantas vezes  agastados e arrogantes. É contemplando as atitudes de um tal Educador que  seus epígonos deveriam ser, dentro de seus limites, mansos e humildes porque Ele em tudo  agiu suavemente e sem nenhuma sombra de soberba. Esta recomendação de Cristo, porém, não seria entendida por todos aqueles que agiriam intempestivamente, de uma maneira grosseira, rude e indelicada ou de um modo prepotente e insolente. Na Carta aos Coríntios São Paulo deixou claro que “o homem psíquico – o que fica ao nível de suas capacidades naturais – não aceita o que é do Espírito de Deus, pois isso lhe parece uma insensatez. Ele não é capaz de conhecer o que vem do Espírito, porque tudo isso só pode ser julgado com a ajuda do mesmo Espírito” (1 Cor 14-15). Portanto, para seguir o conselho de Cristo há necessidade da ajuda da graça divina. É sabedoria celestial saber combinar a mansidão longânime com a humildade autêntica, acolhendo sem tergiversações os valores cristãos se tornando. o discípulo de Jesus um arauto da paz. Participante da missão profética da Igreja. o fiel precisa empregar todas as suas energias numa convivência harmônica consigo e com o próximo e é isto justamente que o predispõe à mansidão e à humildade. Então o seguidor de Jesus irradia a paz e comunica aos outros a alegria que brota da ordem que reina em seu interior. Sabe aplainar para os outros o caminho da concórdia pacífica e alimenta um amor mútuo. Batalha contra tudo que afasta da unidade e cria um clima de serenidade. Isto favorece um ambiente no qual pode transmitir mais eficientemente as mensagens do Evangelho, lutando com serenidade para que se observem sempre os mandamentos exarados por Deus compendiados no Decálogo. É que a magnanimidade conferida pela mansidão e pela humildade conquista o respeito do próximo e abre as portas para um diálogo construtivo. A agressividade e a altivez jamais levam os outros aos caminhos do bem e de todas as virtudes as quais precisam ornar a vida de todo batizado. Uma belicosa animosidade só produz desequilíbrios e se opõe à fraternidade que deve caracterizar em tudo quem se diz cristão. É com mansidão e humildade que se realiza um apostolado fecundo para modificar estruturas injustas e se cria um contexto de valores numa visão espiritual correta. Do contrário não se humanizam as relações sociais na família, na escola, na convivência cotidiana, enfim por toda parte. A mansidão e a humildade ajudam assim o fiel a  colaborar com a ação divina da graça para construir o edifício espiritual das pessoas com quem convive, mesmo porque o modo de ser de cada um influencia muito mais do que as palavras. Estas se tornam construtivas apenas quando são instrumentos iluminados pela luz divina humildemente pedida a cada passo na vida e transmitidas  na mais completa serenidade na busca da verdade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.