A PECADORA PERDOADA
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
A
cena da pecadora que, durante a refeição oferecida pelo fariseu Simão a Jesus,
ajoelhada aos pés de Cristo os lavava e os ungia com perfumes, é uma das mais
comovedoras do Evangelho (Lc 7,36-8,3). A própria Santa Teresinha de Lisieux,
numa de suas cartas, referindo-se a este episódio, exaltou a comiseração imensa
de Jesus. Assim se expressou esta santa: “Quando eu vejo Madalena banhar com
lágrimas os pés de seu mestre adorado, que ela toca pela primeira vez, eu sinto
que seu coração havia compreendido os abismos de amor e de misericórdia do
coração de Jesus, e, embora pecadora, este Coração de amor não somente está
disposto a lhe perdoar, mas ainda a lhe prodigalizar os benefícios de sua íntima
divindade” (Carta 237). Grande, de fato,
deve ter sido a felicidade daquela mulher arrependida ao escutar que estava
anistiada de suas faltas. Jesus afirmou: “Estão perdoados os teus pecados”,
tendo antes explicado ao anfitrião: “São perdoados os seus muitos pecados
porque muito amou”. Perdão e amor é o leitmotiv deste trecho do Evangelho de
São Lucas. Pelo perdão Jesus demonstrou seu poder divino, pelo amor e pelas
honras que Lhe prestou a pecadora ela possibilitou ao divino Redentor
publicamente revelar que Ele era Deus, porque somente Deus pode absolver as
ofensas contra Ele. O amor da criatura
que reconhecia seus erros se encontrou com o amor misericordioso de Jesus,
resultando numa purificação e numa remissão total. O amor de Deus é uma força
que indulta e que restaura, cobrindo uma multidão de desacertos, sempre que há
um pesar sincero, unido ao propósito de emenda. Isto advém de uma confiança
absoluta da qual flui uma paz beatificante. Jesus disse à pecadora: “A tua fé
te salvou, vai em paz”. É o que Ele continua a repetir através dos sacerdotes
no sacramento da Confissão a tantos que, tendo se extraviado do caminho do bem,
envoltos em paixões condenáveis, procuram a reconciliação com o Ser Supremo. É
de se observar ainda que neste episódio fica claro o valor da linguagem não
verbal. Com efeito, a adúltera não diz uma palavra que exprimisse seu
arrependimento, mas ela chora. Suas lágrimas falam mais alto que qualquer
expressão falada. Ela mostrava que amava Jesus, beijando-lhe os pés. Nem mesmo
proclamava com altos clamores esta sua dileção, mas a manifestava pelo perfume
precioso com que ungia o divino Salvador. Isto porque antes ela já havia tomado
uma decisão importante, qual seja abandonar os caminhos tortuosos que até então
percorria. É de se admirar ainda que ela
venceu corajosamente o respeito humano e pouco se importava com as possíveis
críticas humanas, como as que passavam na mente de Simão, o fariseu, Ela já não
fazia caso dos julgamentos de reprovação dos que bem a conheciam como pecadora
pública. Estes detalhes ensinam que se pode exprimir o amor e a reverência para
com Jesus por meio de pequenas decisões. O afeto para com Ele reforça as boas
resoluções e faz com que muitos que se acham no fundo do poço reflitam,
procurem um sacerdote, façam uma boa Confissão e mudem inteiramente de vida.
Cristo valoriza muito os pequenos gestos de afabilidade. Como sensibiliza o
coração do Mestre divino, por exemplo, alguém que entra na Igreja, faz uma genuflexão
repleta de fé, olha para o sacrário, faz o sinal da cruz e sai para seu
trabalho. Este entregou seus afazeres a Ele e Ele não deixará de amparar quem
assim revela sua crença profunda na sua presença real na Eucaristia. É claro
que, se as menores demonstrações de amor a Cristo atraem tanta proteção, mais
ainda recebem os que dedicam mais tempo à oração. Além disto, lembra o Pe.
Alan Naome, “a aceitação de um sofrimento em união com a paixão de Cristo tem
um valor de redenção”. Está com a razão o douto teólogo, porque assim ensinou
São Paulo: “O amor de Cristo nos constrange [ ,,, ] e Ele morreu por todos para
que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por ele morreu e
ressuscitou (2 Cor 5, 14.15). Ele nos amou até o fim. Entretanto, o amor a
Jesus passa necessariamente pelo caminho do reconhecimento das faltas
cometidas, aliado a uma intenção firme de não mais pecar e estes sentimentos
levados ao Confessionário redimem e alcançam o perdão de Deus. Tudo isto, belas lições do gesto da pecadora arrependida
aos pés de Jesus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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