domingo, 6 de outubro de 2013

A MAGNITUDE DA GRATIDÃO



A MAGNITUDE DA GRATIDÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Narra São Lucas que Jesus na sua caminhada para Jerusalém “teve que passar entre a Samaria e a Galiléia (Lc 17,11).  A Samaria era uma região de estrangeiros heréticos que possuía um templo e uma religião própria. Os judeus tinham um profundo desprezo para com os samaritanos e estes não menor desdém em relação os judeus. A Galiléia era um território fronteiriço com a Síria, terra de má reputação, para onde confluíam pessoas  de toda parte, expulsas ou perseguidas por seus crimes. O Mestre divino transitava, portanto, por caminhos  de gente  malquista pelos judeus ou de péssima fama. Foi aí que Ele encontra dez leprosos, doentes ainda mais indesejáveis na sociedade de então, seja onde fosse. A lepra era uma enfermidade social abominável, tanto mais que se pensava ser Deus que enviava tal doença como punição dos pecados. Eis que alguns leprosos se aventuraram até Jesus, na esperança de ser curados, persuadidos de que uma palavra saída de sua boca transformaria suas almas e seus corpos. Entretanto, plenamente curado ficou apenas um, pois nove conservaram no coração a lepra da ingratidão.  Apenas aquele que era samaritano conheceu a total recuperação, dado que o reconhecimento brilhou em sua alma. Jesus  através de uma simples admiração. que patenteava  seguramente sua  tristeza recriminou os ingratos.  Viu de perto  a que ponto pode chegar  o ser humano esquecendo os benefícios recebidos.. Hoje, mais do que nunca num contexto de transações comerciais marcado pela vantagem a ser obtida, muitas vezes a qualquer preço, não é fácil  manifestar gratidão. Esta não é apenas, porém, dizer “obrigado”, mas é também a maneira com que se trata os outros dos quais se recebem tantos favores. É o que se dá com tantos  empregadores que pensam que lhes basta pagar o salário convencionado, mas no dia a dia não são corteses com seus funcionários, não se interessam por seus problemas, não tomam conhecimento de suas  preocupações. Sob este aspecto, horrível, por vezes, é a atitude de tantos filhos para com seus pais. Não sabem retribuir com atenções a tantos sacrifícios que eles fazem, o carinho que eles demonstram Certo dia, uma mãe veio se queixar com este sacerdote dizendo: “Sempre fiz tudo para minha filha, lhe pedi, porém,  para me trazer um copo de água e ela respondeu: “Não sou sua empregada”! Fato lamentável, ingratidão profunda, fruto inclusive de uma total ausência de urbanidade. Um pai assim se desabafou: “Sacrifico-me por meus filhos e hoje ao fazer uma observação a um deles, ele me redargüiu: “Cuide de sua vida que eu cuido da minha”! Sem dúvida, gesto pior do que a dos nove leprosos ingratos  os quais não voltaram para agradecer a Jesus. A ingratidão é uma lepra do coração mais terrível do que a lepra do corpo! O ingrato não sabe interpretar a grandiosidade dos benefícios recebidos e se mostra até rude com o benfeitor. A gratidão, porém, é uma atitude nobre envolta na doçura de uma mente esclarecida. Quem é grato e gentil com o próximo, será também reconhecido em tudo às graças recebidas de Deus. Quantos, porém, chegam até a recriminar o Ser Supremo na hora das provações e dos naturais sofrimentos inerentes a este exílio terreno. Isto é indício certo de falta de fé.  Cumpre sempre um ato de abandono de todo o ser a Deus que sabe o que é melhor para cada um. Crer em Jesus é reconhecer que Ele é o Senhor. Tornar-se seu discípulo significa que se está maravilhado pela gratuidade da salvação que Ele oferece e que não se pode viver sem Ele. Sente então, quem é grato a Ele, a necessidade de estabelecer cada dia mais uma união mais profunda com seu Benfeitor. Então, a Missa dominical, por exemplo, não é um mero preceito, mas uma necessidade interior, porque participar da Eucaristia significa precisamente render graças. É o momento salutar de se sair do ativismo cotidiano para agradecer os benefícios da semana que passou e tantos outros dons concedidos por Deus pela vida afora. Na Igreja, a fé dos agraciados por Deus se torna um hino gratulatório por intermédio de Jesus. Então, sim, quem é agradecido a Deus, será também reconhecido para com o próximo e a gratidão se torna um bálsamo na sua vida, um timbre de nobreza interior, um canal de novos favores. Tal a magnitude da gratidão que ela não só enobrece o cristão, mas é também garantia de salvação, pois permite que Jesus repita o que Ele falou ao samaritano: “Tua fé te salvou” * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.








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