UMA BELA LIÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Alguém prometeu a um amigo que passava mal da garganta que iria rezar a São Brás lhe pedindo sua cura. Passados uns dias tomou informações sobre a saúde do amigo e este lhe disse que estava 95% curado. Então lhe foi dito: “Vou cobrar de São Brás os 5% que faltaram. O amigo deu uma bela lição: “Não faça isto, agradeça a São Braz os 95% da cura obtida”! De fato, uma excelente resposta, altamente bíblica, que revelou a sensibilidade espiritual do agraciado. Muitas vezes se pensa que os santos estão no céu intercedendo pelos seus devotos como se fossem um satélite à sua disposição, quando, na verdade, eles lá do Alto ajudam os que os invocam com confiança, mas que sabem também ser agradecidos. Não se pode, realmente, cobrar nada do Protetor celeste. Às vezes, as expressões não são exatas, mas cabe aos espíritos iluminados fazerem logo a correção como no caso acima exposto. A maior prova desta atividade do bem-aventurado junto do trono divino são as graças que seus devotos obtêm, difundindo, depois, por toda parte a devoção aos mesmos. A intervenção do santo junto do Todo-Poderoso não consiste na de um advogado ou adulador que influenciaria a vontade soberana do Criador. Trata-se de uma homenagem que o próprio Senhor Onipotente quer lhes fazer devida sua fidelidade neste mundo, sendo o santo uma causa segunda para se obter os efeitos celestiais. Todas as graças advêm para os homens unicamente pelos méritos de Jesus Cristo. Graças a estes merecimentos, formidáveis as maravilhas operadas por Deus através dos santos, para incitar a todos a trilharem os caminhos da perfeição. É de se notar que a intermediação dos santos reforça as preces tão débeis dos orantes neste mundo. A caridade deles é mais viva. Do céu contemplam muito melhor as necessidades de cada um. São atentos a tudo que seus devotos precisam. Já seguros de sua imortalidade feliz, passam a se ocupar da salvação dos que os invocam. Além disto, eles se tornam modelos para os seguidores de Cristo. Levam a apreciar a prática de tudo que Jesus ensinou e fazem mais fácil a vereda que conduz ao maior grau de bondade ou valor a que pode alguém chegar. Impedem qualquer pretexto para não se aprimorar espiritualmente. Com efeito, há santos de todas as classes sociais, que demonstram ser possível o amadurecimento pessoal sob os ditames evangélicos. Eles foram também sujeitos a todo tipo de tentação, de sofrimento, de dificuldades e tudo venceram com a graça do Redentor. Eles mostram que a perfeição é uma obrigação de todo batizado, segundo a determinação de Jesus: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 45, 48). Todo aquele que está inserido em Cristo deve ser alguém que atingiu a plenitude da idade do Mestre divino (Ef 4,13). Tal a vontade de Deus: todos sejam santos (1 Ts 4,3). Jesus fez no Sermão da Montanha uma síntese da vida do verdadeiro cristão. Esta se baseia na interioridade e se manifesta no amor. A vida sobrenatural, porém, supõe um progresso contínuo, sem tréguas numa cooperação e esforço para corresponder à graça que nunca é negada a quem procura os caminhos trilhados pelos santos. Sejamos sempre agradecidos aos santos, mas não exijamos nada deles, pois em tudo seja feita a vontade de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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