quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A ORAÇÃO PERSISTENTE

A ORAÇÃO PERSISTENTE
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
São Lucas deixou claro o intento de Cristo ao narrar a parábola do juiz iníquo e a viúva impertinente, dizendo que isto foi para mostrar aos discípulos “a necessidade de rezar sempre e nunca desistir” (Lc 18,1). O Mestre divino quis incitar a se entregar a uma oração constante. Para isto cumpre fixar que o coração da prece é a fé. Quem ora deve estar consciente de que se pode tocar a misericórdia divina. O orante, imbuído de uma fé profunda, tem acesso ao lugar mais íntimo do mistério de Deus que é aquele de sua infinita bondade, pois está certo que o Senhor é seu pastor e nada lhe falta (Sl 22,1). Não é, porém, tão simples ter uma obstinação tão firme como a que teve a viúva que pedia justiça a um juiz “que não temia a Deus e não respeitava homem algum”. No entanto, quem se dirige a Deus entra em contato com quem é o oceano infinito de clemência e retidão. O que se esquece muitas vezes é que a oração se dirige a um Ser que é pai e que acata a súplica de seu filho. A falta de confiança de muitos cristãos provém do fato de que eles não se imergem no coração deste Pai. Eis porque os grandes santos que foram notáveis orantes, mesmo os que não foram contemplativos, tinham certeza desta realidade sublime que é poder atingir a complacência de Deus. Aliás, o salmista assim se expressa: “O Senhor ouviu a minha voz suplicante, porque inclinou para mim o ouvido, nos dias em que o invocava” (Sl 114). Jesus, em outra ocasião, recomendou: “Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta" (Mt 7,7), De fato, é necessário pedir sem esmorecer com uma prece fundamentada na fé e na constância. Quando Deus parece não escutar, é que Ele quer provar o grau de confiança que possui o suplicante.  Seu silêncio não é então uma negativa, mas uma atitude pedagógica para que haja insistência no pedido e plena consciência da real necessidade daquilo que se está suplicando. É preciso saber sempre que o tempo de Deus não é o tempo dos homens e Ele é muito mais sábio e o Senhor do cronos. São Pedro foi claro: “Não é que o Senhor retarde em cumprir a sua promessa, como alguns julgam seja efeito de lentidão, mas usa paciência em atenção a vós, pois não que quer alguns pereçam, mas que todos cheguem à conversão” (2 Pd 38). Por mais que Deus possa parecer tardar não se deve vacilar um instante sequer na fé. Deus espera e o faz para o bem de quem O suplica. A fé leva então a ultrapassar as evidências, “ela é a garantia do que se espera, a prova do que não se vê” (Hb 11,1) e induz a não desistir nunca na obtenção do que se almeja alcança da parte do Todo-Poderoso Senhor. Deste modo, o espaço da fé, abre espaços para a generosidade divina. Deus, realmente, nunca deixa de atender os que O procuram com um coração simples e sincero. Assim, o verdadeiro fervor na oração, como recomendou o próprio Cristo no Evangelho de hoje, consiste em perseverar na calma e na humildade, aguardando a resposta divina. Então se compreenderá o que disse Santo Agostinho: “A oração é a fortaleza do homem e a fraqueza de Deus”, porque Ele não deixa nunca sem resposta a quem insistentemente O invoca. É preciso, além disto, que o cristão tenha da oração um conceito amplo que passe além do simples pedido, para se entregar inteiramente a Deus sem reserva alguma. Para poder, contudo, viver em estado de oração é mister um coração livre, afastado de todo e qualquer mal. Não se trata apenas de colher as flores das graças imediatas, mas também de se tonificar para os grandes embates da vida. Com efeito, a prece leva a ter sede de Deus para fazer em tudo sua santíssima vontade. Ela torna o orante consciente de sua dependência ontológica de seu Soberano Senhor, dependência muito maior do que aquela da viúva diante do juiz iníquo. Além disto, a prece perseverante leva o fiel a seu unir ainda mais ao Doador de todas as graças. Pode então repetir com Davi: “Ainda que andasse por tenebroso e funéreo vale, não temerei mal algum, porque estais comigo” (Sl 22, 4). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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