quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Mês das almas do Purgatório

MÊS DAS ALMAS DO PURGATORIO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O mês de novembro é especialmente consagrado às almas do Purgatório e leva os cristãos a se lembrarem ainda mais do que acontece além da sepultura. Muitas vezes se esquece de que a trajetória terrena é uma preparação para o que vai ocorrer a cada um além morte. A alma espiritual, indestrutível, no momento de deixar este mundo como a borboleta que ao sair da crisálida desdobra as suas asas, deixa esta alma o corpo para começar uma outra etapa da existência inteiramente espiritual, aguardando a ressurreição. Naquele instante da morte comparece o ser racional diante de Deus par por Ele julgado conforme se tenha feito o bem ou o mal segundo os mandamentos do Criador. É o instante do juízo particular. Entre a eternidade bem-aventurada e a desventurada, há um estado passageiro de sofrimento e de expiação pelo qual devem passar aqueles que, destinados ao Céu, ainda não estão, para nele poder entrar desde logo, suficientemente purificados dos seus pecados.  É o Purgatório. Baseados na Bíblia vários concílios definiram como dogma de fé a existência deste lugar de purificação. Grandes teólogos atestam esta verdade com argumentos irrefutáveis. Através do Sacramento da Penitência os pecados são perdoados, mas cumpre que se restabeleça a ordem violada e esta ou é reparada neste mundo através dos sacrifícios reparadores ou pelas indulgências devidamente recebidas. Caso contrário, a alma deverá passar pelo Purgatório antes de entrar no Céu. Aí haverá a quitação completa da dívida para com Deus. As almas que estão no Purgatório estão misteriosamente contentes e ao mesmo tempo atormentadas.  Há a certeza da felicidade eterna que as aguarda.  Sua salvação está garantida.  Não podem mais pecar porque amam a Deus com todas as suas potencialidades.  Como o ouro se apura no crisol, assim se purificam as almas antes de entrarem para a visão beatifica. Desaparece a ferrugem, os vestígios do pecado.  Deus concilia então os direitos de sua justiça com os de sua bondade. . Com razão Tertuliano, fazendo alusão aos sofrimentos do Purgatório, os chama de “tomentos da misericórdia divina”.  Diz o Pe. Faber que o Purgatório onde se sofre para expiar é o último excesso do amor infinito do Ser Supremo para com sua criatura. Quem, contudo, está ainda na terra pode ajudar as almas do Purgatório abreviando-lhes o tempo que lhes falta para ir para junto de Deus A ajuda às almas do Purgatório pode ser feita através das Missas oferecidas e participadas nas suas intenções. Depois a esmola bem direcionada é uma reparação para as próprias faltas e pode ser aplicada também para as almas do Purgatório. Além disto, as orações feitas nas intenções destas almas são valiosíssimas. Entre estas preces sobressai o terço ou um dos seus mistérios oferecidos nas intenções dos falecidos.  Através da oração o cristão como que se reveste da onipotência divina. Aditem-se as indulgências que se podem ganhar pelas almas do Purgatório.  São Francisco Xavier não deixava passar um dia sem orar pelos mortos. Como ele, muitos outros santos que acreditavam na onipotência das preces feitas com fervor. Cristo ensinou: “Pedi e recebereis, buscai e achareis”, para mostrar que tudo é possível àquele que ora. Portanto, nada mais louvável do que interceder por aqueles que breve estarão lá no Céu, onde serão intercessores dos que deles se lembraram neste mundo. Além do mais, a quem socorreu as almas do Purgatório, certamente Deus fará com que outros depois se lembrem também de orar por aquele que foi tão caridoso com seus irmãos falecidos. Nunca se recordam demais as palavras do Livro dos Macabeus: “Santo e piedoso pensamento é rezar pelos mortos para que se libertem de seus pecados” (2Mc 12, 43-46). Lembra o teólogo John O’ Brien que um dos relatos mais tocantes que nos foram trans­mitidos sobre este assunto nos escritos dos Padres da Igreja, vem-nos de S. Agostinho, no princípio do séc V. O sábio bispo conta que sua mãe, chegada a hora da morte, lhe fez este último pedido: «Sepulta o meu corpo em qualquer lugar, não importa onde; não te preocupes com ele. Mas peço-te somente que, onde quer que estejas, te lembres de mim no altar do Senhor». A lembrança deste pedido inspirou ao fi­lho esta ardente prece: «Por isso Te imploro, ó Deus do meu coração, pelos pecados da minha mãe. Que ela repouse em paz com o seu marido [... ] E inspira, Senhor, aos teus servos meus irmãos, que eu sirvo pela palavra, pelo coração e pela escrita, a todos os que lerem estas linhas, que lembrem no Teu altar, a Tua serva Mónica».* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos


sábado, 26 de outubro de 2013

MÊS DAS ALMAS DO PURGATÓRIO

MÊS DAS ALMAS DO PURGATORIO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O mês de novembro é especialmente consagrado às almas do Purgatório e leva os cristãos a se lembrarem ainda mais do que acontece além da sepultura. Muitas vezes se esquece de que a trajetória terrena é uma preparação para o que vai ocorrer a cada um além morte. A alma espiritual, indestrutível, no momento de deixar este mundo como a borboleta que ao sair da crisálida desdobra as suas asas, deixa esta alma o corpo para começar uma outra etapa da existência inteiramente espiritual, aguardando a ressurreição. Naquele instante da morte comparece o ser racional diante de Deus par por Ele julgado conforme se tenha feito o bem ou o mal segundo os mandamentos do Criador. É o instante do juízo particular. Entre a eternidade bem-aventurada e a desventurada, há um estado passageiro de sofrimento e de expiação pelo qual devem passar aqueles que, destinados ao Céu, ainda não estão, para nele poder entrar desde logo, suficientemente purificados dos seus pecados.  É o Purgatório. Baseados na Bíblia vários concílios definiram como dogma de fé a existência deste lugar de purificação. Grandes teólogos atestam esta verdade com argumentos irrefutáveis. Através do Sacramento da Penitência os pecados são perdoados, mas cumpre que se restabeleça a ordem violada e esta ou é reparada neste mundo através dos sacrifícios reparadores ou pelas indulgências devidamente recebidas. Caso contrário, a alma deverá passar pelo Purgatório antes de entrar no Céu. Aí haverá a quitação completa da dívida para com Deus. As almas que estão no Purgatório estão misteriosamente contentes e ao mesmo tempo atormentadas.  Há a certeza da felicidade eterna que as aguarda.  Sua salvação está garantida.  Não podem mais pecar porque amam a Deus com todas as suas potencialidades.  Como o ouro se apura no crisol, assim se purificam as almas antes de entrarem para a visão beatifica. Desaparece a ferrugem, os vestígios do pecado.  Deus concilia então os direitos de sua justiça com os de sua bondade. . Com razão Tertuliano, fazendo alusão aos sofrimentos do Purgatório, os chama de “tomentos da misericórdia divina”.  Diz o Pe. Faber que o Purgatório onde se sofre para expiar é o último excesso do amor infinito do Ser Supremo para com sua criatura. Quem, contudo, está ainda na terra pode ajudar as almas do Purgatório abreviando-lhes o tempo que lhes falta para ir para junto de Deus A ajuda às almas do Purgatório pode ser feita através das Missas oferecidas e participadas nas suas intenções. Depois a esmola bem direcionada é uma reparação para as próprias faltas e pode ser aplicada também para as almas do Purgatório. Além disto as orações feitos nas intenções destas almas são valiosíssimas. Entre estas preces sobressai o terço ou um dos seus mistérios oferecidos nas intenções dos falecidos.  Através da oração o cristão como que se reveste da onipotência divina. Aditem-se as indulgências que se podem ganhar pelas almas do Purgatório.  São Francisco Xavier não deixava passar um dia sem orar pelos mortos. Como ele, muitos outros santos que acreditavam na onipotência das preces feitas com fervor. Cristo ensinou: “Pedi e recebereis, buscai e achareis”, para mostrar que tudo é possível àquele que ora. Portanto, nada mais louvável do que interceder por aqueles que breve estarão lá no Céu, onde serão intercessores dos que deles se lembraram neste mundo. Além do mais, a quem socorreu as almas do Purgatório, certamente Deus fará com que outros depois se lembrem também de orar por aquele que foi tão caridoso com seus irmãos falecidos. Nunca se recordam demais as palavras do Livro dos Macabeus: “Santo e piedoso pensamento é rezar pelos mortos para que se libertem de seus pecados” (2Mc 12, 43-46). Lembra o teólogo John O’ Brien que um dos relatos mais tocantes que nos foram trans­mitidos sobre este assunto nos escritos dos Padres da Igreja, vem-nos de S. Agostinho, no princípio do séc V. O sábio bispo conta que sua mãe, chegada a hora da morte, lhe fez este último pedido: «Sepulta o meu corpo em qualquer lugar, não importa onde; não te preocupes com ele. Mas peço-te somente que, onde quer que estejas, te lembres de mim no altar do Senhor». A lembrança deste pedido inspirou ao fi­lho esta ardente prece: «Por isso Te imploro, ó Deus do meu coração, pelos pecados da minha mãe. Que ela repouse em paz com o seu marido [... ] E inspira, Senhor, aos teus servos meus irmãos, que eu sirvo pela palavra, pelo coração e pela escrita, a todos os que lerem estas linhas, que lembrem no Teu altar, a Tua serva Mónica».* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos


A VOCAÇÃO DO CRISTÃO É SER SANTO


A VOCAÇÃO DO CRISTÃO É SER SANTO
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A ordem de Cristo foi esta: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). No Antigo Testamento Deus havia declarado: “Sede santos, porque eu sou santo” (Lev 11,44-45). Jesus através das bem-aventuranças traçou o caminho para se atingir a meta que se contempla na existência daqueles que já estão na beatitude do céu, todos os santos e santas. São os que colocaram seus passos nos passos do divino Redentor. Fizeram então fulgir nas suas existência raios do esplendor da santidade divina. Todos são chamados a se tornar semelhantes àqueles e àquelas que hoje são homenageados na liturgia deste domingo. Tarefa possível apesar das luzes e sombras, fidelidades e infidelidades que surgem a cada passo devido às limitações humanas. Com a graça divina tudo é possível e as criaturas racionais que Ele criou livres podem e devem aspirar a possuir a vida eterna na visão beatífica. É o que Ele oferece a todos os homens com um amor incomensurável. Há apenas algo que poderia frustrar seu plano, ou seja, a recusa infeliz, plenamente voluntária e obstinada de não querer tal ventura, se opondo aos caminhos que Ele traçou nos Mandamentos. Com o concurso da liberdade de cada um Ele quer que sejam santos os que Ele aguarda na outra margem da vida. São inumeráveis, ou seja, uma massa imensa que São João contemplou no Apocalipse, “de todas as nações, raças, povos e línguas”. De fato, as bem-aventuranças, que viveram intensa e exemplarmente os santos e santas os quais povoam o calendário litúrgico, devem ser o cerne da felicidade de todos que são fiéis ao Ser Supremo. Por vezes, a muitos já é dado degustar por instantes neste mundo um pouco da alegria sem fim do paraíso, Isto foi muito comum para os grandes místicos, mas é acessível a todo cristão que se imerge na contemplação das verdades perenes. Podem perceber como que uma antecipação do gozo eterno por entre o claro-escuro deste caminhar num exílio. São João alertou: “Já somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que seremos. Sabemos que, quando ele aparecer, seremos semelhantes a ele, e o veremos como ele é”  (I Jo 3,2). Entretanto, para que tal realidade possa acontecer, cumpre se tornar santo. Para isto é que é oferecida esta vida tão breve que se tem neste planeta Terra. Felizes os que deram sua infância, sua juventude, sua idade madura a Deus ou aqueles que, convertidos já na velhice, abominam erros passados e se dispõem a nunca perderem a veste nupcial da graça santificante recuperada no Sacramento da Confissão. Com efeito, pode ser que para muitos na primavera da vida as paixões, as influências deletérias da mídia, as preocupações com os estudos e trabalhos, o apego às coisas transitórias tenham sido óbice à procura da santidade, mas nunca é tarde para se endireitar os caminhos da existência pessoal. Deus oferece sempre tempo para que se possa despojar das ilusões terrenas e fazer com que tudo que não é felicidade autêntica, venturas  falsas etiquetadas pelo diabo, sejam como folhas mortas levadas pelo vento, dada uma mudança radical e sábia de atitudes. Em qualquer etapa da vida, porém, sejam problemas de saúde, sejam os contratempos os mais variados, se tornam um alerta do céu e propiciam sempre a caminhada nas vias da perfeição traçada por Cristo. Muitíssimos através das preces dos pais, parentes e amigos deixam os caminhos trevosos do erro. Foi o que se deu com Santo Agostinho que na pujança de seus 33 anos se tornou um dos grandes convertidos da História e assim se dirigiu ao Criador: “Tarde eu te amei, ó Beleza tão antiga e, entretanto tão nova, tarde eu te amei”! Trata-se de um salto para uma lucidez que só a misericórdia de Deus explica e se depara então a total realização de si mesmo. O coração fica liberto de suas estreitezas e se ajusta aos desígnios de Deus, purificando-se na penitência e no domínio de si mesmo. O importante na vida de cada um é deixar sempre brechas, uma porta aberta para a ação divina que transfigura e conduz às vias da santidade. Nelas, liberto de seus egoísmos, de seu inércia espiritual, de seus desenganos o ser humano pode atingir as paragens luminosas da plena realização cristã. Para tanto os que já estão lá numa eternidade feliz são aptos para encher os viandantes terrenos de esperanças para que não percam o caminho do céu. Em síntese. a chave da santidade é a confiança colocada em Jesus, não obstante as fraquezas humanas. É o abandono à misericórdia divina sob o influxo do Espírito Santo que com apelos inenarráveis a todos chama para viverem de tal modo que se esteja sempre apto para a entrada na Cidade dos Santos, na Jerusalém celeste, para um gáudio sem fim. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

DUAS ATITUDES CONTRASTANTES

DUAS ATITUDES CONTRASTANTES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
As parábolas empregadas por Jesus em seus ensinamentos e encontros com os a apóstolos e o povo, pronunciadas a mais de dois mil anos são sempre meditadas, nunca esgotadas, pois com suas mensagens são sempre atuais. É que elas contêm verdades que iluminam todas as inteligências e falam diretas ao coração do ser humano de todos os tempos. Livros escritos por eminentes literados, palavras proferidas por pessoas ilustres se tornam facilmente ultrapassados, esquecidos. Não assim aquilo que o Mestre divino legou à humanidade. Uma destas luminosas parábolas é, sem dúvida, a do fariseu e o publicano, apresentando duas atitutes contrastantes, deixando lições valiosas, válidas em pleno terceiro milênio (Lc 18,9-14). Poucos versículos, mas uma fonte de profunda sabedoria vivencial. Dramatização de condutas diametralmente opostas que retratam muito do que acontece no mundo, no modo de ser de tantos cristãos. O Publicano era um mero coletor de impostos, ofício, por sinal desprezível no mundo antigo. O Fariseu pertencia à classe dirigente, à elite da sociedade. Eram bem o símbolo de muitos que detêm o poder e a riqueza, a imagem dos que dirigem o povo, cujo baixo salário vai quase pela metade para os cofres públicos através dos exorbitantes impostos com um retorno pífio para a sociedade. De um lado, a arrogância; de outro a simplicidade. Cinco versículos do Evangelho que se aplicam a todas as épocas e a todas as situações. A classe dominante precisa sempre de auto-promoção, auto-afirmação, haja visto o que o Governo gasta em propaganda muitas vezes de obras que nunca saíram do papel. Faltam em tantas ocasiões a auto-críttica, o auto-exame, a auto-avaliação e as mazelas que cercam o povo ficam esquecidas, deixadas de lado. Tal é, porém, o estadalharço da propaganda oficial que a população, por vezes, se deixa submergir pelo farisaísmo. Questões inúteis são requentadas para dispersar a atenção de problemas sérios. É bem verdade que as últimas manifestações populares em nossa pátria, demonstraram uma reação a este tipo de conduta, repudiando toda espécie de mentira e de falso triunfalismo governamental. Cumpre, de fato, sair de uma atmosfera de ilusão, de pseudo-grandeza, mesmo porque o Evangelho execra inteiramente o orgulho, a vã glória. Se todas estas reflexões valem no plano social em geral são também aplicáveis à vida pessoal de cada um. É mister evitar a fanfarronice do fariseu e imitar a atitude humilde do publicano. Deus conhece bem o íntimo de cada um, verdade ensinada em inúmeras passagens da Bíblia. Ele não julga pelas aparências, mas sonda o coração humano e conhece em profundidade a criatura racional. Ele quer que se respeite o próximo e, ao reconhecer as próprias falhas, que cada um se arrependa de seus erros. É preciso não acatar a autosatisfação, as falsidades, as trevas do Fariseu que menoscabava o pobre Publicano. É necessário se voltar sem cessar para a verdade, a humildade, o amor. Nada de uma prece como a do Fariseu que não louvava o Criador, mas a si mesmo, como bem reparou Santo Agostinho num de seus sermões (115,2-3). O Publicano não se comparava com ninguém, mas fazia um perfeito diagnóstico de si mesmo e como afirmou Jesus “voltou para casa justificado”. Ele possuía a justiça interior e espiritual que é feita de fé e dileção para com o Ser Supremo. Julgava-se um grande pecador, mas tinha Deus por ele e nele, dado que o Senhor Onipotente aborrece sempre o orgulho. Ao humilde Deus o eleva à sua própria glória  e o torna filho dileto, justificado, porque arrependido de seus pecados, dado que Deus é luz, como diz São João (1 Jo 1,5) e esta não pode conviver com as trevas,  O Ser Supremo se compraz em vir habitar naquele que se deixa por Ele iluminar. Este se torna “luz no Senhor”, ensinou São Paulo (Ef 5,8). Impende, de fato, num admirável paradoxo do Evangelho, se abaixar diante do Criador de tudo, crer que tudo que se tem, dele vem, para poder, realmente, participar da maior obra que há no mundo que é a obra do mesmo Deus. Foi o que desejou Jesus: “Que vossa luz brilhe tão bem diante dos homens que à vista de vossas boas ações, todos possam glorificar  vosso Pai que está nos céus” (Mt 14,16). Entretanto, apenas os que são humildes, como o Publicano, é que podem ser luz do mundo. Num contexto no qual imperam a escuridão do orgulho do Fariseu, há necessidade daqueles que  sejam lucíferos, lucipotenes como o Publicano. O mundo precisa de personalidades sinceras, homens e mulheres que possam ser referenciais para os concidadãos. Foi o que aconteceu. por exemplo, com Maria, a humilde serva do Senhor, que se fez pela sua humildade a bendita entre as mulheres, iluminando a História com suas virtudes singulares. Imitando-a cada um se torna um iluminador do meio em que vive. O cristão jamais deve ser um fariseu hipócrita, No verdadeiro seguidor de Cristo precisa brilhar sempre a humildade do pobre publicano.* Professosr no Seminário de Mariana durante 40 anos.








segunda-feira, 21 de outubro de 2013

FALSOS ÍDOLOS

FALSOS ÍDOLOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Assustadoras são as mensagens que a mídia divulga sem um critério baseado na razão e na fé, trazendo turbulência horripila, sobretudo para as mentes dos adolescentes e jovens e para muitos adultos incautos. Fala-se muito nos crimes perversos que estão acontecendo a cada instante neste país e, no entanto, filmes de  roubos e assassinatos são divulgados. A pornografia impera nas novelas televisas e no programas dos muitos maus formadores de opinião. Agora um programa de grande audiência nas noites de domingo apresentou, como modelo de profeta, o cantor Cazuza. Perplexos ficaram muitos autênticos cristãos e cientistas sociais diante de tal estultícia. Se um drogado, um jovem sem regras e transviado é apresentado ao mundo brasileiro como “modelo e profeta” isto significa que os verdadeiros valores não são levados à   juventude. O filme Cazuza é estarrecedor, segundo os melhores psicólogos. Não é admissível cultuar um marginal quando se deve construir uma sociedade progressista e que não cultive paixões desregradas e incentiva o uso das drogas. Não é deste modo que se terá um mundo melhor. Hoje é elementar que as ciências humanas não podem teorizar, isto é, alhear-se da realidade concreta. As ações do homem são um acontecimento real. Assim sendo, o comunicador  deve ser hermeneuta, isto é, intérprete dos atos humanos e dos fatores concretos que neles influíram  e influem, pois o homem é um  ser que vive e faz história, ser consciente no mundo.  Na crista do acontecimento passado se erguem as possibilidades do futuro, não apenas do futuro que é o porvir ante o historiador e o comunicador, mas daquele porvir que surge ante os personagens que dele se tornaram artífices, pessoas reais, agindo movidas por uma ideologia encarnada neles por força da estrutura e da própria evolução histórica, ideologia inconsciente, mas que se projeta nas atitudes e, sobretudo, na palavra, na linguagem a transmissora do que se passa nas consciências críticas. Endeusar atitudes errôneas é contribuir para a desgraça de toda a humanidade. O que nunca se pode esquecer é que a linguagem se acha assim intimamente vinculada à cultura. Pode-se inclusive afirmar que a linguagem está relacionada com a cultura de tal forma que  não apenas a cultura produz linguagem, mas a linguagem ajuda  disseminação da cultura. Não apenas a linguagem falada ou escrita, mas a linguagem não verbal que é transmitida pelas atitudes, pelas ações. Ora, um traficante que foi comparado até com Fernandinho Beira Mar não pode nunca ser modelo para ninguém. É por não se prestar atenção a esta realidade que na comunicação podem surgir equívocos ou ambiguidades, pois a linguagem também tem o poder de influenciar negativamente a cultura, deturpando-a, como ocorre no caso que está sendo analisado.  Quem comunica  tem necessidade de estar consciente de que a linguagem tem por objetivo traduzir, descrever idéias através das palavras que compõem as frases. A formação e o desenvolvimento da linguagem estão intimamente associados à formação e ao desenvolvimento do pensamento humano que precisa ser transmitido com exatidão, sem manipular os acontecimentos. Eis porque não se pode dissociar a linguagem da cultura. A palavra que exprime a idéia é susceptível de variação conforme o lugar, o momento, o meio social, as disposições do indivíduo. Entretanto, através da palavra pode haver uma manipulação espúria que não expressa a realidade. Não se pode esquecer que as leis psicológicas da inteligência estão em relação estreita com as da palavra que pode ou não ser instrumentalizada de acordo com interesses do comunicador. Este, porém, não deve nunca trair a verdade, evitando então qualquer ambiguidade, os equívocos e, sobretudo, os sofismas que podem estar a serviço do poder dominante ou da ação do maligno. A dissolução dos bons costumes abre espaços para todo tido de desgraça humana. Muito se fala no senso crítico dos que recebem as comunicações e isto é essencial, mas, por vezes, não é fácil escapar da linguagem a serviço da contracultura. Eis porque cumpre pensar, pesando as idéias, avaliando-as, decodificando, analisando as palavras empregadas pelo comunicador.  Exaltar os verdadeiros heróis, aplaudir a virtude, condenar os vícios eis aí uma tarefa digna de louvor, uma obra verdadeiramente patriótica. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 19 de outubro de 2013

DUAS ATITUDES CONTRASTANTES

DUAS ATITUDES CONTRASTANTES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
As parábolas empregadas por Jesus em seus ensinamentos e encontros com os a apóstolos e o povo, pronunciadas a mais de dois mil anos são sempre meditadas, nunca esgotadas, pois com suas mensagens são sempre atuais. É que elas contêm verdades que iluminam todas as inteligências e falam diretas ao coração do ser humano de todos os tempos. Livros escritos por eminentes literados, palavras proferidas por pessoas ilustres se tornam facilmente ultrapassados, esquecidos. Não assim aquilo que o Mestre divino legou à humanidade. Uma destas luminosas parábolas é, sem dúvida, a do fariseu e o publicano, apresentando duas atitutes contrastantes, deixando lições valiosas, válidas em pleno terceiro milênio (Lc 18,9-14). Poucos versículos, mas uma fonte de profunda sabedoria vivencial. Dramatização de condutas diametralmente opostas que retratam muito do que acontece no mundo, no modo de ser de tantos cristãos. O Publicano era um mero coletor de impostos, ofício, por sinal desprezível no mundo antigo. O Fariseu pertencia à classe dirigente, à elite da sociedade. Eram bem o símbolo de muitos que detêm o poder e a riqueza, a imagem dos que dirigem o povo, cujo baixo salário vai quase pela metade para os cofres públicos através dos exorbitantes impostos com um retorno pífio para a sociedade. De um lado, a arrogância; de outro a simplicidade. Cinco versículos do Evangelho que se aplicam a todas as épocas e a todas as situações. A classe dominante precisa sempre de auto-promoção, auto-afirmação, haja visto o que o Governo gasta em propaganda muitas vezes de obras que nunca saíram do papel. Faltam em tantas ocasiões a auto-críttica, o auto-exame, a auto-avaliação e as mazelas que cercam o povo ficam esquecidas, deixadas de lado. Tal é, porém, o estadalharço da propaganda oficial que a população, por vezes, se deixa submergir pelo farisaísmo. Questões inúteis são requentadas para dispersar a atenção de problemas sérios. É bem verdade que as últimas manifestações populares em nossa pátria, demonstraram uma reação a este tipo de conduta, repudiando toda espécie de mentira e de falso triunfalismo governamental. Cumpre, de fato, sair de uma atmosfera de ilusão, de pseudo-grandeza, mesmo porque o Evangelho execra inteiramente o orgulho, a vã glória. Se todas estas reflexões valem no plano social em geral são também aplicáveis à vida pessoal de cada um. É mister evitar a fanfarronice do fariseu e imitar a atitude humilde do publicano. Deus conhece bem o íntimo de cada um, verdade ensinada em inúmeras passagens da Bíblia. Ele não julga pelas aparências, mas sonda o coração humano e conhece em profundidade a criatura racional. Ele quer que se respeite o próximo e, ao reconhecer as próprias falhas, que cada um se arrependa de seus erros. É preciso não acatar a autosatisfação, as falsidades, as trevas do Fariseu que menoscabava o pobre Publicano. É necessário se voltar sem cessar para a verdade, a humildade, o amor. Nada de uma prece como a do Fariseu que não louvava o Criador, mas a si mesmo, como bem reparou Santo Agostinho num de seus sermões (115,2-3). O Publicano não se comparava com ninguém, mas fazia um perfeito diagnóstico de si mesmo e como afirmou Jesus “voltou para casa justificado”. Ele possuía a justiça interior e espiritual que é feita de fé e dileção para com o Ser Supremo. Julgava-se um grande pecador, mas tinha Deus por ele e nele, dado que o Senhor Onipotente aborrece sempre o orgulho. Ao humilde Deus o eleva à sua própria glória  e o torna filho dileto, justificado, porque arrependido de seus pecados, dado que Deus é luz, como diz São João (1 Jo 1,5) e esta não pode conviver com as trevas,  O Ser Supremo se compraz em vir habitar naquele que se deixa por Ele iluminar. Este se torna “luz no Senhor”, ensinou São Paulo (Ef 5,8). Impende, de fato, num admirável paradoxo do Evangelho, se abaixar diante do Criador de tudo, crer que tudo que se tem, dele vem, para poder, realmente, participar da maior obra que há no mundo que é a obra do mesmo Deus. Foi o que desejou Jesus: “Que vossa luz brilhe tão bem diante dos homens que à vista de vossas boas ações, todos possam glorificar  vosso Pai que está nos céus” (Mt 14,16). Entretanto, apenas os que são humildes, como o Publicano, é que podem ser luz do mundo. Num contexto no qual imperam a escuridão do orgulho do Fariseu, há necessidade daqueles que  sejam lucíferos, lucipotenes como o Publicano. O mundo precisa de personalidades sinceras, homens e mulheres que possam ser referenciais para os concidadãos. Foi o que aconteceu. por exemplo, com Maria, a humilde serva do Senhor, que se fez pela sua humildade a bendita entre as mulheres, iluminando a História com suas virtudes singulares. Imitando-a cada um se torna um iluminador do meio em que vive. O cristão jamais deve ser um fariseu hipócrita, No verdadeiro seguidor de Cristo precisa brilhar sempre a humildade do pobre publicano.* Professosr no Seminário de Mariana durante 40 anos.








quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A ORAÇÃO PERSISTENTE

A ORAÇÃO PERSISTENTE
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
São Lucas deixou claro o intento de Cristo ao narrar a parábola do juiz iníquo e a viúva impertinente, dizendo que isto foi para mostrar aos discípulos “a necessidade de rezar sempre e nunca desistir” (Lc 18,1). O Mestre divino quis incitar a se entregar a uma oração constante. Para isto cumpre fixar que o coração da prece é a fé. Quem ora deve estar consciente de que se pode tocar a misericórdia divina. O orante, imbuído de uma fé profunda, tem acesso ao lugar mais íntimo do mistério de Deus que é aquele de sua infinita bondade, pois está certo que o Senhor é seu pastor e nada lhe falta (Sl 22,1). Não é, porém, tão simples ter uma obstinação tão firme como a que teve a viúva que pedia justiça a um juiz “que não temia a Deus e não respeitava homem algum”. No entanto, quem se dirige a Deus entra em contato com quem é o oceano infinito de clemência e retidão. O que se esquece muitas vezes é que a oração se dirige a um Ser que é pai e que acata a súplica de seu filho. A falta de confiança de muitos cristãos provém do fato de que eles não se imergem no coração deste Pai. Eis porque os grandes santos que foram notáveis orantes, mesmo os que não foram contemplativos, tinham certeza desta realidade sublime que é poder atingir a complacência de Deus. Aliás, o salmista assim se expressa: “O Senhor ouviu a minha voz suplicante, porque inclinou para mim o ouvido, nos dias em que o invocava” (Sl 114). Jesus, em outra ocasião, recomendou: “Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta" (Mt 7,7), De fato, é necessário pedir sem esmorecer com uma prece fundamentada na fé e na constância. Quando Deus parece não escutar, é que Ele quer provar o grau de confiança que possui o suplicante.  Seu silêncio não é então uma negativa, mas uma atitude pedagógica para que haja insistência no pedido e plena consciência da real necessidade daquilo que se está suplicando. É preciso saber sempre que o tempo de Deus não é o tempo dos homens e Ele é muito mais sábio e o Senhor do cronos. São Pedro foi claro: “Não é que o Senhor retarde em cumprir a sua promessa, como alguns julgam seja efeito de lentidão, mas usa paciência em atenção a vós, pois não que quer alguns pereçam, mas que todos cheguem à conversão” (2 Pd 38). Por mais que Deus possa parecer tardar não se deve vacilar um instante sequer na fé. Deus espera e o faz para o bem de quem O suplica. A fé leva então a ultrapassar as evidências, “ela é a garantia do que se espera, a prova do que não se vê” (Hb 11,1) e induz a não desistir nunca na obtenção do que se almeja alcança da parte do Todo-Poderoso Senhor. Deste modo, o espaço da fé, abre espaços para a generosidade divina. Deus, realmente, nunca deixa de atender os que O procuram com um coração simples e sincero. Assim, o verdadeiro fervor na oração, como recomendou o próprio Cristo no Evangelho de hoje, consiste em perseverar na calma e na humildade, aguardando a resposta divina. Então se compreenderá o que disse Santo Agostinho: “A oração é a fortaleza do homem e a fraqueza de Deus”, porque Ele não deixa nunca sem resposta a quem insistentemente O invoca. É preciso, além disto, que o cristão tenha da oração um conceito amplo que passe além do simples pedido, para se entregar inteiramente a Deus sem reserva alguma. Para poder, contudo, viver em estado de oração é mister um coração livre, afastado de todo e qualquer mal. Não se trata apenas de colher as flores das graças imediatas, mas também de se tonificar para os grandes embates da vida. Com efeito, a prece leva a ter sede de Deus para fazer em tudo sua santíssima vontade. Ela torna o orante consciente de sua dependência ontológica de seu Soberano Senhor, dependência muito maior do que aquela da viúva diante do juiz iníquo. Além disto, a prece perseverante leva o fiel a seu unir ainda mais ao Doador de todas as graças. Pode então repetir com Davi: “Ainda que andasse por tenebroso e funéreo vale, não temerei mal algum, porque estais comigo” (Sl 22, 4). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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DUAS ATITUDES CONTRASTANTES

DUAS ATITUDES CONTRASTANTES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
As parábolas empregadas por Jesus em seus ensinamentos e encontros com os a apóstolos e o povo, pronunciadas a mais de dois mil anos são sempre meditadas, nunca esgotadas, pois com suas mensagens são sempre atuais. É que elas contêm verdades que iluminam todas as inteligências e falam diretas ao coração do ser humano de todos os tempos. Livros escritos por eminentes literados, palavras proferidas por pessoas ilustres se tornam facilmente ultrapassados, esquecidos. Não assim aquilo que o Mestre divino legou à humanidade. Uma destas luminosas parábolas é, sem dúvida, a do fariseu e o publicano, apresentando duas atitutes contrastantes, deixando lições valiosas, válidas em pleno terceiro milênio (Lc 18,9-14). Poucos versículos, mas uma fonte de profunda sabedoria vivencial. Dramatização de condutas diametralmente opostas que retratam muito do que acontece no mundo, no modo de ser de tantos cristãos. O Publicano era um mero coletor de impostos, ofício, por sinal desprezível no mundo antigo. O Fariseu pertencia à classe dirigente, à elite da sociedade. Eram bem o símbolo de muitos que detêm o poder e a riqueza, a imagem dos que dirigem o povo, cujo baixo salário vai quase pela metade para os cofres públicos através dos exorbitantes impostos com um retorno pífio para a sociedade. De um lado, a arrogância; de outro a simplicidade. Cinco versículos do Evangelho que se aplicam a todas as épocas e a todas as situações. A classe dominante precisa sempre de auto-promoção, auto-afirmação, haja visto o que o Governo gasta em propaganda muitas vezes de obras que nunca saíram do papel. Faltam em tantas ocasiões a auto-críttica, o auto-exame, a auto-avaliação e as mazelas que cercam o povo ficam esquecidas, deixadas de lado. Tal é, porém, o estadalharço da propaganda oficial que a população, por vezes, se deixa submergir pelo farisaísmo. Questões inúteis são requentadas para dispersar a atenção de problemas sérios. É bem verdade que as últimas manifestações populares em nossa pátria, demonstraram uma reação a este tipo de conduta, repudiando toda espécie de mentira e de falso triunfalismo governamental. Cumpre, de fato, sair de uma atmosfera de ilusão, de pseudo-grandeza, mesmo porque o Evangelho execra inteiramente o orgulho, a vã glória. Se todas estas reflexões valem no plano social em geral são também aplicáveis à vida pessoal de cada um. É mister evitar a fanfarronice do fariseu e imitar a atitude humilde do publicano. Deus conhece bem o íntimo de cada um, verdade ensinada em inúmeras passagens da Bíblia. Ele não julga pelas aparências, mas sonda o coração humano e conhece em profundidade a criatura racional. Ele quer que se respeite o próximo e, ao reconhecer as próprias falhas, que cada um se arrependa de seus erros. É preciso não acatar a autosatisfação, as falsidades, as trevas do Fariseu que menoscabava o pobre Publicano. É necessário se voltar sem cessar para a verdade, a humildade, o amor. Nada de uma prece como a do Fariseu que não louvava o Criador, mas a si mesmo, como bem reparou Santo Agostinho num de seus sermões (115,2-3). O Publicano não se comparava com ninguém, mas fazia um perfeito diagnóstico de si mesmo e como afirmou Jesus “voltou para casa justificado”. Ele possuía a justiça interior e espiritual que é feita de fé e dileção para com o Ser Supremo. Julgava-se um grande pecador, mas tinha Deus por ele e nele, dado que o Senhor Onipotente aborrece sempre o orgulho. Ao humilde Deus o eleva à sua própria glória  e o torna filho dileto, justificado, porque arrependido de seus pecados, dado que Deus é luz, como diz São João (1 Jo 1,5) e esta não pode conviver com as trevas,  O Ser Supremo se compraz em vir habitar naquele que se deixa por Ele iluminar. Este se torna “luz no Senhor”, ensinou São Paulo (Ef 5,8). Impende, de fato, num admirável paradoxo do Evangelho, se abaixar diante do Criador de tudo, crer que tudo que se tem, dele vem, para poder, realmente, participar da maior obra que há no mundo que é a obra do mesmo Deus. Foi o que desejou Jesus: “Que vossa luz brilhe tão bem diante dos homens que à vista de vossas boas ações, todos possam glorificar  vosso Pai que está nos céus” (Mt 14,16). Entretanto, apenas os que são humildes, como o Publicano, é que podem ser luz do mundo. Num contexto no qual imperam a escuridão do orgulho do Fariseu, há necessidade daqueles que  sejam lucíferos, lucipotenes como o Publicano. O mundo precisa de personalidades sinceras, homens e mulheres que possam ser referenciais para os concidadãos. Foi o que aconteceu. por exemplo, com Maria, a humilde serva do Senhor, que se fez pela sua humildade a bendita entre as mulheres, iluminando a História com suas virtudes singulares. Imitando-a cada um se torna um iluminador do meio em que vive. O cristão jamais deve ser um fariseu hipócrita, No verdadeiro seguidor de Cristo precisa brilhar sempre a humildade do pobre publicano.* Professosr no Seminário de Mariana durante 40 anos.







UMA INSTITUIÇÃO SANTA E RELIGIOSA


UMA INSTITUIÇÃO SANTA E RELIGIOSA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
 O matrimônio é uma instituição santa e religiosa e a sua origem é divina como se lê nas primeiras páginas da Bíblia. É o alicerce da família, o baluarte da primeira sociedade que a história humana conheceu, o vínculo misterioso que, unindo duas pessoas, perpetua no mundo o gênero humano. Instituição belissima a que se encontram ligados interesses vitais da humanidade. A família é, de fato, uma sociedade indissolúvel e santa, que necessita desde seu início da bênção divina. A união do homem com a mulher é uma união pura e perpétua, que está acima do tumulto das paixões, e,  instituída pelo próprio Deus, não pode estar sujeita aos caprichos dos homens. Para quem é discípulo de Cristo não há o divórcio, porque a promessa matrimonial foi selada e dignificada com a solenidade de um sacramento e só pode ser rompido pela morte de um dos cônjuges. : O que constitui a sociedade pública, o estado, a nação, é a família. Eis porque uma é posterior a outra e a família existiu antes de haver governo civil. Ora o que, porém, constitui a família, é o matrimônio. Logo o matrimônio, sendo o fundamento da família, é anterior cronologicamente e pela sua mesma natureza a toda sociedade política. Não há organização política qualquer sem a família, sem o matrimônio. O matrimônio é, portanto, da esfera da família e do indivíduo, se inaugura dentro da família. Os nubentes saem da família e saem para constituir nova família. É, pois, um ato que se realiza dentro da família e aí produz os seus efeitos. No que tange o contrato civil a Igreja o admite e aconselha como formalidade legal para regularizar os interesses materiais dos esposos, mas não o admite como matrimônio, união legítima de homem com mulher. É sob este ponto de vista que os fiéis devem cumprir escrupulosamente as normas do Direito civil. Assim sendo, as pessoas que se contentam unicamente com essa formalidade legal ou estão divorciados e desprezam o casamento religioso não podem receber os sacramentos da Confissão e da Comunhão.  Quem se casou na Igreja e não consegue através do Tribunal Eclesiástico obter a declaração de que o contrato matrimonial foi ab initio nulo, deve confiar na misericórdia divina, participar das Missas, batizar os filhos, mas os divorciados  não podem nem se confessar nem comungar, se contraíram novas núpcias. O ideal é a restauração da família que infelizmente se separou. Está claro nas palavras de Cristo: “O que Deus uniu o homem não separe” (cf Mt 19,3-12). Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

UMA BELA LIÇÃO

UMA BELA LIÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Alguém prometeu a um amigo que passava mal da garganta que iria rezar a São Brás lhe pedindo sua cura. Passados uns dias tomou informações sobre a saúde do amigo e este lhe disse que estava 95% curado. Então lhe foi dito: “Vou cobrar de São Brás os 5% que faltaram. O amigo deu uma bela lição: “Não faça isto, agradeça a São Braz os 95% da cura obtida”! De fato, uma excelente resposta, altamente bíblica, que revelou a sensibilidade espiritual do agraciado. Muitas vezes se pensa que os santos estão no céu intercedendo pelos seus devotos como se fossem um satélite à sua disposição, quando, na verdade, eles lá do Alto ajudam os que os invocam com confiança, mas que sabem também ser agradecidos. Não se pode, realmente, cobrar nada do Protetor celeste. Às vezes, as expressões não são exatas, mas cabe aos espíritos iluminados fazerem logo a correção como no caso acima exposto. A maior prova desta atividade do bem-aventurado junto do trono divino são as graças que seus devotos obtêm, difundindo, depois,  por toda parte a devoção aos mesmos. A intervenção do santo junto do Todo-Poderoso não consiste na de um advogado ou adulador que influenciaria a vontade soberana do Criador. Trata-se de uma homenagem que o próprio Senhor Onipotente quer lhes fazer devida sua fidelidade neste mundo, sendo o santo uma causa segunda para se obter os efeitos celestiais. Todas as graças advêm para os homens unicamente pelos méritos de Jesus Cristo. Graças a estes merecimentos, formidáveis as maravilhas operadas por Deus através dos santos, para incitar a todos a trilharem os caminhos da perfeição. É de se notar que a intermediação dos santos reforça as preces tão débeis dos orantes neste mundo. A caridade deles é mais viva. Do céu contemplam muito melhor as necessidades de cada um. São atentos a tudo que seus devotos precisam. Já seguros de sua imortalidade feliz, passam a se ocupar da salvação dos que os invocam. Além disto, eles se tornam modelos para os seguidores de Cristo. Levam a apreciar a prática de tudo que Jesus ensinou e fazem mais fácil a vereda que conduz ao maior grau de bondade ou valor a que pode alguém chegar. Impedem qualquer pretexto para não se aprimorar espiritualmente. Com efeito, há santos de todas as classes sociais, que demonstram ser possível o amadurecimento pessoal sob os ditames evangélicos. Eles foram também sujeitos a todo tipo de tentação, de sofrimento, de dificuldades e tudo venceram com a graça do Redentor. Eles mostram que a perfeição é uma obrigação de todo batizado, segundo a determinação de Jesus: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 45, 48). Todo aquele que está inserido em Cristo deve ser alguém que atingiu a plenitude da idade do Mestre divino (Ef 4,13). Tal a vontade de Deus: todos sejam santos (1 Ts 4,3). Jesus fez no Sermão da Montanha uma síntese da vida do verdadeiro cristão. Esta se baseia na interioridade e se manifesta no amor. A vida sobrenatural, porém, supõe um progresso contínuo, sem tréguas numa cooperação e esforço para corresponder à graça que nunca é negada a quem procura os caminhos trilhados pelos santos. Sejamos sempre agradecidos aos santos, mas não exijamos nada deles, pois em tudo seja feita a vontade de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


UMA DATA MEMORÁVEL



CÕN. JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO






UMA DATA MEMORÁVEL










Editora Folha de Viçosa - 2013









Haec est dies quam fecit  Dominus: exultemus et laetemur in ea". – Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e nele nos alegremos ( Sl 117,24)

Oração gratulatória proferida pelo Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho na Missa Comemorativa dos 180 anos da instiuição da Páróquia de Santa Rita de Cássia em Viçosa.
















INTRODUÇÃO
Como mostram os cientistas sociais de rara importância é a comemoração dos eventos históricos.
Quando estes se ligam a acontecimentos religiosos esta celebração se torna ainda mais necessária, porque mais proveitosa cívica e espiritualmente, fixando a responsabilidade dos que vivem o momento presente.
É que este recebe todo seu influxo de um passado no qual uma liderança esclarecida protagonizou feitos extraordinários, cujos frutos são usufruídos através dos tempos.
Deste modo o que se contempla hoje, ligado a um ontem fulgurante, é penhor de um futuro ainda mais grandioso.
Na Bíblia se acha esta diretriz: “Interroga as gerações passadas, examina com cuidado a experiência dos ancestrais (Jó 8, 8).
Os construtores de uma história de glória devem ser lembrados para que as gerações atuais deles assimilem o devotamento ao bem comum e enriqueçam o que deles receberam, arquitetando a civilização do amor.
Donde o conselho do Livro do Eclesiástico: “Façamos o elogio dos homens ilustres, que são nossos antepassados em sua linhagem” (Ecl 44,1).
Isto leva a cultuar os valores do gênio e do mérito, dando a devida estima ao que foi edificado com tanto empenho, alicerçando e impulsionando o entusiasmo para novos empreendimentos.
Neste ano de 2013, por exemplo, lá na França, os 850 anos da monumental Catedral de Notre Dame de Paris vem sendo festejados com rara pompa e circunstância. Estamos no Ano da Fé exatamente lembrando os 50 anos do Concílio Ecumênico Vaticano II. O papa Francisco prometeu retornar a Aparecida em 2017, quando se festejam 300 anos desde que a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi encontrada por pescadores, no rio Paraíba do Sul.
Ainda agora o Sr. Arcebispo de Mariana está convidando o clero para a solene Concelebração Eucarística, presidida pelo Sr. Núncio Apostólico Dom Giovanni D`Aniello, dia 24 de outubro próximo, em ação de graças pelo tricentenário do início de construção da Catedral Basílica de Nossa Senhora da Assunção.
São assim datas memoráveis e. entre elas. a que estamos hoje recordando, o dia 31 de agosto de 1833 que marcou significativamente a História de Viçosa. Naquela data foi instituída canonicamente por provisão episcopal a Paróquia de Santa Rita do Turvo, então capela filial do Pomba.



OS PÁROCOS

Abriu a série de notabilíssimos Vigários o Pe.  José Bonifácio de Souza Barradas (1833-1837) A ele sucederam através destes 180 anos Agostinho Isidoro do Rosário (1837-1830. Pe. Camilo Martins Pereira de Andrade (1853-1860), Pe. Manoel Felipe Nery (1860-1879), Pe. Teophilo Antônio de Souza (1879-1883), Pe. Antônio Correia de Lima (1883-1901), Pe. Sinfronio José de Almeida (1902-1903), Pe. Joaquim Silvério de Souza Teles (1903-1906), Pe. Belchior Homem da Costa (1906-1909), Pe. Serafim Pecci (1909-1925), Pe. Álvaro Correia Borges (1925-1947), Cônego Modesto de Paiva (1947-1955), Pe. Geraldo Maia (1955-1957) e Pe. Carlos dos Reis Baeta Braga (1957-1999). Pe. Elias Bartolomeu Leoni (1999-2003) e coroando esta galeria de ilustres sacerdotes esta Paróquia tem atualmente a sua frente o estimadíssimo Pe. Paulo Dionê Quintão que tomou posse dia 26 de agosto de 2003.
Todos eles alimentando sempre a fé dos viçosenses, apreciadores entusiastas das excelências de suas pessoas. Eles sempre incrementando a devoção àquela que presidiu o alvorecer desta cidade que é a gloriosa padroeira Santa Rita de Cássia.

A CAPELA DOS PASSOS

Numa comemoração como esta que está sendo celebrada nesta Santa Missa de Ação de Graças não se pode olvidar que na gloriosa história de Viçosa merece destaque especial a Capela situada à Rua dos Passos, carinhosamente chamada por muitos de Igrejinha dos Passos. Com efeito, segundo as melhores fontes foi neste local que nasceu esta urbe universitária. Ali se constituiu o patrimônio primeiro da futura Paróquia de Santa Rita de Cássia cujos 180 anos estão sendo festejados. Com efeito, no patrimônio de Santa Rita que fica nesta parte central de Viçosa, dia 8 de março de 1800, o Padre Francisco José da Silva, por provisão episcopal foi autorizado a erigir uma ermida sob invocação de Santa Rita. Foi aí que se fundou o povoado de que se originou Viçosa *. O casal Manoel Cardoso Machado e D. Ana Joaquina de Fraga doou terrenos para a constituição do patrimônio da padroeira e, como “procurador, da Senhora Santa Rita”, o Alferes Vicente Rodrigues Valente tomou posse das terras e casas contidas na doação, fato jurídico que se deu a 10 de maio de 1807.


SOBRE ALGUNS PÁROCOS E NOVAS PARÓQUIAS

Na impossibilidade de se descer neste momento, devido angustiae temporis, a detalhes sobre os dezesseis Vigários da Paróquia de Santa Rita os quais se celebrizaram no saber e na virtude, vamos recordar detalhes de alguns deles.
Em Viçosa, deixou marca profunda Frei Serafim Pecci, como foi dito, Pároco nesta cidade de 1909 a 1925. Grande impulso deu ao setor musical a serviço do culto divino, sobretudo nas grandes festividades de Santa Rita, de Nossa Senhora do Rosário, do Divino Espírito Santo, da Semana Santa. Quando dia 9 de janeiro de 1925 foi transferido para outra Paróquia, a população fez um manifesto ao Arcebispo de Mariana, D. Helvécio Gomes de Oliveira, pedindo sua permanência exaltando este Capuchinho extraordinário. Diziam os signatários do abaixo-assinado que Frei Serafim “pelo seu saber, logo revelado em simples conversação, como em prédicas e sermões; pelas suas maneiras altamente distintas; pelo inexcedível zelo no tratar das cousas religiosas; por um conjunto, enfim, de qualidades que lhe exornam o espírito, o caráter e o coração, muito não tardou que se tornasse alvo da grande estima e alta consideração que lhe votam todos os seus paroquianos, hoje, como dantes, admiradores convencidos de seus méritos e virtudes”. Com carinho Dª Ana da Conceição Saraiva Brandi, guardou cópia do referido documento assinado por centenas de pessoas. Para honra de Viçosa, os restos mortais do ínclito frade repousam aqui no cemitério D. Viçoso, na quadra 1, túmulo 129. Uma das principais ruas da cidade lhe perpetua o nome.  Quanto a seus sucessores para se ter uma rápida recordação dos mesmos nada melhor do que uma referência aos últimos Papas.
O Pe. Álvaro Correia Borges lembra o Papa Francisco cujo discurso é direto, próximo das pessoas a tocá-las pela transparência da presença e por teologia simples, acessível com toque pessoal e afetivo, sempre atento aos sinais do povo e reagindo a ele. Assim o Pe. Álvaro com suas sentenças candentes, resolvia problemas políticos, familiares, pessoais. Era um padre do povo.
Monsenhor Modesto Paiva se apresentava como um Pio XII, asceta, de uma piedade irradiante, homem de ação.
Pe. Geraldo Maia, sacerdote de rara cultura, estudioso e conhecedor profundo da doutrina de Jacques Maritain, faz recordar Bento XVI, com suas homilias bem fundamentadas.
Pe. Carlos com longo paroquiato recorda o bem-aventurado João Paulo II, cujo pontificado foi de muitos anos, encantando a todos pela sua doutrina. Assim o Pe. Carlos, Professor também do Seminário de Mariana, que fez cursos em Roma para servir ainda melhor esta Paróquia.
Pe. Elias a todos maravilhou com sua bondade e lembra João XXIII, o Papa por excelência bondoso.
O atual Pároco, Pe. Paulo Dionê Quintão é como a síntese das qualidades de todos estes personagens. Através de realizações luminosas tem deslumbrado os seus paroquianos pela sua cultura, diplomacia, dinamismo, fazendo crescer continuamente a espiritualidade de seu rebanho. A recuperação de sua preciosa saúde atribuída a Santa Rita foi uma prova a mais do quanto a Padroeira confia na sua atividade pastoral.
Nestes 180 anos a Paróquia de Santa Rita, graças a seus dezesseis Párocos, se revela como uma árvore frondosa e fecunda, pois dela surgiram as três outras Paróquias: Nossa Senhora de Fátima, de São Silvestre e de São João Batista.

RESPONSABILIDADE DOS PAROQUIANOS E
ANÁLISE HISTÓRICA  DA COMEMORAÇÃO

Nesta Missa de Ação de Graças pelos 180 anos da Paróquia de Santa Rita de Cássia cumpre, porém, a quantos pertencem a esta circunscrição eclesiásticas se conscientizem cada vez mais de seus deveres. Com efeito, a Paróquia é cada um de seus fiéis que fazem sua grandeza e lhe conferem uma perenidade luzidia.
O aprimoramento espiritual e o engajamento cada vez mais intenso nas diversas Pastorais, de acordo com os carismas e possibilidades de cada um, na vivência das orientações ministradas pelo atual Arcebispo D. Geraldo Lyrio Rocha, é que fará desta Paróquia uma das mais fervorosas da Arquidiocese de Mariana.

A História e o Ser Humano

De fato, qualquer aspecto da História da Igreja, como este que estamos recordando, só tem sentido, enquanto encarnado na vida do ser humano. Ou é história existencial ou se reduz a efêmeros louvores a uma instituição desvinculada da realidade.
Os esplendores de pomposas datas correm o risco de se tornarem artificiais, pois o que vale é a projeção verificada de um significado humano ou uma inteligibilidade vivencial captada na experiência temporal do ser.
Trata-se, com efeito, de se analisar lances encadeados para um fim. No caso em tela, uma atuação pedagógica e libertadora operada pela Igreja em Viçosa. Atividade que enriquece os fiéis, voltada para eles e não para a Instituição.
Focalizar a Paróquia em si com o fulgor aparente de eventos, traz em si uma limitação da dimensão histórica e em seu bojo está uma visão profundamente equivocada.
Qualquer acontecimento ou ação que não atingem o ser-no-mundo e não se projeta para libertar o homem na compreensão bíblica do universo, são vazios. Esta lacuna tem sido diagnosticada em obras consagradas, cujo pensamento está enclausurado na mera descrição das ocorrências ou no simples relato biográfico das pessoas.  Uma História meramente factual ou carlyliana, isto é, mera exaltação de heróis não leva ao cerne das questões que fazem o homem realmente progredir.
A interpretação do ser racional e do todo social que resultam da ação da Igreja rasga novos horizontes e apenas ela permite uma verdadeira análise do passado e pode possibilitar uma caminhada para o futuro, ou então se correria o risco de haver uma sociedade decorativamente cristã meramente exaltada.
É preciso se decifre na trama dos fatos a realização coerente de uma missão divina, operada pela Igreja a qual tenha possibilitado o ser do homem tornar-se o reflexo vivo da presença e da atuação de Deus.
São estruturas básicas da existência humana que interessam, “situações” beneficiadas pela presença da Instituição que liberta e não dela distanciadas, como uma visão triunfalista projetaria.
Na observação exterior do homem, de sua conduta, de seus comportamentos visíveis, por todos observáveis, se perde a História, cuja ótica é apenas a aparência também visível.
A consideração de formas que incluem significações e valores, conteúdos interiorizáveis e opções  faz  então a História ser mestra e norteadora.

A influência histórica da Paróquia de Santa Rita

Ao se fazer, porém, um estudo dos 180 anos da Paróquia de Santa Rita de Cássia se conclui que esta presença tem sido bíblica, sempre contribuindo para que as dimensões do ser se abrissem ao apelo libertador de Deus, pois a essência do cristianismo é a existência e ação de Cristo em ordem à superação de tudo que entrava o pleno desabrochar das potencialidades latentes no íntimo de um ser racional.
A História da Paróquia de Santa Rita de Cássia deve então ser vista como a atuação de um organismo social, cujo crescimento histórico não se deu através dos progressos da Instituição, dos jubileus, das datas comemorativas, mas sim no que tudo isto poderia significar como concretização da integração de todos os valores humanos inseridos na destinação transcendente do homem.
Rever a história partindo do homem, dos homens, povo de Deus, que a Igreja salva, é a meta que evita distorções.
A ciência dos atos humanos do passado e dos fatores que nele influenciaram vistos na sua sucessão temporal vai, portanto, muito além da narrativa.
É preciso decifrar, na trama dos episódios decorridos durante 180 anos a formação ministrada pela Paróquia.
Neste estudo dos 180 anos o que interessa saber realmente é se houve uma evangelização profundamente eficiente.
A História de uma Paróquia deve ser vista como a manifestação de um organismo social que leva os que nela viveram e vivem a alcançar a plenitude do ser humano, a “ atingir a medida da estatura de Cristo”, como mostrou São Paulo aos Efésios. (Ef 4,13).


Magnas inquisições

Após 180 anos, bem podemos imaginar esta Paróquia numa atitude histórico-filosófica como um personagem atormentado a se perguntar: "Quem fui? Quem sou? Quem serei?"
Nesta data estamos dando uma resposta a estas inquisições através da análise de sua História como um processo de cristianização, de universalização, de deificação e não através do endeusamento da estrutura.
Pois bem, dentro desta perspectiva é que se pode dizer que tem sido humanitária e evangelizadora a atuação da Paróquia de Santa Rita em quase dois séculos. Neles se nota o fulgor de uma atuação que visou sempre uma formação autêntica de seguidores do Evangelho, um serviço a favor da espiritualização dos fiéis.
Poder-se-á então vislumbrar um porvir glorioso e esta comemoração estará, de fato, indicando uma marcha para frente.
É que, deste modo, se torna verídica a assertiva de Públio Siro: Discipulus est prioris posterior dies - o tempo passado é educador do presente e do futuro.
Apenas deste modo se estará fazendo uma verdadeira Filosofia da História deste já longo período, dentro de uma ótica a mais científica possível
Assim razão teve Cícero ao ensinar que Historia est  testis temporum lux veritatis, vita memoriae, magistra vitae, nuntia vetustatis - a História é testemunha dos tempos, a luz da verdade, a vida da memória, a mestra da vida, a mensageira da antiguidade.
Ao se analisar a trajetória desta Paróquia percebe-se que ela tem exercido no cenário nacional um papel de transcendental importância, sendo uma rica seara de esperanças, um viveiro de fiéis que ilustraram e ilustram a Igreja e a Pátria.
Mãe fecunda de sabedoria e piedade, nestes 180 anos esta Paróquia tem sido um foco de luz, engrandecendo Minas e o Brasil.

A FORMAÇÃO DE ÓTIMOS CATÓLICOS

Visão global

Sob as influências benéficas dos Párocos e demais sacerdotes que os têm auxiliado nestes anos todos esta Paróquia tem formado ótimos católicos.
Estes por sua conduta têm sido um brasão a embelezar o Corpo Místico de Jesus Cristo e, por suas virtudes, sempre foram glória da religião e da sociedade.
Esta Paróquia educou inicialmente um povo que viu crescer uma cidade que se tornou sede de uma das maiores Universidades do mundo.
Aqui moraram e residem fiéis que sempre se mostraram de extrema dedicação à causa da Igreja, paladinos de uma idéia excelsa como esta de expandir o Evangelho e servir ao próximo como São Paulo, fazendo-se tudo para todos, para salvar um bom número deles a todo custo (1 Cor 19,22).
Que brilhante galeria de celebridades ofereceu esta Paróquia nestes 180 anos! História aurífera, pois apresenta varões extraordinários que burilaram e burilam nos bronzes do heroísmo as mais puras glórias humanas.


Vultos eminentes

Nesta hora basta que se lembre um dos maiores vultos da História do Brasil que foi criado nesta Paróquia de Santa Rita, o imortal Dr. Arthur da Silva Bernardes. Sempre que vinha a esta sua cidade deixava um rastro de religiosidade profunda. Na antiga Matriz sua presença na Missa dominical, acompanhado de sua virtuosa esposa Clélia, sempre edificou seus correligionários e conterrâneos, como pôde presenciar inúmeras vezes quem profere esta Oração Gratulatória. Ele se tornou o protótipo de centenas de outros paroquianos de Santa Rita. No Rio de Janeiro nunca deixava de participar das Missas dominicais, apreciava o Evangelho de São João, lia e relia as Cartas de São Paulo. Adite-se que a amigos presenteava com o livro “Imitação de Cristo”. Além de sua profunda devoção a Santa Rita de Cássia, grande a sua veneração a Santa Terezinha do Menino Jesus. Este sacerdote recebeu de sua família a imagem desta santa que se achava na sua residência à Praça Silviano Brandão e hoje é objeto de louvores na Casa da Praça do Rosário, 15, por sinal local em que residiu por alguns anos este notável político e cristão, que hauriu seu espírito religioso na Paróquia de Santa Rita.

Famílias tradicionalmente católicas

Lembre-se, igualmente, o patrimônio religioso valiosíssimo, que as famílias aqui radicadas formadas nesta Paróquia guardam e enriquecem através dos anos. A sociedade vale o que valer a família. A decadência desta fere mortalmente a civilização. Todas as grandes urbes se ufanam de suas famílias que projetam os traços prismáticos da genuína grandeza. Viçosa orgulha-se destes pilares e sua grandeza, alicerces de suas conquistas, sua gente. Bernardes, Freitas, Araújo, Carvalho, Gouvêa, Lopes Faria, Pacheco, Machado, Loureiro, Coelho, Sant’Ana, Souza Lima, Rodrigues, Jacob, Vaz de Melo, Costa Val, Alencar, Ferreira da Silva, Castro, Comastri, Ramos, Torres, Vaz de Melo, Saraiva e tantas outras linhagens ilustres. Delas saíram um Benjamim Araújo, um José Lino de Castro, um Verano Lopes Faria, um Joventino Octávio Alencar, um Senador do Império Carlos Vaz de Melo, Jorge Ramos, uma Alice Loureiro, Professoras como Elvira Coelho, Donana Machado, Argina Silvino Ferreira, Nenzinha Ferreira e vários sacerdotes, como o Côn. Francisco Lopes da Silva Reis (Pe. Chiquinho) e religiosas, a exemplo da Irmã Áurea, notável Pedagoga. Todo um batalhão de mulheres e homens dignos, honrados, semeadores do bem, construtores de uma ordem social humana, profetas da verdade.
Rebrilha assim o espírito de fé do viçosense formado nesta Paróquia. O notável fervor de uma gente que cresceu à sombra da Cruz. A fidelidade de um povo à verdade do Evangelho.

Uma cidade eminentemente católica

Ruas e praças públicas homenageiam Cristo, Maria e os Santos, Papas, Bispos e Padres. O mês de maio, com suas tradicionais coroações, marca a alma viçosense.  Viçosa contempla na sua história  anos de bênçãos divinas e aparece como nume adorável da crença, tutelar zelosa do culto à divindade, sentinela avançada da Religião. Ela transmite às festas litúrgicas luzimentos ímpares, sobretudo em suas famosas Semanas Santas e nas solenidades da Padroeira Santa Rita de Cássia. Soleníssimas comemorações que reúnem, numa mesma fé, milhares de corações e tudo isto legado pela Paróquia de Santa Rita nesta trajetória de quase dois séculos de existência.
180 anos depois de sua fundação, comentário vivo da grandeza desta Paróquia,  é o esplendor viril do sacrifício dos sacerdotes, religiosas  e leigos que aqui têm trabalhado e vivido,  a glória serena de sua sabedoria e de sua caridade,  a auréola singular de suas virtudes, a soma incontável de bens por toda parte por eles espalhados.

CONCLUSÃO

Pois bem, foi dentro desta perspectiva é que se procurou sintetizar a  atuação da Igreja através desta Paróquia de Santa Rita, nos quais nota-se o fulgor de uma atuação que visou em todos estes anos mostrar Jesus como o único Salvador, esperança de todo os homens. Além disto, a veneração à Virgem Maria e a Santa Rita tem sido penhor de todo este sucesso social e religioso.
A Paróquia em Viçosa nestes 180 anos nunca traiu sua vocação evangelizadora.
Espera, hoje, mais do que nunca, a participação de todos os fiéis para que a Verdade do Evangelho construa sempre uma sociedade mais humana na alheta de sua gloriosa Padroeira Santa Rita de Cássia.
O que o Papa Francisco pediu numa de suas exortações aqui no Brasil a Paróquia de Santa Rita nunca deixou de realizar, ou seja, sempre cuidou da periferia. A prova disto é que ao comemorar seus 180 anos ela ostenta  Capelas em toda sua região, muitas legadas às outras três Paróquias, numa assistência social e religiosa eficiente aos bairros mais afastados e pobres. Neste instante basta que se lembre o antigo Morro do Café, hoje o progressista Bairro União.
Por tudo isto, prolfaças à  gloriosa a esta Paróquia, a seu virtuoso e estimado Pároco Pe. Paulo Dionê Quintão e a todos que se gloriam  de pertencer a este redil  do Rebanho de Cristo.
Os habitantes de Santa Cruz, no Rio Grande do Norte, se gloriam de ter erguido a maior estátua de Santa Rita no mundo, mais alta do que a do Cristo Redentor no Corcovado. Entretanto, nenhum devoto de Santa Rita jamais ultrapassará o afeto que lhe devota o viçosense
Ad majora semper fulgentíssima Paróquia de Santa Rita de Cássia de Viçosa, uma das mais preciosas jóias da Arquidiocese de Mariana, um dos mais valiosos tesouros da nossa Santa Igreja Católica!

* Dia 30 de setembro de 1871, pela Lei Provincial número 1817 Santa Rita do Turvo foi elevada a Vila, data faustosa do início de sua organização jurídica. Nesta data se comemora o Dia da Cidade de Viçosa. A instalação do Município se deu a 22 de janeiro de 1873.

·       Fontes

Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana  - Seção  De
Genere et Moribus
ALENCAR, Alexandre. Fatos e Vultos de Viçosa. Belo Horizonte,
Editora Santa Maria, 1959.
BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico-
Geográfico de Minas Gerais.  Belo Horizonte, Editora Saters Ltda,1971
CARVALHO, José Geraldo Vidigal de Carvalho, 90 anos da
elevação de Viçosa a Vila, in Temas Finais, Viçosa, Editora Folha de Viçosa, 2003, p 39-42
BRANDI, Felício. A Verdade sobre os fundadores de Viçosa in:
Tribuna Livre. Viçosa, 11.10.1991. P. 6.
         OLIVEIRA, Dom Oscar de. Viçosa Centenária, in O
ARQUIDIOCESANO, Mariana, Editora Dom Viçoso,
1971. n.631, p.1
PANIAGO, Maria do Carmo Tafuri. Viçosa, Mudanças
Socioculturais. Viçosa, Imprensa Universitária da UFV,1990
QUINTÃO, Pe. Paulo Dionê. Paróquia celebra 180 anos in
SEMEANDO,Viçosa. agosto de 2013, p.1
TRINDADE, Cônego Raimundo Trindade, Instituição de Igrejas
no Bispado de Mariana. Rio de Janeiro, Ministério da Educação, 1945.



Imagem de Santa Rita venerada em seu Santuário em Viçosa
















Iconogafia



                                                               

Alguns Párocos da Paróquia de Santa Rita de Cássia: Pe. Belchior Homem da Costa, Frei Serafim Pecci, Pe. Álvaro Correia Borges Mons. Modesto Paiva,
Pe. Carlos dos Reis Baeta Braga, Pe. Elias Bartolomeu Leoni, Pe. Paulo Dione Quintão

Coral durante a Missa de Ação de Graças pelos 180 anos da Paróquia


Missa de Ação de Graças

Lançamento do Selo Máximo Postal alusivo aos 180 anos Instituição da Paróquia.


Diretores  regionais e locais da Agência dos Correios



Santuário Santa Rita onde se encontram os jazigos de seus construtores
Monsenhor Modesto Paiva e Pe. Carlos dos Reis Baeta Braga


ANTOLOGIA

Textos do Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
sobre Santa Rita de Cássia

AS ROSAS DE SANTA RITA

Lemos na vida de Santa Rita de Cássia que pouco antes de morrer, uma visitante, sua parente, perguntou se queria algo e ela pediu que lhe trouxessem rosas de sua terra natal. “Impossível, disse a parente agora é pleno inverno". Santa Rita respondeu: “Vá e encontrarás o que peço".
Ao chegar a parente, em Rocca Porena, no jardim em frente a sua casa, havia no meio da neve, uma bela roseira com lindas flores de onde colheu as rosas que Santa Rita havia pedido. Daí o costume de se distribuir rosas no dia 22 de maio, mas é preciso captar a mensagem destas rosas.
Uma das mais belas expressões do apóstolo Paulo é a que se encontra na segunda Carta aos Coríntios: "Somos para Deus o perfume de Cristo entre os que se salvam e entre os que se perdem" (2Cor 2,15). É que o batizado, ungido de Cristo pelo crisma, que é mistura de óleo de oliva e do bálsamo, deve irradiar o perfume das virtudes cristãs. Assim ele difunde a revelação do Redentor, o conhecimento das verdades eternas, vivenciadas no comportamento de cada instante. Esta fragrância celestial é vivificadora para os que a percebem. Tal a prescrição do Eclesiástico: “Exalai fragrante cheiro” (Ec 39,19). Adite-se que o perfume era empregado entre os hebreus no sacrifício. Fazia parte do culto divino. No templo havia o “altar dos perfumes”. Seu uso está assim descrito: “E Arão queimará sobre ele todas as manhãs um incenso de suave aroma. Acendê-lo-á quando preparar as lâmpadas; e quando as colocar, ao anoitecer, queimará um perfume perpétuo diante do Senhor por vossas gerações. Não oferecereis sobre ele perfume de outra composição, nem oblação, nem vítima, nem fareis libações” (Ex 7,10). Donde o dito paulino incluir também a obrigação que o discípulo de Cristo tem de saturar suas ações com um profundo espírito de oblação. Aliás diz o mesmo São Paulo que Cristo ofereceu-se “a Deus em sacrifício de agradável odor” ( Ef 5,2). O sacrifício espontâneo do cristão é então um prolongamento do gesto salvífico do Redentor. Trata-se de uma atitude florida com sua essência de amor e louvor. O Livro dos Provérbios assevera: “Com o perfume e a variedade de cheiros se deleita o coração” ( Pv 27,9). Assim o discípulo do Salvador que exala o aroma sobrenatural manifesta o júbilo existencial de que está possuída. Firme na rocha divina, nada o abate ou constrange.
Aliás é dentro desta perspectiva que Maria, a Mãe de Cristo, é também denominada a Rosa Mística. Bem se toma a rainha das flores para representar expressivamente a Soberana que trescala o olor de todas as perfeições sobrenaturais.
As rosas de Santa Rita nos devem lembrar tudo isto.
Na Sagrada Escritura a rosa aparece com destaque. O livro do Eclesiástico emprega belas metáforas para indicar as flores e os frutos espirituais que dará o sábio. Exorta então: “Ouvi-me vós, que sois uma prosápia divina, e, como rosal plantado sobre as correntes das águas, frutificai” (Ec 3917). Cresci como a Palmeira de Cades, e como as plantas das rosas de Jericó” ( Ec 24,18). Do sumo sacerdote Simão se diz que resplandeceu no templo de Deus “como a flor da rosa nos dias da primavera”( Ec 56,8). Rita de Cássia  realizou este ideal em sua existência admirável. Cumpre a seus devotos imitá-la.
.Rita de Cássia viveu  imersa sempre no Ser Supremo dia a dia cresceu em santidade. Oculta aos olhos dos homens, escondida na mais total união com o Criador, foi objeto de especiais cuidados do Todo-Poderoso. Ela é, assim, um convite vivo a seus devotos, os quais pela renúncia generosa, pelo prazer arrancado antes de ser, pela imersão em Deus, podem se abrir em forma de rosa ante o Ser Supremo, fazendo refulgir um pouco da celestial grandeza da notável Padroeira. O devoto de Santa Rita  deve, realmente,  exalar  as fragrâncias celestiais de todas as virtudes. Moslin Ud Din, célebre poeta persa, narra esta história: “Um dia, apanhei um pouco de argila perfumada. “És almíscar ou âmbar cinzento?” perguntei à argila. “Teu cheiro me faz desfalecer”. E ela mesma respondeu: “Eu não era mais do que terra sem valor, mas tendo vivido algum tempo com a rosa, adquiri algumas de suas virtudes. Sem isto, não passaria de humilde argila”. Vivendo sempre ao lado da celestial Patrona, se recebe um pouco do perfume de suas virtudes.

LIÇÕES DO ESPINHO DE SANTA RITA

Proclamou o Apóstolo Paulo:"Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo" (Gl 6,14).
Santa Rita de Cássia, experimentou também sempre especial atração pela Paixão do Salvador, tema favorito de suas reflexões. Muitas vezes entrava em êxtase imerso no oceano dos sofrimentos de Cristo.
Em 1443, veio a Cássia para pregar a Quaresma, São Tiago de La Marca, discípulo de São Bernardino de Sena cuja festa  se celebra dia 20 de maio. O sermão da paixão de Nosso Senhor sensibilizou profundamente Rita. Voltando ao convento, profundamente emocionada com o que ouvira, prostrou-se diante da imagem do crucifixo que se achava em uma capela interior, e suplicou ardentemente a Jesus que lhe concedesse participar de suas dores. E eis que um espinho se destacou da coroa do crucifixo, veio a ela e entrou tão profundamente em sua testa que a fez cair desmaiada e quase agonizante.
Suportou esta ferida durante 15 anos, a qual lhe era sumamente dolorosa. Demonstrou sempre, contudo, uma paciência admirável, resignação total. Está por isto a repetir a todos os seus devotos com o Apóstolo: "Com efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações" (2Cor 1,5).
Dava como São Paulo uma aplicação transcendental a suas dores: "Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja" (Cl 1,24).
Cumpre imitar a paciência de Santa Rita ante as tribulações, pois os que se revoltam contra as mesmas foram assim rotulados no Apocalipse: "Amaldiçoaram o Deus do céu por causa de seus sofrimentos e das suas feridas, sem se arrependerem dos seus atos" os quais foram imersos nas trevas (Ap 16,11).
Nunca se deve esquecer o que disse São Paulo: "Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada" (Rm 8,18),
Por tudo isto Santa Rita mereceu o elogio de São Tiago: "Vós sabeis que felicitamos os que suportam os sofrimentos de Jó " (Tg 5,11).
Seus padecimentos lhe granjearam uma grande recompensa no céu, de acordo com o que preconizou São Pedro: "Pelo contrário, alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo, para que vos possais alegrar e exultar no dia em que for manifestada sua glória" (1Pd 4,13).
Cumpre recordar tais verdades e, a exemplo de  Santa Rita de Cásssia estar continuamente junto de Cristo crucificado.
Não tenhamos medo de subir sempre pela agreste encosta do Calvário para captar as inspirações  do divino Crucificado..
            Aproximemos-nos do Homem da Dor, Mártir sublime que nos acena do lenho da amargura, chamando-nos para escutar comunicações que beatificam.
            Abramos nossos corações à linguagem de Jesus! Ele nos ensinará a sabedoria de Deus.
            Vamos todos a esta fonte de salvação para nos saciar com dons divinos.
   A árvore bendita donde pendeu o fruto celeste indica uma passagem para um mundo no qual tudo é felicidade.
            Leiamos, sem cessar, este livro aberto com golpes tão cruéis.

PARALELO ENTRE SÃO PAULO E SANTA RITA

Um grande amor a Jesus Cristo caracterizou São Paulo e Santa Rita e, por isto, um paralelo entre estes dois notabilíssimos santos leva a uma admiração por suas vidas admiráveis, dedicadas à glória de Deus e salvação das almas, conduzindo isto à imitação de suas virtudes.
Ambos trilharam caminhos complementários, porque se integram mutuamente pondo em relevo a diversidade dos dons sobrenaturais e das vocações particulares.
Enquanto São Paulo era um teólogo bem radicado na história e nas tradições de seu povo, grande conhecedor das Escrituras, Santa Rita era uma cristã com uma instrução modesta, mas animada de uma fé profunda herdada de seus piedosos pais e esclarecida pelos ensinamentos que hauriu da doutrina de Santo Agostinho.
São Paulo compendiou a grandeza do mistério de Cristo em escritos fulgurantes; Santa Rita sintetizou na simplicidade de sua vida a maneira de se viver plenamente tudo aquilo que o Apóstolo falou sobre Mestre divino. São Paulo ensinou tudo que ele viveu; Santa Rita viveu tudo que este Apóstolo ensinou. São Paulo dizia que só queria conhecer Cristo e Cristo crucificado; Santa Rita teve um conhecimento tão profundo  de Jesus  que arrancou do Crucificado um espinho que muito a Ele a identificou.
São Paulo pregou a Boa Nova pelo mundo que então se conhecia desde Jerusalém a Roma, e se fez um pregador universal; Santa Rita, recolhida no seu convento se impregnou do Evangelho de uma maneira total e se tornou uma santa universal. São Paulo proclamou que o cristão dever ser o bom odor de Cristo; Santa Rita que exalava o perfume de todas as virtudes, apreciava as rosas e seu agradável olor.
Os padecimentos que São Paulo sofreu não o desanimaram; os padecimentos de Santa Rita jamais a esmoreceram no caminho da santidade. São Paulo lançou a primeira teologia da história da salvação, relendo a história de Israel à luz do mistério inesgotável de Cristo; Santa Rita projetou para o mundo a história de uma conformidade integral ao Redentor, meditando no significado de sua dolorosa Paixão e, deste modo, legaram ambos o patrimônio de um valor extraordinário. 
São Paulo era animado de um entusiasmo ardente pela dilatação do Evangelho; Santa Rita era movida por nobres sentimentos e grandes desejos de total purificação interior, possuindo a arte de decifrar como Jesus fala ao coração, como se faz sentir nos conteúdos da revelação. 
São Paulo foi instruído por Ananias; Santa Rita cresceu no discernimento na escola de São Nicolau Tolentino.
São Paulo, por revelação divina, viveu a teologia do mistério de Cristo; Santa Rita, a exemplo de São João Batista, cultivou sempre a teologia da mortificação. Cristologia e ascética, veredas objetivas da perfeição, ilustradas por Paulo e por Rita com a finalidade de ajudar seus devotos a viverem em plenitude as riquezas da fé, da esperança e do amor a Deus e ao próximo.
Aqueles que cultuam Paulo de Tarso e Rita de Cáscia têm experimentado esta síntese vital entre a fé e a vivência cristã para encontrar e seguir mais de perto a Cristo.  Ambos deram contribuição relevante à Igreja, mostrando que o verdadeiro cristão deve ser um apóstolo por palavras e exemplos.

DEVOÇÃO DE SANTA RITA À EUCARISTIA

Santa Rita de Cássia como jovem, esposa, mãe, viúva e monja agostiniana uniu maravilhosamente seus sacrifícios e dores ao grande sacrifício da Cruz de Jesus. Eis, porque, ela viveu o mistério eucarístico no significado mais profundo. Com efeito, aceitou cada sofrimento para a salvação dos pecadores, unindo continuamente seus sofrimentos aos de Cristo. Deste modo, ela prolongou na sua experiência humana o mesmo sacrifício da Cruz, aquele Sacrifício que se revive cada vez que se participa da Celebração Eucarística. Nesta íntima união com o Crucificado, Rita sempre quis completar em si aquilo que falta à Paixão de Cristo, ou seja, a participação de cada um nos sofrimentos do Redentor. Isto bem na linha de Santo Agostinho: “Aquele que te criou sem ti, não te salvará sem ti”. Na Sexta Feira Santa de 1432 pediu ao Divino Crucificado participar mais profundamente na obra salvadora do mundo.  Deste modo, o espinho que levou na fronte, foi a resposta do Senhor morto e ressuscitado.Ela acolheu aquela ferida profunda como o maior dom de amor. Com aquele sinal, o Esposo divino a uniu para sempre a si. Enxertada na vida de Cristo pelo batismo e trazendo em si um dos espinhos da Coroa de Jesus, sua devoção se consolidou na participação do Sacrifício Eucarístico. Foi também sustentada sua piedade eucarística por outro fato extraordinário: Ela conheceu a  Relíquia  Eucarística  ofertada pelo frade agostiniano Beato Simone Fidati ao convento de Cássia. Trata-se de um pergaminho impregnado do Sangue havia saído de uma Hóstia consagrada. Esse episódio se deu em 1330 em Sena, quando um padre que devia levar a santa comunhão a um enfermo, para ir mais rápido, ele colocou a Hóstia Santa entre as páginas de seu Breviário, hoje dito Oração das Horas. Quando abriu o livro, viu, com grande espanto, que as duas páginas estavam impregnadas de sangue. Aterrorizado, foi confessar sua culpa ao Frei Simone Fidati que estava pregando em Sena. Uma vez recebido o perdão, frei Simone pediu as páginas ensangüentadas. Uma ele levou para Perúgia e a outra deu a seu convento agostiniano de Cássia. Santa Rita a conheceu e venerou  esta Relíquia Eucarística. Hoje em dia ela se acha na Basílica inferior de Cascia. Diante desta relíquia  Rita reconheceu, por certo, o rosto do assassino do seu marido, o rosto dos filhos mortos em tenra idade. Ela rezou por todos e por todos os demais pecadores ofereceu sua vida sofrida como sacrifício, unindo-a ao grande sacrifício de Cristo. O referido beato Simone Fidati, nasceu em Cáscia no ano de 1285 em uma nobre família. Tendo se encontrado com o famoso asceta Angelo Clareno, abandonou os estudos filosóficos e históricos e entrou na Ordem de Santo Agostinho, tornando-se um grande pregador. Na internet podem ser encontrados outros pormenores deste milagre eucarístico e detalhes da vida do admirável agostiniano. *





SANTA RITA DE CÁSSIA

Panegírico proferido em Viçosa dia 22 de maio de 1999

“Colocas uma coroa de ouro em sua cabeça” Sl 21(20),4

                                                                                                              

Viçosa e Santa Rita

Grande  glória de Viçosa ter Rita de Cássia por Padroeira.
Notável título de Rita de Cássia ser Padroeira de Viçosa.
Glória, sim, desta cidade por ser Santa Rita uma das mais famosas seguidoras de Cristo e, por isto mesmo, tão poderosa diante de Deus, tendo ela se tornado a advogada das causas impossíveis.
Pérola preciosa na coroa de méritos que Rita de Cássia  ostenta por ser Viçosa um dos lugares do mundo onde ela é de modo especial amada e glorificada com manifestações realmente apoteóticas e dada a importância desta urbe famosíssima.
Por tudo isto, festivas são as horas deste 22 de maio.
Numa manifestação de um louvor expressivo, envolto em calorosa demonstração de carinho, numa emulação dos mais nobres sentimentos, uma cidade inteira faz chegar à Patrona ilustre loas sinceras, louvores efusivos. Seus méritos são festejados. Suas virtudes, proclamadas. Uma vida cristalizada em feitos imortais é revivida com carinho. Todos admirados com suas ações fundidas nos bronzes do heroísmo cristão. Seus atos se mostram cravejados de facetas adamantinas. Uma existência inigualável a refletir a beleza do Evangelho, a ostentar dotes celestiais, a fulgir toda a grandeza, toda a nobreza que comovem os corações e que a religião consagra. Estamos, de fato, homenageando uma heroina digna da escolha do Deus Altíssimo.
Rita de Cássia neste dia memorável lavra a sentença que qualifica seu patrocínio, canoniza, seus merecimentos, ratifica sua valiosa proteção e confirma quão poderosa é sua ajuda para seus devotos junto do trono de Deus. Com efeito, envolvendo-os em ondas de benemerências, faz jus a todas estas manifestações de gratidão, pois interpõe, de fato, junto do Ser Supremo seu valioso auxílio de protetora devotada e cheia de prestígio. Deus nunca deixa de escutar esta santa, porque Rita de Cássia é aquela criatura gloriosa que conheceu a justiça, chegou ao auge da imitação de Jesus Crucificado e, assim, conheceu as maravilhas do amor divino.
Esta é, de fato, uma das maiores glórias de Viçosa: ter Rita de Cássia como Padroeira! Ela esposa, mãe, religiosa se celebrizou em todas as linhas do termômetro da perfeição cristã.

Uma cristã extraordinária

Quando percorremos a História da humanidade contemplamos heroinas que se impuseram por merecimentos indiscutíveis e se se fizeram objeto de admiração e respeito.
Por seu gênio e engenho se destacaram rainhas como Catarina II, da Rússia; Vitória, da Inglaterra; Guilhermina, da Holanda e tantas outras soberanas ilustres.
Por seus dotes se impuseram George Sand, a escritora famosa; Margaret Kennedy, a aplaudida intelectual; Mary Mitchell, a culta astrônoma; Maria Montessori, a magistral pedagoga italiana.
Corajosas foram as mártires Inês, Maria Goretti, Águeda, Cristina, Cecília, Luzia, Perpétua, Felicidade entre inumeráveis outras testemunhas da virtude.
Fé profunda foi a da Cananéia do Evangelho a arrancar o milagre de Cristo só com o tocar na fímbria de suas vestes.
Grande o amor que Maria Madalena, Maria Cléofas, Verônica, Maria Salomé demonstraram ao divino Redentor por entre seus sofrimentos.
Notabilíssimo o patriotismo de Joana d’Arc; profunda a sabedoria de Santa Teresa; maravilhosa a dedicação à Igreja da parte de Catarina de Sena.
Sem fim seria o desenrolar das grandezas daquelas que se impuseram nas variadas provas do valor humano.
Rita de Cássia, porém, é como uma síntese de toda a magnitude feminina de todos os tempos, pois ostentou no mais alto grau as virtudes preconizadas pelo Filho de Deus e se tornou uma santa universal superando, assim, as demais personagens por maiores que tenham sido seus feitos exceção feita à Mãe de Jesus na qual brilhou a plenitude das graças divinas.
Através dos séculos objeto de veneração, de imitação se fez um espelho a ser continuamente mirado, um livro vivo para os discípulos de Cristo, uma mestra inigualável da conduta cristã; rainha de milhares de corações que amam o bem, a nobreza, tudo que mais  engrandece o ser racional.
Sua sabedoria foi genial convertendo seu marido Paulo Fernando. Sua coragem foi olímpica suportando anos e anos de tortura, revelando paciência admirável ante um esposo cruel e sem princípios, seu algoz. Sua resignação foi estupenda diante do assassinato de seu consorte, que ela havia convertido, e perante a morte de seus dois filhos. Ela se mostrou muito mais forte que Resfa, pois viu o dedo de Deus a impedir maiores desatinos e entendeu a ação da Providência com raro descortínio. Entre ver seus filhos a vingarem a morte do pai, ela agradeceu à Providência os levar para o céu sem a mancha de tão grande crime.
Ela possuiu em alto grau a maior de todas as ciências, pois, queria conhecer a Cristo e apenas Cristo Crucificado, o que lhe mereceu aquele espinho na fronte. Este muito a martirizou, mas a levou à escola do sofrimento que purifica, santifica, glorifica.
Sua persistência em se consagrar a Deus a levou a vencer todos os obstáculos e quebrou todas as barreiras, dado que encontrou em Santo Agostinho, São João Batista e São Nicolau Tolentino uma trindade poderosa a introduzi-la no convento das agostinianas. A exemplo de Abraão, ela esperou contra toda a esperança (Rm 4,18).
Ninguém mais mortificada do que ela dentro do Convento em Cássia! Ninguém mais obediente! Lá está, até hoje, aquela famosa parreira, que desabrochou viçosa de um galho seco que ela regou a mando de uma Superiora desassisada, mas que lhe provou a humildade e a obediência. Milhares de peregrinos contemplam lá aquele poço que lhe deu, não apenas a água material pela qual expressava a prática da virtude, mas gestos de grandeza interior a esplender em ação tão simples.
Rosas a desabrocharem em seu jardim de Rocca Porena em pleno inverno bem simbolizam o perfume das peregrinas virtudes desta santa admirável a fazer através dos tempos cair pétalas de bênçãos sobre seus devotos.
Ufane-se Viçosa por ter tal Patrona!

Uma vida admirável

Dá vertigens percorrer uma história desta. Empolga contemplar os lances de uma existência toda voltada para o bem. Causa orgulho pertencer a uma Igreja que pode ostentar uma tal santa. É motivo de ufania possuir esta Padroeira que granjeou nas mais ferrenhas lutas interiores e exteriores o genuíno mérito e realizou, admiravelmente,. as mais deslumbrantes façanhas.
Deus a escolheu, a predestinou, a justificou e a glorificou entre seus santos.
O Todo-Poderoso a fez subir sem temor o altar dos maiores sacrifícios para que ela lhe desse a prova definitiva  de seu amor.
Rita de Cássia soube percorrer a via florida das bem-aventuranças. Pervagou a vereda luminosa dos conselhos evangélicos. Caminhou pelas sendas misteriosas dos carismas celestiais.

Infância e adolescência


O coração é tomado de entusiasmo quando se recorda sua infância naquela localidade encravada nas belas montanhas da Úmbria, onde seus virtuosos pais, Antônio e Amata Mancini, souberam plasmar a religiosidade da filha querida. Esta lhes transmitiam a certeza de uma união íntima com Deus e todos encantava pela sua piedade. Jovem, nunca se deixava levar por tudo que é tão comum à vaidade feminina, pois Rita queria apenas ser uma açucena delicada, uma rosa purpúrea, um lírio nacarado para Deus, pouco se importando com os olhares humanos.

Esposa inigualável

Tornou-se depois modelo de esposa e mãe com aqueles fatos já rememorados. Mary Stuart a pérola da Escócia foi prisioneira dezoito anos de sua ignóbil prima Isabel, Rita, a pérola da Itália, por tempo semelhante foi torturada por aquele marido desastrado. Como foi mostrado, ela converte seu esposo. Lágrimas de mulher santa eram preces ardentes que penetraram o céu, eram chamas de amor, cascatas de luz. Esposa mártir ela se abraçou ao cadáver de Paulo Fernando e o banhou de lágrimas de amor e dor. Imitou então a Jesus e perdoou seus inimigos.

Mãe devotada

João Tiago e Paulo seus filhos vão em seguida martirizar ainda mais o seu coração, pois alimentavam sentimentos de vingança. Pobre mãe! Noites intranqüilas! Momentos de susto! Agonia prolongada! Pélago de tristeza! Oceano de sofrimento! Ela, porém, reza. Qual outra Branca de Castela diz a eles que os preferiria mortos a contemplá-los cometendo tão horrípilo crime pagando sangue com sangue, fazendo justiça com as próprias mãos. Rita, porém, é uma santa mãe e verá suas súplicas atendidas, inscrevendo página aurífera nos anais dos triunfos maternos. Deus encaminhou os acontecimentos e acidentalmente seus filhos que haviam se arrependido dos seus maus propósitos, expiram em paz, vítimas da peste que então ali grassara! Sofre o coração de Rita, mas ela aceita este pesar julgando-o muito melhor do que a catástrofe de os ver morrer impenitentes. Oferece por eles o sacrifício da separação. Que mãe admirável!
Os triunfos que mulheres valorosas alcançam todos os dias a despeito das crises mais arriscadas serão sempre um monumento que a Igreja ostentará com ufania. Entre eles este de Rita superando sofrimentos físicos e morais.

Religiosa modelar

Viúva, correu ela a abraçar a cruz de Cristo retirando-se do mundo. Entregar-se-ia à ascese mais aguda por amor ao divino esposo.
Sua entrada no Convento das agostinianas que não poderiam receber senão virgens está repleta de misteriosa intervenção de seus santos protetores. Nada de novo o fato de eles lhe abrirem as portas da vida religiosa  por um ato milagroso. Com efeito, se um anjo fechou a boca dos leões na cova em que Daniel fora lançado para ser por eles devorados ( Dan 6,23); se Felipe foi guiado pelo espírito de Deus junto ao carro que conduzia o mordomo-mor da Rainha da Etiópia (Atos 8, 26 s); se os corvos alimentaram a Elias sobre as margens do Carith (I Reis 17,6) impossível não foi que Rita penetrasse no mosteiro de Roca Porena estando fechadas as portas. Ela poderia dizer às religiosas: “Não vos revolteis contra o braço do Senhor. Eu fui trazida aqui pelo Deus Poderoso que me arrancou dos perigos do mundo, me foi escudo e proteção. Dirigida por meus protetores Agostinho, Nicolau Tolentino e João Batista escapei dos precipícios que cercam o Mosteiro e devassei com eles estas muralhas e agora quero triunfar de vossas recusas, pois aspiro pelos tabernáculos do Senhor”! Com estas ou outras palavras Rita humildemente venceu a resistência das agostinianas. É que os pensamentos de Deus não são os pensamentos dos homens, nem os Seus caminhos, as veredas humanas (Is 55,8).
Ei-la agora entre as esposas do Cordeiro. Ninguém mais a separará de sua união profunda com a Trindade Santa. O Senhor é sua herança definitiva, é a sorte venturosa que lhe tocou em partilha. Nada deterá o vôo pujante que rasga as nuvens e parece atravessar a região do sol até os páramos eternos. Quem poderá agora deter as lavas deste vulcão aceso no coração de Rita? Como ondas do mar imenso seus afetos se sobrepõem uns aos outros, imerso todo o seu ser no Ser divino. Rita concentra todos os seus votos, todos os seus anelos, todos os seus afetos neste Deus de Amor e se crava na abnegação mais portentosa só querendo, em tudo e do melhor modo possível, agradar o Senhor de sua vida. Desde então todo o frio do setentrião seria incapaz, impotente para atenuar as chamas em que ardia este espírito superior. Ela se dilatava aos rigores da cruz e parecia antecipar a estes gozos inefáveis precursores da eternidade feliz, se aperfeiçoando através do sofrimento e da integral imitação do Crucificado. Ela encontrava nele esta felicidade que é o encanto das almas elevadas e puras. As atrações do mundo haviam de há muito perdido o sentido para ela que bem sabia que tais atrativos nunca conduzem à verdadeira beatitude. Coisa alguma faria arrefecer sua fidelidade a Cristo. Ela repetia com o Apóstolo: “Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”( Gl 6,14).

Prova terrível de sofrimento

Rita, porém, não podia contentar-se com estes testemunhos já de si, porém, tão expressivos do amor com que Cristo distingue seus eleitos.  Tão intimamente unida às dores de Jesus seu amor a Ele arrancou, de fato, um dos espinhos da Coroa do Crucificado. Na sua fronte estará para sempre o sinal de sua associação total ao Mártir do Gólgota. Ei-la ornada  com um diadema que lhe afiança uma coroa de glória no céu. O sofrimento é sua herança na terra, mas na Casa do Pai ela estará bem perto do Cordeiro Imolado. Por tudo isto jamais o sorriso se apartou de Rita que realizou o sublime paradoxo da alegria no sofrimento.
Eis porque no seu leito de morte ela pede em pleno rigor do inverno que lhe tragam rosas de seu jardim. Lá as encontraram. Rosas cheias de espinhos, mas ressumbrando perfume. Bem o símbolo de sua vida nesta terra.
O amor então lhe arrebatou o coração e bem podemos aquilatar os últimos arroubos de seu entusiasmo à vista da pátria celeste.

Entrada gloriosa no céu

Dia 22 de maio de 1456 os sinos do Mosteiro misteriosamente se põem a tocar como a proclamarem: Rita acaba de entrar no céu! Eis o hino da vitória! Agora ela assume seu lugar no paraíso de onde derramaria bênçãos sobre bênção para seus devotos. Deixa esta terra a heroina de peregrinas virtudes e doravante a voz da epopéia sagrada é a única digna de lhe cantar os merecimentos. A ela cabe somente a coroa da imortalidade. Posuit in capite eius coronam - Deus colocou sobre sua cabeça uma coroa, é o que está escrito lá em Cássia junto à urna que conserva o corpo intacto da grande serva do Senhor. O preço de seus sacrifícios é o salário da glória eterna.
É assim que se fraguam os ânimos varonis, se acrisolam os espíritos abalizados, se abalizam os gigantes da fé, se agigantam os santos da Igreja, se santificam as almas puras dignas de Deus, se deificam as eleitas do Eterno e se eternizam as filhas do Pai do céu.
Ó santa admirável, Rita de Cássia. Ó Padroeira ilustre e poderosa ante o trono de Deus!
Se Cristo afirmou: “Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, também eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos Céus” (Mt 10,32), que prestígio não é o de Rita que em toda a sua vida optou por Jesus e Jesus crucificado e, na verdade, em três estados de vida, ou seja, como esposa, mãe e religiosa. Tudo isto com rasgos de amor e total submissão à vontade divina.
Seu corpo incorrupto é como um sinal que se levanta diante dos pórticos da Igreja para glorificar uma heroina que força o tempo e as gerações que a sucederam a perpetuar sua memória. Em toda parte em que é invocada ela se mostra a protetora dos males do corpo e da alma. Curas maravilhosas, prodígios sem conta. Como os males interiores e invisíveis são os que mas atormentam e matam, os corações dos tristes, dos deprimidos, dos aflitos, dos perseguidos, dos desesperados só na invocação do nome de Rita acham a consolação, o remédio, o alívio, o bálsamo o lenitivo. Ela é, realmente, a Santa das causas ou coisas impossíveis. Seu culto se espalhou rapidamente por toda a Europa e daí para outras partes do mundo. Em 1628 o papa Urbano VII lavrou o decreto de sua beatificação. Pôr permissão dos Sumos Pontífices mesmo antes de sua canonização inúmeras Igrejas já lhe eram consagradas. Glorioso foi o dia 24 de maio de 1900, quando Leão XIII a canonizou consagrando assim a devoção de que ela já era alvo em tantos lugares.

Poderosa Padroeira de Viçosa

Esta é a poderosa Padroeira de Viçosa. Multidões acorrem não apenas aqui, mas em centenas de lugares que a têm como Patrona para junto de suas imagens para uma homenagem especial de gratidão pôr tantas graças que ela alcança para seus devotos. Todos a se encomendarem a seu valioso auxílio. Ante ela apinhoam-se admiradores , curvam-se frontes num espetáculo imponente, assombroso, singularíssimo no qual se lavram todos os anos o seu imenso prestígio.
Feliz Viçosa por ter Rita de Cássia como Padroeira! Esta cidade famosíssima, exemplo de patriotismo e fé deveria, de fato, ter uma tal Patrona. Daqui ressoou forte o grito abolicionista a favor da libertação dos escravos. Destes sítios maravilhosos partiram valentes soldados para a Guerra do Paraguai. De fato, dos pés de Santa Rita, sob as bênçãos do Pároco Pe. Manuel Filipe Neri, os voluntários daqui saíram na companhia de Francisco de Paula Galvão. Autoridades civis e pessoas gradas se fizeram presentes à partida dos aguerridos soldados com palavras de estímulo e aplauso. Francisco de Paula Galvão, pacífico mestre-escola, foi logo incorporado como Tenente ao 17º Batalhão de Voluntários da Pátria. Na épica Retirada da Laguna, Galvão se fez figura singular. A batalha de Nhandipá, a 11 de maio de 1867, por sua conduta heróica, lhe consagrou os méritos. Títulos e honrarias proclamaram seu valor e foi feito Cavalheiro da Ordem da Rosa e Cavalheiro da Ordem de Cristo, em 1867. Este viçosense ilustre, abençoado por Rita de Cássia, foi sempre um soldado a serviço da pátria e repleto de merecimentos, pois passando a servir no 5º Batalhão de Guardas Nacionais, em Paconé, foi louvado pela subordinação, inteligência e zelo que revelou e por haver cooperado em manter a disciplina e apagar a discórdia que ameaçava este batalhão. Símbolo do patriotismo da cidade de onde partira, pelo Decreto de 2 de março de 1870 foi nomeado Capitão Honorário do Exército brasileiro. Aqui viveram e vivem homens eminentes e ilustres a glorificarem o país nas mais variadas atividades. Dentre eles nunca é demais se destacar a figura impoluta de Arthur da Silva Bernardes, o notável Presidente da República que deixou para os pósteros um exemplo de honestidade a toda prova. Num momento em que impera no país a palavra corrupção com tantas CPIs instaladas é bem que nesta hora se recorde o nome deste viçosense devotíssimo de Santa Rita. Bernardes, se vivo fora, ficaria perplexo com a desonestidade imperante, quando bilhões de dólares são desviados. Depois é o aposentado que vai pagar. É o doente que vai morrer sem assistência. É o brasileiro que fica analfabeto. É o desemprego que aumenta num país no qual alguns dirigentes “impolutos” sabem estrategicamente nunca ter culpa de nada, pois, conforme proclamam agem sempre de boa fé a bem da pátria bem amada. São impostos e mais impostos e a corrupção das democracias parte do fato de uma classe fixar os impostos e outra pagar. A insatisfação do povo tem limites. Um dia a casa cai! Bernardes jamais permitiria tanta calamidade!
Uma urbe com esta que se gloria além disto por possuir uma das mais aplaudidas Universidades do país e quiçá do mundo, em sua coroa de tantas grandezas, deveria ter engastada a pérola mais preciosa, qual seja ter Santa Rita como sua padroeira, Rita, pérola de Cássia, de Viçosa e de centenas de outras localidades que porfiam em bem glorificá-la.
Patrona gloriosa que traz consigo seus protetores para também guardarem esta cidade. João Batista a apontar a todos o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Agostinho, o mestre do Ocidente, a indicar o Evangelho como única tábua de salvação. Nicolau Tolentino, cujo nome significa vitória, a garantir os triunfos dos viçosenses em todas as suas realizações em todos os seus projetos. Foi por sua devoção a este santo da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho falecido a 10 de setembro de 1306 que Rita de Cássia aprendeu também a amar a mortificação e o sacrifício. Ela nos apresenta estes três extraordinários modelos porque ela quer a todos nós nas salas luminosas do palácio do grande Rei, após neste exílio termos também a eles imitado. Rita desprezou luxuosos castelos, jardins atraentes, jóias de prata, adereços de ouro e tudo que o mundo preza para se tornar a grande auxiliadora daqueles que seguem os seus passos até à cruz redentora.
         Dois belíssimos mantos
No céu Santa Rita está adornada com duas capas reluzentes: uma de ouro que é o manto das religiosas agostinianas, outra de variegadas cores, indicando que é rainha e esta gala lhe é outorgada pela cidade de Viçosa, da qual é indiscutivelmente rainha. Disto temos uma prova a mais vendo esta multidão a tomar inteiramente a Praça Silviano Brandão proclamando ser ela desta cidade a soberana.
Qual dos dois mantos mais gloriosa torna Rita no céu? O das agostinianas ou o que os viçosenses lhe dão?
Ambos a fazem igualmente ilustre, porque o manto da realeza que lhe damos se assentou sobre o hábito de religiosa, o brocado sobre o burel. O hábito de Santo Agostinho é uma das mais vistosas e bizarras galas que se trajam no paraíso, mas sobre esta gala em Rita no mesmo céu se apresenta o manto real que Viçosa lhe dá. Este, com efeito, realça aquele, pois revela a grandeza de ter sido ela agostiniana e, ao mesmo tempo, a fazendo uma soberana. Além do mais, o manto real que lhe oferecemos está todo ele reluzente de fios de ouro de nossos afetos, de nossos louvores, da imitação de suas virtudes aqui na terra.
Glória, portanto, de Rita o ser Padroeira de Viçosa!

Responsabilidade do viçosense

Se assim é, envolvamos-nos em esperanças. Lá do alto ela está a proteger sua cidade, venham ou não reformas de base ou sem base. Viçosa estará sempre na trilha do progresso, do desenvolvimento. Há de reinar paz nas famílias e ordeira há de ser sempre a urbe dedicada a Rita.
Grande responsabilidade a do viçosense: tornar cada vez mais ornamentado o manto de sua soberana lá no céu. Crianças a guardarem o lírio da pureza. Jovens a conservarem intacto seu coração longe das insídias do maligno. Mães a imitarem o seu devotamento aos filhos. Pais carregando com perseverança a cruz de cada dia. Esposas a salvarem seus consortes na paciência, na tolerância. Todos estampando em sua existência um pouco da celestial grandeza de sua Padroeira.
Cada um tem uma missão a exercer na sociedade. É a trincheira sagrada onde vitórias são obtidas, é a arena das grandes lutas. Fidelidade ao dever de cada dia, à santidade, à virtude é o que pede Rita a seu devoto.
Deste modo ela aceitará os votos que se elevam até ela lá no céu e terá motivos renovados para proteger e amparar a quantos assim a louvam de coração sincero.
Entornará ela novas ondas de bênçãos sobre aqueles que promovem o seu culto, cercando a cidade de Viçosa de ilustração e glórias, Viçosa a atestar sempre que só na virtude há nobreza, só na Religião há heroísmo.












Contra capa






No centro de Paris, em frente à Praça Concorde, na Igreja da Madalena, logo na entrada do grandioso templo um belo ícone de Santa Rita, sempre cercado das velas, homenagens de seus devotos
agradecidos.